Not Quite What It Seems

I — The Begnning


I — The Begnning



Bom, não havia muito o que explicar. Do tanto que já foi explicado e argumentado sobre o assunto, eu tentar explicar a eles o motivo de eu ser do modo que sou é idiotice. Perca de saliva. E aquela situação não ajudava em nada.

Depois de todo este tempo passando pela mesma coisa, as pessoas fazendo as mesmas perguntas, vou simplesmente dizer que é assim porque é como me sinto e na verdade, sempre foi deste modo.

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Tecnicamente, meu nome é Lian Potter. Tenho dois irmãos mais velhos e sou caçula. E biologicamente sou do sexo masculino.

Meus pais, o famoso detetive Harry Potter e a jornalista Ginevra Potter, nunca foram exatamente contra o que sou. Principalmente pois, segundo eles, eu apresentava sinais de preferir coisas de garotas desde quando um bebe e não era alguma influência de fora de casa (Muito menos de dentro, até porque em casa só tinha minha mãe de mulher).

Sempre odiava quando cortavam meu cabelo curto e preferia as bonecas aos carrinhos. Na minha própria casa eu era chamado de Lily a pedido meu desde pequeno, não sem algum relutância, mas ainda sim era respeitado quanto a minha escolha de gênero.

Naquele tempo, meu físico ajudava, pois eu não tinha um rosto exatamente másculo e com a minha insistência sobre vestir roupas não muito masculinas também acabou por deixar tudo mais fácil de aceitar. Eu parecia sim, uma garota normal no fim das contas e não um transgênero que eu era.

Pelos psicólogos que passei, nenhum realmente disse que eu estava errado de pensar do modo que sempre pensei. Algo sobre estar preso no corpo errado, uma jaula que me impedia de ser feliz, sobre na realidade eu ser uma garota... Claro, houve alguns que torceram os narizes e outros que me deram um sorriso triste, houve longas conversas sobre isso, porém tudo levou à aceitarem que eu me sentia bem como garota mais do que como homem.

Depois de um longo tempo, eu já beirava meus doze anos, eu realmente fui feliz. Foi quando tudo estava certo, meus pais desistiram dos psicólogos e simplesmente pararam de me incomodar pelo fato de eu ser um homem e preferir usar vestidos e laços.

Foram os melhores anos da minha vida, onde eu fui eu mesma, mesmo que ainda ouvisse alguns comentários ruins dentro da minha família.

Os piores e os melhores momentos aconteceram n’A Toca, como era chamada a casa de meus avós. Todo fim de ano passávamos juntos em família e consequentemente havia muitos contra o que eu era.

Mesmo assim, eu suspirava perdida nos olhos brincalhões do meu primo Hugo esquecendo aquele problema. Nós dois nos escondíamos atrás da porta, prontos para assustar Rose, sua irmã mais velha enquanto eu admirava seu rosto sapeca. Ele sempre foi muito gentil comigo, nunca fez distinções, como alguns da família faziam, e sempre me chamava para brincar quando estávamos todos n’A Toca.

Certa vez, estávamos escondidos no sótão, jogando um jogo de cartas quando ele me disse que me achava fofa quando ria. Depois daquilo, eu admito, eu passei a rir bem mais quando estava perto dele e minha mãe sorriu amavelmente quando eu confessei a ela que achava Hugo, na verdade, muito bonito e gentil.

Uma coisa que eu gostava no Hugo era aquilo, suas mãos eram macias e apesar de sempre suadas e escorregadias por conta da correria da brincadeira, não me soltavam em nenhum momento. Aquilo havia moldado o meu amor por ele.

Eu me via sorrindo depois de passar a tarde com ele, querendo sempre ir brincar ainda mais. Declarei sem medo que era meu melhor amigo e que queria ficar junto a ele para sempre... No fim, quando nós já estávamos velhos o suficiente, descobri que na verdade, não era exatamente como amigo que eu o via e não era como uma amiga que eu gostaria de passar meu tempo com ele.

Porém, como a vida te dá dificuldades por diversão, as coisas começaram a ficar difíceis depois de algum tempo.

Os dias passavam, chegava cada vez mais rápido a adolescência e os hormônios fizeram o seu trabalho mais do que eu esperava.

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Eu não havia pensado sobre aquilo, sobre me ser tirado algo como aquilo não me preocupou por algum tempo. Eu realmente não estava chateada por meu corpo estar mudando, mas eu não esperava que as mudanças pudessem afetar tanto assim o modo como eu vivia.

Ficou impossível eu me passar por garota.

A voz havia engrossado e os ombros, crescido. Antes, eu era menor que Hugo e agora, nós competíamos em tamanho. As pessoas começaram a falar pelas minhas costas quando eu passava e meus pais começaram a também serem julgados pelo modo como eu me vestia e comportava.

Eu ouvia escondido seus amigos perguntando como eles permitiam tal coisa com seu próprio filho; Sendo famosos como eram tinham de dar o exemplo à todos. Eu via eles desviando da pergunta, rindo sem graças, como quem estivesse conformado e só quisesse trocar de assunto logo. Doeu saber que eles não defendiam a minha opção, apenas aceitavam como quem não tem escolha.

Até mesmo meus irmãos começaram a ter vergonha de andar comigo. Só então eu vi o pesadelo em que eu estava e o modo como eu estava preso naquele corpo afetava muito mais do que eu havia pensado.

Era tarde demais.

Foi uma noite sombria aquela do meu aniversário. Sozinho em meio as lágrimas e os trovões. Rasguei a mim mesmo e fiz decisão da minha vida.

Eu desisti de tentar ser eu mesmo.

Cheguei em casa no dia seguinte, com o cabelo curto e calças jeans. Havia substituído os brincos por um alargador e joguei todas as roupas femininas no lixo. Não houve questionamentos dentro de casa, tão pouco alguma surpresa.

Todos apenas fingiram que estava tudo bem e que não houve uma mudança significativa. Eu tinha certeza que meus pais haviam conversado com meus irmãos antes de eles saberem sobre a minha decisão.

Era como se todo aquele tempo em que fui uma garota tinhavesse sido apenas uma fase na minha vida.

Foi um longo tempo aqueles meses de adaptação, onde eu evitei ao máximo contato com todos ou até mesmo sair de casa. Demorou para eu conseguir não chorar ao olhar para o espelho, mas eu me esforcei vendo os olhos de meu pai brilharem orgulhosos quando jogamos cartas ou assistimos futebol todos juntos na sala.

Nas férias, antes do primeiro dia no ensino médio (onde pela primeira vez eu iria para uma escola de verdade e não teria mais aulas particulares em casa, graças a minha mudança), eu até mesmo participei dos jogos do campeonato de baseball do bairro.

Disseram que eu levava jeito como rebatedor. Que por ser magro, eu tinha agilidade suficiente para voar pelo campo.

Eles pareciam ter inveja daquele corpo, ao contrário de mim.

Me esconder de mim mesmo se tornou difícil com a fama que consegui com o jogo.

Eu apenas descobri que Hugo frequentaria a mesma escola que eu depois que eu entrei na sala. Ele estava sentado, sozinho, com seus fones de ouvido e eu congelei. Desde que eu havia desistido de ser uma garota, eu havia o ignorado propositalmente e o evitado completamente. Envergonhado, era o que eu estava.

A paixão por aquele ruivo ainda era morna dentro de mim, e o fato de eu ser um maldito homem fazia doer quando olhava para ele.

Ele devia ter nojo do que eu era e eu tomei a decisão de que continuaria a ignora-lo o resto do ano. Ele não pareceu surpreso por me ver como homem. Aquilo me deixou mais chateado do que deveria.

Não demorou para que, alguns dias depois de iniciarem as aulas, eu fosse barrado pelo professor responsável pelo time de baseball do colégio.

Eu havia feito sucesso no pequeno campeonato nas férias, ele disse.

Ele faria qualquer coisa para me ter no time do colégio de Hogwarts, afirmou com os olhos brilhando.

Quando contei à minha mãe sobre a participação no time da escola, ela me sorriu triste. Perguntou se era aquilo mesmo que eu queria e eu fingi meu melhor sorriso e disse que eu gostava daquilo. Que estava tudo bem e eu estava feliz.

Talvez eu tenha ido longe demais.

Os meses voam quando você está na escola, aquilo eu havia descoberto sozinho. A rotina de treinos e estudo o dia todo era puxada e eu descobria o quanto eu estava perdendo tendo aulas particulares em casa todo aquele tempo ao ser rodeado de amigos.

Se eu soubesse o quão bom era aquela rotina e o sentimento de fazer parte de algo, talvez eu tivesse pensado em mudar antes. Ou eu pensava isso para me convencer que estava tudo bem.

Hugo também não parecia tão incomodado com a minha presença na sala, mas também não veio perguntar o motivo de eu não falar algo além do matinal ‘bom dia’ e isso deixou o clima entre nós ainda mais entranho.

Fora isto, na escola, alguns dias foram mais difíceis do que outros.

Eu não podia mais agir como agi a maior parte de minha vida e as vezes me controlava para conseguir lembrar que eu não era mais uma garota. Eu me pegava as vezes, querendo fazer algo que seria engraçado um cara querer e me repreendia por isso.

Eu precisava ainda de tempo para me acostumar e a mudar completamente, mMas em alguns pontos, pareciam quase impossiveis e completamente dificultosos de superar.

O principal deles era a atração.

Aquele era o quesito em que eu vinha me esforçando para adaptar à aquele corpo e me fazer entender o modo que eu realmente era. Havia algum tempo que eu estava tentando aniquilar aquela paixão tonta por Hugo e a atração por alguns membros do time. Havia também uma pequena pressão dos meus amigos em sair com uma garota.

Mais de seis meses e eu não havia conseguido muito progresso.

Certa vez, tentei utilizar a ereção matinal para tentar uma masturbação com uma revista de mulher pelada que havia achado no quarto do Alvo, meu irmão do meio, mas de um modo muito deprimente eu apenas consegui uma esfolação.

Nunca fiquei tão envergonhado de mim mesmo como naquele momento, mas desistir não era opção valida. Tentei outros modos.

Pensei que talvez a atração por mulheres viria se eu forçasse um pouco além. Algo como ativar o gatilho ou precisar experimentar para ver se começava a fluir por aquele corpo estranho, como parecia funcionar tão bem para todos os outros caras.

Foi assim que aconteceu quando eu aceitei um dos inúmeros pedidos para sair das garotas da escola. Ah, aparentemente, sair com um cara que faz parte do time era como ser algum tipo de estrela, então eu tinha uma cota de pedidos diários para sair no fim de semana.

A garota se chamava Becky e todos os caras da escola a queriam, principalmente os veteranos. Diziam que ela era fácil e que tudo que precisava fazer era aproveitar, ela se jogaria em cima de você antes que pudesse pensar direito, então eu resolvi tentar, sabendo que se dependesse de mim, a iniciativa nunca seria tomada.

Ela era o tipo loira líder de torcida que eu teria visto em qualquer filme americano.

Quando a encontrei na porta do estádio, onde estava tendo um jogo de futebol, foi impossível não a ver de longe. A saia curta era fluorescente grudada nas coxas e o top mostrava boa parte dos seus seios. Quando ela se pendurou em meu pescoço e entramos para ver o jogo, uma boa quantidade de caras pararam e olharam com inveja.

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Até aí, eu não havia vacilado nem um segundo o sorriso e a conversa animada, mas ao passar por todos aqueles caras, arrumando o saco dentro da calça ao ver a pele exposta de Becky, eu definitivamente desanimei um pouco. Nem de longe o meu cara lá de baixo parecia reagir aos insistentes esfregões dos peitos da garota em meu braço direito.

O resto do encontro foi um desastre.

Chegando em casa, encontrei Hugo saindo pela minha porta da frente. Ele sorriu para mim quando passou e eu quase morri.

Entrei em casa como um jato querendo saber o que ele viera fazer ali e James anunciou que a mãe de Hugo, tia Hermione, estava gravida novamente. Haveria uma pequena comemoração mais tarde, na casa deles. Todos já se arrumavam para ir.

Meu coração bateu em meus ouvidos.

Eu subi para o meu quarto de três em três degraus e me tranquei lá dentro. Abri a porta do meu guarda roupa e fiquei um bom tempo olhando para as roupas que haviam lá.

Por um momento, toda a animação pelo sorriso que ele me dera quando saía da minha casa, pela esperança de que tudo estivesse bem entre nós e pelo meu coração batendo rápido no meu peito, me dominou o suficiente para me fazer esquecer o empecilho que havia entre nós e me sufocar em felicidade.

Já um tanto acostumado com as roupas masculinas que usava todos os dias, eu sabia o que fazer com elas para parecer mais agradável quando olhava para o espelho. Não era exatamente o que eu gostaria de ver, mas estava suficiente.

Ouvi meu pai chamando no andar de baixo para irmos.

Sabia que tinha exagerado no perfume quando a rinite de minha mãe a fez espirrar. Ela não realmente notou algo, mas eu havia percebido que havia ficado animado até demais. Todos estavam apenas vestidos bem o suficiente enquanto eu parecia que ia para algum tipo de festa fodona.

Me arrumei mais do que eu deveria.

Me afundei lentamente no banco de trás do carro, enquanto estacionávamos na frente da casa de Hugo, entre o carro da vovó e do tio Jorge.

Eu tentei me desarrumar um pouco antes de sair, despenteando meus cabelos bronze com os dedos, mas não pareceu fazer muito efeito.

A casa estava cheia de parentes e tio Rony parecia já ter bebido um pouco á mais enquanto comemorava o seu terceiro filho. Havia uma grelha no quintal dos fundos, onde vovô Arthur assava salsichas e todas as mulheres da familia estavam em volta de tia Hermione, na cozinha. As conversas eram embaralhadas e continuas e me pegaram desprevenido.

— Olha quem está aqui! Você parece ótimo, Lian! — Exclamou meu primo Fred, assim que me viu — Sabia que você voltaria pro lado negro da força!

Eu me forcei a rir e concordar enquanto ele batia no meu braço, como caras fazem quando se cumprimentam, mesmo que o comentário tivesse me desagradado.

Não havia realmente estado no meio de toda a família após a minha mudança e aquilo era relativamente novo, então havia uma certeza de que aconteceriam os comentários infelizes que eu andava evitando.

Ah, eu ficara ansioso demais pensando em ver Hugo e esqueci o que me custaria vir à aquela reuniãozinha de família.

Como esperado, houve uma longa onda de zoações por parte de Fred, com uma parceria surpreendente de Molly II. Eles pareciam realmente felizes de eu não ser mais tão ‘bizarro’ e ‘esquisito’ como antes.

Eu me escondi na varanda da casa um pouco depois, me sentindo extremamente deprimido e cansado. Havia aquela voz na minha cabeça, que me fazia sentir culpado e que me condenava por eu me sentir triste por eles preferirem aquela versão de mim.

Me recriminei pensando que eles não estavam errados de pensar do modo que pensavam. Eu nascera como homem e era aquilo que esperavam que eu fosse, qualquer outra opção seria rejeitada.

Talvez eu tivesse deixado escapar uma ou duas lagrimas.

As estrelas brilhavam no céu quando ele parou ao meu lado.

Eu olhava a rua sem ver, devaneando mais uma vez sobre o motivo de tudo ser daquele modo quando os cabelos ruivos me chamaram a atenção.

Meu coração disparou e eu fiquei tenso. Qualquer coragem de olhar para ele havia evaporado, a ansiedade de vê-lo desapareceu, então eu continuei a encarar furiosamente qualquer coisa à minha frente.

— A noite está linda, não?

O que?

Meus olhos se prenderam no seu rosto tranquilo e eu o encarei. Eu não esperava nem que ele falasse algo, quanto mais comentar sobre a noite casualmente. Tudo bem aquilo era totalmente contrario ao meu pensamento quando vim para sua casa, mas uma coisa era eu imaginar nós se falando e outra bem diferente era acontecer.

— Estranhamente estrelada — respondi tenso vendo que ele esperava uma resposta.

— Parece que a poluição deu uma trégua hoje.

Não consegui pensar em algo para continuar com a conversa. Eu nem acreditava que Hugo estava ao meu lado naquele momento depois de todo aquele tempo na escola em que simplesmente nos ignorávamos. Era possível que ele simplesmente continuasse como se nada tivesse acontecido?

Pareceu que sim.

— Então, você conseguiu finalizar aquela redação de literatura?

Eu franzi o cenho com a pergunta.

— Uhun — respondi relutante — Terminei semana passada.

— Então é isso. Você realmente é bom. Achei um pouco complicado em desenvolver a comparação entre os autores, estava tentando hoje antes da noticia de mamãe. Acabei deixando na metade de novo.

— Ah — foi minha melhor resposta — Se você quiser ajuda, eu me dou bem na matéria.

— Você pode? — seus olhos brilharam quando ele me encarou e eu definitivamente perdi o ar — Você me salvaria de uma forma...

Eu balancei a cabeça, aturdido demais para conseguir responder qualquer coisa.

— É um problema se fizermos agora? — Ele quis saber.

Eu acabei no quarto dele, somente nós dois, sentados na sua cama e ajudando ele a desenvolver a redação de literatura. Em momento algum meu coração parou de bater forte. Foi impossível não me sentir duro e apertado dentro daquelas calças no meio de toda aquela situação.

Por que mesmo eu havia escolhido a calça mais justa?

— Você parecia um pouco chateado lá fora. — Comentou ele enquanto escrevia.

— Pareci? Ah... Fui apenas pegar um ar. Há tanta gente nesta casa hoje que me deixou meio sufocado.

Ele sorriu para mim.

— Bom, qualquer casa fica apertada quando a família Weasley se reúne, mas acho que eu vou continuar arriscando que você não isolou apenas por conta disso.

Eu havia me esquecido que Hugo tinha aquele tipo de poder. Aquele que consegue enxergar o que você realmente sente, quando ninguém parece notar. E naquele momento, ele olhava para dentro de mim e parecia dizer com todas as letras que sabia de tudo.

Sobre eu odiar o modo como eu era, sobre eu me sentir deprimido pelo modo como minha família me tratava, sobre aquela paixão dentro de mim e sobre a ereção e pensamentos pervertidos que eu vinha tendo na minha mente desde que eu pisara dentro do seu quarto.

Ele parecia estar vendo tudo aquilo e sorrindo de lado, dizendo: “Eu sei disso, então, o que irá fazer?”.

Engoli em seco e encarei meus pés.

Pela primeira vez, eu quis fugir de Hugo.

Havia alguma maneira de inventar uma desculpa para largar ele junto de sua redação e simplesmente sair correndo??

— Eu não entendo porque as pessoas continuamente ficam criando dificuldades uma atrás da outra. — ele começou de repente, me avaliando.

— O que quer dizer? — perguntei surpreso, pego desprevinido.

— Quero dizer que coisas simples e fáceis se tornam complicadas apenas porque elas querem. Criam dificuldades sem nem mesmo elas existirem.

A insinuação alfinetou mais meu orgulho do outra coisa.

— Às vezes as coisas parecem simples do seu ponto de vista porque esta vendo elas de longe. — Repliquei, encarando-o — Talvez o motivo de se tornar dificultoso não tenha chegado à você pois você não está vivendo aquilo.

— Talvez. — Deu de ombros, achando algo engraçado — Talvez eu queira que todos vivam do jeito que eu acho certo, onde tudo é simples e fácil de se resolver.

Eu sorri, apontando para a folha que ele escrevia.

— Oscar Wilde chama isso aí de egoísmo.

— Acha que eu devia colocar isto na redação? — pareceu confuso.

— Não se você for tratar isso como se fosse algo positivo.

Ele riu da minha piada, balançando a cabeça e voltando a escrever.

— Você sempre desvia do assunto, não é mesmo? — prolongou — Me diga, do que você tem medo?

— Não tenho. — Respondi rápido demais e isso chamou a atenção dele.

Hugo parou de escrever e olhou para mim, como se achasse algo hilário.

— E você tem fugido de mim todo este tempo apenas por diversão? Pare de tentar me enganar, Lily.

Lily.

— Não estou tentando nada! Se estivesse fugindo, eu nem estaria aqui, estaria? — Minha voz saiu mais histérica do que pretendia.

Ele suspirou longamente e me olhou, cansado. Eu estava entrando em estado de pânico.

— Se importa se eu for egoísta na resposta?

Adiantaria eu negar?

— Apenas se entregue ao que sente e pare de pensar que o ponto de vista certo é o dos outros. Seu medo é infundado.

Me entregar? Ele estava insano?!? Ele não entendia o que me entregar implicava. Era como eu havia dito, ele estava tendo uma visão de fora. Ele só entenderia se vivesse e passasse o que eu tinha passado.

Eu não tive oportunidade de resposta, pois logo em seguida Alvo entrou o quarto, dizendo que estávamos indo embora. Hugo piscou para mim antes de eu sair e eu fiquei estarrecido o suficiente o resto da noite para não notar quando alguns membros da família fizeram mais piadinhas sobre minha nova condição.

Algo me incomodou logo que deitei na minha cama e eu notei que na verdade era o meu celular que havia vibrado. Ao desbloquear fui recebido com uma pequena onda de mensagens.

Havia uma de Becky, perguntando sobre um próximo encontro, duas do treinador, avisando que contraiu uma gripe forte e pediu se eu poderia coordenar os treinamentos enquanto ele estava fora e uma última, de ninguém mais, ninguém menos, que Hugo.

Desde que eu havia abandonado meu lado feminino, eu não tinha chegado a verificar o número de Hugo e por isto o seu cadastro no meu celular havia diversos corações com os dizeres “Meu Huguinho”. Imediatamente eu fiquei vermelho, pego de surpresa.

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Se alguém da escola pegasse aquilo seria no mínimo esquisito!

Eu mudei o cadastro antes de ver o que a mensagem dizia.

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Contato: Hugo W

Logo que você saiu, lembrei que esqueci de comentar que acho justo que depois de hoje não seja necessário o nosso tratamento habitual na escola. Seria estranho se voltasse a fugir de mim na segunda depois de tudo, não acha Lils? xo HW

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Eu olhei em volta, pelo quarto, como se buscasse alguém que pudesse vir me dizer que aquilo era real. Como ele pudera me mandar uma mensagem como aquela? Beijo e abraço? Me chamando de Lils?? Ninguém me chamava pelos antigos apelidos desde que assumi o lado masculino! Parecia que fazia decadas!

Eu me senti quente rapidamente e foi como algo se movimentasse muito rápido dentro do meu estomago. Agarrei meu travesseiro e enterrei meu rosto com força, sorrindo sem me conter.

Santo Deus, aquilo estava acontecendo mesmo? Eu espiei mais uma vez a mensagem.

Ah, ele me conhecia bem. Sabia que eu iria agir como se nada tivesse acontecido se ele não falasse nada. Apoiei sobre meus braços no colchão para digitar a mensagem de volta.

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Re: Hugo W

Eu nem sonhei em fazer isso. Nunca chegaria a ser tão descarado assim. Acho que você tem pensamentos muito negativos a meu respeito. E eu não estou fugindo de você. LP

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Não demorou nem cinco minutos e o celular vibrou em resposta:

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Contato: Hugo W

Meus pensamentos são qualquer coisa, menos negativos. Acredite. Vá dormir, está tarde.

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Eu fiquei mais algum tempo encarando sua ultima mensagem antes de desligar o celular. Havia ainda aquele apito em meus ouvidos, pela surpresa de trocar mensagens com Hugo depois de tanto tempo.

Eu estava ligeiramente abalado por tudo que aconteceu naquela noite. O encontro com Becky foi totalmente apagado pelos momentos no quarto de Hugo. Agora, enquanto estava ali deitado em minha cama, encarando o teto eu percebia a diferença entre os encontros.

Ficou evidente que muito pelo contrário, o de Becky dera completamente errado, tendo em vista que apesar das frequentes insinuações dela o objetivo principal que era despertar minha atração por mulheres não chegou nem perto de se concretizar.

Ligeiramente deprimido por não conseguir fazer aquele corpo funcionar como devia, vendo que, ao contrario dos momentos com Becky, os momentos com Hugo faziam o garotão de baixo ganhar vida, me permiti, sem conseguir resistir, a uma masturbação proibida antes de dormir.