Mais Um Dia Em Segredo

Algo estranho


Saio da escola e vou direto para a lanchonete. Eu preciso dos conselhos de Nick. Eu não tenho ideia do que farei, mas sei que devo contar para o meu pai antes dele saber tudo pelo o diretor. Eu não consigo me imaginar revelando meu maior segredo para o homem que me criou e ver a reação. Qualquer ela que seja, eu tenho certeza que não será boa. E minha abuela? Eu não quero nem pensar.

Depois que abro a porta de vidro da lanchonete noto Nick servindo um casal, ele anota os pedidos no caderno e quando se vira me vê parado olhando para ele.

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— Oi. - eu digo quando ele se aproxima.

— Pelo visto você não apanhou hoje. - ele sorri.

— É. - é só o que consigo dizer. Ele percebe que eu estou estranho.

— Algum problema?

— Digamos que apanhar seria o menor dos meus problemas.

Explico para Nick o que está acontecendo. Ele me escuta com atenção. Realmente parece querer ajudar.

— Eu não sei o que eu faço. Quer dizer, eu vou ter que conversar com eles antes. Mas eu não sei o que dizer. Eu não sei por onde começar.

— Eu te entendo. Mas pense que isso uma hora iria acontecer.

— Eu sei, mas mesmo já repetindo mil vezes na minha cabeça a frase, de todas as maneiras possíveis, eu não encontro um jeito mais fácil. Que não vá magoa-los.

— Eu acho que não existe jeito mais fácil, James.

Eu sei que Nick está certo. Mas por alguma razão eu esperava que milagrosamente ele dissesse que sim.

— Eu estou com medo. - desabafo. - Isso não devia estar acontecendo. Não devia. - Abaixo a cabeça e sinto a mão dele na minha em cima da mesa onde estamos sentados. Sinto uma sensação diferente. Como se um estranho tivesse me tocando. Isso não devia ter acontecido. Quero dizer. Eu passei a noite na casa dele. Ele foi atencioso e gentil. Talvez eu esteja evitando um toque entre nós por respeito a Ste. Tiro a mão sem ser rude. Ele está me ajudando. Eu não quero que pense que eu estou sendo grosseiro. — Tudo o que eu consigo pensar é na reação deles. Eu não vou conseguir.

— Você vai, porque quando chegar a hora, você vai saber exatamente o que dizer. Seja o mais sincero possível. Tente mostrar o seu lado. Quem sabe você não se surpreenda com a reação deles?

Aceno para mostrar que entendi. Triste. Desolado. Mesmo indo conversar com Nick eu sabia que teria que fazer tudo sozinho.

—-

Entro em casa com um medo que nunca senti na vida. Minha abuela me grita da cozinha como sempre. Vou até ela sentindo cada membro do meu corpo tremer. Entro na cozinha e ela abre um sorriso para mim, está lavando a louça.

Pensei que ia conseguir dizer pelo menos um oi, mas nada sai.

— Oi, como foi o dia hoje? - pergunta ela, abrindo seu sorriso gentil.

Ela para de sorrir depois de deduzir que eu estou mal.

— Abuela, eu preciso falar com você.

Qué pasa? — ela se aproxim, já preocupada.

— Será que podemos conversar um pouco? Eu preciso te dizer algo importante.

Ela assente ainda com o rosto preocupado. Vamos até a sala. Me sento no sofá depois que peço para ela sentar primeiro.

— Que pasa, James? Está me assustando.

Olho para os pequenos olhos castanhos dela. Meu pai não puxou seus olhos, assim como eu não. Não posso mais encarar seus olhos, pois os meus já não aguentam e estão cedendo as lágrimas.

— Abuela, você me ama? - Agora eu posso dizer. Nunca senti tanto medo como estou sentindo agora.

— Que pergunta é essa? - ela segura minhas mãos. - É claro que eu te amo. James, por que está assim?

Começo a chorar. Como eu vou dizer isso para ela?

— Eu estou com medo de você não me amar mais, depois que... - Não consigo continuar.

— Isso é impossível.

Tento me controlar. Enxugo as lágrimas e encaro-a de novo depois de me recuperar emocionalmente.

— Aconteceu uma coisa na escola hoje. O diretor me chamou na sala dele.

Ela está surpresa. Eu nunca fui de me meter em encrencas na escola.

— Por causa disso? - pergunta, apontando para meu olho esquerdo. O roxo deve estar aparecendo depois que minhas lágrimas molharam meu rosto. - Eu sabia que existia algo a mais do que só uma bola batida no seu rosto.

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Abaixo a cabeça de novo. Eu não vou conseguir falar olhando nos seus olhos.

— Eu não sei como te dizer isso.

— Pode falar. - ela aperta minha mão.

— Abuela, eu... - Respiro fundo, sentindo mais lágrimas surgirem nos meus olhos. - Eu sou gay. - Continuo com a cabeça baixa sentindo o choro vir com tudo. Ela não tira as mãos da minha. — Me desculpe - tento dizer entre o choro. Então tenho coragem para enfrentá-la. Ela está calma. Eu não entendo. - Por que está tão calma?

— James, eu sou sua abuela. Eu cuidei de você depois que sua mãe foi embora. Eu te conheço. - Ainda não consigo entender. - Eu tinha minhas dúvidas.

— Como?

— Você sempre foi tão misterioso, ainda mais com a Evilyn. Eu nunca tive certeza, mas sabia que existia algo de diferente em você.

— Não está decepcionada?

— Aprendi que esse mundo já não é mais o mesmo de quando eu nasci. Tanta coisa mudou. Decepcionada? Não, não estou. Eu te amo. Você é meu neto, e é a pessoa mais maravilhosa que conheço. Depois de tudo o que lhe aconteceu. Depois que sua mãe partiu, você poderia ter se tornado uma pessoa completamente diferente, mas você é bom.

Eu não consigo acreditar no que ela está me dizendo. Começo a chorar de novo e a abraço forte.

— Eu te amo. - digo entre o choro.

— Eu também. - Ela me aperta em seus braços.

Tanto tempo escondendo isso dentro mim por medo e olha o que aconteceu? Eu realmente me surpreendi, assim como Nick disse que talvez acontecesse.

— E meu pai? - pergunto, me afastando. - O diretor quer falar com ele. Eu vou ter que contar a verdade...

— Acho melhor isso ficar entre nós por enquanto. - aconselha ela, enxugando minhas lágrimas. - Eu posso ir no lugar dele.

— Você acha melhor?

— Sim. Agora não é o melhor momento. - Ela parece preocupada.

— Por quê?

— Nada. Só vamos manter isso entre nós, tudo bem? Agora me conta por que o diretor quer conversar com o seu pai.

Explico tudo para ela. Sobre eu ter apanhado, inclusive ela ficou muito preocupada e nervosa com essa parte da história. Conto sobre o diretor descobrir tudo e querer falar com meu pai sobre isso.

Ela me dá um beijo na testa antes de se levantar do sofá. Eu estou abismado com a calma que ela teve. Nunca imaginei que ela fosse ser tão compreensiva. Mas por algum motivo eu sei que com meu pai as coisas serão bem diferentes. E falando nele, alguma coisa me incomodou no jeito que minha abuela disse para esperarmos. Sinto que algo estava acontecendo, mas ela não quer me dizer. O que será que é?

***

O professor Allen não parava de falar, contando histórias e histórias enquanto todos estavam reunidos em volta da fogueira (que tivemos que buscar galhos e galhos mais cedo para fazê-la).

John e Mike estavam ao meu lado. É claro que nenhum de nós estava prestando atenção no que o professor dizia, tínhamos mais o que fazer.

— Está tudo preparado para mais tarde - dizia Mike, sobre fugirmos para o lago na madrugada. - Espero que vocês não amarelem.

— Acho que eu não vou. - avisei, Mike me encarou como se dissesse: Que merda você está falando?

— Por que não? - perguntou John, num cochicho.

— E se o professor descobrir? - perguntei, mas é logico que o meu medo nem era esse. A única coisa que eu queria era ficar com o James está noite, nada poderia atrapalhar meus planos.

— Fala sério! Você está com medo? - riu Mike. - Ele é um idiota, ano passado fizemos de tudo e ele nem desconfiou.

— E quanto ao grupo que ele disse do ano passado?

— Conversa. Você vai sim, Stephen. O que mais você tem para fazer?

Ah se você soubesse.

Não disse mais nada. Mike às vezes era insuportável, porém o que eles iriam fazer não duraria a noite toda. Eu só esperava que o James ficasse acordado me esperando.

James estava sentado quase do lado da professora Parsons com Evilyn ao seu lado. Ele não olhou mais para mim depois que montamos a barraca juntos. Parecia estar me evitando.

—-

— Eu não vou entrar aí - disse me recusando a entrar pelado naquela água fria. E daí que estava calor? Isso não queria dizer que a água estaria quente.

— Para de ser marica. - respondeu Mike tirando suas roupas.

— Ahhhhhhh, porra está muito fria - gritou John já dentro do lago. Ele deu um mergulho com tudo. Seus cabelos grandes estavam molhados caídos no seu rosto, ele os jogou para trás.

— Agora que eu não entro mesmo.

— Você é um covarde. - gritou Mike levantando os braços e entrando nu no lago - Aghhhhhhh. Fria.

Ele mergulhou e não o vi mais, só depois de alguns segundos.

— Vem, Stephen! Porra meu! Para de ser covarde. - Mike gritou depois de algum tempo.

Respirei fundo e por algum motivo, que não tenho ideia, comecei a tirar minhas roupas. Que ideia mais idiota. Mais tosca. Entretanto eu não queria que eles ficassem pensando que eu era um medroso. Eu só queria voltar para o acampamento e dormir com James.

— Como vamos voltar molhados depois, posso saber? - perguntei, à um pé do lago a minha frente, já completamente nu - Vocês pensaram nisso?

— Não - começou a rir John, dando outro mergulho. Pelo visto já havia se acostumado com a temperatura da água.

Entrei e senti que facas estavam atravessando meu corpo.

— Droga! - gritei, dando um mergulho logo em seguida. Pensei que ao fazer isso seria melhor, mas não, quando emergi na superfície senti um frio estrondoso. - Que grande ideia, Mike. Obrigado.

— De nada. - riu ele, voltando a nadar.

—-

Voltamos em silêncio para o acampamento. Mike não parava de rir. Os cabelos de John ainda estavam ensopados, e minha bermuda estava grudada no meu corpo, achei melhor não colocar a camiseta. Quanto menos roupa molhada melhor. Eu ainda estava tremendo por causa da água fria.

— Nunca mais faço isso. - cochichei para os dois. - Nunca mais.

John e Mike entraram nas suas devidas barracas e eu fui até a minha. Resolvi montá-la bem próxima a uma arvore e longe das outras barracas. Não tão longe pois havia um limite (o professor fez questão de nos avisar), mas preferi deixá-la bem afastada para não correr o risco de ninguém nos ouvir.

Abri o zíper e entrei. Senti um alivio, ali já estava bem mais quente. A barraca era bem pequena. James estava deitado de lado do lado direito, por cima do colchão de viagem. Não usava nenhum cobertor. Deixei a camiseta num canto e tirei a bermuda com minha cueca, também molhada. Será que ele estava fingindo que dormia? Me deitei ao seu lado, colocando o braço direito em volta dele.

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— James? - o chamei. Nada. Não recebi resposta. Acendi a luminária que James trouxe. Me inclinei e vi que ele estava com os olhos fechados. Sua respiração era lenta. Ele estava mesmo dormindo.

Nem me esperou!

Beijei seu pescoço devagar para ver se ele se mexia.

— James - chamei mais uma vez no seu ouvido. Ele se mexeu. Voltei a beijar seu pescoço.

— Ste?

Eu amava quando falava meu nome assim.

— Estou aqui. Por que não me esperou? - apertei sua barriga.

— Esperei. Mas fiquei cansado. - disse ele ainda com a voz de sono. James coçou os olhos e se virou, deitando de costas. - Segurei seu rosto e ele tremeu. — Você está gelado - eu sorri. - E pelado?

— Fiz uma besteira. Depois eu te conto.

Beijei James. Ele ainda estava sonolento, mas retribuiu com carinho. Ele envolveu seus braços no meu pescoço. Passei a mão por sua cintura, descendo devagar até chegar na calça de moletom que ele estava usando, abaixei-a um pouco e depois movi minha mão para segurar no seu...

— Não - ele disse, segurando meu pulso com força, me impedindo de tocar no seu membro mais precioso. - Aí não.

— Você prefere atrás? - perguntei, olhando em seus olhos. James evitou me olhar. - O quê?

— Alguém pode nos ouvir. - olhei em seus olhos, não sabia dizer se ele estava com medo ou com sono.

— Não se não fizermos barulho. - sorri e ele continuou com aquele olhar. Eu não ia conseguir tocá-lo se James continuasse com essa expressão. - Tudo bem. Me dá mais um beijo então.

Aproximei-me devagar para beijá-lo. Fui delicado. Aprofundei o beijo com lentidão, sentindo sua língua na minha. Ele apertou meu braço e meu pescoço, onde permaneciam suas mãos. Eu adorava quando ele fazia isso. Me ajeitei, para ficar por cima dele e continuei o beijo com pressa. Com mais agressividade, com a intensão de provocar, quem sabe ele não mudava de ideia. Movi minha perna e foi aí que ela apertou o centro das suas duas pernas, não foi minha intenção fazer isso, mas veio a calhar. James cravou ainda mais sua mão nas minhas costas, quase me machucando, ele parou de me beijar e soltou um gemido baixo.

— James, shhh. — Ele continuou do jeito que estava, só que sua cabeça agora estava pousada no meu peito, ele estava cobrindo seu rosto. Respirando com força. — James? - Ele não se mexeu. Afastei meu corpo do dele e deitei ao seu lado. James deitou a cabeça no colchão. Segurei sua cintura e o fiz se virar para mim. — James, está tudo bem.

Ele me observou. Seus olhos estavam gritando sono. Beijei sua bochecha e depois sua testa. Apaguei a luminária e então ele se aconchegou em meus braços.

***

Evilyn passa na minha casa mais tarde naquele dia. É lógico que ela não ia aguentar até amanhã para saber o que tinha acontecido. No meu quarto conto para ela tudo o que aconteceu. Evilyn não parece tão surpresa.

— Era de se imaginar que sua avó iria reagir assim. Ela é tão doce. Mas e o seu pai?

— Não contei para ele ainda e nem vou contar.

— Mas e amanhã você vai fazer o quê quando o diretor perguntar por ele?

— Minha abuela pediu para que eu não contasse agora e disse que iria no lugar dele.

— Ela é mesmo maravilhosa. O que foi? - pergunta ela percebendo minha expressão nem um pouco confiante.

— Minha abuela disse algo que não sai mais da minha cabeça. Ela disse que contar tudo para o meu pai agora não era uma boa hora. O que isso quer dizer?

— Não sei. Talvez ela saiba que a reação dele vai ser diferente da dela.

— Eu acho que tem mais alguma coisa. A reação do meu pai não vai ser diferente se eu contar hoje ou amanhã.

— Talvez ela só queira te proteger, James. Você tem que confiar nela.

— Eu sei.

— E quanto ao Stephen? Como foi a conversa? Ou você não pode me dizer?

Abaixo a cabeça.

— Nós meio que nos beijamos.

— O quê? - ela quase grita. - Eu pensei...

— Não mudou nada. Ainda estamos separados, só que dessa vez por um motivo mais sério.

— Que motivo?

— Evilyn, todos da escola vão descobrir sobre mim, eu não quero que descobriam sobre ele também.

— Porque você é um idiota, James. Vai deixar ele se esconder enquanto você passa por tudo isso sozinho?

— Você não entende, não tem como me entender. Eu não desejo o que vou passar nem para o meu pior inimigo.

Ela vê que eu estou falando sério e parece entender o meu ponto de vista.

— Você tem razão, estou sendo egoísta. Mas, não é justo.

— A vida não é.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Sem saber o que dizer. Eu sei que ela quer falar um monte de coisas sobre Ste, mas está evitando para não brigarmos.

— Ainda estou me sentindo muito mal por hoje. Eu devia ter pensado mais antes de ter ido falar com o diretor.

— Não adianta ficar pensando nisso agora.

— Ainda está chateado comigo, eu sei. Eu faria qualquer coisa para te recompensar. É só você me pedir.

— Vou pensar em algo. - digo para confortá-la. A verdade é que o que Evilyn fez realmente teve consequências. - O que não consigo entender é como você teve coragem de dizer para o diretor que eu sou gay.

— Mas eu não disse. - ela está espantada.

— Você contou da briga Evilyn, ele ia querer saber o por quê.

— Eu contei que o Mike te espancou e que você podia ter morrido, e que isso poderia acontecer dentro da escola se ele não fizesse nada. Só isso. O Mike que deve ter contado a razão.

— Faz sentido. Ele disse para o diretor que eu estava dando em cima dele.

— O quê? Que imbecil!

— Nem me fala. Imagina a minha reação quando o diretor me disse isso? E é claro que ele não acreditou em mim. Não quero nem ver amanhã. Tenho certeza que ninguém vai acreditar em mim.

Evilyn pega na minha mão.

— Você sabe que vou estar sempre aqui. E prometo - ela levanta a mão como juramento. - Não vou fazer mais nada sem te consultar primeiro.

—-

Chegona escola cedo no outro dia acompanhado pela minha abuela. Vamos direto para a sala do diretor. A conversa não é nem um tanto civilizada. Por conta da minha abuela e não do diretor. Ela fica brava por tudo aquilo ter acontecido comigo e mais inconformada ainda quando o diretor lhe conta o "nosso acordo" sobre as aulas de educação física.

— Você quer excluir meu neto das aulas? - pergunta ela zangada. É até estranho vê-la daquela maneira, já que ela é sempre tão gentil e sorridente.

— Não, Senhora Rodriguez. É só uma questão para a segurança de James.

— Segurança? Segurança seria se você colocasse ordem nos alunos que frequentam essa escola. Se eles tivessem respeito. Como meu neto vai ser visto como igual se você quer exclui-lo das atividades com os outros alunos?

O diretor Walter está literalmente desconfortável com aquela situação toda. Minha abuela não está sendo nem um pouco delicada. Eu não digo nenhuma palavra, a não ser quando alguns dos dois me pergunta algo.

— Eu realmente espero que nada mais aconteça com o meu neto. Ele não é diferente de ninguém aqui. Alias ele é um dos alunos mais inteligentes. Você deveria considerar muito isso, diretor.

Saímos da sala e damos de cara com Mike e o pai dele. Abaixo a cabeça imediatamente e minha abuela percebe do que se trata. Ela apenas encar Mike com desprezo e depois fita o pai dele severamente. Os dois são muito parecidos. O pai de Mike também é careca e forte. Bem forte.

— Você que é o pai do garoto que bateu no meu neto? - pergunta ela com rispidez.

Eu quero morrer. Por que minha abuela está fazendo isso? Eu sinto que tudo vai piorar se ela não parar.

— Sim. E sinto muito, garoto. - O pai de Mike olha para mim. Sua expressão não é de alguém que está se desculpando. Está claro que ele está fazendo isso só para não precisar discutir com uma senhora.

Apenas aceno para o pai de Mike e volto a encarar o chão, tentando magicamente convencer minha abuela por pensamento para irmos embora.

Gracias, sangue latino.

— Devia dar mais educação para o seu filho. Meu neto podia ter morrido.

— Mas não morreu. - responde Mike, sem mostrar respeito.

— Mike! - grita o pai dele. - Me desculpe. Isso não vai mais acontecer. Pode ficar tranquila.

— Sr. Smith pode entrar, por favor. - ouço a voz do diretor Walter e eles se levantam.

— Com licença. - diz o Sr. Smith e depois entra na sala, com o filho em seus calcanhares.

— Não pode abaixar a cabeça para tudo, James. - observa minha abuela. - Não tem do que se envergonhar. Você não fez nada de errado.

Aceno com a cabeça respirando fundo. Minha abuela está me protegendo de todas as maneiras possíveis. Eu nunca imaginei que uma coisa dessas pudesse acontecer. Fico muito feliz por dentro, muito mesmo, e pensei no quão seria diferente se meu pai estivesse aqui. Isso se ele viesse. Pois creio que não teria coragem de passar essa vergonha.

Minha abuela vai embora logo, me deixando com Evilyn. Minha amiga quer saber tudo e explico o que aconteceu.

— Nossa, sua avó é mesmo demais. E ela está mais do que certa. Você não pode ficar sem frequentar uma aula. Isso pode te prejudicar quando for entrar numa faculdade.

Minha vó está fazendo com que eu a ame mais. Não imaginei que coubesse mais amor no peito por ela. Mas no momento estou preocupado com outra pessoa, que ainda não vi hoje. Evilyn não demora para perceber que eu estou distraído. Não consigo ver Ste em lugar nenhum.

— Está procurando ele? Pensei que vocês estivessem separados.

— Estamos separados. - confirmo. Eu só quero vê-lo. Só isso.

Evilyn dá de ombros e vamos juntos para a aula de biologia.