Aos domingos íamos à Missa. Como sempre a Igreja estava cheia. Dentre os véus brancos, um único véu preto se destacava.

— Vossa futura cunhada, irmã –sussurrou Isabel.

Como era de costume nós mulheres fomos para um lado e meu pai para o outro. O banco onde Antônia se sentava estava vazio. Nos sentamos ao seu lado. Talvez ironia do destino, mas o Evangelho falava sobre uma viúva muito pobre e mesmo assim muito caridosa.

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A Missa chegou ao seu fim, e após a procissão sair nós também saímos.

— Fico feliz em vê-la aqui, Antônia.- disse minha mãe com um sorriso

— E Bento, veio acompanhar vosmecê? – perguntei curiosa, afinal já não tinha mais ninguém na Igreja.

— Não. Ele deve ter medo do teto da Igreja cair na cabeça dele. – ela riu.A primeira vez que a vi rindo. _Dona Maria, posso lhe pedir algo?

—Claro.

— A Senhora e vosso marido deixariam Caetana e Isabel passarem a tarde comigo? _ ela sorriu.

— Eu não me importo.- disse meu pai

— Então por mim tudo bem. – minha mãe sorriu consentindo. _ Mas com a condição de que Antônia também passe uma tarde em nossa casa.

— Claro dona Maria.

Antônia pediu para que o criado avisasse a Bento que ela iria almoçar em nossa casa, e que a tarde voltaria comigo e com minha irmã. E assim foi feito.

***

Chegamos a Estância do Cerro Largo, mas Bento não estava lá.

— Ele não está aqui.- Disse Antônia.

— Eu estou vendo.

— Ele selou um cavalo pra vosmecê.Disse que é para usted o encontrar na capela- disse Antônia.

— Vai Caetana. Eu fico aqui. – disse Isabel.

— Eu vou. – sorri nervosa.

Peguei o cavalo e meio atrapalhada com tantas anáguas montei.

— Ela sabe mesmo montar? – perguntou Antônia com certo deboche.

— Sabe. – Isabel riu.

***

Quando cheguei na capela ele estava lá me esperando.

— Pensei que não vinha.- disse ele me ajudando a descer do cavalo.

— O que vosmecê quer comigo? – minha vontade era de beija-lo,mas aquilo foi a única coisa que consegui.

— Lhe fazer feliz.Pedir a sua mão ao vosso pai e te desposar. – ele sorriu como nunca o vi sorrir.

Um silêncio se instalou. Minhas mãos ficaram trêmulas, não sabia o que pensar, que dizer, o que fazer.

— Bento, eu...

— Claro, se isso for de sua vontade. Caso contrário arreglo minhas coisas e junto de minha irmã vou embora para o Rio Grande do Sul. Não quero atrapalhar sua vida e não quero me magoar.Apesar de achar que uma mulher como ustede não é capaz de machucar ninguém.- ele disse com os olhos fixos, sem perder qualquer movimento que eu fazia.

Meu lábio ficaram secos, meu rosto começou a queimar. Parecia que meu coração ia sair do peito.Ele batia forte e rápido, parecia um beija-flor.

— É claro... Eu quero ficar pra sempre ao seu lado desde o primeiro dia que eu te vi na minha casa. Quero ser sua esposa, a mãe dos seus filhos. Quero-lhe prover tudo de corpo e alma. – disse segurando seu rosto. _ Quero morrer ao seu lado.

Nossos lábios se tocaram em um beijo longo e doce. Foi a melhor sensação que eu já senti na vida.

— Quando vai pedir minha mão a meu pai? – a alegria era tanta, que se ele dissesse “Agora!” eu não me importaria, e amanhã nos casávamos.

— Vou retribuir o jantar de seus pais, e então em frente a toda sua família irei pedir sua mão.