Paws - Um Amor de Cão

A volta para casa e... espera. ESSE CARA??


Pernoitamos no quarto de hóspedes da casa de campo, que dispunha de dois beliches, uma cama de solteiro e – fiquei surpresa – uma inusitada caminha improvisada com cobertores para Teddy.

O dia seguinte foi tão bom quanto o anterior.

Vovô ensinou as meninas á tosquiar as ovelhas e alimentar os gansos. Humorada, me diverti com as trapalhadas de Julia na hora de arrebanhar os carneiros de volta ao curral, ou com o desespero latente de Isabella quando Brutus se aproximou dela, fungando em seu ombro á procura da forragem que ela segurava.

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Teddy observava tudo com um interesse impar, como se nunca tivesse visto nada parecido. Por vezes, minha impressão era a de que ele queria participar daquelas interações entre as garotas e os animais da fazenda.

Quando chegou a hora de ir embora, senti um peso inundar meu peito.

– Temos que ir mesmo? – choramingou Julia, desanimada – poxa, Hermione...

– As meninas podem ficar, se quiserem – meu avô sugeriu, olhando para papai e mamãe – e você também, Hermione. Posso levá-las para a cidade depois, no meu furgão.

Mamãe encarou Isabella e Julia.

– Querem ficar, meninas?

Ambas se entreolharam, indecisas.

– Pensando bem, acho que meus pais ficarão preocupados – Isabella suspirou, acotovelando Julia.

– Ai. É, acho que sim.

Revirei os olhos, segurando o riso. Elas faziam birra na hora de voltar, e, quando podiam ficar, arrumavam desculpa.

Ás vezes eu me perguntava por que eu gostava tanto daquelas retardadas.

– Bem, de qualquer forma, podem voltar quando quiserem, queridas – vovô se despediu abraçando Julia e Isabella – foi um prazer conhecê-las – ele se voltou para mim, me apertando num abraço carinhoso – e foi ótimo rever você, minha neta.

Funguei, retribuindo o abraço, sentindo o coração pesar por ter que me afastar de meu querido avô outra vez.

Vovô guinchou, rindo, quando algo puxou a barra de sua calça.

Ele abaixou-se, afagando a cabecinha de Teddy.

– E você, rapaz... – vovô ergueu o olhar para mim, sorrindo – cuide muito bem da Hermione, ouviu?

Teddy latiu, abanando o rabinho.

Após aquilo, não nos demoramos.

Mas o fato é que a atmosfera emocionada era imperante, enquanto nos afastávamos cada vez mais da velha estradinha de terra e da porteira da fazenda Granger, com vovô acenando ao longe.

Pasma, ouvi Julia soluçar ao meu lado.

Ela franziu a testa, tentando disfarçar a lágrima que quis escapar de seu olho.

– Que foi? – sorri quando Julia gemeu – eu gostei da fazenda. E do seu avô. É crime já sentir saudade?

– Julia, sua sem noção... – Isabella a censurou, embora também estivesse se debulhando num choramingo.

Balancei a cabeça, compreendendo.

Provavelmente, aquela experiência fora uma das mais agradáveis e saudosas da vida delas. Entendia perfeitamente o que estavam sentindo.

Teddy se ergueu em meu colo, olhando para trás e ganindo. Meneou a patinha no ar, como se quisesse, por um lapso de memória, ainda tentar se despedir de vovô Granger.

– Não é um adeus, garoto – suspirando, acarinhei o pelo macio de sua cabecinha – vamos voltar um dia.

Teddy resfolegou, deitando a cabeça em meu ombro, com a expressão conformada, os olhinhos lunares perdidos em pensamentos.

O que eu não daria para saber no que meu cachorrinho estava pensando...

_____________O_______________

Quando chegamos a casa e finalmente desfizemos as malas, eram quase cinco horas da tarde.

Enquanto mamãe e papai terminavam de guardas nossos pertences, fiquei conversando com Julia e Isabella, na murada que separava minha casa da de Isabella.

– Adoramos o passeio – Julia não parava de afirmar – aquela hora que a Isabella se desesperou com o touro foi hilária!

Isabella franziu o nariz, fungando.

– Fala isso por que não foi você que quase teve a bunda furada por uma máquina de matar sanguinária.

Dei risada, enquanto Teddy revolvia-se ao meu redor, como um brinquedinho de corda.

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– Brutus é só o nome do animal, sua... animal – Julia sacolejou a cabeça, arregalando os olhos dramaticamente e gesticulando com a mão para cima.

– Já deu. Mudemos de assunto, senhora... – Isabella levantou as mãos em gesto de rendimento – como Julia costuma tentar sugerir, vamos falar de namorados.

Julia estreitou os olhos, com uma expressão indignada - o que não ajudou em nada para que eu parasse de rir.

Nossa, eu adorava aquelas duas anormais.

– Falando em namorados... – Julia botou a ponta do mindinho na boca, com uma expressão maliciosa – adivinha quem a Isabella está namorando?

– Ele não é meu namorado – surpresa, vi Isabella ficar da cor de um pimentão – eu só acho ele bonitinho.

Normalmente, eu não era o tipo de pessoa que gostava de fofocas. Mas estava disposta a deixá-las um pouco menos tristes com a volta á Londres, então valia o sacrifício.

– Sério? – arfei – quem é?

Isabella coçou a nuca, mordendo o lábio.

– Lembra daquele garoto que costumava te chamar de demônio quando éramos crianças? Stuart Temple?

E lá se foi minha vontade de fofocar.

Bufei, sentindo meus olhos revirarem.

Como eu podia esquecer? Fui humilhada por aquele garoto a minha infância toda. Foi a primeira pessoa que me desprezou quando soube o que eu era. E transformou minha vida num completo inferno.

– Lembro. Foi quando eu fiz aquelas folhas voarem no parque – encarei Isabella – o garoto que descobriu que eu era bruxa, e tentou convencer todo mundo disso. É esse cara?

– Ele mudou, Hermione. Estava morando fora de Londres – Isabella olhava o chão, como se rezasse por um buraco onde pudesse se jogar – e... bem, me disse que queria se desculpar com você. Descobriu que o irmão dele também é bruxo. Mas ele não sabe como pedir desculpas, só isso – Isabella tamborilou os dedos no rosto – homens.

– É. Homens – Julia assentiu, rindo.

Bem, eu não era exatamente uma novata em questão de saber como o sexo masculino costumava ser imprevisível. Rony que o dissesse.

– Esses seres de outro planeta – ri – ah, tudo bem, Isabella. Se eu fosse você, investia.

– Não vai ficar chateada, não é?

– Não, não vou – estapeei de leve seu braço – está na hora de pelo menos uma de vocês desencalhar.

– Obrigada por humilhar, piranha – Julia cruzou os braços, o que só nos fez gargalhar ainda mais.

Estava tão distraída, jogando conversa fora com as meninas, que demorei a perceber que Teddy não estava mais ao meu lado.

Ergui o olhar para a calçada, vendo o cachorrinho latir vigorosamente em direção á rua.

Aproximei-me, curiosa, me espantando com a posição em que Teddy estava. As costas estavam arqueadas, as patinhas distantes uma da outra, e o focinho entreaberto, com os dentes cerrados. Rosnados irritados saíam de sua garganta.

Nunca tinha visto Teddy agir assim, desde que o encontrara.

Finalmente, percebi o que ele estava alertando para nós.

Uma sombra se aproximou, ficando diante da lamparina da calçada.

Julia e Isabella ofegaram, enquanto meus olhos se arregalavam de choque.

– Não sabia que ia vir hoje – Isabella murmurou, parecendo sem graça, mas sorrindo de ponta a ponta.

O estranho também sorriu, piscando para minha amiga.

– Quis fazer uma surpresa. Eu disse que viria me desculpar.

Foi quando o reconheci. Cabelos negros, olhos cor de mel... uma pequena cicatriz em forma de lua na mão esquerda, fruto de um infeliz acidente entre nós dois, quando crianças...

Era Stuart.