— Mas onde raios você pensa que vai, seu orelha pontuda?!

Legolas olhou para trás, surpreso. Estava prestes a montar no cavalo que Eldarion lhe havia cedido. Gimli vinha correndo, seguido de três guerreiros de Durin, todos armados com seus machados de formatos intimidadores. O elfo não pôde esconder de si mesmo a pontada de alegria que sentiu ao vê-lo, mas fez o que pôde para ocultá-la do anão.

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— O rei lhe avisou da minha partida?

— Eu não acredito que você estava mesmo indo dar uma surra naqueles orcs sem mim!

— Eu pensei que esta não fosse sua batalha.

Gimli deu um passo para trás diante da frieza na voz do amigo, mas apressou-se em tornar à frente:

— Se esta é sua batalha, então ela também é minha.

Legolas não pôde evitar sorrir. Ele estendeu a mão para o anão.

— Como nos velhos tempos? — Ele gesticulou com a cabeça para o cavalo.

Gimli segurou a mão do elfo com força:

— Como nos velhos tempos!

~~ ♣ ~~

A confusão dos milhares de pegadas e a escuridão da noite dificultaram a tarefa de encontrar os rastros dos orcs que sobreviveram, mesmo para a visão aguçada de Legolas. Finalmente, porém, ele conseguiu encontrar vestígios de sua passagem. Um dos orcs devia estar gravemente ferido, pois seu sangue formava uma poça próximo à muralha mais externa de Minas Tirith, e depois subia por ela. Havia marcas indicando que outros orcs, talvez nove deles, também haviam escalado por ali. A julgar pela direção que tinham tomado, eles deviam ter a intenção de cruzar o Ithilien em direção às montanhas que circundavam a antiga Mordor. O esconderijo devia ficar ali.

— Os orcs estão feridos e cansados! — Legolas gritava para se fazer ouvir por todos os companheiros. Eram ao total três homens e quatro anões, contando com Gimli. Os outros anões pareciam desconfortáveis ao serem levados na garupa dos cavalos dos gondorianos. Gimli estava se divertindo ao ver as expressões nos rostos deles. — Eles devem ter armado acampamento em algum lugar próximo daqui! Eles provavelmente não iam querer cruzar o rio durante a noite! As águas estão traiçoeiras, devido à mudança de estação! Fiquem atentos a qualquer sinal de uma fogueira!

Eles galopavam à máxima velocidade possível em direção ao Ithilien. Legolas podia sentir o fedor do sangue do orc ferido e não lhe restavam dúvidas de que estavam na direção certa.

Apesar de tudo, ele se sentia ansioso com o que estava fazendo. Sabia que a missão seria fácil, e não era com isso que se preocupava. O problema era que dentro de si queimava uma dúvida devastadora: e se, na verdade, estivesse indo em direção a uma armadilha? E se o orc não estivesse raptando Madlyn, e sim resgatando-a? E se... E se ela estivesse com eles?

Esse pensamento insistia em ir e voltar de sua mente o tempo inteiro, desde que a elfa saltara em cima dele em Fangorn. Gimli tinha razão: ela nunca tinha dado nenhuma explicação para o motivo de tê-los ajudado ou de tê-los acompanhado. Além disso, como ela sabia tanto a respeito dos orcs, se Legolas e Gimli mal haviam sentido a presença deles? Como ela sabia do plano deles, que eles seguiriam pelas montanhas e tudo o mais? Os orcs simbolizavam o resquício das trevas de Sauron que ainda pairavam por aquele mundo. Madlyn era uma elfa-escura. Apaixonada pelas trevas. Irmã de um traidor, filha de um sequestrador. E se ela fosse exatamente como eles?

O coração de Legolas parecia pesar uma tonelada.

Mas ele tinha olhado nos olhos dela. Ele tinha visto seu sorriso ao segurar Gildarion nos braços. Ele tinha ouvido a tristeza em sua voz ao admitir como estava sozinha. Ele tinha sentido o coração dela batendo acelerado quando ela o abraçou. Aquilo tudo... Aquilo tudo não podia ser mentira, podia?

— Legolas! — Gimli exclamou, apontando adiante.

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O elfo puxou as rédeas do cavalo, fazendo o animal parar bruscamente. Os homens o imitaram. Logo à frente, havia uma caverna iluminada. Nem os cavaleiros nem Gimli podiam ouvir, mas Legolas escutava o som das risadas sinistras dos orcs. Ele não conseguia entender o que eles diziam, mas pareciam estar comemorando.

O anão puxou a manga de Legolas no mesmo instante em que o elfo se deu conta do fedor. Ele olhou para onde o amigo apontava. O cadáver do orc ferido jazia ali. Parte dele havia sido cortada. O elfo desconfiava de que sabia o motivo. Orcs eram conhecidos por seu canibalismo. Ele virou o rosto, enojado.

— Deve ter cerca de nove deles lá agora. — Um dos gondorianos comentou.

— Depois de hoje, isso não é nada! — Um dos anões replicou, já erguendo o machado. — Se formos agora, ainda dá tempo de voltarmos para a sobremesa!

— Esperem! — Legolas disse, num tom autoritário. — Amarrem os cavalos àquelas árvores ali. Vamos apenas observá-los em segredo por um momento.

— Legolas...?

— Eles podem acabar revelando alguma informação. Talvez possamos descobrir qual era seu objetivo, onde era sua base e se há mais deles. — O elfo explicou. E se ela está com eles, completou mentalmente.

O calor era infernal mesmo à distância em que eles estavam, a alguns metros da entrada da caverna. Legolas, Gimli, um homem e um anão se escondiam atrás de grandes rochas, do lado esquerdo da entrada. Os outros homens e anões espiavam de trás de alguns arbustos, do outro lado. Eles se esforçavam para não fazerem nenhum barulho, e o elfo estreitava os olhos, tentando ver o máximo possível lá dentro. Ele havia contado dez orcs, um a mais do que eles estavam esperando. Isso o preocupava, porque era possível que houvesse mais, ocultos ao fundo da caverna, cuja profundidade lhe era desconhecida.

A luz do interior da caverna não vinha de uma fogueira, como eles haviam pensado. Ao que parecia, havia um buraco aberto no chão a alguns metros da entrada, no qual lava fresca borbulhava, constantemente ameaçando transbordar. Legolas deu alguns passos para mudar o ângulo de visão para tentar ver mais alguma coisa e congelou no lugar, arregalando os olhos. Para seu horror, ele viu Madlyn pendurada por uma corda a vários metros de altura, logo acima da poça fervente. Ela gritava para os orcs lá embaixo, mas ele não conseguia escutá-la, pois sua voz ecoava no teto da caverna.

— Legolas? — Gimli sussurrou.

— Eu a encontrei. — Ele balançou a cabeça para clarear a mente. — Aquelas criaturas imundas!

— O que está acontecendo?

— Vamos chegar mais perto! — Legolas chamou, ele próprio já contornando a pedra. O homem e o anão começaram a se levantar, mas o elfo gesticulou para que eles permanecessem onde estavam. Era melhor que só ele e Gimli fossem, inicialmente.

Os dois se movimentavam lentamente para não chamar a atenção. Se um dos orcs decidisse olhar para fora, poderia vê-los. Eles se aproximaram da entrada e se encostaram à rocha, cada um de um lado da larga abertura. O fedor de carne queimada fez o estômago de Legolas revirar. Suas suspeitas sobre o orc morto foram confirmadas. Agora eles podiam ouvir o que eles diziam.

— Seus vermes! Me soltem! — Madlyn gritava.

Eu falei que a gente devia ter amordaçado ela! — Um dos orcs, o menor, reclamou na língua negra de Mordor.

— Calado! Ou eu vou amordaçar você!

— Quero ver você tentar!

O maior dos orcs se levantou:

— Quietos os dois, ou vão ter o mesmo destino do Grundo!

— Vocês não vão conseguir nada me mantendo aqui, seus malditos! — A elfa chutava o ar, inutilmente.

— Quieta você também! Você será uma bela isca para o senhor de Gondor...

— Ela é amante do rei, chefe?

O orc que perguntou ganhou um tapa na nuca com essa.

— Idiota! Eu estou falando do outro, o que estava lutando com ela.

— O elfo?

— Sim, o elfo! Depois que o velho Telcontar morreu, é ele quem manda lá! Vocês não viram?

— Mas o rei estava no comand...

O líder orc atirou uma pedra na cabeça do que falava.

— Bobagem! A força de Gondor é aquele orelhas-pontudas. Nós vamos levar a amante dele e nos reunir com os outros. E na hora certa, ela...

— Idiota! Eu não sou a amante dele!

— Não?

— Olhe direito para mim, seu imundo! Eu não sou uma garota!

O silêncio tomou conta da caverna.

Gimli arregalou os olhos para Legolas, que disse só com os lábios “Não seja idiota!” O anão se virou ligeiramente para olhar melhor para Madlyn, desconfiado. Legolas revirou os olhos. Ele tinha entendido o plano da elfa, mas não tinha certeza se tinha sido a melhor estratégia, naquelas condições.

— Bem que eu vi que ela se vestia de um jeito estranho... — Um dos orcs finalmente falou.

— Tem razão. Geralmente elas usavam aquelas coisas esvoaçantes.

— Mas faz muito tempo que a gente não vê uma elfa.

— É, mas e quanto ao cabelo?

O líder orc olhava de um para outro, confuso. Madlyn riu sarcasticamente, sua risada ecoando por todos os lados.

— Ha! Por essa você não esperava, não é, idiota?

O orc se voltou para ela, furioso. Os outros ainda discutiam.

— Calados! Eu sei muito bem quem você é! Você pensa que me engana, não é? — Ele falava entredentes.

— Penso. — Ela sorriu sarcasticamente.

O orc sacou um facão, cuja lâmina tinha um formato estranho. Legolas viu o brilho do medo perpassar os olhos de Madlyn apenas por um instante, depois seu rosto voltou à expressão de desafio de antes.

— E se você estiver erra...DA?

Para o assombro de todos, Madlyn não respondeu. Em vez disso, ela se inclinou e cuspiu, acertando em cheio o rosto do orc. Ele largou a faca do chão, levando as mãozorras à cara. Madlyn riu alto. Ela devia saber que estava perdida agora. Ela soava como louca.

— Sua...!! — O orc se abaixou rapidamente para pegar a faca, após ter se recuperado.

— Eu prefiro morrer a continuar olhando para essa sua cara horrenda, escória de Mordor!

O orc abriu um sorriso maldoso e se aproximou da corda que mantinha a elfa suspensa. Ela estava amarrada a uma rocha grande e pontiaguda. A corda estava completamente tensa devido ao peso de Madlyn. O orc ergueu a lâmina da faca próximo a ela.

— Mudança de planos... Nós merecemos um jantar um pouco melhor do que o velho Grundo, não acham?

Os demais riram e bateram palmas em concordância. Madlyn sentiu as lágrimas finalmente vencendo-a, subindo rapidamente por sua garganta, mas esforçou-se para segurá-las. Se ia morrer, ia morrer com dignidade. Ela não ia demonstrar fraqueza diante dos inimigos, da mesma forma que seu pai e seu irmão. Eles morreram lutando. Ela também morreria.

— Covarde!! Lute comigo! Ahnm? Que acha disso? Lute comigo, e quando eu vencer, você me deixa ir embora!

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— Eu estou ouvindo alguém implorando? Adoro quando a comida implora! — Dizendo isso, ele cortou a corda.

Os orcs nem tiveram tempo de ver o que passou por eles. Legolas correu como um louco, saltando sobre a poça de lava fumegante. Ele colidiu com Madlyn, desviando sua queda, e os dois rolaram sobre a pedra quente em direção ao fundo da caverna. Ao mesmo tempo, os anões e os homens invadiram o lugar com um grito de guerra. A maioria dos orcs sequer teve tempo de se armar para reagir.

Madlyn também tinha dificuldades em entender o que estava acontecendo. Ela tinha visto a morte chegar, e agora tudo o que via era Legolas em cima de si. O elfo não se deu o tempo de se alegrar por ter conseguido. Ele deu apenas uma breve olhada para Madlyn para verificar se ela estava bem e se ergueu, voltando-se para os companheiros bem em tempo de ver Gimli erguendo o machado contra o último orc, que estava encurralado com as costas contra a parede:

— Esse aí não! — Ele estendeu a mão. Gimli parou com o machado a meio caminho. — Esse, nós vamos manter vivo. Ele vai nos contar a localização exata do esconderijo deles, e nós vamos nos livrar do resto. De uma vez por todas!

— Amorzinho?

Legolas se virou na direção daquela voz doce e chorosa. Ela estava sentada no chão e olhava para ele com olhos arregalados, dos quais as lágrimas escorriam incessantemente. Ele estendeu a mão para ela:

— Você está bem?

Ela aceitou a ajuda e ele a colocou de pé. Sem dizer uma palavra, ela se atirou nos braços dele. Ele retribuiu o abraço, apertando-a contra si.

Mapa da região de Minas Tirith