5 anos depois

O cemitério era bem no meio do caminho entre o mar e a estação de trem. Eu encaro o túmulo do meu pai, que está ao lado do túmulo da minha mãe, e deixo uma flor para cada um deles. Depois me dirijo ao túmulo de Dallon e fico ali por um tempo conversando sozinha.

– O Finn volta hoje - Eu conto para Dallon.

Uma mulher passa por mim e me dá aquele olhar que eu já estou acostumada, o olhar que diz "que mulher louca". Eu não me importo mais, continuo contando o que quero para o meu amigo. Eu sei que pareço louca, eu sei que é esquisito conversar com os mortos, mas eu me sinto bem fazendo isso. Faz com que eu não me sinta tão sozinha enquanto o Finnick fica na Capital.

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Eu ouço o barulho do trem chegando, então me despeço de Dallon e vou correndo para a estação de trem. Os pacificadores formam uma linha na frente do trem que acabara de chegar, mas eu passo por eles como um gato que passa por uma cerca.

– Finnick! - Eu grito para ele quando o vejo saindo pela porta do trem. - Finnick!

Ele olha para mim e vou correndo na sua direção. Eu pulo em seus braços e ele me abraça com força. Sinto tanta falta dele que estar em seus braços é uma sensação que não sei descrever. Borboletas no estômago? Talvez. Mas não só isso, posso dizer que é mais que isso. Ele me coloca no chão e eu encosto a minha testa na sua, não consigo parar de sorrir. É um alívio tê-lo por perto outra vez. Finnick acaricia o meu rosto e me beija. Eu retribuo o beijo e seguro sua mão. Agora sim me sinto completa, me sinto segura.

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Eu tenho tido pesadelos durante a semana inteira, o terceiro Massacre Quaternário parecia estar me assombrando. Eu evitei os Jogos Vorazes por quatro anos. Finnick teve de voltar a Capital por causa deles, mas eu fazia questão de ficar em casa ou na praia enquanto eles aconteciam. Eu não queria saber de nada sobre eles, incluindo quem seriam as pobres crianças escolhidas para ser torturadas pela Capital. Mas hoje eu quero saber, preciso saber que tudo vai ficar bem, que eu vou poder voltar a ignorar os jogos de novo.

Finnick liga a tevê e logo vem se sentar ao meu lado, eu seguro sua mão com mais força do que deveria. O Hino é tocado, então podemos ver o Presidente Snow subindo ao palco e logo atrás dele vem um menino vestido de branco com uma caixinha de madeira na mão. Snow começa com aquele típico discurso sobre os Jogos Vorazes, até o discurso eu evitava. Senti um arrepio na espinha ao lembrar do meu ano. Então ele nos lembra como foram o primeiro e o segundo Massacre Quaternário, agora quem aperta a minha mão um pouco mais forte é Finnick.

– E agora nós temos a honra de realizar o terceiro Massacre Quaternário - diz o presidente através da tevê. O garotinho de branco se aproxima dele e lhe estende a caixa de madeira aberta, contendo vários envelopes. Snow pega um que tem o número 75 visivelmente estampado, então puxa o envelope e lê :- No aniversário de setenta e cinco anos, para que os rebeldes não se esqueçam de que até mesmo o mais forte entre eles não pode superar o poder da Capital, o tributo masculino e o tributo feminino serão coletados a partir do rol de vitoriosos vivos.

Eu sinto tudo ficar gelado. A mão de Finnick está frouxa na minha. Eu me levanto e vou em direção a porta, então saio e vou correndo para a praia.

Rol de vitoriosos. Rol de vitoriosos. Rol de vitoriosos.

Eu me sento na areia da praia e trago os joelhos para perto do meu corpo. As palavras apenas dançam em minha cabeça sem fazer sentido. Eu sei o que elas querem dizer, mas elas parecem sem sentido mesmo assim.

Rol de vitoriosos vivos.

Sinto lágrimas brotando dos meus olhos e rolando pelo meu rosto.

Rol de vitoriosos vivos.

Eu estou viva. Sim. Eu vou voltar para a arena.

Logo me lembro das sensações da arena, o medo, a aflição, os gritos. Então vejo o corpo de Finnick na minha mente, e ele está sem a cabeça.

Eu grito. Eu grito o máximo que eu posso, deixando todo o ar sair de meus pulmões. Eu não posso voltar para Arena, Finnick não pode voltar para a Arena. Ele não pode morrer. Me sinto sozinha e desolada. Me encolho ainda mais e ouço as vozes que não ouvia há um bom tempo, mas dessa vez não são os tributos que me assombram.

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Rol de vitoriosos.

É a voz do presidente que não sai da minha cabeça. Eu levo as mãos aos ouvidos, tentando fazer com que isso pare.

Não, não pode ser. Não pode ser real. Não é real.

Eu olho para o mar e sinto que as lágrimas não param de sair dos meus olhos. Eu apenas encaro o horizonte esperando que eu acorde desse pesadelo. Eu me balanço para frente e para trás, aperto a minha cabeça com mais força e espero acordar desse sonho terrível. Até que Finnick se ajoelha na minha frente e olha para mim.

– Annie? - Ele pergunta, mas eu não consigo responder - Annie, você está aí?

Eu engulo seco, então percebo que sim, que tudo isso é real. Eu tiro as mãos dos ouvidos e abraço as minhas pernas, ainda me balançando para frente e para trás.

– Isso é real, Finnick? - Eu pergunto, para ter certeza - Nós vamos voltar para a Arena?

Ele não diz nada, apenas se senta ao meu lado e olha para o horizonte.

– Eu não sei quem vai voltar para a Arena, Annie - Ele diz - Mas algum vencedor vai voltar para lá.

– Rol de vitoriosos - Eu repito as palavras que agora me amaldiçoam. - Rol de vitoriosos.

Então eu desabo em um choro que não consigo mais controlar. Finnick me puxa para sí e eu enterro meu rosto em seu peito. Ele tenta disfarçar, mas eu sei que ele está chorando também.