Fabulosa Inconsistência

R: Easy come, easy go


Com o rosto comprimido sobre o assento de uma privada, Rebeca acordou aturdida. Fome, sede e dor de cabeça se embaralhavam em seu corpo e mente, após uma noite de quinta-feira regada a sexo, drogas e Raça Negra. Com sofreguidão, a garota ergueu-se e alcançou a pia do mesmo banheiro, lavando os vestígios de vômito que ainda estavam grudados em seu queixo.

— Como vim parar aqui? – pensou ela em voz alta.

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Corpos adolescentes se amontoavam pelos cantos da casa, adormecidos, com garrafas vazias e bitucas de cigarro ao lado de suas mãos pendentes. Agora que começara a recobrar a memória, conseguia reconhecer três ou quatro rostos, mas não lembrava do restante. Ela apalpou o bolso de trás de sua minissaia a procura de seu celular; com alívio, constatou que o mesmo estava presente.

Seria a casa de Hugo? Não, não... aquela sala lembrava mais a de Arthur. Porém, percebeu nenhum deles podia ser encontrado naquela muvuca de gente com ressaca, então concluiu que era a de Rodrigo.

Seu guarda costas e anfitrião, inclusive, se encontrava enfurnado em seu quarto, assistindo “só mais um episódio” de algum anime aleatório.

— Há quanto tempo você tá aí? – interrogou Rebeca.

— Já fazem 84 anos... – parafraseou o garoto, seguido de uma gargalhada irônica.

A conversa seguiu tratando da ausência de banho da moça em questão, da possibilidade de fazer um milkshake pra satisfazer sua larica e sobre o fato de que, em menos de duas horas, ambos teriam aula de Química – e uma missão a ser cumprida.

* * * * *

* Sofia’s POV *

Acordei com o barulho estridente do alarme e o interrompi num reflexo. Porque essas férias não chegam logo? Minha cama é tão confortável, o ar-condicionado está na temperatura perfeita... Só queria mais 5 minutinhos...

*INSIRA UMA ONOMATOPÉIA IRRITANTE AQUI* – okay, o modo soneca continuava ativado. Desisto.

Após tomar banho, me vestir e fazer o que qualquer estudante comum faz, encontrei minha família (pai, mãe e irmão mais velho) reunida na mesa, tomando o café. Meu pai estava tão apressado que não deu tempo nem de me passar algumas indiretas sobre a Lamborghini que eu – hehehe – joguei num poste. Comi bolo e torradas com uma agilidade de dar inveja a qualquer velocista olímpico, dei tchau pra minha mãe e peguei carona com o Lucas, como já faço todos os dias. Tudo correu normalmente, até o momento em que eu desci do carro do meu irmão na avenida. Ele não me deixa exatamente em frente à escola porque fica no caminho oposto à faculdade dele; logo, eu caminho os duzentos metros restantes na mais pura tranquilidade. Essa tranquilidade foi interrompida hoje.

De uma esquina, brotou um Civic preto de vidro fumê, que parou ao meu lado. Eu pensei que ele estava estacionando, mas, então, as portas se abriram de supetão e eu não lembro mais de nada, a não ser de um pano úmido sendo comprimido contra o meu nariz e uma arma apontada do banco ao lado do motorista.

* * * * *

Rodrigo chegara à sede da máfia em seu terno preto para cumprir o turno das 16 às 22h. Ele deveria assegurar que um determinado refém fosse protegido e não fugisse do cativeiro (por razões que ainda não haviam sido reveladas aos empregados). Grande foi a sua surpresa quando ele viu, presa a uma cadeira, uma garota que fazia o segundo ano do ensino médio na mesma escola que ele. Ele sequer lembrava o seu nome – alguma coisa Soares –, apenas da imagem usual atribuída a ela: rica e mimada, com seu cabelo longo e castanho, baixa estatura, corpo esguio e coturnos. Provavelmente essa última peça e sua atitude de quem não se importa com nada que a cerca fossem os únicos atributos de “rebeldia” no conjunto, mas ela se esforçava pra manter essa imagem. No entanto, as coisas começavam a fazer sentido agora. O pai da garota era um empresário poderosíssimo na cidade e região, mas parte disso graças a um envolvimento passado com o líder da máfia (que não se encerrara sem atritos).

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Hector Valois, o patrão geral, já era o 12º membro da família a comandar os negócios e marcara esse ano como o ano da vingança contra todos os seus inimigos. Era rígido e autoritário, e sua esposa, Venice, não era menos dura que ele em suas decisões. O casal criara Rebeca sob esses mesmos punhos de ferro – coisa que só aguçou a sede de liberdade da filha única. Ela já tinha o costume de fugir de casa (sempre que necessário) para se fazer presente nas festas para as quais era convidada, ou até mesmo pedir emprestada as casas dos amigos para organizar as próprias. Apesar de ter completado 15 anos apenas no último dezembro, aproveitava tais ocasiões para beber e fumar maconha, além de já ter experimentado pelo menos outros três tipos de drogas recreativas. Tudo o que foi descrito acima (fugir de casa, fazer festas na casa dos amigos, beber e fumar) tinha acontecido nessa mesma madrugada, inclusive, mas Rodrigo escapara incólume – e sóbrio – da situação.

O adolescente entrara para a organização por insistência de Rebeca, digamos assim. Uma noite, numa dessas baladas, ela, já bêbada, fora dopada por um desconhecido. O “herói”, junto de outros colegas, viu o pó suspeito sendo despejado no copo de bebida, socou o canalha até ele ficar inconsciente (quando ele estava prestes a jogá-la em seu carro) e a trouxe sã e salva para casa. A jovem contou os feitos do rapaz a seu pai e persistiu até Rodrigo virar seu guarda costas pessoal; o que era extremamente útil, pois os dois faziam o primeiro ano na mesma escola.

Agora, vendo Sofia encolhida, sua cabeça baixa e a fragilidade da situação, ele questionava em pensamento se seu juramento de lealdade à família Valois realmente valia a pena ou se era hora de juntar sua própria gangue e reverter essa situação.