Maldição

Sanzur já havia ouvido as histórias. Ele conhecia.

Ele entendia a lei e a maldição.

Ele conhecia a história que condenara toda a sua raça.

Mas ainda assim, ali, parado em meio aos seus, com o corpo coberto de sangue – o sangue da sua própria irmã – ele não podia esperar pela dor que viera.

Seus ossos se estilhaçaram em um milhão de pedaços ao mesmo tempo em que se reagrupavam, os nervos e músculos se realocavam e o corpo crescia. Os pelos brotaram por toda a sua extensão e sentia como se o rosto tivesse sido atingido por uma pedra repetidas vezes.

Havia algo de doce na dor da transformação.

Era quase como ter o coração partido: tudo que ele foi e tudo que poderia ter sido, esmigalhados e irreconhecíveis, até formar um novo ser.

Ele não havia desejado as trevas, foram os seres da luz que a impuseram com suas leis injustas.

Ele se transformava no monstro das histórias que os pais contavam para assustar os filhos.

Ele não era um vilão, era vítima da injustiça.

“O fogo combate as sombras”, diziam as palavras de seu clã. Mas agora, Sanzur achava que era o fogo que lançava as sombras.