Querida cidade empoeirada

Anatomia de Freud


Oh, foi mais uma noite que acordei

Ensopando meus travesseiros

O dia já tinha começado há 3 horas

Mas meus pesadelos levantaram primeiro

Agradeci minha mãe pelo café da manhã

E já me sentia muito feliz

Lá fora o céu estava bastante opaco

E alguém tinha rabiscado nele estrelas de giz

E aqueles monstros escondidos no meu quarto

Fugiram todos quando parei de jogar bola

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E hoje esbarro com eles pelas ruas

Todo dia no caminho da escola

Eles me fazem lembrar que nunca serei amada

Mas também me lembram de um sonho incrível

Aquele guardado numa caixinha laranja

Que me fez ficar gradativamente invisível

Ah, são tempos perfeitos!

Eu sorrio sozinha na rua

Eu sei que vou sobreviver dia após dia

Esperando talvez deixar pegadas na lua

Nessa escala cotidiana de destruição

Meu sonho laranja não me deixou morrer ainda

E quando eu derrubei a chuva numa calçada que não lava

Criei faíscas muito lindas

Eles continuam falando que me amam

Mas todos querem ver minha caixa laranja em fatias

Pra poder ver meu sonho apodrecer

Num canto escuro da ala de Anatomia

E enquanto eu acordar assustada

Com pegadas de lobisomem no lençol

Vou fugir para o laboratório do final do corredor

E conservar meus sonhos em formol

E eu sei que quando eu morrer

Serei mais uma indigente naquele laboratório de Anatomia

Só espero que quem encontrar meu sonho no formol

Se encha pelo menos com um pouco de alegria