Capítulo 1

Eu olhava as costas dele enquanto ele andava para longe de mim. De novo. A vida é tão irônica, tão maldosa. Como eu podia ter me tornado tão dependente dele, e ele pouco se importar em dar as costas para mim? Como poderia ser assim? Não podia. Não deveria.

Eu podia ouvir a gargalhada da vida e a indiferença dele, e a realidade era que eu pouco me importaria com a vida debochando de mim se eu ainda estivesse com ele. Eu daria de tudo para ter ele ao meu lado, mas o que eu tinha de mais valor eu já havia lhe dado, meu coração. E ele havia feito questão de devolve-lo, não do jeito que eu havia lhe entregado: quebrado. Em cacos. Destruído. A culpa era minha não? Eu havia deixado ele fazer o que quisesse com meu coração, ele já não me pertencia mais, era dele. É dele.

Eu podia sentir os pingos grossos de chuva caindo sobre mim, meus fios castanhos grudados ao rosto e pescoço, meu vestido azul claro encharcado, meus pés molhados pela água que entrara na minha sapatilha fina, as gotas de água escorregando por minha pele pálida, nem se quer dava para distinguir as minhas lágrimas da chuva que caia em meu rosto. Fechei meus olhos e levantei a cabeça, deixaria a chuva limpar minhas lágrimas.

Ele havia ido embora e me deixado ali, debaixo da chuva.