Moments

XV


Seria eufemismo dizer que Nico estava feliz quando passou pela porta do quarto de hotel. Sentia-se leve, quase flutuando, e o sorriso não saia de seu rosto. Não se importava com o horário – acabaram passando tempo demais deitados na grama relembrando o passado.

O beijo fez com que sensações e sentimentos que não sentia há muito voltassem com toda a intensidade que podiam. Nico estava certo de seus sentimentos, de tudo o que haviam passado e de tudo o que estava acontecendo. Sabia, também, que havia Luke.

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No entanto, tudo foi tão real.

Bianca já estava de volta e, apesar de já ser tarde, estava na pequena cozinha esquentando algo no micro-ondas. Sua expressão de sono denunciava que ela já havia dormido, e possivelmente tivesse sido acordada pela fome.

— Parece que a noite foi boa. – Ela olhava para o reflexo dele no aparelho de micro-ondas ao mesmo tempo em que observava sua comida girando lá dentro. – Já faz um tempo que não vejo esse sorriso.

— Tudo foi tão perfeito Bia! – Seu sorriso aumentou a cada palavra, o que fez a mulher se virar para encará-lo pessoalmente. – Nós estávamos andando e então encontramos aquela casa que construímos só para nós dois. E tudo estava tão perfeito, sabe? Era como só nós existíssemos e... Meu Deus!

Bianca riu encostando-se à bancada e olhando para o irmão. Nico olhou para ela também.

— Nós nos beijamos! – Saiu quase como um sussurro, mas falar aquilo fazia com que parecesse menos um sonho. – E foi só um beijo, nada demais. Nem ao menos falamos dele. Mas... eu não sei, Bia, parece que absolutamente tudo mudou, entende?

Bianca olhou para o irmão, sentindo-se dividida entre parabeniza-lo ou trazê-lo de volta à realidade. Havia Luke, e havia todos aqueles anos acumulados. Coisas assim não sumiam com apenas um beijo. E ela tinha certeza que Thalia amava o namorado.

Então apenas se virou e pegou sua comida no micro-ondas, voltando a se encostar no balcão e sorrindo levemente para o irmão, que também sorria, um sorriso bobo de quem estava perdidamente apaixonado.

E isso a preocupava.

~^~

Luke acordou se sentindo levemente desconfortável. Impulsionou seu corpo para o lado, seu lado sonolento o convencendo de que ainda era muito cedo para se levantar, mas ao invés do travesseiro quentinho e o lençol, viu-se mais próximo do que desejava do chão.

Acordou totalmente dessa vez, entrando em estado de alerta para saber quem – ou o quê – havia lhe feito cair da cama, até que o susto inicial foi se dissipando e ele percebeu que estava muito na beira da cama. Massageando a cabeça, ele se sentou, olhando para sua cama e entendendo o real motivo de ter caído.

Megan.

A mulher estava ocupando todo o espaço da cama de casal, com suas pernas no lado direito da cama e a cabeça do lado esquerdo, atravessada na diagonal. O cabelo vermelho se espalhava pelo lençol branco e seu rosto não podia ser visto por estar escondido tanto pelas madeixas ruivas quanto pelos travesseiros.

Travesseiros de Luke.

Observou aquela confusão de vermelho e branco que era sua amiga naquele momento por um instante, rindo internamente (não quanto ele estava rindo de si mesmo por ter sido – mais uma vez – expulso sem querer de sua própria cama).

Lembrava-se de ter chego à casa de sua mãe bem tarde – eram quase quaro horas da manhã quando se abaixou para pegar a chave reserva embaixo do tapete (completamente clichê, mas nunca haviam sido assaltados). Ele e Megan estavam bem longe da casa de Hermes e não queriam esperar muito tempo no escuro por um táxi, então simplesmente andaram até a casa onde Luke morava na maior parte de seu tempo – exceto quando Megan vinha visitar, ou quando estava mais perto da casa de seu pai.

Se levantou, saindo do quarto e andando até a sala. Sua mãe não estava, ela saia bem cedo para ir abrir a floricultura. Ligou a televisão para ter um som de fundo e foi à cozinha preparar algo para si e para Megan.

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~^~

— Como ela está? – Luke tinha os olhos inchados pelas horas de choro, mas agia como se não percebesse. Hermes e Travis decidiram não tocar no assunto também.

— O médico disse que chegamos a tempo de salvá-la. – O pai respondeu. – Ela pode acordar a qualquer momento.

Luke vestiu o casaco que tinha em mãos e saiu de casa, um pouco tonto e com dor de cabeça, rumo ao hospital. Pegou um táxi duas quadras depois de sua casa e não demorou muito para chegar a seu destino.

Connor estava sentado em uma poltrona ao lado da cama onde Megan repousava. O cabelo vermelho e comprido estava espalhado ao seu redor e sua pele estava mais pálida do que ele jamais havia visto. Pensou, sem humor, que até mesmo quase morta ela era a pessoa mais linda que já tinha passado por seus olhos.

Entrou no quarto, o irmão levantando a cabeça ao sentir sua presença, e sentou-se ao lado dele.

— Como você está? – O mais novo perguntou. Era verdade que a aparência do garoto não era muito melhor do que a de Megan.

— Psicologicamente? Nada bem. – Respondeu e virou seu olhar para a ruiva. – Nem ela, pelo jeito. Eu deveria saber que tinha alguma coisa errado, eu devia ter tentado mais... É culpa minha, Connor.

— É culpa do homem que ela é obrigada a chamar de pai, não sua. – Connor olhou para o irmão. – Você fez tudo o que podia, nós fizemos, Luke. Só que ela estava mais cansada e machucada do que nós pensamos.

~^~

— Bom dia. – Megan usava uma blusa de Luke e tinha os olhos sonolentos. Luke sorriu minimamente, lembrando-se da época em que a visão da mulher daquela forma era praticamente diária, antes de ela ter cicatrizes nos pulsos e começar a viajar pelo mundo sem rumo.

O homem sorriu. Se a mulher estava bem, ele também estava.

~^~

Thalia tinha combinado de se encontrar com Nico na S&C para o café da manhã, mas ela não tinha certeza se queria ir. Estava confusa. O beijo do dia anterior, que significado ele tinha? Era apenas mais uma parte do passado que eles reviveram naquelas poucas horas, ou fazia parte do presente? E Luke?

Ah! Ela se sentia tão culpada! Luke era a pessoa mais bondosa que ela conhecia e apenas pensar que pudera fazer uma coisa dessas com ele. Ela o amava. E amava Nico. E isso a destruía, ter de escolher entre duas pessoas maravilhosas.

Mas, mesmo que amasse Nico, ele parecia tão distante. Havia pouco tempo que ele voltara e tanto tempo que ficara fora. Mesmo que passasse bastante tempo com ele, Nico era uma nova pessoa, e ela precisava de um empo para conhecê-lo.

E Luke estava logo ali, amando-a. Seria tão injusto trocá-lo por um talvez, por um passado que, agora, já não era mais o mesmo.

Tomou sua decisão, ainda hesitante. Não valia a pena lutar por Nico. Ela nem ao menos sabia se ele ainda a amava. Poderia ser apenas uma lembrança do passado, uma nostalgia. Ou ele estava apenas brincando com ela.

Ela não o conhecia mais, tudo era possível.

Saiu pela porta, decidida. Iria desistir de Nico, pelo menos até ter certeza de que ele ainda era o mesmo de anos antes.