Prólogo

Caminhávamos para o fim da primavera, harmoniosa em suas cores e aromas. Chicago conseguia ficar ainda mais encantadora durante aquela época do ano. Era uma tarde de terça feira, eu estava prestes a subir as escadas que me levariam à entrada do duplex quando, ocupada com meus muitos e pesados sacos de papel, observei o rapaz engomadinho, de sorriso exagerado e cara de pilantra passar pela porta. Um jovem casal seguia logo atrás.

“Sra. Walker! Vejo que andou fazendo compras... Posso prever uma deliciosa fornada de biscoitos de manteiga de amendoim e chocolate saindo?”

“Não pra você.”

“Hum... Esses são Edward e Isabella Masen,” Dawson virou, desconcertado, apontando para o casal que assistia atentamente nossos breve cumprimentos. O rapaz era alto, olhos bonitos, claros, de porte físico e sorriso capazes de fazer qualquer mocinha como a morena agarrada a sua cintura, de cabelos longos e bochechas rosadas, sorriso largo e pele tão branca que logo presumi estar adoentada, cair de amores por ele. De fato, tentei não reparar muito no par de jovens que exalava felicidade por todos os poros e voltar toda minha atenção ao imbecil de cabelos lambidos, questionando-o com olhares qual seria o momento em que ele gentilmente pediria para carregar os pacotes em meus braços. “Estão a um passo de tornarem-se seus mais novos vizinhos!”

“Lorelai Walker? É um prazer conhecê-la finalmente! Ouvimos coisas maravilhosas sobre você!” Isabella Masen correu para segurar os dois pacotes que eu agarrava firmemente contra o corpo, estendendo um deles ao marido. Mas é claro que ouviram! Frederick Dawson era da pior espécie de ladrão que existia, capaz de inventar as piores mentiras e maquiar quaisquer defeitos ou falhas dos imóveis que vendia, tudo para encher os bolsos à custa de recém-casados sorridentes, felizes demais para enxergar toda picaretagem por trás da máscara de corretor bom moço e trabalhador. Não os julgaria, no entanto. Talvez pudesse até retribuir toda essa alegria em forma de sorrisos. Sabia que esse seria mais um dos muitos casais que aqui chegou, através do Dawson, mas não conseguiu enxergar uma vida em um duplex antigo, uma rua triste, quase sem movimento, com um casal de idosos como vizinhos.