A Guerra Greco-Romana

Capitulo 4 - De volta a casa


O irritado caranguejo ergueu-se e olhou de esguelha o recém-chegado.

– Grande honra a minha receber na minha humilde casa o todo-poderoso Grande Mestre do santuário! – Manigold faz uma vénia trocista a Sage.

– Manigold não disfarces a tristeza e o sofrimento que te abalam o coração com sarcasmo. – Sage falou tristemente.

– Acha que eu estou triste ou a sofrer? Claro que não. Nunca me passaria isso pela cabeça, jamais! – O seu sangue fervia, devido à raiva intensa que percorria o seu corpo. – Ser mandado para aquele país de maldade, desespero e melancolia. Vai atirar-me de novo no abismo! Estou bastante feliz! A sério!

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– Acalma-te, por favor Manigold. – Sage estava angustiado ao observar o estado do seu querido aluno. – Eu não te quero atirar no abismo, longe de mim tal pensamento.

– Ninguém diria! – Retorquiu o outro.

– Sabes Manigold, há muito tempo que esperava este dia. Sabia que a tua reacção não iria ser a melhor, porém nunca esperei que reagisses desta forma cobarde e medrosa. – Todas estas palavras pesaram muito no peito de Sage. Era muito difícil falar desta forma com aquele menino que ele vira crescer.

– Há! Agora sou cobarde e medroso! Que fantástico! Não tem mais nada para me ofender?

– Manigold, todos os teus colegas cavaleiros sofreram muito na sua infância, a vida não foi fácil para ninguém. Contudo, agora são homens fortes, corajosos que enfrentam os seus medos e receios. Não penses que a tua vida foi mais injusta do que a minha ou do que qualquer um aqui neste santuário.

Alguns segundos se passaram em que o silêncio era o único ruído que se escutava no quarto de Manigold. Os dois olhavam-se com um misto de sentimentos estampados nos rostos. Finalmente Caranguejo falou arrogantemente.

– Não me importo se sou cobarde ou medroso. O que interessa no meio desta história toda é que eu mantenho o que disse. Não vou para Itália e acabou a conversa. Qual é a dificuldade de intender isto?

– Por favor Manigold, abre os olhos! – Sage implorava. – Num passado bem distante, todavia muito presente no meu coração e na minha mente, também vi muitos companheiros morrerem mesmo ali diante dos meus olhos, e não pude fazer nada para mudar aquela situação. Companheiros muito queridos para mim, não há um único dia que não pense neles. – Sage limpou uma lágrima solitária que lhe escorria pelo rosto velho e cansado, com marcas de tristeza que nem o próprio tempo cura.

– Velhote! – Manigold olhava o seu mestre com notória aflição.

– Achas que eu meti a cabeça na terra e fiquei à espera que as coisas mudassem sozinhas? Não eu fui à luta, e tentei mudar o que estava errado, comigo e com os que me rodeiam. – Continuou Sage. – Agora a escolha é tua, meu rapaz! Será que queres aproveitar todos anos de treino aqui no santuário, se não queres valorizar tudo o que te ensinei, questiono-me se a armadura de Caranguejo está bem entregue. – Sage sabia que aquelas palavras eram demasiado duras, porém sabia que só assim apelaria à consciência e ao bom senso do seu discípulo. Sem mais palavras nem olhares saiu do quarto, deixando Manigold imerso em pensamentos… Mais pensamentos.

Sage iniciou o caminho que o levaria ao décimo terceiro templo onde iria repousar um pouco.

–Tanto sofrimento a sufocar-lhe o coração! Grande Mestre como consegue suportar tanta tristeza e tanto desespero? – A voz de Asmita de Virgem suara melancolicamente.

– Asmita, nada escapa aos seus olhos.

– Desculpe discordar do senhor, não tenho esse hábito. Aos olhos do meu coração é que nada escapa. Fico triste por não poder fazer nada pelo senhor. Neste momento só você pode lidar com o seu sofrimento. Coragem Grande Mestre.

– Sabes Asmita por vezes dizemos coisas que julgamos injustas, mas que em certos momentos específicos têm de ser ditas, por mais injustas que sejam. – Sage seguiu o seu caminho.

– Injustamente injusto, tem toda a razão. – Murmurou Asmita acariciando os seus longos cabelos de ouro.

Sage gostava imenso de falar com Asmita, apesar de muitas vezes não compreender se o Virgem dialogava com quem estava na sua presença ou consigo próprio. Em outras circunstâncias não percebia metade das frases ditas pelo cavaleiro da sexta casa.

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Ao subir a escadaria que conduzia ao templo de Sagitário, avistou Sísifo que segurava Atena pela mão.

– Qual é o teu caminho? Meu caro Sísifo. – Questionou amigavelmente.

– Creio que Atena estava aborrecida, então decidi levá-la a dar um passeio pelos jardins do santuário. – Explicou o Sagitário.

– Eu gostaria de brincar com Kardia. Ele sempre me diverte. – Sasha estava realmente chateada.

– Mais tarde brincará com Kardia, agora vamos passear juntos pelo santuário. - - O Sagitário olhou para Sage. – Falou com Manigold? – Perguntou em tom baixo e preocupado.

– Sim eu falei, e tenho a certeza que ele irá cumprir a missão com distinção. – Assegurou

– Desculpe a minha intromissão Grande Mestre. Apesar de Manigold ser um excelente cavaleiro não seria melhor destacar alguém para ir em seu lugar?

– Tenho a certeza que ele irá. – Concluiu Sage pondo fim à conversa.

– Vamos Sísifo! – A pequena Sasha puxava o Sagitário pela mão, de forma impaciente.

– Claro, desculpe Atena.

A lua prateada já se avistava no céu azul aveludado, quando Sage regressou aos seus aposentos.

– Nunca pensei que Manigold ainda sentisse tanto ressentimento em relação ao seu país de origem, afinal já se passaram alguns anos. Mas só Zeus sabe o que aquele garoto sofreu. – Cismou Sage tristemente, com o queixo apoiado na mão trémula.

Era perto de meia-noite, quando Manigold se levantou da sua cama incrivelmente desarrumada.

– Ok, velhote ganhaste! Eu vou lá para Itália. Mas não é por ti é por mim! Ouviste bem! – Finalmente Manigold cedera.

O Caranguejo começou a empilhar coisas dentro de uma velha mala, castanha já bastante gasta. Encheu a mala com algumas roupas, alguns pacotes de guloseimas, calçado, uma bolsinha com algum dinheiro e sem esquecer os documentos falsos que os cavaleiros usavam em missões fora do santuário, estava pronto para partir.

O Caranguejo percorreu com passada apressada as casas que o separavam da entrada do santuário, não gostava de dar satisfações, por isso não acordou ninguém. Ao cruzar a entrada alguns guardas-nocturnos olharam-no curiosos.

– O que querem?! Nunca viram! Façam o vosso trabalho e deixem a vida dos outros em paz! – Retorquiu Manigold irritado.

– Perdão senhor Manigold. – Os guardas estavam de facto amedrontados.

O dourado de Caranguejo seguiu a sua viagem através de caminhos escuros e sinuosos até avistar a luminosidade proveniente da pequena aldeia de Rodório. Aí, de madrugada apanharia o primeiro barco que o levaria de volta a casa.

Já em mar alto, Manigold pensava obsessivamente no que iria encontrar quando atracasse no cais de Veneza. Será que as pessoas que conhecera ainda estavam lá a viver? Será que a cidade se tinha alterado com o tempo? E afinal quanto tempo passara desde que Sage o trouxera para o santuário?

– Raio do barco! Anda tão devagar! Até uma lesma anda mais depressa! A esta velocidade nunca mais lá chego! Porra! – Reclamava Manigold andando de um lado para o outro.

– Oh rapaz faz pouco barulho! Aqui existem pessoas que gostavam de dormir um pouco. – Um homem já de idade avançada fartara-se de escutar os protestos de Manigold e estava vermelho de raiva.

– E o que é que eu tenho a ver com isso? – O Caranguejo sorriu maldosamente.

– Insolente! Os teus pais não te deram educação? –

O velho tinha ido longe de mais. Manigold fervia em pouca água. Manigold avançou sobre o queixoso rapidamente. Pegou o velho pelo colarinho da camisa, fazendo-o erguer-se do lugar onde estava sentado, com a outra mão agarrou-o pela traseira das calças clássicas, desta forma transportou-o até à borda do barco.

– Voltas a falar dos meus pais atiro-te borda fora, vais fazer companhia aos peixinhos! – Manigold estava com ar ameaçador.

– Seu gatuno! – murmurou o homem ofegante.

– Eu não volto a avisar velhote! – Manigold largou o homem que com o desequilíbrio caiu redondo no chão.

Manigold não tinha lembranças dos seus pais, porém sentia um grande respeito e carinho por eles. Não gostava que ninguém os mencionasse em momento nenhum. Era muito difícil descrever o que ia no seu coração, ódio, talvez tristeza, ou provavelmente ansiedade, não, não era nada disso, era o peso que a falta dos seus pais fazia no seu peito.

Manigold sentiu o barco abrandar, olhou em seu redor. A terra já se avistava ficando cada vez maior, mais e mais, até que o barco finalmente atracou. Manigold saiu do barco. Estava de volta a casa.