Sons of Theolen

Dorothy - A Maldição


— Dorothy, por que está chorando? – perguntou o jovem Steve Leon com seus meros 26 anos de idade olhando para a garotinha que acabara de cair no chão enquanto eles brincavam de correr e pegar.

— Eu me machuquei e está doendo muito – disse a menina de 8 anos chorando sentada na grama verde do sítio dos Leon com alguns de seus cachos caídos sobre o rosto.

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— Deixe-me ver – pediu ele gentilmente com sua voz grossa e firme abaixando na frente dela, enquanto o vento batia em suas mechas loiras de cabelo que tocavam o rosto de barba curta.

Dorothy mostrou o joelho cortado com um pouco de sangue e as mãos raladas, nada muito grave. Steve então olhou para trás vendo seu irmão e Martha olhando preocupados na direção dos dois da varanda do casarão de madeira branca e reparou a mãe da menina se levantar do banco em que estava para ver melhor o que havia acontecido.

— Hey, – Steve ergueu a cabeça de Dorothy com o dedo – Eu sei que está doendo, mas é apenas um pequeno machucado que eu sei que você pode aguentar. Você é minha pequena Escolhida, lembra? – ajeitou o cabelo da menina colocando-o atrás da orelha.

— Sim, mas está ardendo muito – ela fez um bico enquanto as lágrimas escorriam pelas grandes bochechas rosadas.

— Vai passar logo, eu prometo. Agora, por que não levanta? Seus pais estão ficando preocupados.

— Eles estão? – ela se inclinou para o lado vendo atrás de Steve sua mãe caminhando em sua direção – Eu não gosto quando a mamãe fica preocupada. Ela fica triste.

— Então me dê aqui sua mão, vamos enxugar esse rostinho e mostrar a ela que está tudo bem.

A garotinha concordou com a cabeça e deu a mão para seu tio, se levantou fazendo uma careta de dor e parou ao seu lado enquanto ele enxugava seu rosto com as mãos. Ela então viu sua mãe e engoliu o choro, sorrindo e acenando para ela logo em seguida, fazendo-a parar de avançar e ficar mais tranquila.

— Está melhor agora? – perguntou o paladino.

— Ainda dói – disse a menina com os olhos molhados.

— Então vamos cuidar disso – disse Steve segurando sua mão enquanto a dele brilhava em azul – Não precisa chorar.”

Dorothy respirou fundo. Os olhos azuis molhados encaravam-se no reflexo do espelho pendurado no quarto iluminado pela manhã. Ela mordeu os lábios trêmulos então colocou a mão aberta sobre o peito tentando sentir o mal em sua própria aura.

— Eu não sinto nada… – disse com a voz baixa.

— Você sabe que não funciona assim... Você não pôde sentir em Vaalij, pôde? – falou o clérigo com uma das mãos em seu ombro enquanto ela balançava a cabeça negativamente – Eu sinto muito Dorothy.

“Não”, pensou a garota incrédula abrindo a boca enquanto seus olhos começaram a ficar vermelhos e ela encarava o chão. Arlindo a abraçou e ela o apertou fortemente, agarrando o tecido esverdeado da blusa de mangas longas que o clérigo vestia naquela manhã.

“Não… Por favor, Heirôneous, isso não pode ser verdade” pensou não conseguindo aceitar o que o clérigo havia lhe dito à pouco: que ela estava amaldiçoada. “Isto não pode estar acontecendo” pensou “Não, não… O que eu vou fazer? Como vou poder viver com isso dentro de mim? Como vou continuar essa viagem, se nem ao menos vou ter controle sobre mim mesma? E se eu machucar alguém e se... Oh, Heirôneous! E quanto a Steve? Não posso ir atrás dele assim. Não posso…” apertou os olhos em negação.

— Pélor, por favor, ajude-a. – Ela ouviu Nipples sussurrando bem baixo – Ajude a todos nós.

Dorothy olhou para a porta do quarto, onde estavam Solomon, Charly e Nipples. O guerreiro, apesar de não aparentar estava enraivecido com a situação, diferente do garoto e do serviçal ao seu lado que observavam a paladina muito preocupados, Nipples tinha até mesmo as mãos trêmulas.

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A garota respirou fundo e fechou os olhos com força concentrando-se o máximo que podia, então soltou-se de Arlindo enxugando o rosto e tentando parecer o mais calma possível. “Não posso deixá-los preocupados assim, nós precisamos resolver esse problema. Se eu desmoronar eles desmoronam junto, então devo aguentar isso” pensou consigo.

— Como... – Ela suspirou – Como isso aconteceu? Eu não me lembro... – perguntou para o clérigo.

— Não vimos exatamente como, mas acho que foi quando ele te encurralou – respondeu Arlindo com as sobrancelhas finas levemente juntas e o olhar preocupado – Você não deve se lembrar porque depois disso ele te arremessou numa árvore e você bateu a cabeça – explicou olhando para baixo.

— Ah... – ela respirou fundo – E ele machucou vocês? Ele... Mordeu mais alguém? – perguntou preocupada olhando para todos.

— Não, estamos bem – respondeu o clérigo olhando para Solomon, que assentiu com a cabeça.

— Isso é bom. – Ela olhou para o chão – E Vaalij? Ele está...

— Vivo – completou Solomon com sua voz grossa e pesada, visivelmente descontente com isso.

— Oh… – Ela ergueu as sobrancelhas surpresa – Eu não esperava que fosse misericordioso com ele. Obrigada – agradeceu depois de alguns instantes.

— Não me agradeça por isso. Agradeça a ele – disse o guerreiro olhando para o pequeno homem ao seu lado.

— Nipples? – ela se virou para o serviçal que observava o guerreiro surpreso.

— É, ele nos salvou ontem a noite – disse Charly e Arlindo concordou com a cabeça.

Nipples ficou boquiaberto, pasmo com o reconhecimento que não esperava em nenhum momento ouvir.

— Eu... – gaguejou – Meus senhores, eu não --

— Você fez um bom trabalho parando aquela coisa – disse Solomon colocando a mão sobre um dos ombros do serviçal, em sinal de aprovação.

Nipples estremeceu pela reação do guerreiro então o agradeceu abaixando levemente a cabeça sem jeito enquanto Charly observava com um discreto sorriso.

Dorothy observou seus amigos e por mais terrível que a situação fosse naquele momento ela sentiu uma breve felicidade, pois conseguia ver que finalmente a equipe estava unida. Aquele foi o primeiro instante que ela sentiu que podia contar com todos ali.

— Obrigada Nipples – agradeceu com um pequeno sorriso – Eu não sei como fez isso, mas obrigada.

— Minha senhora, por favor, não faça isso. Eu apenas coloquei o Sr. Vaalij para dormir com um chá. E não mereço seu agradecimento, afinal é por minha culpa que você... – ele abaixou a cabeça segurando fortemente uma mão na outra.

—Nipples, não – ela negou com a cabeça enquanto caminhava em sua direção – Você nos salvou e conseguiu fazer com que todos saíssem vivos do problema.

— Mesmo os culpados por ele – completou Solomon.

— Escutem, a culpa não é de ninguém além de minha. – disse Dorothy encarando o guerreiro – Eu fui descuidada, deveria ter mantido a guarda alta, mas não o fiz e… E agora vou pagar as consequências por isso. – Segurou o choro.

— Bem… Você não fará isso sozinha – disse Charly sério enquanto a encarava.

— Sim, eu sinto muito pelo que houve minha senhora, mas farei todo o possível para te ajudar. – Nipples concordou com a cabeça.

Dorothy sorriu agradecida então olhou para Solomon e Arlindo. O guerreiro vestido de preto escorado no batente da porta olhava para fora do quarto com os braços cruzados. Já Arlindo a encarava de um jeito estranho. Ele aparentava estar bem, mas ela podia sentir certo medo em seu olhar, medo que logo ela deduziu como sendo dela.

A garota olhou pela janela vendo o sol alto no céu. O tempo estava passando e ela precisava fazer alguma coisa.

— Bem, estou feliz que estejam dispostos a me ajudar, pois eu acho que já sei qual é o próximo passo – disse ela.

— Qual? – perguntou Charly.

— Falar com Vaalij – respondeu.

— O que? – Solomon franziu o cenho e a encarou.

— Tem certeza que é uma boa ideia? – perguntou Arlindo erguendo uma das sobrancelhas.

— Por acaso você esqueceu o que aconteceu da ultima vez que tentou conversar com ele? – perguntou o guerreiro descruzando os braços e desencostando da porta.

— Não, não esqueci, mas nós precisamos esclarecer a situação. Precisamos saber o que exatamente aconteceu, além disso, ele é o único que sabe pelo que estou passando e pelo que vou passar… – olhou para baixo – Se há alguém que pode me ajudar agora, é ele.

— Dorothy, eu entendo de verdade, mas ele é perigoso – disse o clérigo preocupado – Ele pode querer retaliar por ontem.

— Por que ele faria isso? – Perguntou Charly – Nós só estávamos nos defendendo.

— Eu sei, mas tem uma chance dele ter feito aquilo de propósito... – continuou o clérigo – Não dá pra ignorar isso.

— Então ainda acreditam nessa possibilidade? – ela perguntou comprimindo os lábios.

— Você não? A gente não o conhece – disse Solomon.

— Eu sei – disse ela – Mas esse é justamente o problema, nós não sabemos nada sobre ele e enquanto não formos descobrir quem ele é e porque ele não nos contou sobre a licantropia podemos estar julgando mal um homem inocente.

— Inocente? – questionou o guerreiro franzindo o cenho – Ele sabia o que ele era, sabia o que podia fazer, ainda assim ele preferiu não dizer nada. Por que acha que ele fez isso?

— Eu não sei – ela suspirou – Olha, você pode estar certo, ele pode ter feito de propósito, mas e se ele não fez? E se for tudo um mal entendido? Sabe, da primeira vez que eu te vi com Charly na Cidade Baixa eu achei que você fosse uma pessoa horrível, mas agora eu sei que você está longe de ser isso, porque eu o conheço melhor... – disse olhando em seus olhos escuros – Então, por favor, vamos falar com ele e descobrir o que aconteceu aqui antes de tomar qualquer decisão.

— Não – respondeu o guerreiro prontamente.

— Solomon…

— Eu não confio nele – disse – E você também não deveria. Ele nos atacou e nós mal sobrevivemos a isso.

— Ele estava sob o efeito da licantropia! Provavelmente nem sabia o que estava fazendo! – ela exclamou já pensando em como seria se ela estivesse no lugar de Vaalij.

— Dorothy… – disse Arlindo tocando em seu braço – Ele só tá tentando ajudar.

— Ótimo, então vamos conversar com Vaalij. Inocente ou não ele é amaldiçoado como eu, e se não descobrirmos com ele nenhuma cura ou solução quer dizer que o que quer que decidam fazer com ele, terão de fazer comigo também quando anoitecer – disse a paladina fazendo todos se calarem por alguns instantes enquanto se entreolhavam.

— Vaalij Momeh me salvou, meus senhores – disse Nipples quebrando o silêncio – Eu não acredito que ele seja uma má pessoa, por isso defendo que ele merece ser ouvido e que ele pode nos ajudar – disse sério para seus companheiros de equipe fazendo Dorothy assentir com a cabeça e se virar para Charly esperando uma resposta.

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— Ele pode se transformar agora? Se ele quiser? – perguntou o garoto temeroso.

— Acredito que sim – ela respondeu.

Ele entortou a boca, pensativo, então olhou para a ela e Nipples suspirando:

— Se vocês acreditam que ele merece uma chance, então eu também acredito.

Dorothy então se virou para o clérigo que estava pensando com uma das mãos sobre a boca enquanto o outro braço estava cruzado por baixo, dando apoio.

— Tem certeza disso? – ele perguntou olhando de baixo para cima.

— Sim – respondeu convicta.

Arlindo sem dizer nada olhou para Solomon e a garota logo fez o mesmo. O guerreiro a encarou por alguns instantes vendo as pequenas cicatrizes da paladina expostas pela blusa azul de ombros caídos e mangas compridas, e então olhou para Charly e Nipples.

Ela sabia que Solomon achava aquilo uma má ideia e ela podia entender o porquê. Se Vaalij os tivesse atacado propositalmente o chá de Nipples não seria mais uma opção para neutralizá-lo já que ele provavelmente o não tomaria de bom grado, e a força bruta não havia funcionado muito bem da ultima vez, então eles não teriam nada para impedi-lo de atacá-los assim que acordasse.

Solomon balançou a cabeça negativamente comprimindo os lábios e a encarou enquanto o coração da garota pulsava acelerado.

— Tá bem, – Ele concordou relutante – mas eu vou levar o meu martelo, se ele fizer algo...

— Eu sei – ela o interrompeu – Obrigada – agradeceu, enquanto o guerreiro virava para o lado a ignorando.

— Está decidido então – disse Arlindo – Nós vamos conversar com ele agora? – perguntou o clérigo notando o quanto Dorothy estava se esforçando para manter a calma – Eu sei que é muita coisa acontecendo e você ainda nem falou sobre como você está...

— Nós temos pouco tempo antes de escurecer e as coisas ficarem complicadas. Vamos fazer isso agora. – ela respondeu rapidamente.

— Certo... – disse o clérigo cerrando os olhos – Bem, vamos te dar um momento e te encontramos lá fora.

— Não preciso de um momento – ela franziu o cenho, já vendo que ele notara que ela não estava bem.

— Nós precisamos, para colocar armaduras, pegar os equipamentos... Enfim, nos prepararmos para o que pode acontecer – disse.

Dorothy acenou positivamente e Arlindo comprimiu os lábios passando a mão no ombro da garota e saindo em seguida. Nipples e Charly o acompanharam olhando para trás e Solomon saiu por último a encarando em silêncio.

A garota suspirou passando a mão pela cabeça e foi até o espelho novamente, dessa vez em seu reflexo ela viu os olhos do homem-javali, vermelhos com a pupila pequena e o brilho da lua cheia. Ela piscou algumas vezes, vendo seu verdadeiro reflexo então cobriu a boca com as mãos se ajoelhando no chão e chorando torrencialmente em seguida...

Passado algum tempo Dorothy saiu do quarto como se nada houvesse acontecido e encontrou Arlindo sentado no sofá da sala esperando por ela.

— Você parece melhor – disse ele se levantando.

— Obrigada.

— Mas sei que você não está bem – continuou e ela desviou o olhar – Está tentando não preocupar a gente, não é?

— Eu só não quero ninguém desesperado agora.

— Hum… – fez uma curta pausa – Você está com medo de ir falar com ele? Se não quiser não precisa ir, nós podemos interrogá-lo sem você.

— Não – ela negou com a cabeça – A única coisa de que tenho medo agora é de machucar alguém inocente – falou pensando no monstro que poderia virar.

— Então realmente acredita que Vaalij não seja culpado.

— Sim.

— Por quê? – ele franziu o cenho curioso.

— Não acho que ele tenha nos trazido aqui para nos atacar, seria mais fácil fazer isso na floresta, quando estávamos feridos e cansados, além disso não senti mal algum nele.

— E isso basta pra você? Pessoas são mais complicadas do que isso… Mais complexas do que sua aura diz – disse gesticulando.

— Você acha que ele armou tudo?

— Eu… Não sei. – Ele olhou para o teto.

— Bem, nós vamos descobrir agora.

Arlindo entortou a boca e concordou com a cabeça, então caminhou ao lado da garota para fora da casa indo em direção ao celeiro, onde Vaalij estava preso.

— Eu preparei uma Zona da Verdade para usarmos hoje – disse Arlindo – Imaginei que ia ter algum tipo de interrogatório uma hora ou outra.

— Essa é aquela magia que não te deixa mentir, né? – perguntou a paladina passando ao lado da pequena horta de Vaalij.

— É… Ainda é possível mentir sob o efeito dela, mas é bem improvável – respondeu o clérigo.

— Bem, use se achar necessário – disse parando em frente ao celeiro enquanto ele fazia um sinal positivo com a cabeça.

— Pegamos suas coisas – disse Charly mostrando os equipamentos da garota sobre um caixote ao lado, inclusive seu escudo quebrado – Você está bem pra fazer isso?

— Não se preocupe comigo Charly – ela sorriu pegando bainha com a espada e a prendendo no cinto – Então, ele está dormindo lá dentro? – Olhou para as duas grandes portas do local.

— Acredito que sim, minha senhora – respondeu Nipples – E ele está amarrado também.

— Certo – disse ela respirando fundo – Vamos lá.

Solomon puxou a trava da porta e a abriu vagarosamente. O coração de todos ali começou a bater mais forte. Dorothy cerrou o punho com força, sua mão trêmula revelava para os atentos que ela estava nervosa.

“E se ele estiver transformado? E se ele atacar?” questionava-se em silêncio “Não posso estar errada sobre isso, se eu estiver vou ter colocado todos em risco novamente. Tenho que ir primeiro, se algo ruim acontecer que aconteça comigo” pensou dando um passo à frente.

O interior do celeiro foi aos poucos sendo iluminado enquanto todos já se preparavam para o pior. Dorothy engoliu um pouco de saliva e segurou no cabo de sua espada embainhada, já imaginando encontrar o homem-javali ali dentro, mas não foi isso que ela viu ao adentrar o local.

Ao invés disso ela viu um homem de roupas rasgadas preso a uma pilastra de madeira com correntes de ferro em seu tronco e braços enquanto um pano surrado cobria seus olhos. Ele mexeu a cabeça ao ouvir eles entrando e sua respiração ficou visível em seu peito.

— Quem está aí? – Vaalij perguntou com a voz trêmula, ela podia sentir o medo em seu timbre – Quem está aí?! – se exaltou.

Todos o observavam surpresos por estar acordado enquanto Arlindo começara a percorrer o estábulo silenciosamente conjurando sua magia o mais baixo que conseguia, fazendo com que conforme ele andava, uma fina linha branca começasse a formar um grande círculo em volta de Vaalij.

— O que é isso? – perguntou o ferreiro desesperado – O que estão fazendo?

Nipples, compadecido, juntou as mãos na altura do peito e olhou para Dorothy esperando ela dizer algo, a garota então fez um sinal positivo com a cabeça, permitindo que ele falasse com Vaalij.

— Senhor Momeh, sou eu – ele respondeu – Nipples.

— Nipples? O que está acontecendo? – perguntou Vaalij – O que estão fazendo?

— Senhor Momeh…

— O que aconteceu ontem à noite? Por que estou preso? – continuou com as perguntas – Eu… – Sua voz tremulou – Eu... Matei alguém?

— Não, o senhor não fez isso, meu senhor. Por favor, se acalme – pediu o serviçal nervoso.

— Mas eu feri alguém, não é? É por isso que estou preso… – disse engolindo um pouco de saliva – O que eu fiz Nipples? O que farão comigo?

— Você não se lembra do que aconteceu? – perguntou Arlindo depois de terminar sua conjuração.

— Arlindo, é você? O que vão fazer comigo? – ele balançou a cabeça tentando virá-la na direção em que ouvia a voz do clérigo – Por favor, me diga...

— Relaxe, nós só viemos conversar com você, está bem? – respondeu ele voltando para a entrada do celeiro.

— Conversar? – concordou com a cabeça mostrando nervosismo– Vão me soltar para isso? – perguntou.

Dorothy olhou para o clérigo esperando sua resposta e notou-o franzindo o cenho e espremendo os lábios, ainda desconfiado de Vaalij. O clérigo então olhou para Solomon e o guerreiro fez que não com a cabeça enquanto Nipples e Charly apenas observavam sem opinar.

— Sinto muito, mas não podemos fazer isso agora – disse o clérigo de forma delicada.

— Por que não? – perguntou o homem ruivo ficando com a respiração acelerada, mas ninguém o respondeu – Eu não sou perigoso como pensam… – disse após alguns instantes.

— Sim, você é – disse Solomon.

— Vocês tem que entender que o que quer que tenha acontecido ontem à noite, não fui eu, foi a maldição – explicou amedrontado – Por favor, não façam nada comigo, eu nunca machucaria vocês!

— Então por que não nos contou da licantropia? – perguntou Arlindo desconfiado.

— Não é algo que simplesmente se conta para as pessoas… – virou a cabeça para o lado.

— Prefere que elas descubram enquanto você as ataca? – perguntou Solomon enraivecido.

— Mas é claro que não. – balançou a cabeça em negação. – Eu apenas já passei por isso antes, e achei que se contasse a vocês, iriam me atacar como todos sempre fizeram – justificou com a voz baixa – Eu posso ser amaldiçoado, mas eu não sou um monstro...

Todos se entreolharam em silêncio. Dorothy notou que Nipples sentia muita pena do homem, enquanto Solomon ainda não acreditava nele. Charly parecia pensativo, talvez ainda não tivesse uma opinião concreta sobre Vaalij, já Arlindo parou ao lado dela acenando positivamente com a cabeça. Ele confiava no que o homem dizia.

— Por favor– implorou Momeh soluçando – Por favor, não... Não me matem…

Dorothy sentiu um frio na barriga. Ela conseguia sentir a sinceridade e medo nas palavras de Vaalij. Ele estava completamente amedrontado na mão de estranhos que ele havia atacado contra sua vontade. A paladina caminhou em sua direção, fazendo-o estremecer ao ouvir seus os movimentos e abaixou em sua frente tirando a venda de seu rosto.

Vaalij apertou os olhos virando a cabeça de lado com medo do que ia acontecer, mas então sentiu-se estranhamente mais calmo e abriu os olhos vendo Dorothy a sua frente.

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— Você... – disse ele com a voz trêmula – Eu me lembro de seu rosto. Eu machuquei você, não é mesmo?

Dorothy confirmou balançando a cabeça e mordeu os lábios controlando suas emoções.

— Eu sinto muito – Ele olhou para ela com os olhos avermelhados de choro – Por favor, não me mate. Eu não queria...

— Eu sei – ela assentiu com a cabeça – Eu acredito em você.

— Acredita? – ele perguntou surpreso e ela balançou a cabeça afirmativamente – Obrigado – agradeceu emocionado – Obrigado Dorothy.

A garota fez um sinal positivo com a cabeça forçando-se a dar um leve sorriso então notou Vaalij olhando para as duas cicatrizes em seu ombro e baixando o olhar envergonhado.

— Não é sua culpa – disse ela se levantando e puxando levemente sua blusa para cima.

Arlindo a acompanhou com os olhos enquanto ela caminhava para trás da pilastra para soltar Vaalij, então pôs a mão sobre o ombro de Solomon que deu um passo à frente, preocupado com o que isso poderia gerar.

— Relaxe, ele não fará nada – disse o clérigo.

— Como pode ter certeza? – perguntou o guerreiro.

— Usei uma magia para que ele não pudesse mentir. Acredito que ele não teve ou tenha más intenções conosco – justificou.

— Não confio na sua magia.

— Então confie em mim, eu sei ler bem as pessoas – disse atento ao homem ruivo.

Charly olhou para o clérigo enquanto ele dizia isso e suspirou levemente aliviado, avançando em seguida na direção da paladina, assim como Nipples que logo o acompanhou. Solomon guardou o martelo, que segurava nas mãos até aquele momento e então cruzou os braços, observando-os à distância.

Nipples ao se aproximar de seu anfitrião, notou um ferimento grande em seu ombro causado durante o combate na noite anterior, quando ele ainda estava como homem-javali. Arlindo fechou o machucado usando uma magia e os momentos seguintes seguiram com todos se reunindo na sala da casa do homem enquanto ele trocava as roupas maltrapilhas no quarto.

Neste meio tempo Dorothy só conseguia prestar atenção em uma única coisa, o sol ficando mais baixo no céu a cada momento.

— Está sentindo algo estranho? – perguntou Solomon parando ao lado dela na janela da sala.

— Não – ela olhou para ele – Ainda não, mas acho que essa é a pior parte.

— Por quê?

— Eu não sei, acho que é como quando você vê um golpe vindo à sua direção e você sabe que não tem jeito de impedi-lo. Você fecha os olhos e fica esperando o pior, sem saber se vão mesmo te acertar e quanto vai doer. A diferença é que nesse caso eu já tomei o golpe, eu só ainda não senti a dor e não sei com que marca vou ficar.

— Você é forte, vai aguentar – disse ele apoiando os braços no batente da janela e se inclinando para frente olhando para fora.

— Mas e se eu cair? – Ela baixou o olhar, insegura.

— Você levanta e continua lutando – respondeu o guerreiro de forma simples – É isso que você faz não, é? É teimosa demais pra ficar no chão.

Dorothy sorriu levemente e tocou nas mãos do homem, fitando-o.

— Obrigada Solomon.

Ele olhou para ela e fez um sinal positivo com a cabeça, então Vaalij saiu do quarto, chamando a atenção da equipe. Dorothy notou que o homem não parecia muito confortável, observando a todos com olhar de medo e desconfiança que lhe era recíproco.

— Senhor Momeh – disse Nipples se aproximando com uma xícara com chá e um prato de madeira com um pão caseiro em cima e algumas frutinhas arbustivas – Eu gostaria de me desculpar por tê-lo dado um calmante sem sua permissão. Eu apenas achei que seria necessário para que ninguém se machucasse caso minhas suspeitas estivessem corretas, eu sinto muito. – Estendeu o prato para Vaalij abaixando a cabeça – E dessa vez não precisa se preocupar, é apenas comida, eu garanto.

— Não se desculpe Nipples – ele suspirou pegando a comida – Você fez o certo. Sou eu quem deve pedir seu perdão e o de todos, por não ter contado sobre minha maldição antes – disse e olhou para Dorothy que não falou nada, apenas abaixou o olhar.

Nipples fez um sinal positivo com a cabeça e se afastou de costas. Vaalij colocou então o prato com a refeição sobre o barril ao lado do sofá e Arlindo deu alguns passos, parando ao lado da janela oposta a que Dorothy e Solomon estavam.

— Então… – disse ele analisando Vaalij – Você disse que não se lembra de ontem a noite, não é? Mas se lembra dela… – olhou para a paladina.

— Sim – concordou Vaalij – Não me lembro do que fiz em minha outra forma, mas tenho um vislumbre de seu rosto. – Olhou para a garota.

— Você pode ajudá-la? – perguntou Charly dando um passo à frente – Sabe como curá-la?

Dorothy encarou o homem com o coração acelerado, “Por favor, diga que sim” pensou aflita, mas ele balançou a cabeça negativamente para a pergunta.

— Sinto muito – disse.

— Existem magias para quebrar maldições de lugares e objetos – disse o Arlindo – Sabe se existe uma para o seu tipo?

— Eu não sei – respondeu o homem – Mas não posso dizer que procurei isso por muito tempo, pouco depois que me transformei me afastei da civilização e aceitei minha punição.

— Punição? – o clérigo ergueu uma das sobrancelhas.

— Sim – suspirou envergonhado – Acredito que pelos erros que cometi em minha vida.

— Quem o amaldiçoou? – perguntou Arlindo.

— Foi um homem-javali também? – perguntou Charly.

— Sim – respondeu Momeh.

— Oh céus – disse Nipples – Ele também vive aqui no bosque, senhor Momeh?– perguntou Nipples preocupado.

— Vivia...

— Onde ele está agora? – perguntou Dorothy estranhando o modo como Vaalij respondera.

— Ele está… Morto – disse hesitante deixando todos inquietos.

— Você o matou? – perguntou Solomon de forma firme.

— Sim – respondeu baixando a cabeça – Mas não como vingança! Era lua cheia e não pude me controlar, nem ele. Licantropos são territorialistas e solitários, não gostam de competição, nós não… Não conseguimos parar até ficar apenas um.

Todos ficaram em silêncio, Dorothy pode sentir o medo na respiração de Nipples, a preocupação que o olhar de Charly mostrava, pode ver o semblante de Solomon fechando enquanto Arlindo a encarava a espera de uma reação. Saber que Vaalij já havia matado alguém por causa de sua maldição deixava tudo pior, não só porque isso poderia ter acontecido na noite anterior, mas também porque ainda poderia acontecer nas noites que se seguiriam. E agora ela sabia que também poderia matar... Ou morrer.

A paladina pousou a mão sobre os olhos e se virou levemente para o lado. “Oh, deuses, não. Não… O que eu vou fazer? Eu não posso ficar mais aqui, não posso ficar perto de Vaalij e se for embora, não posso levar ninguém comigo…. Não posso!”

— E se vocês dois tomarem o chá do Nipples? – perguntou Charly fazendo-a se voltar para ele – Nada aconteceria, não é?

— Não dá pra arriscar isso – disse Arlindo – Se algum dos dois acordar… Eles não podem estar no mesmo lugar.

— Bem… – gaguejou o garoto – E se acharmos uma cura? Você disse que tem como tirar maldição das coisas.

— Eu não sei que magia faria isso ou se eu ao menos tenho algo parecido no meu livro… Ah – suspirou se virando para a paladina – Seria mais fácil achar essa informação em Theolen.

— Não! – exclamou Dorothy – Não vamos voltar. Eu não vou abandonar o Steve!

— Também não vai ajudá-lo nesse estado – disse Solomon.

— Você precisa cuidar de si mesma, minha senhora – concordou Nipples.

— É, e você poderia ir com o Arlindo e nós ficamos procurando pelo Sr. Leon enquanto estivessem fora… – sugeriu Charly visivelmente preocupado com a garota.

— Não… – balançou a cabeça com a voz trêmula – Eu não posso.

— O que vai fazer então? – perguntou Solomon.

— Eu não sei… Eu preciso de um tempo para pensar.

— Não temos tempo – disse Arlindo.

— Eu… – gaguejou olhando para os lados – Eu só preciso ir para longe. Talvez para Planície Roxa, que é distante e isolada. Posso passar a noite lá e de manhã nós podemos pensar em algo.

— Você vai pra lá sozinha? – perguntou Charly – E se tiver mais esqueletos?

— Eu vou com ela – respondeu Arlindo – Sou o melhor para lidar com eles.

— De jeito nenhum, não posso estar perto de ninguém – ela negou com a cabeça.

— Não vou estar com você a noite, só vou te levar até aquele mausoléu onde você vai se esconder – disse olhando para a paladina – Eles podem ficar com Vaalij, já sabemos que o chá do Nipples funciona nele, você até pode tomar também e dormir enquanto procuro por alguma solução em outro lugar.

— Meu senhor, isso é demasiadamente arriscado – disse Nipples – Não sabemos os efeitos do chá na senhorita Dorothy, varia muito de pessoa para pessoa.

— Exato! – concordou a paladina.

— Então eu te levo até lá e volto, com o mapa posso procurar um caminho mais curto e seguro.

— Isso… Isso é… - ela balbuciou em negação.

— Nossa melhor chance – disse Arlindo se aproximando e parando frente a frente para a garota – Escuta, você não pode estar perto dele quando anoitecer – falou se referindo à Vaalij – E não podemos soltá-lo como ontem, ele sabe o caminho para cá. Você não. Então mantemos ele preso aqui com o efeito da bebida no Nipples e garantimos que ele não saia, você fica segura naquele mausoléu e nós te buscamos durante a manhã, está bem?

— Arlindo…

— Temos que fazer isso agora – ele olhou para a janela, vendo o sol já abaixo do ponto de pico – Então...

— ...Vamos lá? – perguntou Steve olhando para a menina receosa – Não se preocupe, eu sei que está com medo de cair de novo, mas estou aqui para te ajudar – estendeu a mão para Dorothy.

A garotinha olhou para seu joelho sem mais machucado e então fitou os olhos tempestuosos de Steve. Ela estendeu a pequena e delicada mão para ele e olhou para frente”

— Tá bem – ela suspirou retomando sua coragem – Vamos embora.