Amor à venda.

Capítulo 23


"Um homem pode viver feliz com qualquer mulher desde que não a ame". (Oscar Wilde)

Vincent acordou num sobressalto. Sentiu a sua fina camisa encharcada de suor e alguns fios de cabelo grudados em sua testa.

Sentou-se na beira da cama tentando retomar o ritmo de sua respiração. Acabara de ter um pesadelo. Não era capaz de lembrar-se com detalhes, mas imediatamente reconheceu aquela sensação de desespero. Era a mesma que o perseguiu durante o dia todo.

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O seu apartamento vazio já havia se tornado uma imagem corriqueira, entretanto, naquela manhã, quando procurou por Gilan e não a encontrou, era como se algo estivesse fora do lugar.

Estava sozinho ali. E pela primeira vez em anos, não soube lidar com aquele fato. Buscou manter a calma antes de tomar alguma atitude e a esperou pacientemente por horas. E a cada minuto que passava, Vincent tinha mais certeza de que Gilan não voltaria.

Mas a porta se abriu. E céus! Gilan estava realmente ali.

Sentiu a pressão dolorosa dentro do peito desaparecer instantaneamente e não pensou em mais nada quando a abraçou. Essa urgência que a ausência de Gilan o causou não fazia o menor sentido. A jovem passou apenas uma noite naquele apartamento, uma mísera noite, e ele já não conseguia olhar para aquele lugar sem pensar na assistente.

Limpou o suor de sua testa e levantou-se da cama finalmente.

Abriu a porta com cuidado, preocupado que pudesse fazer algum barulho, passou pela porta de Gilan e sentiu um comichão em suas mãos. Desviou o pensamento absurdo de bater naquela porta e desceu as escadas indo em direção à cozinha, uma iluminação vindo da sala chamou a sua atenção. Se aproximou com cautela e notou que a televisão estava ligada.

Então, no sofá, Vincent viu um edredom emaranhado cobrindo o minúsculo corpo de Gilan. A garota roncava num tom baixo e surpreendentemente adorável.

Teve vontade de rir. A assistente resmungava e fungava, como se estivesse no meio de alguma discussão acirrada com alguém.

Teimosa até dormindo. Ele balançou a cabeça negativamente.

Demorou tempo demais observando a ponta do nariz da assistente. Era a primeira vez que reparava o quão redondo ele era, parecia um tomate-cereja. Notou também os cílios da assistente, longos o suficiente para roçarem em sua pele, e por mais que adorasse vê-la de olhos abertos, gostava da sensação de observá-la dormir.

Gilan se moveu bruscamente, entrelaçando os seus pequenos dedos no edredom. Os seus lábios rosados esboçaram algumas palavras desconexas, soltando em seguida um grunhido que mais parecia um arroto engraçado. Vincent não resistiu e se ajoelhou em frente ao sofá e com o máximo de suavidade que pode, afastou alguns fios da franja da assistente para o lado, podendo apreciar a visão do rosto inteiro dela. Gilan era sem dúvida, a mulher mais bonita que ele já vira dormindo.

Gilan era a mulher mais bonita que já vira acordada também.

Pensar sobre isso fez o seu estômago torcer. Há alguns meses, poderia afirmar que a assistente sequer fazia o seu tipo, mas naquele momento, a única certeza que tinha era que a desejava.

Muito.

Tentou fugir dessa coisa que aos poucos se tornava tão presente e negou todos os sinais que o seu corpo lhe enviava.

O cheiro de cereja que o enlouquecia. Aquela pele que parecia perfeita ao ser tocada. E o gosto daquele beijo, que nunca mais saiu de sua cabeça. Inventou desculpas esfarrapadas e explicações idiotas, tudo para se convencer de que jamais, mesmo que estivessem sob o mesmo teto, olharia para Gilan daquela maneira.

Mas a verdade era apenas uma, Vincent a queria.

Intensamente. Como nunca quis ninguém.

Se aproximou do corpo encolhido da assistente e a posicionou em seus braços, a levantando num único impulso. A respiração da jovem contra o seu peito lhe causou arrepios e agradeceu o fato de Gilan estar inconsciente. Talvez se tivesse que lidar com a visão daqueles olhos azuis, Vincent não fosse capaz de se controlar.

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Subiu as escadas sem sequer sentir o esforço de carregar o peso da jovem e a deitou na cama, tendo o cuidado de não descobri-la. A fitou uma última vez antes de sair do quarto dela, e se deu conta de que faria qualquer coisa para que não existisse um contrato que o obrigasse a deixá-la ali sozinha.

xXx

Gil acordou naquela manhã sem se lembrar como tinha ido parar em sua própria cama. Levantou-se no mesmo horário de sempre numa tentativa de manter a rotina de sua antiga casa. Mas ainda tinha as suas dúvidas e não sabia como as coisas seriam a partir de agora. Desceu as escadas timidamente e foi até a cozinha.

Vazia.

Olhou da sala até a sacada.

Ninguém.

Vincent provavelmente ainda dormia no andar de cima. Pegou uma fatia de torrada e passou um pouco de geleia de pecã, a sua favorita. E enquanto comia, decidiu que seguiria exatamente as suas atividades de antes. Pegaria o metrô até a B&B Larsson, compraria o café para o chefe e deixaria em cima de sua mesa antes de começar a trabalhar. O barulho do elevador fez com que Gil se assustasse e fosse correndo até o hall de entrada.

Começou a tossir, engasgando com a torrada, assim que viu a figura de Vincent usando um short de corrida, que mostrava até demais as suas coxas, e uma regata inteiramente suada.

Wow. Bom dia, mundo!

— Você levantou cedo. — Vincent constatou, enquanto secava o excesso de suor do rosto com uma pequena toalha que carregava.

— Não tão cedo quanto você, aparentemente. — Gil focou o seu olhar no rosto de Vincent, tentando soar desinteressada. — Você sempre levanta nesse horário?

— Exercícios fazem bem à saúde, Gilan. — o chefe andou até a cozinha, abriu a geladeira e pegou um isotônico, em seguida, caminhou até a lavanderia.

— Como alguém que acorda tão bem-disposto vai trabalhar com tanto mau humor? — ela murmurou as palavras.

— Eu escutei isso. — Vincent gritou da lavanderia.

Gilan soltou uma risada e abriu a geladeira, servindo-se de um copo de água. No primeiro gole, quase cuspiu todo o líquido quando Vincent retornou à cozinha usando somente aquele short ridiculamente marcado.

Ele estava sem camisa.

Sem. Camisa.

— Coloquei algumas roupas para lavar, quando terminar, sinta-se à vontade para lavar as suas. — Vincent andou como se fosse absolutamente normal estar suado e quase nu. — Você sabe usar essa máquina, não sabe?

— Eu… — Gil se virou na direção da geladeira e a abriu, enfiando a sua cabeça lá dentro. — Sei. Claro que sei.

— Certo. — Gil sentiu o olhar de Vincent em sua nuca. — O que você tanto procura aí dentro? — ele quis saber.

— Eu perdi as minhas… Chaves. — ela respondeu abafado. — E estou procurando.

— Na geladeira? — Vincent perguntou, parecendo verdadeiramente interessado.

Gilan, sua imbecil. Gil revirou os olhos.

— Eu sou muito distraída. — ela ajoelhou-se e começou a remexer na gaveta de verduras. — Eu até comprei um chaveiro novo para colocá-las e não perdê-las, mas eu esqueci completamente disso. Amanhã mesmo eu vou–- — o chefe a puxou para fora da geladeira e Gil ficou a centímetros de distância do seu peito descoberto.

Vincent segurou em uma das mãos de Gil e lhe entregou um objeto metálico, mas ela estava hipnotizada demais para notar do que se tratava.

— Está aí. — o chefe informou.

— O que? — Gil sibilou com dificuldade, descendo os seus olhos até o abdômen de Vincent.

— A sua chave, está aí. — ele repetiu, e Gil finalmente prestou atenção no objeto que segurava.

Vincent deixou a cozinha por um momento e retornou segurando o seu próprio chaveiro. Tirou as suas chaves do objeto, e em seguida, o entregou para Gil.

— Tome. Use o meu chaveiro, assim evita de perder novamente as suas chaves.

Gil apenas assentiu e fez o que o chefe havia pedido.

— Estarei pronto em quinze minutos, você não precisa acordar tão cedo da próxima vez. A partir de agora nós iremos juntos para a B&B. — Vincent informou antes de deixar a cozinha.

xXx

— Você está muito silenciosa para alguém que acabou de beber um copo extra grande de café. — Vincent a provocou.

Ambos caminhavam em direção ao carro depois de pararem no meio do caminho para comprarem os seus respectivos cafés.

— Estou um pouco cansada, não dormi muito bem.

— Você deveria correr comigo amanhã. — Vincent ofereceu, bebendo mais um gole de sua bebida.

— Eu adoraria, mas a minha religião não permite. — Gil segurou o riso.

— Se eu me lembro bem, você sempre foi a primeira a chegar.

— Isso apenas fazia parte da minha estratégia. — Vincent a olhou intrigado. — Era a melhor maneira de te deixar de bom humor, chegar antes e colocar o seu café em cima da mesa.

Vincent travou o seu maxilar parecendo contrariado.

— Pelo menos essa estratégia funcionava? — o chefe perguntou, e Gil cerrou os lábios.

— Funcionava. — ela disse finalmente. — Na maioria das vezes. — murmurou a última parte.

— Ter a sua companhia no café é uma estratégia muito melhor para manter o meu humor.

Gil sentiu o seu rosto esquentar.

— Se eu soubesse teria o convidado antes, então.

— Eu provavelmente recusaria. — o chefe se aproximou e sussurrou em seu ouvido. — Ouvi dizer que eu era um tremendo idiota.

Gil devolveu o sussurro antes de entrar no carro.

— Ouvi dizer que ainda é. — e ela sorriu quando Vincent fingiu estar ofendido.

xXx

Assim que pisaram na empresa, uma tonelada de trabalho já aguardava por eles. Oliver surgiu um tanto eufórico, despejando as informações em cima dos recém-casados, num misto de culpa e alívio. Gil não se importou muito com o fato de não terem uma pausa para a lua de mel, afinal, nada de interessante aconteceria de fato, mas sentiu-se um tanto deprimida ao encarar aquela segunda-feira tão atarefada depois de viver o sonho – quase perfeito – que havia sido o seu casamento.

Oliver continuava a tagarelar, entretanto, Vincent nada dizia, mantendo a expressão calma e apenas bebericando devagar o seu café. Gil o observou com curiosidade, se perguntando o que deixou o chefe tão concentrado de repente.

— Luhan… — Vincent finalmente falou. — Como você está?

— …E eu enviarei os pedidos ainda hoje se voc- O que? — Oliver o encarou perplexo.

— Como foi o seu final de semana? — Vincent insistiu.

— Foi legal, eu acho. — Oliver respondeu um tanto receoso.

Gil tentou esconder o sorriso dentro do seu copo de café.

— Bom saber. Espero que tenha descansado, esperarei os seus relatórios na minha sala. — Vincent fez um sinal com a cabeça se despedindo dos dois. — Até mais.

Oliver ficou imóvel e totalmente incrédulo. O chefe de pesquisas encarou Gil como se procurasse por respostas, e a assistente apenas bateu com os ombros.

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— Seja lá o que estiver fazendo com o Parker, apenas… Continue. — Oliver deu um beijo estalado na bochecha de Gil, e saiu.

Depois de trabalhar num ritmo frenético durante toda a manhã, Gil conseguiu encontrar tempo para tirar a sua hora de almoço.

Vincent ainda parecia muito ocupado, portanto, resolveu comer sozinha. Foi até o banheiro para se aliviar, pois tinha a mania terrível de torturar a sua bexiga apenas para não deixar o trabalho pela metade, e de dentro da pequena cabine, escutou algumas vozes conhecidas.

— Ele me perguntou do meu filho, acredita? — uma voz estridente, que Gil imediatamente reconheceu sendo de uma das funcionárias de Vincent, continuou a falar. — Eu jamais poderia imaginar que o Sr. Parker soubesse do acidente dele.

— Ele me parabenizou pela apresentação de ballet da Meg. Ele se lembrou do nome da minha filha. — a outra voz familiar respondeu.

— Nunca pensei que o Sr. Parker pudesse mudar tanto. A Gilan merece um prêmio. Quem diria que o problema dele era falta de mulher? — e ambas riram antes de deixarem o banheiro.

Gil abriu a porta da cabine com cuidado, se certificando de que estava sozinha. Olhou o seu reflexo no espelho e suspirou aliviada.

Sabia muito bem que aquele comportamento do chefe era uma consequência das cláusulas do contrato, mas mesmo assim, não conseguia evitar o enorme sorriso que escancarou em seu rosto.

Por menor que fosse, Gil encararia aquilo como um avanço, uma oportunidade que Vincent dava a si mesmo para reparar positivamente nas pessoas que o rodeavam.

Gil decidiu que seria uma boa ideia mostrar a Vincent o quanto a sua mudança de atitude era significativa. Foi até a sua sala, ligou o seu computador e procurou alguma receita sofisticada e fácil de executar. Não era a melhor cozinheira do mundo, mas, com certeza, conseguiria fazer um bom jantar para os dois.

Gil imprimiu a receita escolhida e lia com atenção os ingredientes que precisaria. Corou um pouco, se sentindo estupidamente caseira com a ideia de cozinhar para Vincent.

Uma batida na porta a distraiu.

— Entre. — disse sem tirar os olhos do papel.

— Eu a incomodo? — uma voz arrastada fez com que Gil levantasse o olhar imediatamente.

Harold Mars.

Gil não saberia dizer o que era mais intrigante sobre aquele homem. O sorriso pretensioso que ele constantemente ostentava, ou o perfume cheio de presença que invadia as suas narinas de uma forma muito mais agradável do que deveria.

— Sim. Quer dizer, não. Claro que não incomoda, sente-se. — Gil soou ansiosa demais.

— Tive uma breve reunião com Baxter, — Harold sorriu. — e aproveitei a ocasião para te fazer uma visita, espero não atrapalhar nada importante.

— No momento sou apenas uma dona de casa em dúvida com o jantar. — Gil brincou, sacudindo a receita em suas mãos.

Harold agarrou o papel no ar e o leu com interesse. Gil achou aquela atitude um tanto intrometida, mas não quis criar caso.

— A senhorita pretende cozinhar steak tartare? É bastante ousado. — Harold ergueu a sobrancelha.

— Não parece tão complicado, apenas, trabalhoso. — Gil umedeceu os lábios um tanto receosa.

— O segredo para um bom tartare está no corte. Ninguém quer morder um pedaço enorme de carne crua. Cubos pequenos. Quanto menor, melhor. — Harold explicou. — E descanse a carne em um recipiente sobre o gelo, uma vez que deve estar muito fresca. — Gil assentiu, apesar de já ter pesquisado a receita na internet, mas alguns homens gostam de ensinar e ela não estava com tempo de ser desagradável.

— Estou impressionada Sr. Mars, parece que o senhor tem um talento. — Gil sorriu um pouco debochada.

— Sou um homem sozinho, Srta. Robert, e aprecio uma boa refeição. — os olhos verdes escuros de Harold a fitaram de maneira convidativa. — Quem sabe um dia desses eu possa te mostrar o meu talento na cozinha.

— Tenho certeza que eu e Vincent adoraríamos. — Gil desconversou.

— Parker… Parker… — o nome de Vincent dançava nos lábios de Harold enquanto ele sacudia a cabeça. — Não consigo compreender um homem recém-casado com uma mulher tão bonita, ter a coragem de adiar a sua lua de mel.

— Nós decidimos adiar. — Gil retrucou com rapidez. Harold se levantou lentamente e rodeou a mesa, até ficar em pé atrás de Gil. — Por causa do trabalho... Nós... Tínhamos.... Trabalho... Muito. — ela mal conseguiu completar a frase com a tensão de ter o ex-diretor atrás de si.

Harold se inclinou e apoiou uma mão de cada lado da cadeira, cercando o corpo de Gil, que ainda se mantinha de costas para o homem. Ele pegou uma caneta da mesa da assistente e começou a escrever as recomendações sobre o tartare no papel da receita.

— Para a senhorita não errar em seu jantar. — ele praticamente sussurrou, quase roçando a sua barba rala na bochecha de Gil. — É uma pena que não tenha tido a sua lua de mel, Srta. Robert, se eu fosse o seu marido a levaria para qualquer lugar do mundo que desejasse conhecer.

— Não existe melhor lugar do que ao lado de Vincent. — Gil respondeu, sustentando um tom de voz firme.

Harold riu e Gil teve o reflexo estúpido de encará-lo. Quando virou o seu rosto, notou o quão próximo os seus lábios estavam.

Harold fixou aquele seu olhar de águia na boca de Gil, mas antes que qualquer coisa pudesse ser dita, a porta foi aberta subitamente.

— Gilan, preciso que você anexe com urgência os-

A voz de Vincent travou no momento em que flagrou a cena.

— Harold. — Vincent cumprimentou sem esboçar emoção.

— Vincent. — Harold devolveu o cumprimento enquanto se afastava devagar de Gil. Tão devagar, que ela teve vontade de empurrá-lo de uma vez e acabar logo com aquele constrangimento.

— Deseja alguma coisa? — Vincent soava tranquilo e cordial. Até demais.

— Já tive tudo o que precisava. — e mais uma vez, aqueles olhos verdes a encararam de maneira exageradamente interessada. — Espero ter o prazer de encontrar a senhorita novamente.

— Senhora. — a voz grave de Vincent corrigiu Harold imediatamente. — Sra. Gilan Parker.

O Sr. Mars passou os dedos suavemente pela placa que estava na mesa de Gil, na qual continha visível os dizeres: Gilan Robert / Assistente de vendas - Artigos Esportivos.

— Entendo. — Harold soltou uma risada provocativa demais. — Talvez devesse comprar uma nova placa, Srta. Robert.

E se afastou do casal, fechando calmamente a porta e Gil desencadeou-se a falar assim que o ex- diretor os deixou a sós.

— Vincent, o Sr. Mars estava aqui apenas porque-

— Preciso que você anexe esses canhotos nos pedidos, e se possível até às quatro da tarde. — Vincent a interrompeu bruscamente.

— Claro, sem problemas. — ela respondeu. — Mas, me deixe explicar... Nós estávamos conversando sobre-

— Tem a ver com o trabalho? — Vincent a confrontou.

— Não, Vincent, porém-

— Então, não me interessa saber.

Gil abriu a boca para retrucar, mas poucos segundos depois ela já estava sozinha em sua sala. Bufou inconformada com a agressividade do marido. Ele era, definitivamente, a pessoa mais inconstante que ela já havia conhecido.

Um lunático bipolar. Pensou, enquanto amassava o papel da receita e jogava no lixo.