Alien Panic

Crise 48 - O elemento mais precioso do universo


— E então? Responda! - insistiu Estrela - Foi você quem mandou aqueles androides para a Terra, não foi?

Kaldi continuou olhando para nós, enquanto pegava mais uma colherada da coisa cremosa que estava comendo. Após alguns instantes, ele finalmente respondeu.

— Terra? Acho que nunca ouvi falar - disse ele, tomando mais uma colherada.

— Como não? - estranhou Estrela - Todas as evidências levam para esse lugar!

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— Você espera mesmo que eu conheça todos os locais para onde envio minhas tropas? - disse ele - Provavelmente, o lugar que você fala é apenas uma das regiões onde minhas unidades de exploração estão trabalhando.

— Apenas...um? - repeti - Você tem aquelas coisas em vários lugares do universo?

— É claro! Se quero garantir a minha supremacia, preciso começar a colonizar o universo o quanto antes! - disse Kaldi, com um sorriso maquiavélico. Seria algo bem maldoso, até Margaret, a robô que havia nos limpado, começar a limpar freneticamente a boca dele com um guardanapo que tirou de algum compartimento oculto. Apenas olhávamos para aquela cena sem saber bem o que dizer.

— Sua boca está suja, senhor.

— Para, para com isso! - reclamou ele - Não preciso que fique me limpando toda hora!

— Minha função é eliminar qualquer sujeira significativa, senhor - respondeu Margaret.

— Droga, você está me fazendo de bobo na frente dos prisioneiros - reclamou ele.

— Então...você quer dominar o universo todo? - perguntou Mabi. Como se não soubéssemos a resposta.

— Exatamente - respondeu ele, recuperando sua pose de mal - Esse planeta foi apenas o início do meu grande plano de tornar todo esse universo um universo de máquinas ao meu serviço.

— Máquinas? - perguntou Eduardo - É...reparamos que esse planeta é dominado por elas.

— Mecanias é totalmente baseado em mecânica e eletrônica. Meu sonho é transformar todo o universo em algo assim - disse Kaldi - Irei até as últimas consequências para conseguir isso. Desde que dominamos a tecnologia dos buracos de minhoca há anos atrás tenho enviado unidades para colonizar diversas regiões do universo. Assim, iremos nos espalhando aos poucos até transformarmos tudo em computadores e robôs.

— Isso é horrível! - Mabi se espantou - Por que quer fazer isso?

Estrela não dizia nada. Eu também não estava entendendo. Por que aquela fixação por robôs e máquinas? Ele nem era uma!

— Por que máquinas não se cansam - disse ele - E eu preciso do máximo de máquinas trabalhando para mim sem descanso para produzir o elemento mais precioso que existe!

Agora estava fazendo sentido. Ele queria dominar o universo para ter um exército ilimitado de escravos mecanizados para produzir algum elemento do mal. Sim, era isso. Deve ser algum tipo de material bélico, usado para aumentar o poder dele ou alguma fonte de energia para torná-lo onipotente ou talvez algo que ele precise para viver para sempre. Seja o que for, deve ser algo extremamente perigoso!

— Sim, isso mesmo. Apenas com um número ilimitado de máquinas poderei garantir a produção do que é mais precioso para mim...

Ele fez uma pausa e finalmente disse:

— ...Creme de amendoim! - disse ele, levantando o pote da pasta que estava comendo. Espere, então o elemento mais precioso para ele era...creme de amendoim?

— Creme de amendoim? - perguntou Mabi - Tipo, Nutella?

— Algo assim - reparou Eduardo - Pela consistência que consigo observar daqui parece mesmo com Nutella...

— Espere um minuto - comentei, em um momento onde minha perplexidade estava maior do que meu medo de levar um tiro de laser e desaparecer em menos de um segundo bem ali na frente de todos - Você considera creme de amendoim o elemento mais precioso?

— É claro - disse ele, com as mãos tremendo de emoção (ou algo assim) - Vejam, sou o imperador desse planeta há mais de trezentos anos. Quando nasci, a tecnologia desse lugar já era absurdamente avançada. E o natural para qualquer civilização avançada é colonizar os planetas menores e foi justamente o que eu vinha fazendo por todos esses anos, até encontrar aquele lugar, aquele planeta tranquilo, cheio de árvores, plantações e vida. Foi extremamente fácil colonizá-lo. Eles não tinham um exército e nem ofereceram resistência, mas havia apenas uma coisa nele que me conquistou.

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Seria? Sim, seria.

— Quando invadi a sala do líder local, ele colocou as mãos para cima imediatamente. Mas percebi que ele comia algo pastoso e esquisito. Como estava com fome, tomei aquilo das mãos dele imediatamente e, assim que coloquei em minha boca, tive certeza de ter experimentado a coisa mais deliciosa do universo. Não precisava experimentar mais nada em minha vida. Anos e anos experimentando diversos pratos de diferentes planetas, mas era a primeira vez que eu havia conhecido a paixão de toda a minha vida...creme de amendoim. Assim que conheci o sabor do creme de amendoim com aquela colherada, comecei a relembrar de tudo que conquistei por tanto tempo, todas aquelas civilizações invadidas, todos os planetas que estavam sob o meu domínio, todos os povos que me deviam lealdade...tudo aquilo havia se tornado pequeno diante da grandiosidade que o sabor do creme de amendoim estava me proporcionando.

Ele falava aquilo com tanta emoção que não tínhamos coragem de interrompê-lo. Mas o discurso prosseguia.

— Naquele dia, eu tomei uma decisão. Meu sonho de se tornar o imperador do universo não faria sentido se não pudesse ter todo o creme de amendoim que pudesse comer. Minha raça havia desenvolvido a nanotecnologia para a cura e manutenção do organismo. Nunca iria morrer de velhice. Mas qual seria o sentido de viver para sempre em um universo inteiro debaixo da minha autoridade? Às vezes, eu pensava nisso. Afinal, o que eu iria fazer após conquistar tudo? Qual é o sentido da vida, do universo e de tudo o mais? Eu finalmente havia encontrado a resposta e ela é: creme de amendoim.

Ele terminou aquelas palavras levantando o pote de creme de amendoim que estava comendo.

— Então você mudou seus planos por causa de creme de amendoim? - perguntou Eduardo.

— Não mudei. Apenas acrescentei mais um objetivo. Não iria apenas conquistar o universo. Iria torná-lo uma fonte infinita de creme de amendoim. Meu objetivo é expandir toda minha tecnologia e transformar os habitantes de outros planetas em máquinas para produzir todo o creme de amendoim que eu desejar!

— Em resumo, você via transformar o universo inteiro em uma fábrica de creme de amendoim? - concluiu Estrela.

— Exatamente - disse ele - E estou apenas começando. Com a tecnologia dos buracos de minhoca, posso enviar unidades robóticas para diversas partes do universo e controlá-las à distância. Eles irão investigar se o planeta tem condições de produzir creme de amendoim, colonizarão o local e enviarão os produtos para cá. Se não tiverem condições, apenas irei transformar todo o lugar em uma grande fábrica repleta de máquinas, prontas para me servir na produção eterna de creme de amendoim!

— Mas, você não vai ficar enjoado de comer tanto creme de amendoim? - perguntou Mabi.

— Blasfêmia! - disse ele - Como ousa insinuar que um dia irei me cansar do sabor que transcende todo o universo!

— Ele realmente gosta de creme de amendoim, não é? - comentei.

— Entendo. Então você envia essas unidades para o universo inteiro para colonizá-las e transformá-las em máquinas para produção de creme de amendoim. Nunca imaginei que essa fosse a causa primária disso - falou Eduardo, em sua corriqueira posição pensativa - E isso também explica o fato desse planeta ser favorável à vida. Você é um ser orgânico que precisa de certas condições para sobreviver e também para produzir creme de amendoim.

Tudo aquilo estava realmente absurdo. Será que eu não estava sonhando, não? De qualquer modo, eu não sabia o que dizer naquela situação.

— É isso mesmo. Já transformei todos os outros membros da minha raça que viviam nesse planeta em máquinas. Sou o único que ainda pode desfrutar do sabor do creme de amendoim.

— Mas isso é uma um horror! - disse Mabi, sem se importar com o perigo que estava correndo - Eu também gosto de creme de amendoim, mas se você transformar todos em máquinas e só comer creme de amendoim para sempre...seria um desperdício com todas as comidas gostosas que ainda existem no universo.

— Cale-se, criatura inferior! - retrucou Kaldi - Não existe nada no universo que supere creme de amendoim. Já experimentei todos os tipos de alimento que você pode imaginar e creme de amendoim é superior a tudo.

— O universo é muito grande. Você não pode ter experimentado tudo - Mabi continuava retrucando.

— Mabi...vai deixar ele nervoso - tentei acalmá-la, mas Mabi parecia furiosa.

— Eu quero trabalhar com culinária, Vitor - disse ela - Eu aprecio a variedade de sabores. O que esse cara quer é mais do que uma ameaça à existência da Terra. Ele é uma ameaça ao bom gosto gastronômico!

Agora era Kaldi quem parecia irritado.

— Não se esqueça de que está em minhas mãos - disse ele - Para a sua informação, todas as máquinas deste planeta estão programadas para destruir qualquer ser orgânico acima de um certo grau de complexidade. Eu que pedi para mantê-los vivos.

— É verdade...por que poupou nossas vidas? - perguntou Eduardo.

— Acho difícil algum ser vivo complexo chegar aqui pelo espaço. Meus satélites iriam destruí-los antes de pousarem. Mas se entraram aqui, certamente foi por alguma distorção espacial, certo?

— Sim, viemos por buracos de minhoca - disse Estrela.

— Ótimo. Sinal de que existem outros lugares no universo que dominam essa tecnologia - disse Kaldi - Quero que me informe o local de seu planeta de origem. Se eu possuir mais uma base com acesso a essa tecnologia, meu plano de dominação universal será bem mais rápido.

— O...O quê?! - gaguejei.

— Vocês? Dominarem meu planeta de origem? Não me faça rir - disse Estrela.

— Espera, o Setor W é tão forte assim? - perguntei, mas não devia ter feito isso.

— Ah, Setor W, heim? - repetiu Kaldi.

— E-Espera, eu disse Setor W, não, eu quis dizer...Setor X, é Setor X e...

— Vitor, você é um péssimo mentiroso - disse Estrela.

— Interessante - disse Kaldi - Quero mais informações sobre esse lugar. Garota. Irei tirar isso de você, agora mesmo!

Estrela recuou para trás. Parece que agora estávamos mesmo em perigo...