Casarei com você, em nome da Lua

Sugestão de trilha: Maroon 5 – Sugar (lyrics)

— Gi, não se mexe! – diz a Carmela.

— Não estou me mexendo! – retruco.

— Imagina! – as irmãs dizem juntas.

Nós estamos nos arrumando para o meu casamento. Hoje é o grande dia. Mesmo que já divida o teto com o Júlio, junto com Ernesto e o Mozart, estamos oficializando a união.

Bem, combinamos que iremos casar de cosplay, sem padre, e sim com um mestre de cerimônia. Uma semana antes nos casamos no civil, registrado em cartório, tudo bonitinho.

A preparação está sendo na casa da minha mãe com as minhas já cunhadas, e logo mais chegam a Juliana e a Melinda para reforçar a trupe. Eu decidi por ser a Princesa Serenity, que é atual reencarnação da Usagi, a Sailor Moon. O Júlio vai de Príncipe Endymion, que hoje é o Mamoru, o namorado...ops, marido da Usagi. A Carmela decidiu ir de Sailor Vênus e a Catarina de Sailor Júpiter (não que ela seja a maior de todas nós, mas enfim...). A minha amiga Melinda decidiu, na última hora, entrar no hall das Sailors e vai de Sailor Mercúrio. E a Jú... Bem, ela disse que vai ser surpresa, assim como os outros convidados! No mínimo estou curiosa, mas o nervoso derruba qualquer vontade de especular os outros cosplays.

O meu antigo quarto, que hoje é o miniescritório de meu pai, está sendo nosso camarim.

— Mas espera aí! Parece que a peruca está torta. – menciona a Catarina.

— Não está nada! – reclama a Carmela.

Me viro para o espelho para certificar se a minha peruca está mal colocada.

— Oi, pessoal! A Juliana chegou, viu? – avisa a minha mãe pela porta entreaberta.

Ela me encara de um jeito... Será que ela vai reclamar?

— Fiiiiiiiiiiiiiiilha, você está uma princesa!

— Sério mesmo?

— Está linda!

— Mas, na verdade, sou uma princesa! – digo.

As minhas cunhadas soltam uma gargalhada.

A campainha toca.

— Quer que eu atenda? – grita meu pai.

— Sim! - respondemos todas juntas.

O Ernesto está sentado com uma cara mal-humorada. Mesmo que ele não goste, vai ser levado para cerimônia. Na verdade... Bem, o Ernesto vai fazer o papel da Luna. Mas parece que não curtiu muito e ninguém consegue colar a meia-lua na sua testa.

— Cheguei cedo? – pergunta a Juliana na porta junto com a minha mãe. A dona Eliana se vira e diz:

— E não é que foi uma boa ideia vocês irem todas de cosplay?

— Não é bacana? – indaga a Jú. – E a senhora não vai?

— Não! – ela reforça a resposta com um gesto feito com a mão direita. – Já passei da idade dessas coisas.

— Magina! Conheço um senhorzinho com mais de 70 anos que faz cosplay!

— Mas eu não tenho 70 anos. – retruca a minha mãe.

— Ué! Por isso mesmo.

A Carmela e a Catarina ficam quietas, focadas na minha amiga redatora, que na verdade, hoje, é a secretária do chefe, que por sinal, é o Murilo. A Juliana se vira e as encara de modo que procura entender. Ela está com um cosplay que não reconheço logo de cara. De qual anime será que é?

E aí do nada, as duas começam a falar:

— NÃO!

A Jú inclina a cabeça, mas nem sei como, ela saca o que as minhas cunhadas quiseram falar.

— SIM! – responde.

— NÃO!

— SIM!

E a minha mãe gira a cabeça uma hora para minhas cunhadas e depois para Juliana.

Perco a paciência e digo:

— O que é não, o que é sim?

— Você não percebeu do que a Juliana está vestida? – me pergunta a Carmela.

— Hum... Não...

— NÃO? - agora até a Juliana pergunta junto com as garotas.

— Não... – digo timidamente.

E aí ela adentra o quarto e diz:

— Milagres não são de graça. Toda vez que você clamar por esperança, uma quantidade equivalente de desespero derrama em outro lugar...

Hum, já ouvi essa frase em algum lugar penso. E nisso as gêmeas gritam juntas.

— E aí, pegou quem sou? – desafia a Jú.

— Não sei... – faço uma careta.

— Sou a Kyoko Sakura de Puella Magi Madoka Magica.

— Aaaaaaaaaahhhh, bem que reparei que você está com uma lança, uma maçã...

— E uma bolsinha, mesmo que não seja do cos. – completa a minha amiga. E continua: - Gi, você está sensacional! Ficou muito bom!

— Ficou?

— Agora, deixe-me ajudar a dar os últimos retoques. – diz enquanto deixa os seus apetrechos num canto.

Logo depois, chega a Melinda. E lá vai outro ataque histérico das minhas cunhadas. Confesso, as adoro, mas, caramba, já estou nervosa o suficiente e a coisa... Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh! Daqui a pouco dou um grito.

— Vocês já conseguiram colocar a luazinha no Ernesto? – indaga a Melinda.

— Aliás, cadê ele? – pergunto.

— Filha da mãe! – reclama a Jú. – Acho que ele percebeu que a encrenca agora é com ele.

E aí, como toda propriedade, ela grita:

— Ernesto, venha cá, meu amor! Tem atum!

“Oh, cacete! Truque barato! Até parece que vou cair nessa! Vou ficar escondidinho aqui e ninguém vai me deixar como um palhaço!!”.

*****

— Tá perfeito, Júlio! – diz o Murilo.

— E a peruca? Não ficou artificial? – indago.

— Que nada! Parece que são seus próprios cabelos. – diz o meu pai meio zombeteiro.

Minha mãe ri de forma tímida, mas ela só faz isso para não ficar muito na cara. Estamos descendo o elevador de serviço porque estamos com Mozart. O meu amigo fica me encarando tentando entender se sou eu mesmo.

“O papai está muito diferente hoje. Que esquisito!”.

Hoje é o dia do meu casamento. E confesso, cara, estou nervoso. Mas consegui vestir meu cosplay sem grandes problemas. Meus pais se arrumaram na minha casa que, aliás, já moro com a Gi, Mozart e... o Ernesto. Prometo que ainda consigo me dar bem com esse gato. Mesmo que ele me lance alguns olhares de desdém, tenho esperança que goste um pouquinho de mim. Afinal, o Ernesto é como fosse um filho para Gi.

O Murilo veio para dar uma força e nos levar para a cerimônia. Eu poderia ir dirigindo? Claro que sim, mas dirigir de cosplay é meio complicado, se é que você entende. Meu pai não é a melhor pessoa em senso de direção, pelo menos aqui dentro da cidade. E do jeito que estou impaciente, acredito que daria um infarto se nós perdêssemos. O bacana que o Murilo se ofereceu para nos auxiliar, depois que a Juliana disse que iria ajudar a Gi na arrumação.

Sugestão de trilha: EXO – Call me, baby

Aliás, impressão minha ou o meu novo chefe procura fazer tudo para agradar a sua atual secretária? Sinto cheiro de romance no ar. E bem que seria bacana se os dois namorassem. Não falo nada para não dar encrenca. Primeiro que os dois provavelmente negariam, e, segundo, acho que a Jú daria uma patada e o Murilo perguntaria se estou no meu normal.

Chegamos na garagem e pegamos o carro do Murilo.

— Será que dá para todo mundo? – pergunta minha mãe.

— Claro que sim! – retruco.

O Mozart só observa atento ao movimento. Ele está com banho tomado e uma gravatinha vermelha no pescoço. Afinal, o meu amigo irá fazer um papel importante na cerimônia. Será ele que levará as alianças até o altar.

No carro, entram meu pai, minha mãe, e o Mozart senta-se do lado dela.

— Você gosta de passear de carro? – indaga a dona Inezita para o meu cachorro.

Ele a encara como uma cara sapeca, feliz da vida, como quem dissesse: “Sim!”.

— E aí, pessoal? Podemos ir? – indaga o Murilo.

— Bora! – responde meu pai.

— Vamos, Murilo! Tenho medo de pegarmos trânsito.

— Fique tranquilo, cara! Sei como cortar caminho.

— Filho... – minha mãe começa a falar e me viro para ela.

— Não, Júlio... É o mocinho que está nos levando.

— Murilo, senhora.

— Pois é! Então, do que você está vestido?

— Estou de Tony Stark.

— Quem? – pergunta o meu pai.

— Tony Stark, o Homem de Ferro, pai.

— Ah, sim! – concorda seu Rolando.

— Escuta, Murilo. – chama a minha mãe.

— Sim?

— Mas se você é o Homem de Ferro, cadê sua armadura?

Encaro o novo chefe com certo deboche. Mas ele continua reto, sério, focado no trânsito e como a pergunta não o incomodasse. E aí, o meu padrinho revela:

— Ela está no porta-malas. Vou usá-la na hora da festa. Na cerimônia, ficarei com óculos escuros, certo? – ele diz de um modo que pedisse permissão.

Mexo os ombros e digo:

— Tudo bem.

O Murilo cumpre o que promete: consegue chegar ao salão de festas a tempo. Verifico no relógio e me alivia saber que estou adiantado e agora é só esperar pela minha pequena. Entro no local, e já tem um pessoalzinho sentado esperando por nós. Gente conhecida, amigos e a turma do jornal. Vou cumprimentando enquanto caminho para o altar.

— A Juliana não chegou? – me indaga baixinho o Murilo.

Olho ao redor, e não a vejo no local.

— Acho que não.

E o vejo bufar emburrado.

A disposição dos padrinhos e madrinhas será da seguinte forma: do meu lado será meu pai e minha mãe, o Murilo e a Juliana. Do lado da Gi, o pai, a mãe, o seu irmão e a cunhada. Quando caminho para o altar acompanhado pelos meus pais e o Murilo, já avisto o irmão da Gi e a sua esposa. Parece que eles estão de algum casal de livro.

— E aí, cunhadão?

— Beleza?

Ele me abraça e a Ana se aproxima para fazer o mesmo.

— Você está ótimo! – ela declara.

Mas não por muito tempo porque o Mozart pula em nós.

— Oi, Mozart! – a Ana o cumprimenta. E continua: - Preparado para levar as alianças?

E ele abana o rabo como respondesse sim.

E aí, ela o solta e dá uma volta em si mesma e depois me pergunta:

— Gostou?

— Você está de...

— Morgana das Fadas! Brumas de Avalon, conhece?

— Sim, sim!

— E o Márcio está...

— Lancelot? – respondo antes que ele consiga abrir a boca.

— Viu, prin? Eu disse que estou autêntico.

— Sei! – ela dispara com certa ironia.

— Filho, assim que as meninas chegarem não se esqueça de entregar o cachorro a elas.

— Pode deixar, mãe.

— Opa, deixa-me cumprimenta-la! – diz o Márcio para a minha mãe. E assim o pessoal vai se cumprimentando.

E nesse meio tempo.

— Aliás, você trouxe as alianças? – a Ana me pergunta.

Aí, me dá um frio na barriga. Começo a procura-las e não sinto o saquinho que as coloquei. Começo a entrar em desespero.

— Você está procurando as alianças? – pergunta dona Inezita, como percebesse que seu filho estivesse a ponto de entrar em um ataque de pânico.

Só faço sim com a cabeça.

— Aqui estão elas. – e abre a pequena bolsa de mão e oferece o saquinho de veludo.

Assim que as vejo, respiro aliviado. Ufa!

— Jú! – escuto de longe e quando viro dou de cara com as minhas irmãs e a Melinda. Todas vestidas de Sailors. Olha, capricharam.

Elas chegam perto, a Catarina diz:

— Pode dar o Mozart para gente posicioná-lo.

— E a Juliana? – indaga o Murilo todo preocupado.

— Atrás de você, bocó!

O meu novo chefe se volta para trás e dá de cara com a sua secretária.

— Caramba, você demorou!

— Pois não, Tony Stark! Agora poderíamos se posicionar porque logo mais a noiva chega?

E aí alguém me puxa e a mãe da Gi.

— Oi, meu liiiiiiiiiindo! Você está divino nessa roupa.

A abraço e fico de olho se ele não me afana qualquer aparato do cosplay.

— Ela está vindo para cá?

— Sim, meu amor! Logo ela chega com pai e quem está dirigindo é o Juarez. Aquele motorista que trabalha com vocês.

— E qual é o cosplay dele? – indaga a Juliana

— Não sei, meu bem! Ele tem um terno violeta, com a cara toda pintada. E assim que atendi a porta, o homem deu uma gargalhada.

Sugestão de trilha: Treasure – Bruno Mars

— Ele vem de Coringa? – a Jú fica com carinha boquiaberta. – Que bacana!

— Inezita, querida, deixe-me abraça-la. – avisa a dona Eliana.

Será que a minha mãe será roubada?

— Tudo pronto? – agora quem pergunta é o mestre de cerimônias.

E só escuto a Juliana dizer:

— Uau! Então temos o Thor como mestre de cerimônias?

Só vejo o Murilo encara-la com ar de reprimenda.

— Dá licença! Dá licença!

Todo mundo se volta para entrada do salão e quem está lá? O Felipe de Lady Gaga como no clipe Telephone, no momento em que saiu da prisão. Do lado dele, um cara mais baixinho, está de Cher. Os dois caminham de mãos dadas e me jogam beijos quando nossos olhos se encontram.

— Está um ahazo, Bee! – grita o Felipe. E o companheiro dele faz um tchauzinho.

Outros convidados chegam, e logo depois, vem o Décio vestido de Riquinho com a Bárbara de Daenerys Targaryen e a Aline de Silk Spectre, do Watchman. Escuto a Jú dar um assovio e aí a nossa amiga percebe que foi para ela.

— Cadê os dragões? – indaga a nova secretária quase sussurrando. E Bárbara:

— Deixei em casa! Eles iriam fazer uma balbúrdia!

E as duas caem na risada.

— Se aparecer uma bruxa, já sabe, né, Jú? – ela devolve a pergunta.

E a Juliana só levanta a lança. Dou risada porque nunca pensei que meu casamento seria tão divertido.

Logo após chegam o chefe, a Lilian, de Penélope Garcia do Criminal Minds. Ela realmente encarnou uma personagem que se parece tanto com ela.

Aí vejo a Melinda e a Catarina correrem lá para a porta. Será que a Gi chegou? Logo depois, vejo que elas trazem uma gaiolinha, com um gato. Ah, é o Ernesto de Luna. E ele está com uma cara de poucos amigos. Só a minha pequena para ter esse tipo de ideia.

Quando as garotas passam pelos convidados, o meu querido gato solta um fizzzzzz! O mais engraçado de alguns convidados recuam um pouco com gesto do felino.

Confesso que a cada segundo o meu coração vai para a boca. E aí sim, ouço a Carmela dar um assovio para mim, segurando o Mozart.

Quando olho para minha irmã, ela só faz um sinal de positivo, como quem dissesse: “É agora!”.

*****

— Pronto, Gi! Chegamos! – me avisa o Juarez.

Assim que ele abre a porta do carro para o meu pai passo o Ernesto dentro da gaiolinha.

— Pai, segure só um pouquinho porque ou a Carmela ou a Catarina virá buscá-lo. E aí sim, escuto o meu nome:

— Gi!

Vejo a Catarina e a Melinda que vieram buscar o Ernesto.

— Oi, garotas! Boa sorte que ele não está com cara de bons amigos!

— Estamos acostumadas. – brinca a Melinda.

Quando começo a direcionar para sair, ouço do Jura:

— Calma, mulher. Deixe que as meninas entrarem, puxo o carro um pouco mais para frente e aí sim, você pode descer.

— Tá bom!

— Isso é tudo pressa para casar? – debocha meu pai.

— Não! É nervoso mesmo.

O Jura posiciona o carro um pouco mais para frente, e assim facilita meu desembarque. Parece que não, mas o cosplay é cheio de detalhes e pode muito bem amassar ou estragar. Agora, o meu pai abre a porta e dá a volta pelo veículo para me auxiliar a descer.

Subo as escadas da porta de entrada do salão e me posiciono com meu pai. Vejo a Carmela fazer um positivo para mim e aceno com a cabeça. A minha cunhada se vira para o altar e assovia. Começa a cerimônia.

Sugestão de trilha: Sailor Moon Crystal OST – Star Power Make Up!

O grupo começa a dar os primeiros acordes de uma das músicas da trilha sonora de Sailor Moon e aí entra o pequeno coral. Sim, conseguimos um grupo musical que topou reproduzir trilhas de animes. E para o nosso casório é praticamente obrigatório ter a trilha do Sailor Moon.

Quando a música começa a ser executada, não sei exatamente expressar o que sinto, vontade de chorar, pular, dançar, nunca tinha pensado que seria tão emocionante casar.

Nunca liguei muito, achava que encontrar um cara bacana já era suficiente. Mas casar e de cosplay... Olha, só o Júlio para topar algo desse tipo.

A Carmela se abaixa e instrui o Mozart para levar as alianças no saquinho e ele vai lá todo majestoso, mas mais rápido do que deveria. Só vejo de longe que ele corre em direção ao mestre de cerimônia, dá um pulo nele e depois recua quando percebe que não é o Júlio.

Só ouço:

— Mozart! Aqui!

Ele dá meia-volta em si mesmo e depois segue até o meu futuro marido, sentando-se ao lado dele. Só ouço o pessoal rindo.

A Carmela sai correndo até onde estão a Catarina e a Melinda para escoltar a minha entrada. Uma faz sinal para outra e elas iniciam a marcha como as damas de honra.

Sugestão de trilha: Sailor Moon Crystal OST – Moon Prism Power Make Up!

Entro no salão que está todo decorado com motivos da Sailor Moon. Flores, estrelas, luazinhas, e o pessoal todo olhando para mim.

E assim que direciono o meu olhar para o altar lá está ele, de Príncipe Endymon. E como o Júlio está lindo, com jeito todo radiante. Ah, por mim, largaria meu pai aqui e iria correndo até ele. Como no próprio anime. Acho que nosso amor é parecido como o de Usagi e Mamoru, por outros tantos anos e tantas outras vidas.

— Você está um ahazo, Bee! – ouço.

E só poderia ser do Felipe, que está de... Lady Gaga! E acho que o cara do lado é novo namorado dele. Mas perai, é o Dudu, não é? De Cher!

Logo depois estão o chefe, aliás, o Edgar, a Lilian, a Bárbara, que aliás está de Daenerys, que sensacional, o Décio. Caramba, o povo arrasou nos cos!

— Calma, filha! Vá mais devagar!

Aí percebo que quase estou o arrastando. Reparo que o Júlio está tão ansioso quanto eu. Ele desce as escadas do altar e me espera com a mão estendida. Assim que a alcanço, por um momento ficamos nos olhando, como ninguém estivesse ali, só nós dois.

— Ahãam!

É o mestre de cerimônias que pigarreia chamando a nossa atenção. O pessoal volta a cair na risada. E num estalo, o Júlio, então, me ajuda a subir o altar.

— Bem, boa-noite! – cumprimenta o mestre de cerimônias, que está vestido de Thor. – Por hoje e, só por hoje, pedi licença aos meus amigos Os Vingadores, para comemorar a cerimônia de casamento da Princesa Serenity e o Príncipe Endymon. Serenity é a Princesa da Lua e...

— Mas perai! – escuto do meu pai. – Até na cerimônia eles vão usar o nome do cosplay?

— Nossa, querido! Você ficou por dentro de Sailor Moon! – se espanta a minha mãe.

— É... Na verdade, assisti para não ficar de fora. – admite envergonhado.

O mestre de cerimônia os encara com uma feição debochada.

— É só uma introdução, seu Jorge.

— Ah, tá! – o meu pai se dá por convencido.

Escuto um rosnado do Mozart quando vê o Ernesto na gaiolinha, arrepiado. Cutuco o Júlio.

— Você viu isso?

— Fica fria! – e dá uma leve piscada. – Mozart!

O nosso cachorro encara assustado como fosse pego no pulo.

— Amigo!

— Só um minutinho. – peço para o mestre cerimônia.

Ele levanta os ombros com uma cara: “Até você?”.

— Ernesto!

O meu gato dentro da gaiolinha se vira com um olhar de revolta para mim.

— Você se comporta! Não está em casa, entendeu?

E do nada, ele respira de modo profundo (se isso é possível para um gato) e tenta dar as costas para mim. Mas, como a gaiola não o permite essa manobra, ele funga e se agacha com cara enfezada.

— Ótimo! Agora se comporte porque todo mundo está olhando para você!

E só vejo os seus olhinhos bravos me mirando. Ele está do lado da Juliana, que foi a única que conseguiu domá-lo.

— Posso continuar? – indaga o mestre de cerimônia.

— Por favor! – respondemos eu e o Júlio.

E ouço um borburinho com mistura de risadas da plateia.

*****

Sugestão: Kleeer – Keep Your Body Workin’

É, rapaz! E agora estou aqui, casado e superfeliz com o amor da minha vida. Estou com a Gi em uma mesa recebendo os cumprimentos de todo mundo. Veio gente de longe, seja família e amigos.

— Vocês arrasaram! – diz a Bárbara enquanto nos abraça. – Adorei, foi sensacional!

— Beeeeeeeeeeeee! Chegay!!! – grita o Felipe todo espalhafatoso.

— Vocês estão demais! – diz a Gi para o nosso amigo.

— Oiiiiiiieeeeeeeee, esse é o Dudu. Ele é meu namorado.

— Espere aí! Vocês estão namorando? – indago.

— Ssssssssiiiiiiiimmmmmmmmm! – os dois respondem juntos.

— Mas olha, Bee! Se nós casarmos, né, Dudu, nos iremos fazer a noite das Divas. Todo mundo deve vir vestido...

— Só como as cantoras divas! – completa o seu namorado.

— Pode ser a Britney, Amy...

— Madonna! – diz o Dudu.

— Shakira, Beyoncé, quem mais, flor? – o meu amigo fotógrafo pede auxílio para o namorado.

— Mas, só uma observação... - fala a minha pequena.

— Fala, Bee! O que foi? – pergunta o Felipe, com a boca entortada e as mãos na cintura.

— A Lady Gaga é baixinha. Acho que como eu. E a Cher...

— Eu sei, mais alta do que eu! – completa, contrariado, o Dudu.

— Falei para ele para gente encarnar ao contrário!

— Fê! Te manca! E você (o Dudu reforça no você) queria ir de Lady Gaga a todo custo! – reclama.

— Tá bom! Admito! – e aí o Felipe vira para gente e diz: - Quer que dê uma palhinha esta noite?

— Como assim? – perguntamos a Gi e eu.

— Hum! Posso fazer um show em comemoração a vocês! O que acha?

— Opa! Gi, Júlio esta festa está ótima! – corta o Décio enquanto belisca um salgadinho.

— Bicha! Você me cortou! – reclama o Felipe.

— Ainda bem, né? – debocha o Dudu. – Ninguém quer que você cante como uma gralha!

— Dudu! – se espanta nosso amigo, enquanto se vira com as mãos na cintura. – Eu canto maravilhosamente bem!

— Jú. – a minha pequena me chama.

— Sim?

— A gente bem que podia dançar um pouco, né?

Antes de responder à minha amada, o salão volta a ficar um alvoroço. Penso até se tem a ver com o Ernesto. Mas, ele está sentado em uma almofada com cara de poucos amigos. E aí passa pela minha cabeça que pode ser o Mozart querendo fazer festa junto com os garçons, como ele já aprontou antes.

Mas, não é nada disso. É o Murilo entrando vestido de armadura do Homem de Ferro. Enquanto isso, do outro lado do salão, só vejo a Juliana mexendo a cabeça de forma negativa e sorrindo como não acreditasse na maluquice do nosso chefe.

Nossos olhares se encontram, ela faz um gesto: “Ele é doido?”. Nós damos risada e vamos para pistar dançar.

O Murilo faz uma performance para chamar a Juliana para dançar, que gargalha. Bem, parece que ela já está de fogo. E eles se juntam à turma que está a todo vapor fazendo passos.

O Murilo rodopia em volta de si mesmo, dá alguns passos para frente e a Jú começa a fazer gestos e passos. É algo tão teatral e tão deles que ninguém fica indiferente. Será que treinaram? Combinaram antes? Ou talvez, pelo fato de ser uma festa, cada um mostra o seu lado mais natural? Ele dá voltas a circulando, enquanto ela o encara com sorriso no rosto e as bochechas vermelhas. Fico me perguntando, onde está a lança, a maçã e a bolsa da Jú. Se bobear, nem ela sabe.

O Felipe e o Dudu fazem um “Uhuuuuuuuuuuu!” juntos e se juntam a nós. A “Lady Gaga” começa a dançar como uma doida, rodopia para longe da “Cher” e depois o provoca como fosse uma mulher balançando os peitos. O seu namorado faz biquinho, joga as mãos para cima, e desce o corpo até o chão, depois volta, dá volta em si mesmo e se joga no Felipe.

Enquanto isso, fico meio embananado, afinal, dançar nunca foi uma das 10 coisas que sei fazer melhor. E a Gi percebe, com rapidez. Ela se aproxima mais ainda de mim e diz quase em um sussurro:

— Querido, faz 3 passos para lá e 3 passos para cá.

— Pois é! Eu sei que você curte dançar. – falo baixinho.

— Gosto de dançar de vários jeitos. Mas com você é sempre a melhor parte. – e me oferece um sorriso tentador.

Agarro aquela mulher e lasco um beijo, porque entendi perfeitamente o que ela quis dizer.

Mais tarde...

Sugestão de trilha: Change – Heaven of my life

A festa está quase acabando e vou me retirar com a minha pequena. Meus pais nos deram de presente uma noite em um dos hotéis mais luxuosos da cidade. Quem irá nos levar será o Jura com a esposa dele.

Amanhã vamos para um Hotel Fazenda em Atibaia passar nossa Lua de Mel durante uma semana. O Mozart e o Ernesto ficarão com as minhas irmãs, na nossa casa.

Estou esperando a Gi pegar suas coisas, quando:

— Filho, você viu o Murilo? – pergunta o meu pai.

— Não sei, pai!

— É que ele iria levar a gente. – diz a minha mãe.

— O que houve? – pergunta a Gi.

— É que eles não encontram o Murilo.

— Não? – pergunta surpresa a minha pequena. Ela olha em volta, vira para gente e diz: - Será que ele já foi?

— Hum, boa-noite! Ou melhor, bom-dia! – nos cumprimenta o chefe, aliás, o Edgar. Força da expressão.

Nós olhamos uns para os outros.

— O Murilo teve que se ausentar, então, me ofereço para levá-los.

— Mas, chefe... – começo a falar, e ele me encara. – Desculpe, Edgar, será que vai caber tudo mundo?

— Vocês irão com o Juarez, não?

— Sim! – responde a minha pequena.

— Fiquem sossegados, levo a sua família, Júlio! Vá tranquilo e aproveite a noite de núpcias. – e nos pisca.

*****

Fico, assim, a observando dormir. Nem parece a marrenta, briguenta e bocuda que convivo todos os dias. Seu ressonar baixinho é tão encantador quanto seus lábios, seus cabelos espalhados pelo lençol e seu corpo abraçado ao travesseiro.

Olha, valeu cada pedaço dessa noite...

Continua...