Sussurros do Vento
O núcleo da minha existência
Tudo passa tão rápido. Queria não me lembrar de tantas coisas dramáticas em um momento tão curto como este. Sabe, quanto mais vazia está a taça, mais você saboreia o que há dentro dela.
Não, eu não estou bebendo. Na verdade, não estou fazendo nada. Nunca havia percebido as sutis rachaduras — filhas do passar do tempo — que estão no teto. Elas me lembram do inevitável: o tempo passa. E passa rápido.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Acho que é neste tipo de momento em que a gente se pergunta sobre qual é o verdadeiro propósito da vida, não é? Eu acho que finalmente entendo qual é, mas não sei colocar em palavras. Tudo o que sei dizer é que parece que estou direcionando-me — cada vez mais depressa — para o centro.
Para o centro da minha verdadeira existência.
Penso que a última página do caderno nunca é igual para mais de uma pessoa. O que você escreve desde o começo muda a sensação de tudo quando se chega no final. Muda a aceitação — ou o arrependimento. A única coisa certa nisso tudo é: páginas escritas não podem ser reescritas. Na maioria das vezes, uma decisão precipitada pode levar a resultados incorrigíveis, certo?
Estou cheio de questionamentos, mesmo sabendo que o momento é curto. Eu deveria estar aproveitando esta oportunidade para me lembrar de todas as coisas boas, mas parece que as decepções e os arrependimentos sempre gritam mais alto. Realmente é muito mais fácil enxergar os erros do que os acertos — ainda que as coisas boas estejam bem embaixo do nosso nariz.
Posso admitir que este momento é bem diferente do que eu achei que seria. Não estou desesperado, não estou nem com aquele frio chatinho na barriga. A sensação que tenho é de aceitação. É como se os tijolos das paredes ao meu redor começassem a desmoronar — e eu, desarmado e quieto, sou apenas mais uma peça desse quebra-cabeça.
Não há para onde correr e, mesmo se tivesse, acho que não me moveria. Afinal, como eu disse, páginas escritas não podem ser reescritas; e as minhas, infelizmente, acabaram. Esta é a última linha da última página.
Ironicamente, o fim da linha.
O que mais me intriga é que, por mais que eu tenha tentado, nunca consegui ser o que você quis que eu fosse. Caramba, como você é complicada. Nada do que eu fiz foi suficiente, nada foi digno do seu reconhecimento. Aceitei suas críticas, engoli suas agressões a seco, senti seus pés batendo na minha nuca, com força — tudo isso, quieto. Ainda consigo ouvir, bem baixinho, no mais íntimo da minha memória, sua voz ecoando:
"Idiota... Idiota... Idiota..."
Nunca entendi o que fiz de tão errado, mas não há jeito de contrariá-la. Afinal, eu dispus minha vida a agradar a pessoa mais mal-agradecida que já existiu. Acho que é a sensação do fracasso que não me permite pingar o ponto final da última linha do meu caderno, mas não adianta. As páginas anteriores não me permitem um fim que não seja este. É melhor que eu aceite, enquanto minha taça continua a esvaziar.
Tudo faz muito sentido, neste momento. É sério. A cada instante que passa, tenho mais certeza de que estou dirigindo-me... Dirigindo não, despencando. Eu estou despencando para o seio da minha real existência.
Ainda assim, sinto-me enganado, sinto-me injustiçado. É como se o nosso amor fosse um fósforo que você acendeu para ver a beleza que o fogo poderia ter e queria fazer parte dela. E fez. Mas logo aquele fogo passou a ser apenas eu — e você me assistiu queimar. Reclamou que a minha beleza não era bela o suficiente, e é claro que nunca seria: ela estava incompleta.
Faltava você ali.
E quando minha incompletude cansou seus olhos, você fez o biquinho mais lindo que eu já vi na minha vida e... Soprou. Seus lábios, agora, acinzentados, perderam o significado.
Nós bebemos o vinho inteiro, juntos, mas o último gole ficou no fundo da minha taça. Eu não consegui tornar-me o que você quis que eu fosse. Realmente sinto muito por isso.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Infelizmente estou para saborear o último gole, não há mais tempo para tentar de novo. Eu estou perto de alcançar o núcleo da minha verdadeira existência, do meu motivo.
As páginas em branco. Cíclico.
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