Selection

Bônus - Astória Greengrass


05. 02 – Antes da Seleção

Tentei forçar um sorriso genuíno enquanto os meus patrões analisavam a piscina que eu acabara de limpar.

O casal Gold era a típica família no topo do topo, eles tinham o melhor estilo de vida que um Dois podia desejar.

O senhor Gold era um homem velho e barrigudo, era careca e sua voz se arrastava, já a senhora Gold era sua terceira esposa, ela não devia ser mais velha que eu, eu tinha 18, faria 19 em breve, ela tinha 21.

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Eu tinha certeza que ela não se casou por amor, antes de ser a senhora Gold ela era cinco.

Detestava-me com todas as forças, sempre tentava arrumar motivos para me demitir, ela acreditava que eu estava tentando ser a nova senhora Gold.

Não a culpo por ser tão desesperada ou paranoica, o senhor Gold foi sua saída daquele mundo de cincos e pobreza.

―Está terrível, nunca vi serviço mais capenga. ― A senhora Gold declarou, ela tinha pintado seu cabelo de castanho escuro e escondia os olhos azuis por trás de lentes verdes.

―O Serviço está ótimo. ― Intercedeu o homem. ― Está liberada esse final de semana.

Ele puxou dos bolsos um envelope que estava meu pagamento semanal e segurei como se fosse à coisa mais preciosa do mundo.

―Obrigada. ― Agradeci me afastando do casal.

Contornei a casa e entrei por trás, desci até o subterrâneo, onde os empregados ficavam , haviam sete quartos, cada um era ocupado por três pessoas.

Havia quatro banheiros no fim do corredor, os quartos eram pequenos e havia um beliche e uma cama simples de casal, uma cômoda e uma lâmpada fraca, mas isso era um luxo, eu sabia que muitos sete apenas tinham um pedaço de papelão.

Arrumei minhas coisas, algumas camisetas velhas, um jeans e outros tecidos grosseiros.

Puxei uma caixa debaixo da cama, bom, eu e outros empregados, acabamos roubando algumas coisas dos Gold, eu detestava fazer isso, porém era o que fazia minha família sobreviver, roubávamos comida que tinha demais, roubávamos do lixo também as roupas que a senhora Gold usava apenas algumas vezes e acabava por descarta-las.

Peguei uma blusa que a senhora Gold jogou fora e coloquei na minha mochila, peguei alguns pacotes de biscoito e um saco de farinha e macarrão.

Fechei bem a mochila e separei uma muda de roupa para tomar um banho e aproveitar que aqui tinha água quente e ilimitada.

Tomei um banho e me aprontei, colocando uma jaqueta velha, que era do meu pai, minha mãe a odiava com todas as forças, mas eu não tinha como me dar ao luxo de sentimentalismo.

Assim que fiquei pronta me encarei no espelho manchado do banheiro.Os cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo, olhos verdes, a pele vermelha e os braços bronzeados pela exposição ao sol, mas o inverno já estava chegando.

Eu era magrela, não tinha muitas curvas e nem nada atrativo, estava com os Jeans surrados que tinham um buraco no joelho e uma blusa cinzenta.

Você não tem casta alta, contatos,dinheiro,carisma, não é bonita, como você espera que te selecionem?

Eu tinha mandado meu formulário, para a seleção do príncipe Draco, ia ser uma bela de uma escapatória para meus problemas, só que parecia tão distante e eu tinha certeza que seria chutada no primeiro dia, mas sendo selecionada eu subiria de casta e ganharia algum dinheiro que seria suficiente.

Balancei a cabeça para tirar qualquer pensamento que seria selecionada, era difícil de mais, era utópico demais, mas mesmo assim eu persisti na ideia.

Imaginei-me sendo escolhida no fim, aquilo ali era que era utopia demais.

Sai do banheiro, peguei minha mochila no quarto, escondi o envelope em um bolso interno da jaqueta, passei pela sala e vi o grande quadro com a primeira senhora Gold (Ninguém nunca conseguiu convencer o chefe da família tirar), ela faleceu quando jovem, tinha cabelos castanhos e olhos verdes, todas as outras que apareceram depois dela tentaram imita-la, talvez ela tenha sido a única pessoa que o senhor Gold realmente amou.

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Assim que estava saindo o único filho do senhor Gold estava ali parado, ele tem dezenove anos, cabelos escuros e olhos claros, nunca realmente sei a cor deles, o garoto me parou, o nome dele é Simas Finnigan Gold, gosta de usar o sobrenome da mãe, o Finnigan, era apenas o que eu sabia dele fora as nossas conversas banais.

―Boa noite Astória! ― Ele cumprimentou saudoso.

―Boa noite senhor Finnigan. ― Cumprimentei formalmente, eu era uma mera sete e ele era dois.

― Simas, por favor. ― Ele pediu.

―Sabe como é. ― Comentei sem jeito.

―Astória, pare, por favor, são apenas números, seu sangue não tem cor diferente do meu e falamos a mesma língua. ― Simas explicou pacientemente.

―Ah, Simas se todos os Dois fossem que nem você, o mundo seria um lugar melhor. ― Sorri.

―Quer uma carona? ― Ele falou.

―Não, obrigada, eu moro no Bronx e estamos e Staten Island, é um pouco longe.

―Então tome, para um táxi assim que chegar ao Broonklyn! ― Ele abriu a carteira e tirou dali uma pequena fortuna e entregou nas minhas mãos.

―Não posso aceitar Simas. ― Repliquei, Já roubo a sua dispensa todas as semanas.

―Eu sei que não é muito fácil ir até o Bronx daqui, Astória, estou me colocando no seu lugar.

― Como eu já disse, se os Dois fossem que nem você... ― Comentei constrangida, segurando aquela pequena fortuna.

―Sabe quem me ensinou a pensar assim? ― Simas perguntou, meneei a cabeça em um sinal negativo, ele apontou para o quadro da figura de sua mãe. ― Ela, era uma sete, mas era elegante, fina, delicada, mesmo coberta de graxa. Ela me ensinou que a vida não é fácil, que eu nasci privilegiado. Conheceu meu pai, todo mundo foi contra, como ele ia casar com uma moça cinco castas mais baixas? ― Simas deu uma pausa. ― Você me lembra muito ela.

Virei-me, nunca tinha observado muito bem aquela fotografia que adornava a parede, apenas sabia que a cor dos nossos olhos e nosso cabelo eram iguais, mas observando melhor, nosso nariz era igual, os lábios e até o sorriso, me espantei, talvez fosse por isso que o senhor Gold me mantinha ali, por que eu era igualzinha a ela.

― Qual era o nome da sua mãe? ― Perguntei.

―Daphne Finnigan. ― Ele respondeu.

―Curioso. ― Comentei. ― Minha irmã também se chama Daphne.

Despedi-me e sai da mansão.

Eu sou Astória Greengrass, 18 anos, casta sete, de Hudson, moro em um lugar que antes das guerras se chamava Nova York.

Assim que abandonei o terreno vislumbrei o casarão, branco e brilhante, já estava escurecendo e observei todos os casarões que compunham o bairro.

Cheguei até o local onde se pegava um Ferry Boat que ia até o Broonklyn, ele era de graça, mas o pago ia até Manhattan, porém eu não tinha dinheiro suficiente para gastar com algo tão banal e achei melhor poupar a pequena fortuna que Simas entregara em minha mão.

A guardei no fundo de minha mochila e entrei no Ferry Boat, ele partiria em uma hora, apenas esperei, eu morava no trabalho e ficava lá por cerca de 20 dias e voltava para casa e ficava em minha casa três dias e ia tudo de novo.

Apertei a jaqueta no meu tórax estava esfriando e mesmo depois de todos aqueles anos tinha o cheiro do meu pai, apesar de tudo eu não o odiava, eu sentia como se a história que me contaram faltasse um pedaço.

Minha mãe era quatro, ela desceu três castas para se casar com meu pai, a família a abandonou e foram só os dois contra o mundo, eu nasci, quando eu estava com três anos nasceu minha irmã.

Quando eu tinha mais ou menos oito anos, meu pai saiu de casa, minha mãe conta que ele foi comprar um bilhete de loteria, ela diz que ele deve ter ganhado, pois nunca mais voltou.

Dali do Ferry Boat pude vislumbrar o pedestal da antiga estatua da liberdade, na ultima guerra ela tinha sido decapitada, então decidiram derruba-la, ver o símbolo da liberdade decapitado não era animador, mas acredito que era propicio a situação.

Um pouco depois o veiculo partiu, e quando já estava escuro cheguei ao Broonklyn, do Broonklyn peguei um trem até Manhattan, de lá o próximo trem parava a umas quadras do Bronx.

Staten Island é onde moram os dois, os três preferem Manhattan, lá tem alguns quatro também, mas a maioria fica no Broonklyn, o Queens é composto por cincos e alguns seis, já o Bronx é a morada dos sete e dos oito e os seis mais pobres.

Assim que desci perto do Bronx apressei o passo e fui pelas ruas mais movimentadas, vi alguns oito no caminho pedindo esmola, acabei dando alguns dos meus biscoitos,mesmo tendo pouco não via motivo para não ajudar.

Quando cheguei a casa, todos já dormiam ultimamente minha mãe dormia doze ou dezesseis horas por dia, por causa da sua doença, Daphne trabalhava de jardineira em Manhattan, a vida podia ser pior, então eu tentava não reclamar.

Mas nas suas reclamações, mamãe não poupava esforços, dizia-se muito arrependida por casar-se com meu pai e vivia repetindo “como pude ser tão tola, desci três castas por ele”.

Eu preferia o silêncio e Daphne se mantinha neutra nas reclamações.

Mandei-me para o quarto que dividia com Daphne, ela ressonava de leve, abri minha mochila e peguei uma das roupas que a senhora Gold nem tivera usado e jogara fora.

Cutuquei Daphne e ela se mexeu.

― Não, mais cinco minutos. ― Ela murmurou baixinho.

―Daphne. ― A sacudi e ela acordou e estendi a nova roupa. ― Presente.

― De quem você roubou? ― Ela perguntou esfregando os olhos.

― A dona jogou fora, se roubei algo foi do lixo. ― Eu odiava aquela palavra, roubo e ainda a odeio. E odiava que os presentes que eu dava para minha irmã vinham do lixo, mas era a verdade e ela dormiria melhor à noite.

―Vai ficar quanto tempo? ― Daphne perguntou. ― O senhor Gold me liberou por três dias. ― Respondi. ― E o nosso guardião?

― Deixou o dinheiro ontem. ― ela comentou, a gente chamava de guardião, sempre tentei descobrir quem era, alguém uma vez por mês deixava um envelope com uma quantia gorda de dinheiro, que pagava os remédios da mamãe, eu desconfiava que fosse o papai, porém não fazia o mínimo sentido, ele era sete, não tinha onde arrumar aquele dinheiro todo, e por onde ele andava? Talvez tivesse realmente ganhado na loteria e mandasse dinheiro por desencargo de consciência.

― E a mamãe? ― Perguntei.

― Anda cada vez mais cansada, toda vez que estou fora ela arruma a casa sozinha diz que é para não me sobrecarregar, eu digo que não precisa, mas ela é teimosa, um dia quando cheguei em casa ela tentou lavar a louça sozinha e a encontrei desmaiada perto da pia. ― Sussurrou Daphne. ― Mas esses dias acabarão, você será selecionada.

― Daphne, por favor, não crie expectativas. ― Pedi. ― Para seu próprio bem.

Conversamos um pouco mais e acabamos dormindo, o próximo dia veio de pressa assim como se passou rápido, quando vi estava sentada na sala de tevê comunitária do prédio onde morávamos, com um bando de gente que eu não conhecia, mas que eu dividia a casta e as dores da vida.

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As selecionadas eram passadas pouco a pouco, estavam em ordem aleatória.

O príncipe Draco era bonito, porem sua presença era austera e fria.

Ele puxou primeiro o envelope da cesta de Staton, onde foi sorteada uma três Hermione Granger, automaticamente gostei dela, se eu não gostasse da garota de minha província torceria por ela.

Depois vieram outras províncias, como Honduragua, Bonita, Zuni, Domica, em Ontário foi sorteada uma menina chamada Parvati, de Likerly uma chamada Gina e de Panamá a famosa atriz chamada Cho Chang.

Veio províncias como Angeles, Whites, Yukon, Sonage, Quebec, Hudson foi a ultima, o príncipe puxou o envelope e as palavrinhas que ele leu ali mudaram minha vida.

― Selecionada de Hudson. ― As pessoas que assistia comigo se aproximaram ainda mais da tevê. ― Astória Greengrass, casta sete.

De inicio processei o grito de Daphne e os abraços de alguns estranhos.

― Ei. ― Chamou uma voz masculina, esquadrinhei o local procurando o dono da voz, era um homem da casta oito, suas roupas eram trapos e ele tinha uma manta cinzenta ao redor de si. ― Garota, nos represente.

Depois de muitos abraços corri em direção ao meu apartamento, minha mãe estava em estado de sonolência no sofá.

― Quem é a selecionada de Hudson? ― Ela perguntou visivelmente desinteressada.

― Sou eu mamãe.

••

Fechei aquele diário antigo e respirei fundo, havia 35 novas hospedes em casa, uma ia se casar com meu primogênito. Apesar de sentir que elas estavam levando meu pequeno Scorpius, que nem era mais tão pequeno.

Eu queria correr até o andar debaixo e abraçar cada uma delas e dizer que sabia exatamente os que elas estavam passando.

Abri o diário novamente.

••

23.02

No dia seguinte, bem cedinho o senhor Gold apareceu por lá.

―Olá Astória, posso entrar? ― Ele pediu, estava com roupas mais comuns e estava parado na soleira da porta.

―Sim. ― Balbuciei.

Ele entrou e inspecionou o ambiente, nosso sofá velho, a estante decadente e o cômodo apertado.

―Aconchegante. ― o senhor Gold comentou, talvez aconchegante fosse um código para paupérrimo.

― Aceita chá? ― perguntei. ― Pode se sentar.

―Aceito. ― Concordou, fui para cozinha e já havia chá quente em uma chaleira no fogão, servi duas xícaras e levei para sala depois busquei uma cadeira para me sentar.

Assim que colocava a cadeira no local, beberiquei a xícara, mesmo o chá sendo de péssima qualidade, era o melhor que eu tinha e eu amava chá.

― O que te traz aqui?― Perguntei, ele pareceu ponderar suas próximas palavras.

― Não é obvio. ― o senhor Gold tomou um pouco do seu chá. ― Você é Selecionada e vim lhe fazer uma proposta.

Gelei e apertei ainda mais o cabo da velha xícara.

― Bom, sabe que tenho uma imensurável fortuna, sendo Selecionada você passa a casta três, pretendo subir você e sua família até a casta Dois. ― Quase deixei a xícara cair. ― Sua mãe, também está doente, pretendo mandar ela para o melhor hospital do país, o que fica em Carolina, ainda hoje, está noite também pretendo dar uma festa em sua homenagem, quando você chegar a Elite haverá um acontecimento que terá que levar contatos, posso ser seu contato ou te apresentar mais, tudo isso tem um preço, quando se tornar rainha, quero que indique meu nome para ser o governador de Hudson, depois senador, quero que estabeleça contato entre mim e realeza, depois de senador quero ser indicado ao conselho.

― Você pressupõe que eu seria rainha, porém acredito que nem passaria do primeiro corte. ― Declarei.

―Astória, você é melhor que pensa, tem mais gente te apoiando do que você pensa. ― Ele refutou. ― E tenho mais propostas, você tem três semanas até chegar a Seleção, nesse meio tempo posso te arrumar os melhores tutores, de etiqueta, diplomacia, melhorar sua imagem, assim não chegara completamente perdida na Seleção.

― Mas mesmo assim, se eu não for escolhida, como espera seu pagamento? ― Perguntei.

― Se não for escolhida, quero que case-se com meu filho e faça as propagandas de minha empresa e talvez eu lhe mostre um pouco mais do mundo. ― Ele falou. ― Essa é sua única chance de aceitar.

“Case-se com meu filho”, aquilo foi um golpe, mas isso incluía melhorar a vida da minha família, de qualquer modo eu estava condenada a um casamento, pelo menos Simas era charmoso, generoso, educado, elegante, doce e empático. Eu seria feliz com ele e eu não era exatamente apaixonada por alguém, com o tempo, sem ninguém em meu coração ele ocupasse um lugar.

A ideia era louca e precipitada, mas mesmo que estar na Seleção me garantisse uma fortuna semanal, não ia ser o suficiente para todas as nossas despesas.

―Aceito. ― Topei.

―ótimo, eu vim com mais dois carros, faça as malas de sua mãe e as suas, mande sua mãe no primeiro carro e um helicóptero no Queens a espera até Carolina, sua irmã e você vão no segundo, comprem roupas adequadas para a recepção de hoje a noite e depois o carro deixara vocês em Manhattan. Em um dos meus hotéis. ― Gold explicou e puxou um envelope do bolso. ― Tome, para as roupas.

Fiquei catatônica.

― Isso não é um favor que estou fazendo Astória, apenas pagando pelo que pedi. ― Ele declarou, agradeceu pelo chá e saiu.

Acordei Daphne e expliquei por cima o que ocorrera, ocultei a parte do casamento arranjado, arrumamos a mala da mamãe, choramos um pouco, mas logo ela estava em um helicóptero que ia para Carolina, aquilo doeu, porém era melhor para ela.

Arrumamos as nossas e por ultimo coloquei o casaco velho do meu pai e entramos em um dos carros que o Senhor Gold deixara.

Eu não sabia exatamente o que pensar, minha mãe estava longe, porém em melhores mãos, eu ia deixar minha irmã completamente sozinha e menor de idade em Hudson, em breve eu seria uma dois e estaria nos olhos de todo o país.

Todos os meus problemas pareciam resolvidos, porém novos começavam.

••

Era um diário em suma tão antigo, eu gostava de ver minha própria evolução, ali no salão das mulheres com os pensamentos longe demais para me concentrar em qualquer pensamento voltei a pensar em minhas memórias.

Scorpius estava com seus oito para nove anos e analisava a minha barriga.

― é menino? ― Ele perguntou.

― Não sei. ― Fiz carinho em seus cabelos.

― Por favor, seja um menino. ― Ele pediu juntando as mãos e se aproximando da barriga.

― Já vamos descobrir. ― Expliquei sorrindo e estendi a mão a ele e Scorpius a segurou.

Estávamos em um corredor, apenas esperando Draco, ele saiu de seu escritório, mal podendo conter um sorriso.

― Veremos se é um garotão ou se será minha princesinha. ― Draco sorriu e segurou minha mão.

E fomos caminhando para ala hospitalar, fizemos o exame e Illéa esperava mais um príncipe.

Scorpius mal pode conter os pulos, lembro que quando fomos dar o anuncio no jornal o Scorpius quis acrescentar algo.

― Illéa, eu terei um irmão.

Voltei para as memórias, dessa vez do dia do pedido do meu casamento.

Eu e Draco dançávamos no salão de baile, estávamos apenas nós e centenas de velas que iluminavam o local.

―Draco, para que tantas velas? ― Questionei.

―Ah, Astória, é especial. ― Ele respondeu. ― Eu acendi cada uma.

― Eu valho o esforço do príncipe herdeiro, no qual ele tem que acender velas? ― Zombei.

―Vale mais do que centenas de velas acesas. ― Draco declarou e pude sentir as borboletas do meu estomago cada vez mais agitadas e ele respirou fundo. ― Ok. ― Ele parecia perdido. ― Estou muito nervoso, talvez seja muito precipitado, nos conhecemos apenas há alguns meses, mas eu quero Astória, que se case comigo, que seja a vela que ilumina um salão escuro na minha vida, eu quero ter um futuro com você, por que você é a menina que me ensinou ir um pouco além, que me mostrou que posso ser melhor a cada dia, seja a minha luz, seja minha bússola. ― Ele se ajoelhou e remexia os bolsos. De lá tirou uma caixinha e revelou um anel. ― Case-se comigo, não te ordeno como o futuro rei, mas como um idiota que apenas pede que a garota mais incrível do mundo se case com ele.

―Draco. ― Gaguejei. ― é claro.

Ele colocou o anel no meu dedo, me girou e estava me levando de volta aos seus braços para um beijo, eu estava com um vestido de cauda naquele dia, muito longo, algo deu errado por que o tecido acertou uma vela, quando vi a cauda do meu vestido já estava pegando fogo.

Dei um grito, desesperada e eu nunca havia perdido a compostura antes, Draco tentou pisar na cauda do vestido, inutilmente tentando abafar as chamas, ele saiu de perto do vestido e correu em direção a uma parede, apertou o alarme de incêndio logo jatos de água caiam em cima do vestido, apagando as chamas e junto, às velas.

― Maravilha. ― Apoiei a cabeça nas mãos sentindo o meu cabelo encharcado. ― Estraguei um momento perfeito.

―Astória. ― Draco ria. ― Você apenas deixou mais memorável e ainda mais perfeito.

Dessa vez, mal o enxergando, senti segurar meus braços e me beijar.

Abafei o riso e observando as selecionadas remanescentes do primeiro corte.

Logo voltei a minha coletânea de memórias.

Luke já tinha dois anos e Scorpius onze, era primavera e decidimos sair um pouco de dentro do palácio, mas ainda cercados por aqueles muros.

― Mamãe. ― Scorpius chamou. ― Posso ir brincar com o Luke? Perto das arvores.

―Sim.

Estávamos em uma toalha estendida no chão e observei pelo canto do olho as crianças se afastarem.

―É incrível essa sua capacidade de ainda me encantar. ― Comentou Draco passando manteiga em uma fatia de pão. ― Ainda me lembro de quando te vi, fiquei naturalmente encantado e é incrível a capacidade que você tem de me fazer se apaixonar por você a cada dia.

Sorri, Draco não era o tipo de homem que todo dia me mandava flores ou que tinha centenas de poemas escritos em papeis.

Mas era o tipo que em intervalos de tempo me falava coisas desse tipo, sem ensaio e de forma natural, que eram eternizadas apenas pela memória, não por rabiscos de canetas em folhas de caderno ou em bilhetes de buques.

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Um dia foi perguntado se Draco fazia poesias para mim, ele apenas disse que não era necessário, pois eu era a própria poesia.

― No que está pensando? ― Ele perguntou.

― No futuro. ― Falei, observando Scorpius.

―Estou pensando que daqui alguns anos, trinta e cinco garotas virão a palácio e uma delas levara Scorpius e fico pensando como será com o Luke, provavelmente ele não terá uma Seleção? Ou terá? Mas se ele escolher mundo a fora? Se apaixonar por qualquer garota? Alguém que não seja digna dele?

―Ast, acalme-se. ― Draco fez um gesto pedindo calma. ― A Seleção, você sabe que é carta marcada, mas você sabe que no fim sempre fazemos as melhores escolhas, você sabe que nunca foi à opção do meu pai...

Não era o nosso assunto favorito, mas certas coisas tinham que ser conversadas.

― Mas me casei com você. ― Comentei sorrindo. ― Não com ele, e prometa Draco, na Seleção de Scorpius, mesmo tendo garotas em vista, mas se não for a que Scorpius quer, você não o forçara!

―Prometo. ― Ele concordou.

― Jura de dedinho. ― Estendi meu mindinho na direção dele e ele enlaçou meu dedo com o dele.

Imaginei se Draco tivesse cedido a pressão de seu pai, não tivesse se casado comigo, onde estaríamos? Eu teria voltado a Hudson, me casaria com Simas e seria uma dois e nem Scorpius e muito menos Luke existiriam.

Draco seria apenas uma lembrança dolorosa e aquele pensamento doeu.

Sai um pouco da bolha de meus devaneios, observei as Selecionadas, vi Lysander pintando as unhas em um sofá.

Imaginei que ela ficaria ali apenas pela conveniência, pelo que seu nome traria, Lucy era refinada, porém nem chegaria à elite, ela não era o tipo de Scorpius e ela parecia uma das poucas que não estava à vontade ali, que realmente não queria estar ali.

Analisei Roxanne, não servia para Scorpius e ele não servia para ela, não era o tipo dele e tão pouco creio que Roxanne gostasse da vida de rainha, nela eu via o mesmo espírito que via em Daphne, algo livre, o passarinho fora da gaiola, Roxanne parecia à vontade assistindo um documentário, mas não estava ali por que amava Scorpius, estava ali por que era conveniente a ela.

Molly era doce, concordaria com cada coisinha que Scorpius falasse, jamais seria inconveniente ou indelicada, se Scorpius pedisse ela levaria um tiro por ele, mas Scorpius gostava de ser desafiado, por mais que tivesse aquela natureza diplomática, queria alguém que de vez em quando lhe dissesse que ele estava sendo infantil, queria alguém para discutir, para debater, para brincar com a cara dele e Molly não seria esse tipo de garota.

Lily era distinta demais de Scorpius, eram personalidades que não se encaixavam, não havia química entre eles, seriam amigos e não creio que Lily Potter fosse o melhor para a coroa.

Dominique era fina, elegante, apaziguou os rebeldes, ela e Scorpius produziriam herdeiros bonitos e Dominique era o tipo de modelo ideal a coroa, era ponderada, mas mesmo assim sua situação se assemelhava a de Molly, Scorpius queria alguém para rebatê-lo e Dominique não seria essa garota e pelo seu olhar perdido para as janelas seu coração estava em outro lugar.

Olhei para Rose, lendo um livro no canto do salão, ela me lembrou Hermione, seus cabelos vermelhos lhe conferiam personalidade, ela seria o tipo de menina que tentaria sempre ficar do lado de Scorpius, não atrás concordando com cada virgula, as vezes nas refeições eu pegava os dois trocando olhares, eu sentia a química, por mais que eu não gostasse de perder Scorpius, se fosse Rose que estivesse no altar com ele, eu não me importaria tanto e com as moldagens certas Rose seria a rainha ideal.

Abri o diário novamente.

••

A elite.

Sim, eu estou na elite, não é o máximo? Astória Greengrass, a pobre coitada do Bronx pode se tornar a próxima rainha, mas minhas chances são tão ínfimas, eu aposto que Hermione ganha, ela é três, tem maestria em línguas e diplomacia, conhecimentos extensos de política e economia.

Mas ela disse que trocaria isso tudo pela minha elegância, ainda tento visualizar a tal elegância que os jornais e as outras garotas comentam, mas eu apenas vejo Astória, a moça da casta Sete.

Apesar das boas noticias, que eu sou da Elite, meu coração em parte está aos frangalhos, apesar de já terem se passado dois meses ainda dói muito, a minha mãe acabou falecendo.

Hoje acabei indo pegar o casaco do meu pai, que eu acabei trazendo, mesmo não sendo adequado, eu apertei ele em torno de mim, que era a coisa mais familiar que tinha no momento.

Senti algo dentro do forro me incomodando, tirei o casaco para verificar, descosturei o forro e encontrei algo ainda mais surpreendente, uma carta, era do meu pai.

••

Fechei novamente o diário, me lembrando da carta, mas logo concentrei meu pensamento em outro devaneio.

Era o dia da maioridade de Scorpius, estávamos nos três, eu, o Scorpius e o Draco.

― Mas e se nenhuma delas me quiser?Estarem apenas pela coroa ― Ele perguntou massageando a testa.

― Scorpius, eu era apenas uma garota da Casta Sete e do Bronx, o destino sempre da um jeito de trazer exatamente o que você precisa. ― O tranquilizei.

―E quando encontrar essa garota, por favor, Scorpius, sem pedidos de casamentos com velas, ok. ― Pediu Draco e um ponto de interrogação ficou estampado no rosto de meu primogênito.

Aceite Astória, ele vai crescer, você o criou para Illéa, não para ficar embaixo de suas asas!

Mas talvez o que mais doesse fosse quando Luke crescesse Scorpius sempre foi mais independente, mais ligado ao pai e Luke sempre esteve mais no meu colo, Scorpius cresceu sabendo que seria rei, Luke sabia que a vida para ele seria mais tranquila, eu sabia que no dia que ele fosse embora doeria e muito, olhei para Scorpius que parecia que na semana passada anunciávamos que ele nasceria dentro de meses e estava ali, completando sua maioridade e indo procurar sua futura esposa.

Logo deixei esse pensamento de lado e voltei a pensar na carta de meu pai.

Tive um desejo enorme de buscá-la, levantei-me e deixei o salão das mulheres, apesar do conteúdo nunca consegui jogar fora a carta de meu pai, eu apenas a escondi em um livro da biblioteca.

Caminhei até a biblioteca dos visitantes, a menos utilizada, fui até onde o livro sempre ficará, eu o deixava bem no meio do livro teoria econômica, sempre no mesmo lugar, mas onde ele devia estar havia apenas uma brecha.

Revirei a biblioteca inteira e nada desse livro, talvez uma selecionada o tivesse pegado.

Rezei para que ela não encontrasse a carta, pois o conteúdo poderia ser letal.