Paranoia

Capítulo 1


Ainda não eram sete da manhã quando Annie despertou para o escuro do quarto. Ela tivera outro daqueles sonhos perturbadores e sentia o coração galopando dentro do peito. Sentia-se sozinha — em toda a terrível profundidade da palavra. E quando pegou o bloco de papel e a caneta do bidê ao lado da cama e começou a escrever, as imagens ainda estavam bem vivas dentro dela.

~

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Annie abre a porta do apartamento em que vivia com a mãe antes de ter decidido sair de casa e espia para dentro. O corpo imóvel da mãe está pendurado pelo pescoço por uma corda presa ao lustre. Pelo chão, há cacos de louça e pedaços rasgados do estofamento dos sofás. Do interior do apartamento — talvez da cozinha — vem um barulho enlouquecedor de coisas sendo quebradas, e quando Annie pensa em ir até lá e descobrir o que está acontecendo, um cavalo enorme de pelo avermelhado surge do corredor e se joga pela janela da sala. O apartamento fica no sexto andar, e ao debruçar-se na janela e olhar para baixo, ela vê o cavalo morto lá em baixo.*

~

Annie ainda sente aquele pavor gelado do sonho quando devolve o bloco ao bidê, a parte escrita virada para baixo. O relógio despertador mostra números que ela vê e logo esquece — como gostaria de esquecer também todos aqueles sonhos. Mark continua dormindo ao seu lado, ela sente o calor de seu corpo e desliza novamente para perto dele. Então ele a abraça e Annie pensa que o cheiro da pele dele lhe dá água na boca.

O alarme do despertador o acorda.

— Mark?

— Hum?

— Eu tive um sonho ruim.

Ele ri baixinho, ainda sonolento. Sua mão está sobre uma das pernas dela.

— Isso é porque você assiste todos aqueles filmes de guerra e tal.

— Não é isso.

Annie se pergunta o que é então.

Mas quando Mark a puxa para mais perto e a beija, a lembrança do sonho começa a desaparecer e tudo o que ela sente agora são as mãos dele subindo por baixo da camiseta e tocando-lhe os seios.