Part Of Your World

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— Isso é um ultraje!

Tritão gritara ao encontrar a caverna de Ariel. A moça havia voltado de uma de suas viagens à superfície, remexendo nos restos do naufrágio que presenciara na manhã anterior e trazendo consigo inúmero itens para sua imensa coleção. Com a ajuda de Linguado e mais alguns amigos peixes, trouxera consigo a estátua do rapaz que havia salvo. Ela agora tinha um lugar especial na coleção, como seu bem mais precioso. Porém, análise dos objetos novos havia sido brutalmente interrompida com a entrada furiosa do pai.

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As barbas pareciam carregadas de eletricidade, seu tridente de ouro brilhava ameaçadoramente assim como sua coroa. Os olhos do rei do mar estavam exasperados ao encontrar tantos objetos e sua filha em meio deles.

— Ariel!

Gritou ele novamente. A pequena sereia estava assustada demais para se mover de onde estava – separando bruguzumba diversas.

— Fostes à superfície novamente! Fostes ao alto mar em busca dos naufrágios! Quantas vezes já lhe disse para não-se-aproximar-dos-humanos!­

O rei apontou o tritão para um dos lados da caverna da filha, disparando um raio dourado que destruiu tudo o que tocou. Foi o que Ariel precisava para nadar até o pai com muita raiva. Ele havia encontrado sua caverna, mas não tinha o direito de destruí-la!

— Papai, chega!

— Não! Eu digo chega! Chega dessa sua bobagem com os humanos! – Tritão disparou outro raio através da caverna – Sou seu pai e seu rei e você me deve obediência!— exigiu destruindo mais objetos.

Ariel tentou pará-lo, mas não havia muito que ela pudesse fazer. Ele era maior, mais forte e mais poderoso. Suplicou para que seu pai parasse de destruir sua coleção que conservava com tanto carinho e estudava há anos. Estava tudo sendo reduzido a pó.

— Pare! – gritava enquanto suas lágrimas se misturavam ao mar – Pare, papai. PARE!

— Estás proibida de visitar os barcos. Proibida de ir até a superfície. Não quero ouvir nada relacionado aos humanos sair de sua boca. Terá guardas que a acompanharão e estará de castigo até eu achar que essa sua tolice está controlada. Estamos entendidos?!

— O senhor está cego, não vê? Eu apenas ----

— Cale-se! – interrompeu-a – És uma sereiazinha tola, Ariel. Não compreende o mundo! Já lhe disse que os humanos são maus, eles são perigosos e não a quero próxima a eles!

Com um ar dramático, Tritão aponto seu tridente com reverência à estátua que Ariel salvara – o único item ainda intacto em tanta bagunça. – Está na hora de crescer, Ariel.

Com um estrondo a estatua foi reduzida a pedaços de mármore espelhados por toda a caverna. Ariel, que havia ficado muda pelo choque, virou-se para o pai com raiva no olhar.

— O único perigo que vejo aqui é seu preconceito e sua intolerância! – Retrucou rigidamente – Podes ser meu pai e meu rei, mas meu respeito não lhe pertence mais.

Antes que Tritão pudesse impedi-la, Ariel fugiu pela abertura superior, deixando para trás um pai cheio de sentimentos conflituosos e dor no coração.

Como ele pôde? Perguntou-se Ariel enquanto nadava a esmo entre corais e colônias de anêmonas. De onde vinha tanta raiva? O que os humanos haviam feito a seu pai para que ele os odiasse com tamanha convicção? Balançou a cabeça, afastando o pensamento. Seu pai era intolerante com a superfície. A chamara de tola, mas ele que era um tolo que não sabia conviver com aqueles que fossem diferentes. Não conseguia acreditar o tanto que o pai a magoara. Destruíra tudo o que construíra, havia a tratado tão mal. Ariel queria chorar, mas tinha raiva demais para isso.

Tinha raiva, dor e uma confusão de sentimentos dentro de si, o que não é uma combinação boa para tomada de decisões. Ela queria deixar o reino de seu pai, mas não tinha para onde ir. Pelo menos não ali. Estava na hora de Ariel seguir seus sonhos. De se libertar e ir atrás de sua própria vida.

E ela não era ali.

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Com uma nova determinação, a jovem bateu as nadadeiras com rapidez, afastando-se cada vez mais do reino e atravessando águas turvas e escuras que não deveria se aproximar. Era uma escolha radical, sabia, mas era a escolha correta para ela; ainda assim, não deixou de sentir um arrepio na espinha conforme adentrava os domínios da Bruxa do Mar, muito menos de sentir-se surpresa ao encontra-la à porta de sua caverna a sua espera.

A mulher era imponente, com cabelos brancos ondulando ao seu redor com uma aura misteriosa e tentáculos negros que saíam de sua cintura como um manto sepulcral. Seu olhar era indiferente, porém intenso. Sua idade indecifrável. Parecia ser resistente ao tempo, e embora Ariel pudesse constatar sua solidez, não duvidava que, acaso quisesse, a Bruxa seria capaz de desaparecer a sua frente dissolvida na própria água.

— Ariel.

Evocou a mulher enigmática com sua voz baixa e profunda. A sereia respirou fundo, ergueu o queixo e levemente trêmula informou o porquê de sua visita, muito embora a Bruxa já soubesse.

— Eu gostaria de fazer um acordo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.