Nova fase'

Extra


Eu passo pela cozinha antes de sair, papai está mexendo em algo na panela, se vira e me olha fazendo uma cara surpresa.
— Calça de moletom e camiseta? O tema de hoje é festa do pijama? – eu acabo rindo.
— Não vou pra festa hoje – agora a cara dele é ainda mais surpresa que antes, eu faço uma careta, pego alguns pães de queijo, colocando-os em um saco de papel – Vou passar lá na Luiza, ela tá meio doente – ele abre um sorrisinho – Ah nem começa, pode desafazendo esse sorriso.
— Não disse nada, quer dizer, só ia dizer pra você levar um pedaço do bolo também – ele dá de ombros e vira de costas pra mim mexendo na panela de forma mais concentrada.
— Não precisa me esperar acordado...
— Eu já desisti disso há um bom tempo – ele fala e me olha com um meio sorriso, reviro os olhos e saio levando o saco com os pães.
A caminhada até o prédio da Luiza demora uns 15 minutos, encontro algumas pessoas conhecidas pelo caminho e basta um aceno pro porteiro que ele libera minha passagem com um sorriso simpático no rosto.
— Tava sumido eim – ele brinca comigo quando passo pela sua cabine.
— Só pra ver se sentem minha falta – nós rimos e logo o elevador chega, me despeço com um aceno e aperto o numero 5, em poucos segundos estou tocando a campainha da porta 502.
— Ai, ainda bem, você demorou, não queria deixar ela sozinha mas eu tenho que sair agora, o Léo já tá me esperando... Ela tá um saco, sério, bem chata mesmo... Ahhh e ainda não comeu nada, então... Boa sorte! – Amanda, que é a colega de apartamento da Luiza, fala tudo de uma só vez enquanto eu ainda estou parado na porta.
— Bom te ver também – ela ri, puxa a bolsa de trás da porta, me dá um beijo na bochecha e sai.
— Faz ela comer alguma coisa – é o ultimo aviso antes dela entrar correndo no elevador, eu acabo rindo, entro e fecho a porta do apartamento, já conheço o lugar perfeitamente, tanto quanto minha casa, não é muito grande mas tem algo aqui que sempre me deixou a vontade, deixo o saco com os pães no balcão que divide a cozinha da sala e vou para o corredor dos quartos, o da Luiza é logo o primeiro, dou uma batida e logo abro a porta, ela apenas levanta os olhos do livro que estava lendo.
— Você tem que esperar liberarem sua entrada...
— Agradeça que eu tenha batido dessa vez – ela revira os olhos e volta atenção pro livro, o quarto dela é outro lugar que me deixa a vontade, é quase como se fosse um espaço meu também, a decoração, os móveis, tudo parece combinar e deixar aconchegante, eu me jogo na cadeira giratória e dou impulso pra chegar até a cama dela, a batida é mais forte do que pensei e isso faz ela fechar o livro e me encarar.
— Você vai me pagar outra cadeira se quebrar essa...
— Na verdade eu paguei por essa também – eu dou de ombros e ela faz uma careta.
— Você disse que foi um presente, não se deve jogar isso na cara... – eu sorrio e me jogo da cadeira pra cama, caindo meio que em cima dela, ela reclama e me empurra pro canto da parede – Por que você não tá se arrumando pra ir pra Delphic? – ela pergunta me olhando curiosa.
— Eu fiquei sabendo que você tava aqui agonizando e fazendo drama, então... – dou de ombros.
— Eu não preciso de babá! E você deveria aproveitar seus últimos dias por aqui...
— Você lembra que eu volto em três meses né? – ela dá de ombros – Além do mais ainda tenho uma semana, então não se preocupe que eu vou fazer valer a pena – dou uma piscada, ela ri mas empurra os lençóis e sai da cama.
— Preciso fazer xixi – ela fala se contorcendo e correndo pra fora do quarto.
— Você sabe o que dizer pra seduzir um homem!
— Vai se ferrar – ela grita já no corredor, eu rio e me jogo ainda mais na cama, pego o livro que ela estava lendo e folheio rapidamente.
— Meu xixi saiu quente, acho que tô com febre interna – ela fala quando volta pro quarto.
— Você sabe como me excitar – ela ri e se joga na cama quase sentando em cima da minha barriga.
— Você não precisa mesmo ficar aqui, você sabe né? Eu vou ficar bem!
— Tem certeza? – pergunto virando a capa do livro pra ela, é um livro de romance e ela nunca gostou dessas coisas, pelo menos não na vida real, ela ri e pega o livro da minha mão.
— É legal, quer dizer, algumas partes são melosas demais mas é uma boa história...
— Então Luiza Barshant é uma romântica de conto de fadas? Por essa eu não esperava...
— Pietro Mellark usa moletom num sábado a noite? Por essa eu não esperava...
— Eu posso tirar se isso te faz se sentir melhor? – eu falo com um olhar malicioso, ela ri.
— Eu não acredito que você consegue pensar nisso comigo doente...
— Bom, você tá respirando, lúcida e consegue se mexer, então... Por que não? – ela ri balançando a cabeça como se estivesse impressionada.
— Tem catarro saindo de mim e você pensa nisso?
— Agora já não tô pensando tanto assim – faço uma careta e ela ri – Você realmente sabe como quebrar um clima, parabéns, você perdeu uma noite de sexo incrível!
— Perdi é?
— Com certeza, eu perdi todo tesão...
— Poxa, que pena! – ela faz uma cara triste, então se levanta – Então vou tomar um banho mesmo – ela dá de ombros, então tira o casaco de moletom largo que ela estava, joga na cama e depois tira a calça de pijama preta, ficando só de calcinha e sutiã.
— Talvez nem tudo esteja perdido – eu falo e puxo ela pela mão pra cama de novo, ela ri então eu fico por cima dela que me dá um sorriso satisfeito, eu a beijo e logo ela está arrancando minha camiseta, minha boca vai para o seu pescoço e ela agarra meu cabelo se contorcendo então do nada ela solta um espirro, eu acabo rindo e paro, paro meu rosto de frente pro dela rindo então ela espirra novamente e na minha cara.
— Sério? – pergunto encarando ela que agora começa a rir enquanto eu esfrego meu rosto.
— Eu disse que tô doente!
— Agora com certeza você acabou com clima – eu também acabo rindo e saio de cima dela.
— É que tá frio aqui!
— Frio? Legal, isso não é coisa que se diga quando o cara tá em cima de você – ela ri ainda mais e mesmo tentando parecer ofendido acabo rindo junto com ela.
— Sem sexo incrível? – ela pergunta me olhando e tentando segurar o riso.
— Sem sexo incrível! – ela faz uma cara triste e então sai da cama de novo.
— Então eu vou mesmo tomar banho dessa vez – ela dá de ombros, pega a toalha dela e sai do quarto, eu acabo rindo sozinho, saio da cama, coloco o livro dela em cima da mesinha ao lado do seu computador e vou pra cozinha, remexo na dispensa e então quando ela sai do banho, a panela já está no fogo, ela senta no banco e se debruça sobre o balcão.
— Cheiro bom, o que é isso?
— Canja! – ela me olha com uma cara de decepção.
— Sério?
— Muito sério e não reclama antes de provar.
— Eu odeio canja!
— Por que ainda não provou a minha...
— A menos que a sua tenha gosto de costelinha de porco com molho de laranja, então eu vou continuar odiando – dou a volta do balcão e a alcanço.
— Pelo menos tirou a calça de pijama – falo olhando pra ela que está com um short curto mas o mesmo casaco de moletom de antes, ela dá de ombros e quando me jogo no sofá ela se joga ao meu lado, pega o controle e liga a tv, então reparo ao lado da tv um arranjo de flores vermelhas ainda com um laço, aponto numa pergunta muda, ela dá de ombros.
— Léo!
— De novo?
— Toda semana ele traz um... – ela revira os olhos – Com o dinheiro que ele gasta nisso podia passar a trazer o jantar!
— Como você é romântica – nós dois rimos.
— Sou prática e realista!
— Isso explica o livro que você estava lendo...
— É só um livro, deixa de ser chato – ela reclama me empurrando com uma almofada.
— Vai me dizer que não ficou suspirando?
— Não suspiro com facilidade!
— Tá, então o que um cara tem que fazer pra te ver suspirar? – ela ri e se ajeita no sofá, colocando a almofada em cima das suas pernas dobradas.
— Essa é fácil! Até poderia ter flores mas... Teria que ter um jantar... E pelo amor de Deus, nada dessas saladas ou comidinhas leves, eu ia querer tudo que tenho direito, costelinhas, carne ensopada, cozido de carneiro, batata frita, ahhhh com certeza teria que ter batata frita e de sobremesa brigadeiro de panela e chocolate com morango e mais qualquer outra coisa com chocolate... – ela fala quase suspirando já e com um sorriso que me faz rir.
— O Pyter tinha que ouvir você agora?
— O Pyter? Por que?
— Por que ele me acha a pessoa menos romântica do mundo, mas se ouvisse você... – ela me acerta um tapa no braço, mas acaba rindo.
— Bom pelo menos depois se não der certo, eu teria tido um belo jantar... – nós dois rimos.
— Você é a garota mais louca que eu conheço!
— Ahhh obrigada! – ela fala e me abraça – Você também é legalzinho...
— Qual é? Legalzinho? – encaro-a que dá de ombros, então puxa ela pelas pernas e faço cócegas, ela odeia isso e mesmo gargalhando se debate loucamente.
— Eu odeio você – ela fala quando eu paro, sorrio satisfeito.
— Não odeia, não!
— Ah eu odeio, bastante – ela garante, então me aproximo dela, me inclinando sobre ela e deixando nossos rostos próximos demais, os olhos dela vão pra minha boca e eu sorrio orgulhoso, mas ela me empurra e coloca a almofada entre nós – Você não é tão irresistível quanto pensa que é!
— Continue se enganando! – falo rindo, me levanto e volto pra cozinha enquanto ela fica procurando alguma coisa pra assistir na tv, termino de preparar a canja e sirvo dois pratos, coloco-os na bandeja e pego dois pães de queijo que trouxe de casa, então volto pro sofá da sala, ela faz uma careta quando me vê.
— Eu não vou comer isso!
— Vai sim! – garanto, coloco a bandeja na mesinha de centro, pego um prato e ela se recusa a aceitar – Ok, do jeito difícil! – encho a colher e levo até a boca dela, ela olha alguns segundos mas apenas a encaro sério, então vendo que não tem jeito, ela aceita e abre a boca, mas ao invés de fazer uma careta, ela parece impressionada.
— Isso tá muito bom – ela fala já pegando o prato da minha mão e comendo outra colher, eu acabo rindo.
— Eu disse que era bom! Você tem que aprender a experimentar antes!
— Deve ser trauma de infância! Só serviam sopa lá no orfanato – ela fala dando de ombros e já comendo mais uma colherada – Tá, não era só isso, mas a canja era o menos ruim e olha que na verdade a canja era bem ruim, então... – ela ri, sem parar de comer.
— Eu tenho certeza que você está exagerando...
— Ah não mesmo! Os únicos dias bons eram no Natal, ano novo e na ação de graças, tirando isso sempre era sopa ou canja ou qualquer outra coisa com agua...
— E o que tinha de tão especial nessas datas?
— Costelinha! – ela fala fechando os olhos e fazendo uma cara como se estivesse saboreando uma agora mesmo, eu acabo rindo – Eu amo costelinha!
— Nem tinha percebido! – ela faz uma careta e nós continuamos conversando, ela conta mais sobre como eram as coisas no orfanato, não é nenhuma novidade pra mim que ela tenha vivido em um, mas é a primeira vez que ela fala disso tão abertamente, geralmente ela evita, apenas relembra alguma história de alguma amiga que tinha por lá, mas nenhuma experiência dela mesmo, mas hoje ela realmente está bem falante e quando termina o primeiro prato, ela ainda pega mais, ficamos jogados pelo sofá e assistimos um programa de comédia que ela escolheu, até que meu telefone toca, antes que eu atenda ela vê o nome e a foto.
— Sério? Você tá pegando a Jayle?
— Ei, é muito feio invadir a privacidade dos outros... – ela arranca o celular da minha mão.
— Não faz isso! Não... – ela sorri e então aperta o botão de atender – Eu vou te matar – sussurro e então ela abre um grande sorriso.
— Alô? – sua voz sai forçada a parecer animada e ela sorri de um jeito vitorioso – É sim, é o telefone dele, é que ele está no banho agora, mas você quer deixar recado?... Tem certeza... Eu posso pedir pra ele te ligar, é que ficamos meio ocupados hoje e... Ah peraí ele tá saindo do banheiro... Amor, mô, telefone pra você, é a... Qual seu nome mesmo querida? Alô? Alô? – ela arregala os olhos – Nossa que mal educada, desligou na minha cara! Será que foi algo que eu disse? – ela coloca a mão na direção do coração tentando parecer surpresa.
— Você é um ser humano horrível e uma péssima amiga – puxo o celular da mão dela.
— Eu? Você é um ser humano horrível e um péssimo amigo!
— Eu? O que eu fiz?
— Eu só te pedi uma coisa, só umazinha e sabe o que foi? Pra você não pegar essa nojenta da Jayle, essa garota é... Nojenta! E você disse que não ia fazer, você me prometeu que não ia pegar ela, Pietro – ela me encara.
— Teoricamente eu ainda não peguei ela!
— Você é um imbecil! Tem mil garotas por aí, tenho certeza que não ia ser difícil pra você arranjar outra...
— Nem um pouco! Mas como você me fez perder um gol de cara, acho justo que você pague minha recompensa – eu sorrio e tiro a almofada do nosso meio.
— AH nem pensar que eu vou ser a reserva dessa garota, nunca, tipo NUNCA mesmo! – ela fala me empurrando, mas insisto, puxo-a pelas pernas e acabo por cima dela – Eu não vou fazer isso, esquece...
— Não? Não mesmo?
— De jeito nenhum... – ela garante, minhas mãos sobem pela sua coxa e ela ainda se esquiva, então levanto o casaco dela e beijo sua barriga, subindo lentamente, aos poucos os empurrões diminuem, paro, tiro minha camisa e jogo pra trás do sofá.
— Eu odeio você – ela fala antes de me puxar pra junto dela de novo e me beijar.
Saio do apartamento um pouco depois de uma da manhã, Luiza ficou dormindo e com o tempo que conheço ela, sei que não devo acordá-la nunca, tipo nunca mesmo, ela fica completamente mal humorada, por isso saio na ponta dos pés e passo a chave por baixo da porta. Chego em casa e vou direto pro quarto, me jogo na cama e apago em poucos segundos, acordo com meu pai batendo na porta.
— É o ultimo domingo do castigo você deveria estar contente – ele fala quando entro na cozinha ainda cheio de sono.
— Ah sim, quem não ficaria feliz acordando as 4 da manhã... – falo com ironia e pego a caneca de café da mamãe que estava na mesa, ela me faz uma cara feia, mas me deixa tirar um gole.
Saímos de casa juntos e encontramos Pyter e Pérola já prontos e por algum milagre da natureza Pyter não está reclamando a cada segundo, até papai percebe.
— O que houve que você ainda não reclamou ou ameaçou um suicídio?
— Difícil agradar você ein? – ele fala fazendo uma cara de ofendido.
— Depois a dramática sou eu! – Pérola fala e ele finge dar um empurrão nela.
— Você é dramática!
— Cala a boca!
— Ok, cala a boca os dois – eu falo e no mesmo segundo os dois olham pra mim me encarando como se eu tivesse cometido um erro grave.
— Se encostarem nele, os dois terão mais um domingo! – papai fala e eu abro um sorriso vitorioso, então seguimos pra padaria com minha segurança intacta.
Saímos de lá na hora do almoço, como ninguém fez nada pra almoçar, acabamos todos mais os meninos, Louise e Ian, no restaurante do Centro, os meninos atacam a mesa de sobremesa e quase temos que arrastá-los pra casa, mas no fim, o dia foi realmente bom.
Eu ainda continuo indo ao trabalho todos os dias dessa ultima semana antes do curso e na sexta feira logo depois do fim do expediente passo na praça pra comprar algumas coisas pra viagem que estavam faltando.
— Você não devia tá arrumando as malas ou algo assim? – a voz me distrai, Ryan está de braços cruzados me olhando de um jeito curioso e Pyter também me olha esperando uma resposta.
— Tive que comprar umas coisas de ultima hora – levanto algumas sacolas e eles fazem uma cara de impressionado.
— E a mamãe? Já tá pirando?
— Cara, ela tá pirando desde o dia que sabe da matricula – ele acaba rindo por que é verdade.
— Ela vai ficar bem, vou deixar os meninos com eles – ele fala com um sorriso vitorioso, ele e Ryan riem.
— E você faz isso apenas por eles né? – ele dá de ombros.
— Pietro! – a voz meio eufórica demais vem de dentro de uma loja de sapatos, nós paramos e a garota sai quase correndo de lá e se pendura no meu pescoço – Eu achei que não fosse te ver antes da viagem – ela fala ainda abraçada em mim e sorri daquele jeito malicioso enquanto os dois apenas me encaram com sorrisinhos divertidos, a garota é a Bruna, uma garota que eu costumava ficar a alguns meses atrás, nós sempre terminávamos brigando e depois nos pegando de novo, até o dia que ela quis ser mais do que isso, então caí fora, ela no entanto não levou numa boa e sempre dava um jeito de me provocar, pra provar que eu fiz a escolha errada.
— Achei que você fosse ser uma daquelas que iria soltar fogos de alegria...
— Eu nunca faria isso – ela fala depois de rir e me dá um leve tapa no braço – Na verdade eu estava pensando se... bem, quem sabe nos encontremos essa noite no Delphic... é a sua ultima noite aqui antes da viagem, não é?
— É sim!
— Então deve terminar em grande estilo – ela sorri, beija minha bochecha, perto demais da minha boca e então sai com um sorriso malicioso.
— É, nós treinamos ele direitinho – Ryan fala depois de me cutucar e sorri de um jeito divertido, - Eu tenho meu próprio charme – eu falo e Ryan e Pyter acabam concordando.
Pego carona com Pyter e quando chego em casa mamãe está saindo do meu quarto.
— Você tá levando muita roupa. Pra quê toda aquela roupa se você volta no fim de semana? Você pode levar o básico e depois se precisar de mais coisas leva... – eu acabo rindo quando ela fala, ela para de falar e me olha meio chateada, então vou até ela e a abraço apertado, balançando-a de um lado pro outro até ela rir.
— Eu tenho que estar preparado, posso conhecer a mulher da minha vida nessa viagem, espero estar arrumado... – ela para e me encara sem acreditar.
— Você já conheceu, só não quer admitir!
— Ok! Eu vou tomar um banho e você deveria ir ver onde o papai está...
— Você sabe que é verdade.
— Beijo, também te amo – falo, empurrando-a pra fora do quarto, ela sai rindo e eu jogo as sacolas na cama e vou pro banheiro.
Janto com eles e acabo tendo que lavar a louça, assistimos um programa na televisão juntos e mamãe acaba cochilando, o que faz eu e papai rirmos da cara dela que acorda e diz que somos infantis, mas vejo ela rindo antes de levantar do sofá. Saio de casa quase meia noite, vou direto pro Delphic e encontro o pessoal lá, Luiza ainda não chegou, ela foi num encontro com um carinha que é novo no Distrito e ainda não chegou.
— E você não sente ciúmes? – Chris pergunta quando nos afastamos pra pegar mais bebida.
— Cara, somos amigos, por que eu teria ciúmes?
— Não sei como você consegue fazer isso...
— Isso o quê?
— Ficar com ela e não... Você sabe, se apaixonar, nem nada... – eu acabo rindo – Cara, eu sai com a Penny três vezes e já tô pensando em pedir ela em namoro... – eu quase cuspo a cerveja que bebi.
— Você o quê? Quando você ia me contar isso?
— Agora! Quando eu disse: Tô pensando em pedir ela em namoro – ele dá de ombros e dá um gole na cerveja dele.
— Uau!
— Se amarrar não é tão ruim!
— Não disse que é! Só... Fiquei surpreso! Eu acho que você deveria seguir em frente e pedir ela em namoro, quer dizer, vocês são até bonitos juntos, ela é legal, por algum milagre acha você mais bonito do que eu, o que tira alguns pontos da inteligência, mas... – ele ri mas me acerta um soco no ombro – É sério! Você baba por ela, acho que você tá fazendo uma ótima escolha – garanto e o abraço, sinto ele sorrindo e me abraça mais forte.
— Pietro! – reconheço a voz mesmo com a musica alta, Bruna está parada logo atrás do Chris, solto-o do abraço e ela está sorrindo pra mim em um vestido azul escuro curto e decotado e o cabelo solto caindo sobre os ombros.
— Bruna! – cumprimento-a com dois beijos na bochecha.
— Preciso falar com você – Chris me puxa para alguns metros longe dela – Que porra você tá fazendo?
— O quê? Não fiz nada!
— Se você me disser que por um segundo passou na sua cabeça ficar com ela hoje, eu arranco seus olhos...
— Eu não vou ficar com ela – garanto mas ele me olha desconfiado – Ah qual é? Não é divertido ver ela me cercando mesmo depois de ter dito que me deu o fora? – ele abre um sorriso divertido.
— É meio divertido sim!
— Viu! Me deixa aproveitar – ele ri e me empurra na direção dela.
Nós dançamos e toda hora ela chegava perto demais, se esfregava demais em mim e eu continuo fingindo não perceber, até que ela me agarra pelo braço e me tira da pista.
— Eu acho que você desaprendeu como se diverte – ela fala com a mão descendo pela minha barriga, por cima da camisa mas arranhando com as unhas, então beija meu pescoço, subindo até minha boca, mas antes do beijo eu me esquivo.
— Na verdade, só não estou interessado mesmo, acho que ainda não me recuperei do fora que você me deu – falo com ironia, então ela se afasta e me encara.
— Você é um imbecil! – ela fala com raiva.
— Eu digo isso o tempo todo! – Luiza fala parando atrás dela, Bruna a olha com raiva e então sai quase empurrando todo mundo a sua frente.
— Você veio! – eu falo abrindo os braços pra ela que se joga rapidamente me abraçando apertado.
— Claro que eu vim, é sua despedida, vou passar três meses sem te ver, poderia soltar fogos agora mesmo – ela fala rindo.
— Não fiquei tão feliz, eu ainda venho aos fins de semana!
— Droga, esqueci disso – ela faz uma cara triste, mas quando a abraço de novo, ela solta uma risada alta – Não conta pra ninguém mas... Talvez eu sinta sua falta.
— Tenho certeza que sim! Já eu, nem vou lembrar seu nome – ela me dá um tapa e nós rimos – E o novato, aprovado?
— Nota 7! – ela fala fazendo uma cara não muito animada – Mas posso ser uma boa professora – nós rimos e nos juntamos ao pessoal de novo e a noite só acaba quando a boate fecha.
Vou pra casa e apago assim que deito na cama, mas acabo acordando cedo por causa do barulho e vozes que vem lá debaixo, o cheiro de bacon e panquecas alcançam meu quarto, desço sem nem escovar os dentes e encontro todo mundo, meus pais, Pyter, Keyse, os meninos, Loui, Pérola, Ian, Ryan, Nathy, Bella e Luiza.
— O café pré viagem – papai fala e abre os braços pra mim, eu o abro e cumprimento todos os outros, eles prepararam um verdadeiro banquete, tem tanta comida que mal sabemos por onde começar, mas só de ter todos eles aqui já significa muito, eu quero fazer esse curso, quero muito o cargo e não estou arrependido mas nunca fiquei longe deles, então mesmo animado, tem uma parte minha que já está sofrendo por não ter eles junto comigo lá, mesmo assim nos divertimos durante toda manhã e quando chega o horário do almoço e do meu trem, Pyter é quem me leva até a Estação, me despeço dele com um longo abraço e entro no trem.

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É impressionante chegar aqui no Treze, eu já tinha visto fotos, conheço toda história daqui mas é fascinante ver como as coisas por aqui funcionam, basicamente tudo é no subsolo, claro que eles construíram bastante coisa sobre a terra, mas entrar nos túneis é como entrar em um ninho muito bem pensado, são corredores, elevadores e várias divisões que parecem nunca ter fim, sem falar que qualquer lugar sempre está movimentado, desde que saí do trem não fiquei nem um segundo sozinho, qualquer lugar que eu vá, qualquer corredor ou sala que eu entre tem gente, ainda não sei se é ruim, mas é uma novidade que vou ter que me acostumar. Sou levado até o meu quarto, que na verdade não é só meu, pra variar já tem gente nele, um cara alto, bem magro e com uma barba bem grande me recebe com um abraço como se fossemos amigos de infância.
— Nós vamos ser colegas de quarto, maneiro! E você é de onde?
— Doze!
— Maneiro! Eu sou do nove! Qual seu nome?
— Pietro!
— Bom Pietro, eu sou o John! – ele aperta minha mão de um jeito exagerado de novo, eu tento sorrir o mais simpático que consigo – Eu cheguei ontem, se quiser fazer um tour pelo lugar, posso te ajudar...
— Aceito! – jogo minha mochila em cima da cama que está desocupada e logo saímos.
Andamos por mais de uma hora, subimos para ver a praça e outras lojas, conhecemos algumas pessoas que são simpáticas e depois vamos para o refeitório.
A noite voltamos para superfície em um espaço onde tem musica e algumas bebidas, quando volto pro quarto ligo pra minha mãe, converso com ela por uns 40 minutos, depois ligo pra Luiza e passamos quase duas horas nos falando.
— Inicio de namoro é? – John pergunta já jogado na cama dele, mas com um livro aberto.
— Somos só amigos! – ele ri, mas então para e me olha virando a luminária dele pra mim.
— É sério?
— Sério! Só amigos! – eu falo e ele faz uma cara de impressionado e dá de ombros, eu penso em perguntar o por que da pergunta, mas desisto e vou dormir.
No dia seguinte acordamos cedo e somos direcionados para o lugar das aulas, tudo foi incrível, somos ao todo 8 alunos, o dia inteiro passamos focados nisso e é assim durante a semana toda, todos os dias ligo pra casa, quando chega fim de semana, descobri que não vou poder ir pra casa todo fim de semana, apenas um sim e outro não, quando conto isso pra mamãe ela quase tem um ataque no telefone mas tenta se conformar, a semana seguinte é ainda mais puxada, mas muito boa também, no sábado seguinte pego o primeiro trem pra casa e conto os segundos até chegar ao Doze, mamãe quase me sufoca de tanto que me aperta e me beija e mesmo falando com ela todos os dias, ela me refaz todas as perguntas e quer saber todos os detalhes e é claro que eu respondo tudo, almoço com eles, passo no Pyter e na Pérola e só depois vou pro apartamento da Luiza, eu toco a campainha e em poucos segundos a porta abre, assim que me vê ela pula em mim num abraço apertado como se não nos víssemos a muito mais tempo.
— Você disse que vinha todo fim de semana – ela fala já me enchendo de tapas, eu tento me esquivar.
— Mãozinha forte ein – eu reclamo me esquivando e entrando no apartamento.
— Duas semanas, Pietro! Duas semanas! Não foi esse o combinado – ela me encara com as mãos na cintura.
— Não foi culpa minha!
— Eu nem deveria te receber!
— Ahh quê isso? Vem cá – falo já abraçando ela por trás e beijando logo abaixo da sua orelha, isso sempre faz ela rir, mas tenta se esquivar – Eu também senti sua falta!
— Duvido!
— Eu que duvido, devia tá saindo com o novato e nem lembrou de mim...
— Não mesmo! – ela garante rapidamente.
— Opa, opa, eu vi isso! O que foi isso?
— Nada – ela se solta de mim e vai pra cozinha, deixando o balcão entre nós.
— Luiza! – ela respira fundo.
— A gente não combina!
— Tá, isso foi o que eu te disse no dia que você contou que iam sair...
— Não quero falar disso! – ela dá de ombros e pega uma garrafa de vinho de dentro da geladeira e levanta pra mim – Será que podemos só sentar no sofá e beber?
— Podemos fazer o que você quiser – ela sorri satisfeita, me entrega a garrafa, pega as taças e vamos para o sofá – Sério, ele ainda tá nessa? – pergunto apontando pro buquê de rosas vermelhas na estante da tv.
— Na verdade esse é do novato! – eu olho pra ela esperando mais explicação.
— Só abre a garrafa! – ela fala segurando as taças, então eu abro a garrafa e começamos a beber e conversar até terminarmos a garrafa toda, então a campainha toca, ela se levanta e corre pra atender, ouço a voz de um homem e fico curioso, então aproveito pra levar as taças e garrafas pra cozinha.
— É ele? – o cara pergunta e o reconheço, é o novato.
— Dom, por favor, vai embora! – ela pede tentando fazer ele sair.
— Sou eu o quê?
— O motivo dela ter me dispensado! – eu olho pra ela que evita me olhar.
— Vai embora! – ela exige agora sem muita simpatia, ele concorda e sai, ela fecha a porta – Eu tive que inventar alguma coisa, foi mal!
— Então ele queria e você não?
— Você quer sair? Inaugurou aquele bar lá do outro lado da Campina! – ela sugere forçando animação – Eu pago – ela completa e então eu sorrio animado também, quase uma hora depois nós saímos, ligo pro Chris e encontramos ele e a Penny no bar novo, o lugar é interessante, tem musica, o lugar é grande, com praticamente todas as mesas cheias e conseguimos um ótimo lugar, Penny e Chris estão namorando oficialmente, o que significa que temos uma dose de casal apaixonado durante a noite toda, Luiza e eu rimos de alguns exageros deles mas na verdade a noite foi muito boa.

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