Epílogo

— Tira a mão do meu bebê! — Jasper vociferou.

— Blerrggg! — Alice lambuzou o dedo indicador com saliva e o esfregou no capô do Audi turbinado.

— Sua psicopata... — Ele rosnou por entre dentes, quase soltando raios mortais pelos olhos.

Estávamos na calçada da mansão admirando o carrão que meu irmão comprou com sua herança. Acontece que a falecida Bogdanov possuía um casinha e, como não tinha parentes, Jasper teve direito ao imóvel. O idiota torrou toda a grana da venda naquele carro espalhafatoso.

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— Emmett, controle sua namorada. — Pedi revirando os olhos.

— E alguém é capaz? — Ele cruzou os braços.

— Alice você é tão nojenta que não nasceu, foi cuspida. Quer saber?! Nunca irá entrar nesse carro! — Jazz perdeu as estribeiras.

— Até parece que quero entrar num carro verde-vômito. — Ela gargalhou.

— É VERDE OLIVA! — O coitado gritou a todo pulmão.

Minha amiga só podia ter um mórbido prazer em perturbar Jasper.

— Chega, vamos voltar pro churrasco. — Quis logo dar as costas à birra.

Comemorávamos um ano de funcionamento da pousada Dreams. Ainda durante a reforma, meus amigos voltaram para Orlando e se transferiram para a segunda maior universidade da Flórida, a UCF. Este ano também ingressei nela e estou cursando Administração Hoteleira.

Como havíamos planejado, o verão encheu a mansão de energia, atraindo jovens do Brasil, Portugal e Paraguai. Esses estão sendo muito bem atendidos por nós, os quatro funcionários fixos e mais um grupo de seis estudantes que contratamos para a alta estação.

Meu pai continua morando na mansão, mas em breve, Jasper e eu poderemos comprar-lhe uma boa casa. Por sorte, meu pai não se importa com a constante movimentação. Parte disso se deve ao tempo que passa fora, lecionando em uma universidade comunitária.

Como meus sócios ainda estavam empacados na calçada, comecei a empurrá-los na direção dos portões. Infelizmente não conseguimos atravessá-los, pois a chegada de uma BMW roubou nossa atenção.

— GENTE, EU VOLTEI! — Toby saiu do carro escancarando os braços.

— NÃÃÃOOOOO! — O berro coletivo de puro desespero não pôde ser contido.

Depois disso, Bruce Jones quase não teve coragem de sair da BMW.

(...)

Ainda não era nem 15h e o jardim já fervilhava com os hóspedes dançando em volta da piscina. Desta vez, nada de banda esnobe. Contratamos um DJ que jogava o astral lá pra cima.

O palco estava armado no lado esquerdo do jardim, onde havia mais espaço no gramado para a galera se soltar. Já no lado direito, colocamos a churrasqueira profissional e as mesas abarrotadas de petiscos e bebidas não alcoólicas. Pelo fato dos hóspedes serem menores de 21 anos, só a Liga dos Vadios tinha acesso às preciosas Heinekens geladinhas. E eu estava perto da churrasqueira justamente abrindo uma delas, quando avistei Alice correndo na minha direção.

— Chegou! Chegou! — Ela balançava um envelope.

— Seu atestado de insanidade? — Entornei a cerveja.

— Nossos... — Arfou, se recompondo. — Convites para a festa de lançamento do novo filme da Sarah Ryan. — Me estendeu o envelope. — É dessa vez que Ashton Kutcher vai autografar minha bunda! — Fechou a cara, determinada.

— Eu tou aqui, sabia? — Emm reclamou, virando os hambúrgueres.

— Tudo bem, amor. Eu peço pra ele autografar a sua também. — Alice quicava de alegria.

Dei uma rápida olhada nos convites e me concentrei no bilhete anexado neles.

— Sarah diz aqui que está vindo para Orlando semana que vem. Isso não é estranho? — Franzi o cenho, refletindo.

— Não. Ela sempre vem. — Lice respondeu, passando as mãos em volta da cintura do namorado. — Qual a trêta, Bella?

— O Dr.Carlisle vai chegar na mesma semana. — Precisei lembrá-los. — Isso não é muito, muito conveniente?

— Nós deveríamos meter o dedo nesse anguzinho. — Os olhos da minha amiga cresceram assustadoramente.

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Com medo dos seus desastrosos planos, a repreendi em alta voz:

— Não vou meter meu dedo no anguzinho de ninguém!

— Pelo amor de Deus! — Jasper que estava há um metro, veio todo cheio de marra. — Vai larvar essa boca, Bella! Tem adolescentes aqui.

Quase perdendo a paciência com ele, bufei passando a mão no rosto. Já Alice, não se deu por vencida e insistiu.

— Deixa de bestági, Bella. Só vamos dar um empurrãozinho.

— Na direção do precipício. — Completei, balançada com a idéia. — Tudo bem, mas só um minúsculo empurrãozinho. — Concordei, porque no fundo sabia que era só questão de tempo até eles se acertarem. Não tinha dúvidas de que Sarah e o Doutor ainda se amavam.

— Opa... Ei... Ah, não! — Jasper, de olhos fechados, encostou os dedos indicadores na testa. — Estou prevendo que esse minúsculo empurrãozinho desencadeará uma sequência de acontecimentos. Esses nos levarão para a cadeia, depois para um deserto no México e, por fim, à destruição global. — Terminada a palhaçada, ele nos encarou com desdém.

Alice e eu trocamos um olhar despretensioso, então respondi antes de levar a Heineken à boca.

— É, mas tudo isso só semana que vem. Até lá, esse mundão sem porteira estará a salvo.

— Falando em mundão sem porteira, aquele lá não é o seu Cara-da-Selva? — Emmett apontou para a entrada da pousada.

Em um ímpeto, larguei a cerveja no chão e disparei na direção dos portões. Edward tinha acabado de cruzá-los e caminhava com passos largos ao meu encontro. Fazia quinze dias que não nos víamos e a saudade era avassaladora.

O Instinto Radical agora fazia parte da grade de programação fixa do Discovery Channel. Ainda era um pouco estranho ver as pessoas reconhecendo Edward na rua, mas ele lidava muito bem com essa exposição. Também não era nada no nível hollywoodiano, o que lhe permitia levar uma vida quase normal.

Vendo que eu pretendia me jogar em seus braços, o selvagem parou e tirou a mochila de camping das costas. Quase no mesmo instante, o alcancei e ele me ergueu pela cintura enquanto eu passava as pernas em volta do seu quadril.

Agarrando os cabelos de sua nuca, o beijei com paixão. Igualmente fervoroso, sugou-me os lábios como se não me visse há anos. Era tão bom quando ele voltava pra casa... Minha pulsação sempre acelerava e me faltava fôlego só de vê-lo.

A maioria dos namoros tende a esfriar por causa da rotina, mas conosco era diferente. Por Edward passar metade do mês viajando, a saudade virou um constante tempero na nossa relação. As duas semanas que podíamos ficar juntos eram muito bem aproveitas.

Rindo contra minha boca, ele afagou-me as costas carinhosamente, não parecendo disposto a me soltar. Distribuí beijos por todo o seu rosto, só depois foi que consegui perguntar:

— Machucado?

— Só uma pequena cicatriz para a coleção. Estou bem. — Afundou o rosto no meu pescoço aspirando meu perfume.

— Exausto? — Soltei uma risada porque fazia cócegas.

— Não. Dormi no avião. — Balbuciou passando a cheirar meus cabelos.

— Preparado para ouvir uma boa notícia? — Mal conseguia conter a empolgação.

— Sim.

— A imobiliária entrou em contato comigo ontem. Aceitaram seu lance. A casa é sua!

— Mesmo? — Me encarou surpreso. — É bom saber.

Edward passou meses procurando uma casa que o agradasse e atendesse a suas necessidades. Essa ficava a 30 minutos da pousada, num bairro bem tranquilo.

O que o fez se interessar pelo imóvel foi o enorme jardim arborizado e o quintal com horta. Sua intenção era trazer Indah para viver com ele. A casa era praticamente uma mansão. Possuía três suítes, escritório, uma cozinha ampla, piscina etc. Ela era grande demais para um homem solteiro. Só que até eu percebi que Edward não ia comprar a casa para a vida que tinha, mas para a vida que pretendia ter.

— Então, quando vai buscar Indah? — Questionei bagunçando seu cabelo.

— Conversarei com meu pai a respeito disso. Acredito que primeiro tenho que adquirir um tipo de licença.

De repente, ouvimos gritos femininos vindos de dentro da pousada. Edward a contragosto colocou-me no chão e quis ir investigar.

— Relaxa. — O impedi agarrando seu braço. — É só o efeito Toby.

— Entendi. Mas me diz, ele já contou alguma piada sobre pinto? — Fitou-me com esperança e balancei a cabeça tendo que decepcioná-lo. — Ah, não. Então guardou todas pra mim. — Suspirou com pesar.

Meu namorado não ia conseguir fugir. Ele era o principal alvo do aspirante a Free Willy.

(...)

Story Of My Life - Bon Jovi

Depois que Edward tomou banho, juntou-se a nós no churrasco. A tarde caía vagarosamente tornando o clima ainda mais agradável. As típicas brisas mornas do verão sopravam em meus cabelos, enquanto se podia ouvir o som das risadas e brincadeiras propagando-se pela pousada.

Logo o DJ retornou do breve intervalo para soltar mais músicas animadas. A primeira música foi para dar “boas vindas” à noite. Contagiada por ela, fiz o selvagem largar da cerveja que dividíamos. O puxei pela camisa para o centro do gramado onde muitos já dançavam. Para a minha alegria, tocava Story Of My Life do Bon Jovi.

Arrepiando-me toda, primeiro com as notas no piano, depois com a entrada das guitarras, comecei a pular como todo mundo estava fazendo. Com a letra na ponta da língua, descontraída, passei a cantar:

O ontem fica na memória, outra página da história. Você se vende por esperanças e sonhos...

Edward riu da minha empolgação, mas a entendia muito bem. Subitamente, meu irmão e amigos apareceram pra bagunçar junto. Igualmente loucos por uma farra, só queriam celebrar nossas conquistas. Foi um ano de muito trabalho e dedicação. Vários erros e muitos acertos, no entanto, o que ficaria nas nossas memórias para sempre era a sensação de realização.

Fazendo caras e bocas, segui cantando junto com Lice:

Esta é a história da minha vida e eu a escrevo diariamente. Sei que não é em preto e branco. E é qualquer coisa, exceto cinza.

Emmett colocou um braço em volta dos ombros de Jasper e eles ficaram saltando juntos. Vendo que Ed ainda estava meio acanhado, meu irmão o puxou para perto e o incentivou a entrar na brincadeira. A toda voz, eles também cantaram:

Mas eu vou ficar bem, pois qualquer coisa pode, tudo pode acontecer.

Tenho pensado, querida, você pode me ajudar a escrever a história da minha vida. Ei, o que você me diz?

Não demorou pra que minha amiga e eu começássemos a tentar sincronizar nossos movimentos. Balançávamos as mãos acima da cabeça, maluquecidas como sempre fomos e sempre iríamos ser.

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Todos se identificavam com aquela canção, por isso ninguém conseguiu ficar indiferente. E não era só a letra, a melodia também nos contagiava.

Esta é a história da minha vida. E eu a escrevo diariamente. Espero que esteja ao meu lado quando estiver escrevendo a última página. — Cantarolei roubando Ed dos rapazes.

O puxei para mim e passei a lhe encarar. Instintivamente deslizei as mãos por seus braços, já intencionando beijá-lo. Enquanto o refrão soava em coro, Edward me ergueu novamente pela cintura. Foi o bastante para que eu pudesse alcançar sua boca sem ter que ficar na ponta dos pés.

Ouvindo a deliciosa risada do meu selvagem, afaguei-lhe a nuca encostando suavemente minha testa na dele. Embora eu também não conseguisse parar de rir, a declaração contida no gesto único não perdeu a intensidade. E certamente nunca perderá.

FIM