Juntas

Conta um conto


Mãozinhas roliças a puxaram pedindo atenção. Ela olhou para a garotinha de cabelos escuros cuidadosamente partidos de lado, camiseta branca de gola social e de olhos pidões que fora autora do gesto.

— Mamãe, conta a história do macaquinho?

Era fim de tarde, e apesar de ter desenvolvido o hábito de ler a noite para ela, o pedido súbito era muito familiar. Estava entre os pedidos que Sarada mais fizera nos seus quatro anos de vida. Ela simplesmente adorava a tal história do macaquinho.

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— Tudo bem, vou pegar o livro.

— Deixa que eu pego, mamãe. — Ela se propôs, correndo para a estante cheia de livros.

Sakura a assistiu subir sem cerimônia no pé do armário para alcançar o livro azul que se encontrava na segunda prateleira. Havia algo gracioso em sua tentativa empolgada de alcançar o volume com suas poucas dezenas de centímetros de altura, pegando finalmente após três tentativas.

Era o livro de contos ocidentais que Sakura comprara quando visitara a feira de uma aldeia no País do Vento com o marido quando estava por volta do quinto mês de gestação. O avistara em uma das muitas vitrines do movimentado comércio local. Ele, com sua capa lustrosa azul e nome em grafia dourada, logo se destacara em meio a diversos outros títulos empoeirados. Entre parar em frente à vitrine e a euforia por compra-lo, ignorou o acordo que fizera com Sasuke de só comprar coisas para Sarada quando voltassem para Konoha, no fim do sétimo mês. Em sua defesa, ela podia alegar que o marido já havia ignorado o combinado antes, comprando um par de sapatinhos vermelhos que vira em uma das primeiras vilas que visitara depois de saber que ela estava grávida.

Sasuke se conformou então em observar a esposa entrar na loja, esperando-a do lado de fora. Sakura, além do livro que vira na vitrine e decidira levar antes mesmo de entrar, se viu parando indecisa entre as prateleiras da sessão infantil, optando por fim em levar mais outros dois livros: Um com fábulas antigas e bem populares e o outro era uma coleção de contos ninja. Todos eram impressos em folhas brilhantes, com desenhos coloridos em todas as páginas.

Todos os dias ela lia algum capítulo para a filha. Gostava de imaginar por quais daquelas histórias ela se encantaria, quais ficariam por anos em sua mente, inspirando-a com lições sobre amizade, coragem e bondade e entrariam em sua lista de preferidas ou apenas se a fariam rir e pedir para ler várias e várias vezes. Era um modo de se sentir perto dela e de apresenta-la através de palavras ao mundo que ainda não conhecia.

Às vezes Sasuke se sentava com a esposa e esta o incentivava a ler algum capítulo para que sua pequena se acostumasse com a voz dele também. No início ele estranhava o pedido, mas acabava lendo ao menos alguma parte. Em algumas ocasiões ela acabava adormecendo sob o som da voz grave e suave do marido, a gravidez lhe deixava constantemente com muito sono e era fácil se deixar levar pela tranquilidade proporcionada por momentos como aquele. Não raramente ele também interrompia a leitura, contestando se a história fosse tola ou tivesse algo que soasse absurdo.

—Ela resolveu casar da noite para o dia com um desconhecido? indagou Sasuke inconformado certa vez, fechando o livro.

Estavam sentados sobre a sombra de uma árvore frondosa, coberta aquela época do ano por flores laranja de uma vivacidade contagiante. Dali podia ouvir o um dos muitos rios da região, e Sakura, que havia deitado a cabeça no colo do marido para ouvir a história, o encarou pensativa, passando a questionar se foi uma boa escolha optar por um livro ocidental.

—Ao menos ela é... Hum... Bondosa? Não é um péssimo exemplo de todo. Sakura defendeu um tanto incerta. Havia simpatizado com ela de algum modo. — Mas atenção Sarada, ir a uma festa ok, casar com um desconhecido nem pensar! advertiu, levando as mãos a barriga, dirigindo-se a filha.

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—Nem pensar em casar, na verdade. — retificou Sasuke afastando uma mecha de que estava em frente ao losango púrpura da testa da esposa, colocando para o lado, com certo azedume no tom que fez Sakura rir.

— Muito bem, vamos às estórias com ninjas e kunoichis poderosas então.

Quando a garotinha voltou com o livro em mãos, Sakura se sentou colocando-a no colo e abrindo-o na já conhecida página onde a fábula começava. Sarada era uma ouvinte exigente, observava meticulosamente os desenhos de cada página com fascínio e gostava de manter o padrão teatral no modo que a mãe contava, fazendo-a ter cuidado com as entonações em cada fala e parágrafo.

A musiquinha, mamãe. Ela sempre exigia, referindo aos quatros momentos onde o macaco cantarolava, e ria cantando junto. No fim das contas era o momento preferido de ambas onde Sakura fechava o livro sabendo que dali a alguns dias ela pediria para que contasse a história do macaquinho de novo.