Monotonia

Por Deusa Nariko

XVII

Eles chegaram ao País do Rio no fim daquela manhã abafada, com um sol quente fulgurando num céu azul perfeito. Nuvens errantes se moviam como ilhas gigantescas à deriva no horizonte límpido.

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Como Sakura se lembrava, desde a última vez em que estivera ali há alguns anos, o panorama geral em nada se havia alterado. Havia muitas florestas e regiões densamente arborizadas, assim como havia gigantescos desfiladeiros entre as montanhas ao fundo; inúmeros veios de água cristalina fluíam a partir desses montes, cortando todo o país ao longo de sua extensão.

Eles seguiram por uma estrada de terra batida margeada por árvores grandes e frondosas que sombreavam o trajeto vez ou outra, filtrando com suas copas vigorosas o sol dourado que ardia logo acima, e chegaram ao primeiro vilarejo por volta do meio-dia, quando o sol estava a pino.

Era uma vila modesta, situada às margens de um dos inúmeros afluentes do principal rio que cortava seu território, e que subsistia da agricultura e do artesanato. As casinhas de madeira e telhado de junco estavam espalhadas ao longo de um dos baixios.

— Por que começarmos pelo País do Rio, Sasuke-kun? — Sakura perguntou assim que eles se abasteceram com suprimentos suficientes para, pelo menos, uma semana.

Sasuke a olhou de viés, mas o olhar foi breve demais — e algo lhe dizia —, significativo demais. Diferentemente da noite passada, eles dormiriam agora ao relento, por isso retomaram a estrada de terra batida visando distanciarem-se da vila para procurar por uma clareira ou por uma caverna — dependeria das condições climáticas — para montar acampamento.

— Eu estive em Takumigakure durante a minha jornada de redenção, há mais de um ano, com um único propósito — ele respondeu por fim.

Sakura se lembrou da conversa que tiveram na tarde do dia anterior com um estalo e instantaneamente a relacionou com a frase dele.

— Você quer dizer aquela coleta de informações a respeito de Kaguya e do clã Ōtsutsuki?

Surpreendentemente, ele aquiesceu, mas o fez com um súbito ar soturno.

— Foi aqui que obtive as primeiras pistas que me levaram, depois, às primeiras informações concretas que obtive.

— Entendo — Sakura anuiu com um semblante contemplativo; ponderava as palavras e, até mesmo, as atitudes enigmáticas do esposo.

De todo modo, logo eles haviam se infiltrado na floresta para encontrar um bom lugar para pernoitarem e o assunto pareceu haver sido encerrado. Acharam o local perfeito quase um quilômetro adiante, uma pequena clareira, cercada por bordos imensos cujas copas vistosas se perdiam de vista e com flores minúsculas de madressilva crescendo entre a relva. A alguns metros dali, um regato cristalino fluía por entre os calhaus.

Vagando em torno da clareira a fim de recolher ervas e lenha, Sakura aproveitou uma pequena pausa para encher seu cantil e umedecer as faces e o pescoço. Estava inacreditavelmente abafado ali na floresta, mas ela não tinha dúvida de que, ao cair da noite, as temperaturas despencariam bruscamente.

Quando voltou à clareira, encontrou Sasuke ajoelhado junto a um princípio de fogueira que ele havia acendido com seu katon e se aproximou para colocar os gravetos e alimentar o fogo. Em certo ponto, desprendeu o fecho de sua capa, pois continuava abafado no interior da floresta, e começou a preparar o almoço de ambos.

Não era a primeira vez que ela e Sasuke trabalhavam em conjunto para preparar uma refeição e essa simples constatação remeteu-a um passado não tão longínquo, mas que a fazia sentir como se tivesse sido vivido em outra vida.

— Você se lembra do exame Chūnin? — perguntou, levantando os olhos para fitar o rosto dele, iluminado pelas chamas suaves do fogo.

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— Como poderia esquecer — ele, em parte, respondeu e, em parte, resmungou com um tom leve, como se apreciasse uma piada interna.

— Foram dias intermináveis e noites ainda mais longas — suspirou enquanto observava os suprimentos que compraram serem gradualmente cozidos pelo calor das chamas.

Então, sua voz esmoreceu e ela abaixou os olhos, evitando o olhar dele quando sussurrou as próximas palavras:

— Acho que, naqueles dias, me aproximei de você como não havia conseguido até então... Ou pelo menos, acreditei nisso — gesticulou com uma mão como que para descartar o pensamento.

Afastou-se da fogueira e não esperava que Sasuke a seguisse, mas ele o fez. Tocou-a no ombro, gentilmente, e deixou que ele a virasse para si, para que pudesse encontrar seu olhar fugidio e acanhado. Sakura sentiu a pressão dos dedos dele em sua pele aumentar conforme o passado era evocado e trazido à tona.

— O que você fez por mim, Sakura — disse com entonação profunda e ela soube que ele falava a sério —, eu nunca pude dizer o quanto significou para mim. Não estou me referindo apenas a ter protegido a mim e ao Dobe.

Sasuke subiu o toque do ombro dela até ter roçado os dedos nas pontas do cabelo curto dela, enfatizando que se referia ao episódio em que ela própria sacrificou sua vaidade para protegê-los.

— Mas então... — ela suspirou, mas ele se curvou de forma inesperada e pressionou a face contra a dela; a pele dele estava quente contra a sua, quase febril.

— Você fez algo muito importante por mim, Sakura, me ajudou a lidar com a dor e com o medo quando eu mais precisei.

Lembrava-se do ocorrido: do medo que ela própria sentiu depois que Sasuke foi ferido por Orochimaru e de como o aperto dos dedos dele nos seus parecera quase doloroso. Lembrava-se com ainda mais pavor dos gritos de Sasuke e de como eles só cessaram depois que ela o trouxe para os seus braços, incapaz de fazer outra coisa por ele que não fosse oferecê-lo conforto e amor.

— Eu não pude fazer nada por você naquela época — ela se afastou de repente com um sentimento contrito corroendo seu olhar, desgostosa consigo mesma e por sua incapacidade de ajudá-lo na ocasião, como seria capaz de ajudá-lo hoje.

Mas, para a sua surpresa, Sasuke a trouxe para perto mais uma vez.

— Você fez — assegurou com uma convicção tão firme que não abria espaço para mais questionamentos. — Acredite em mim quando eu digo que você fez, Sakura.

Depois de quase um minuto em silêncio, ouvindo o retumbar do seu coração no peito, ele acrescentou num tom tão suave que a comoveu:

— Você faz isso até hoje.

Então, compreendeu: ela o amou até o fim, perseverou com esperança e compaixão, e isso era tudo o que ele precisava. O que ele sempre precisou.