Messed Up

Álcool e rolê no parque


Já é a sétima? Talvez a oitava... Bom, Mikey já deve ter passado, definitivamente, da décima terceira dose. A música está muito alta e Collin já está meio tonto, mas se sente eufórico e confiante como nunca. Dessa vez, todo mundo está lá. Michael, Phil, Monice, Jay, Sam, e Collin. Estão todos sentados numa mesa grande. Jay, Sam, Collin e – mesmo que contra a vontade – Monice vão para o bar e sentam ali. Sam implora aos pés de Monice para que esta lhe arranjasse uma garota, inventado desculpas tão esfarrapadas que conseguem arrancar um sorriso de Monice.

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Porfavoreufaçoqualquercoisaquevocêquiser – implora ele pela milésima vez.

– Desiste, Sammy – Jay aconselha, meio entediado e olha para os lados, comendo umas garotas com os olhos.

Monice continua a negar. Collin continua a rir.

– Você só precisa chegar numa gostosa e dizer “Ai, meu Deus, amei os seus sapatos, onde foi que você comprou?” – ele afina a voz para imitar uma garota falando. – e aí me apresentar pra ela.

– Se eu fizer isso...

– MON, VOCÊ É A MELHOR! – Sam praticamente grita.

– Hipoteticamente falando, Sam. Você me deixa em paz pro resto da noite?

– Se, hipoteticamente – ele embola a palavra, por estar bêbado –, você fizer isso, eu vou estar muito ocupado pelo resto da noite pra te encher o saco.

Monice revira os olhos e a primeira garota que passa por eles é uma morena bem bonita e ela para quando Monice se vira para ela e repete a fala ensaiada, num tom de simpatia:

– Ai, meu Deus, amei os seus sapatos, onde foi que você comprou?

– Ah, obrigada. – diz a estranha, meio sem jeito, olhando para os saltos altos e de novo para Monice, sorrindo. – Foram um presente.

– São lindos mesmo. Ei – ela se vira para Sam. –, esse é meu amigo Sam.

E eles se cumprimentam e Collin e Jay fazem o possível para tentar não rir do esforço de Sam em não engolir a garota – Christina – com os olhos. Os dois se afastam e Monice volta a beber o seu drink.

– É melhor vocês dois não se empolgarem, não fazer isso de novo, que merda.

– Eu não preciso disso pra conquistar alguém. – rebate Jay.

Monice abre a bolsinha e põe dez dólares na mesa. Jay sorri e vai ao encontro de uma loira que não está muito longe deles ali. Jay chama o barman e pede dois drinks sem antes consultar a garota. Quando ele volta com as bebidas, Jay oferece uma à loira e diz:

– Um brinde!

– À que? – pergunta ela, curiosa, aceitando o copo.

– Ao nosso primeiro encontro.

E isso dá início a uma conversa, Jay se vira e pisca para Monice.

– E você, Collin? – ela questiona.

– Sabe, Mon, você diz que não vai sair por aí dando uma de cupido, mas veja só: só Deus sabe onde Sam e Cristina estão e Jay e a loirinha vão sumir daqui a umas duas bebidas, tenho certeza. – retruca Collin, meio embolado pelos drinks da noite, mas tentando se manter firme.

Ela dá de ombros, com um sorriso divertido no rosto.

– Estou me livrando deles, na verdade.

– Ah, então quer se livrar de mim também? – diz Collin, bebericando uma cerveja enquanto olha distraidamente Michael agarrando uma loira.

– Eu não disse isso. – ela fala, com um tom de malícia na voz.

Collin se vira para ela novamente. Os dois estão bêbados; Collin provavelmente mais do que ela. Monice é muito bonita, Collin nota isso agora. Ela tem cabelos cor de mel cumpridos e encaracolados nas pontas, olhos da mesma cor, um batom vermelho que, impressionantemente, pensa Collin, não havia saído depois das bebidas e usa um vestido preto simples, curto, com um salto alto igualmente preto e simples. Collin a devora com os olhos sem mesmo notar. Phil chega, de repente, interrompendo os devaneios de Collin e segurando a mão de uma mulher que dá risadinhas junto ao amigo.

– AQUI, AMIGÃO! – grita ele para Collin, visivelmente bêbedo demais para conversar em um tom normal de voz. E lhe entrega duas pilulazinhas. – São as últimas que dá pra eu entregar agora, depois você paga, relaxa. Tenho assuntos mais importantes no momento. – E sai arrastando a mulher e rindo com ela.

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Collin encara as pílulas e põe uma na boca, engolindo-a junto com a cerveja. Volta a olhar Monice e esta aponta para a mão fechada de Collin e pergunta:

– O que é?

– Quer? – ele arqueia as sobrancelhas.

– Mas o que...

– Só tome, Mon. – ele estende a mão, oferecendo a outra pílula branca e azul para ela.

Ela dá um sorriso meio travesso e então pega a droga, a engolindo com a cerveja de Collin. Seu sorriso aumenta com a nova música eletrônica que começa a tocar e puxa Collin pelo braço.

– Vem... vamos dançar.

– Aah, não. Não estou tão bêbado assim. E a pílula ainda não me fez efeito.

Ela o ignora, puxando seu braço e implorando. Collin tem certeza que vai vencê-la e não vão para a pista de dança. Dá outro gole na cerveja, se divertindo com os esforços dela. Então uma onda de euforia o atinge, repentinamente, e ele só vê Monice pedindo a ele mais uma vez para irem dançar. Ele olha para as pessoas que estão dançando e ele sente uma vontade louca de fazer o mesmo. Deixa que Monice o leve para a pista, e começam a dançar no ritmo da música.

Ela começa a dançar mais perto dele, e ele a observa mais do que faz qualquer outra coisa. Quando Collin toma consciência, a música já não é a mesma, e esta é um pouco mais lenta. Monice dança agarrada a ele. E no momento em que ele pisca, estão se beijando com ferocidade. Ela para abruptamente, com outro sorriso travesso daqueles no rosto e começa a guiá-lo pelo clube. Os dois encontram um banheiro feminino e entram nele. Collin puxa Monice para si e a beija novamente, enquanto a ergue no colo e a coloca em cima da pia extensa do banheiro.

Os beijos passam para o pescoço dela, e quando ele se dá conta, estão dentro de um dos boxes, e aquilo é como uma cama para eles.

*

É sábado à tarde. Collin ainda está com uma puta ressaca. Não se lembra muito do que aconteceu, claro, mas não é como se ele realmente ligasse.

Está praticamente deitado no banco de praça, fumando o Malboro Menthol calmamente, observando fumaça que saia da boca. Quando cansa de fazer isso, se vira para o parque fica lá observando as pessoas e suas vidinhas entediantes e medíocres que Collin tanto inveja. Até que ele vê certa garota, de cabelos meio ruivos, correndo com o seu cachorro pela larga calçada do grande Central Park. Ele automaticamente se senta e a analisa cautelosamente, tragando o cigarro. Está com uma roupa de ginástica que marca bem as suas curvas, mas Collin tenta não ligar muito para isso, os cabelos presos num rabo de cavalo e fones brancos sacudindo para os lados, assim como os pelos do Golden Retriver. Ele traga o cigarro mais uma vez. E mais uma vez. E...

Quando Rebecca se aproxima um pouco mais, a uns dez ou quinze metros de distância, ela avista Collin e vai até ele. Ele se levanta e Becca sorri, parando na sua frente.

– Oi. – ele diz.

– Collin. Quanta coincidência. Como vai? – cumprimenta, tirando os fones e os pendurando no pescoço.

Antes de responder, Collin leva o cigarro á boca uma última vez, dando uma tragada rápida; o cigarro já está no final mesmo mesmo. Ele vira a cabeça para a direita e solta a fumaça.

– Bem. E você? – pergunta, enquanto jogava o cigarro no chão e pisa em cima. Ele levanta o olhar para encará-la e percebe que ela tenta se mostrar indiferente àquilo. Becca não deve estar acostumada com fumantes, ele pensa. Ela abre a boca para respondê-lo, mas ele a interrompe. – Desculpe por isso.

– Tudo bem. – ela dá de ombros.

Collin se abaixa e começa a fazer carinho no cachorro, sem se dar o trabalho de perguntar se podia. Ele olha para Becca, sorrindo enquanto continua fazendo cafuné na cabeça do cachorro.

– Ele é lindo. É seu? – ele pergunta.

– É sim.

– Qual o nome dele?

– Argus.

– Argus? – ele repete, voltando a olhar para o Golden Retriever. – É nome muito bom, não é, Argus? – Collin se levanta e olha para Argus. – Você que deu o nome?

– Não, foi meu irmão.

“Ah, seu irmão. Certo”, Collin comenta, como se fizesse uma nota mental de que Becca tinha um irmão.

– Você gosta de cachorros? – quer saber ela, sentando no banco e apontando para o seu lado, para que Collin a imitasse. E ele assim o faz.

– Acho que sim.

– Acha? – ela ri.

Collin lhe explica então, que não tem um cachorro há, pelo menos, uns dez anos, e que ele não se lembra de como é ter um, mas que devia quando era criança. Ele encara Argus e afaga seus pelos, sorrindo. “É, acho que gosto sim.”

E um silêncio se instala. E Collin o usa para refletir o quão engraçada é aquela cena. Um criminoso como ele, ali, fazendo carinho num Golden Retriver que ainda nem era adulto e sorrindo para uma garota. Pff.

– Então... você mora por aqui? – ela quebra o silêncio.

– Eu moro no Bronx.

– Você não veio andando pra cá, veio? – Becca se surpreende.

– Não, não. É que eu estou morando com a minha tia no Chelsea.

– Bom, ainda é meio longe.

– Minha tia estava indo pro supermercado, então pedi carona pra um café que tem aqui perto. Só que não é permitido fumar lá, aí eu vim aqui. – ele olha para ela, estudando cada fio de cabelo que saia para fora do rabo de cavalo. – Mas e você? Mora aqui perto?

– Aham, Upper East Side, o que é meio legal porque meu irmão conseguiu um apartamento lá perto de casa. – ela dá de ombros.

– Ah. – Collin tenta não rir, porque imaginou o irmão de Becca como um fedelho mimado de dez anos de idade, e não um cara mais velho que ele. Leva as mãos ao cabelo, escorregando lentamente até a nuca, uma mania que ele tinha.

– Você devia ir lá algum dia desses... – Becca comenta, olhando para o parque, distraída.

Ele a encara, sem conseguir imaginar o porquê do convite. Não é como se ele fosse um garoto apresentável. Collin não consegue decidir se está mais surpreso ou curioso. Talvez ela esteja blefando ou sendo gentil, pensa ele. Ele faz o máximo para tentar se imaginar à mesa com os pais de Becca, ela e o irmão mais velho, comendo um jantar chique, provavelmente salmão, e sendo interrogado pelo pai dela. Mesmo depois de tantas situações que Collin já passou, de tantas pessoas que ele pôde ter medo, ele pensa no pai de Becca. Quem sabe porque ele se sentiria culpado em ouvir o pai brigando com ela por levar um delinquente como ele para a casa, quando deveria é ralhar com ele. Mas então bufa e afasta todas esses pensamentos, com o argumento que ele já tinha várias pessoas para brigar com ele.

Durante esse silêncio todo, ele esquece que está olhando para Rebecca. E, quando esta percebe, se vira para ele, franzindo as sobrancelhas.

– O que foi?

Ele engole a seco, desviando o olhar para os próprios tênis por um momento, e então voltando a fitá-la.

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– Eu não... acho que é uma boa ideia. – indaga, virando a cabeça para encarar as árvores a sua frente, dando um sorriso de lado, meio sem graça.

– Por que não? – ela teima, mordendo os lábios.

– Não acho que iriam gostar da minha ficha.

– Ah, qual é.

Ele se vira para ela de novo; ela tem um sorriso meio debochado no rosto e os braços cruzados, o que ressalta seus seios um pouco. Novamente, Collin desvia o olhar, tentando não pensar muito nisso.

– Só imagina o seu pai me perguntando “Então, você bebe? Você fuma? E alguma droga ilícita? Sabe usar uma arma? Já teve essa oportunidade?” – Collin, olha para ela, mas torna a fitar os tênis de novo. – Ele não gostaria das respostas dessas perguntas. Nem sua mãe, nem seu irmão e, principalmente, nem você. – ele começa a estralar os dedos.

– Não pode ser assim tão ruim.

“Que garota teimosa!”

– Você não faz ideia.

– Eu sei que a resposta para todas essas perguntas é “sim”, ok?

– Como pode ter tanta certeza, então? – eles se encaram. Becca morde os lábios, sorrindo, mas Collin está sério, curioso.

– Eu olho pra você e... não consigo ver nada que te torne ruim.

– Você não sabe nada sobre mim.

– Não ligo. – dá de ombros e sorri. E que sorriso.

Outro silêncio se ergue e Collin não se permite ficar fitando-a muito, então encara os tênis pela milésima vez. Como ela pode falar aquelas coisas? Ela nem o conhece! Collin não fazia ideia que ainda existe algumas pessoas tão puras como Rebecca. Ela consegue mesmo ver alguma coisa boa em Collin? E Becca não sabe explicar essa sensação que tem que não importa o que consta na ficha de Collin Fisher, ela sabe que ele não é uma má pessoa. Mas ela tem medo de mudar de ideia, medo de estar errada e acabar se dando mal por mexer com esse garoto. Só que quando ele a olha daquele jeito extraordinário, com aqueles olhos tão verdes e foscos, como se ele se emocionasse com o esforço de Becca de achar qualquer remota bondade nele... todo o medo se esvai.

– Está ficando tarde, é melhor você ir. – ele declara, de repente, e se levanta.

– Até mais, então. – Becca se despede.

Quando ela se vira, ele senta no banco de novo, observando ela desaparecer. Instintivamente, suas mãos percorrem os bolsos, tirando um cigarro da caixinha e procurando o isqueiro. Num, piscar de olhos, ali está ele, com o cigarro na boca, chamas simplórias saindo do isqueiro, queimando a ponta do cigarro e suas mãos envolvendo o casal perfeito, para que as pequenas chamas não se apaguem.

Collin dá a primeira tragada, sentindo o gosto suave de menta do cigarro, tão quebrado como estava antes de Rebecca aparecer, aquela conversa podia nem ter acontecido.