Na avenida

na avenida dos sonhos perdidos
eu sou invisível
o dia amanheceu tão lindo
para outros indivíduos
em lugares distintos

cada dia fica mais dificil
planos que tampouco deram em nada
ou linhas rabiscadas
felicidades falsas, tristezas verdadeiras
máscaras na cabeça
para a simpatia do dia-a-dia

tem de BMW a Mercedes
Alfa e carrões
o mundo no interior de um carro
é uma cápsula espacial
estratosfera
nada tem a ver com o que se passa fora
como se eu fosse um invisível
olhares me atravessam

há quem faça um aceno com a cabeça
uma conversa, mesmo que negativa
em seus Gols e Unos
entre janelas e semáforos
perigos e assaltos

quando chove
o abrigo se torna original
vejo crianças brincando no sinal
em meio a chuva casual
realidades tão distintas
no mesmo espaço ambiental
existe coisa melhor que brincar na chuva?

que caminhos existem diante de mim?
existe vida antes da morte?
vejo olhares displicentes
imaginando perguntas
mas sem perguntar
neste Brasil, sabe-se a resposta sobre miséria e subvidas
esquinas omitidas
vidas tão vazias
quantas lágrimas disfarçamos
sem berros?