As Máscaras de Sakura

Primeira Fase: A Máscara de Lümina


POV: Uchiha Sasuke

Depois de tantas desventuras, enfim eu iria voltar para Konoha. Em menos de cinco horas estaria deixando Nova York para trás. Ainda estava de madrugada e todos os outros dormiam. Eu havia saído do alojamento para uma caminhada depois de horas de insônia. Sentia-me sufocado. Havia uma agonia inexplicável em meu peito. Precisava de um escape.

Minha cabeça estava um turbilhão. Eu sentia como se tivesse que gritar.

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Caminhei sem rumo pelas ruas de Nova York em plena madrugada munido apenas do meu violão.

Não havia muitas pessoas na rua e eu sabia que era perigoso – Nova York não era a pacata Konoha, sabia disso. Mas não me importava.

Acabei parando em uma praça quase que vazia. Havia um casal e um grupo de amigos ali, mas eu os ignorei e segui para uma parte mais afastada, onde não pudesse vê-los.

Sentei-me encostado ao tronco de uma das árvores de lá e tentei conseguir alguma paz. Não consegui.

Peguei meu violão e toquei as cordas tão fortemente que não sei como não quebraram. Mesmo assim, a maldita agonia não passava.

Como eu poderia ficar bem depois de tudo que acontecera?

Era tanta coisa que a minha cabeça nem ao menos sabia pelo que lamentar. Tudo virava um turbilhão que estava prestes a me deixar louco.

E a razão daquilo tinha nome e sobrenome: Haruno Sakura.

Ela que foi minha sombra por dez anos inteiros. Ela que levou um tiro por mim, me amou, me levou numa aventura louca e me beijou. Ela que agora dizia adeus.

Minha vontade era arrastá-la comigo de volta pra Konoha, mas eu sabia que não tinha o direito.

Nunca havia realmente percebido o quanto havia magoado Sakura. Também não havia percebido o quanto ela podia me magoar.

Não estava conseguindo lidar e não sabia como seria minha vida sem a presença dela. Como isso podia ser pior do que ficar sem Itachi? Eu não conseguia entender. Mesmo quando Itachi nos deixou para trás não me senti assim. Naquele tempo eu me senti traído, revoltado e triste. Mas nem se compara a tudo que sinto agora. Não conseguia mesmo entender.

Talvez seja porque por dez anos Sakura fez parte do meu dia-a-dia. Nem me recordo do tempo em que ela não estava grudada em mim. Vê-la me deixar era doloroso. Era como se eu tivesse perdendo uma parte importante de mim, como quem perde um braço, ou uma perna.

Eu costumava pensar em Sakura como sendo a irmã mais nova que não tive. Mas quem é que beija a irmã daquele jeito?

Aquele beijo...

Naquele momento eu amei Sakura. Eu a amei do jeito que ela sempre quis que eu a amasse. Só por aquele momento, naquele beijo apaixonado. Foi como se meu coração explodisse. Eu tive que dar tudo de mim para conseguir deixá-la ir. E eu tive que deixar, porque não podia oferecer a Sakura um amor de momentos ou meus sentimentos confusos que nem ao menos sabem o que realmente são. Não. Sakura não merecia isso. Ela merecia muito mais. Merecia alguém que pudesse lhe dar um amor completo.

Os últimos eventos podem ter bagunçado um pouco a minha cabeça e os meus sentimentos, mas ela ainda era como minha irmã. Não era?

[Running Low — Shawn Mendes]

A semana está no final, eu estou pegando a estrada

Eu começo a ficar sem esperanças

Eu deveria ter ligado, mas apenas sentei ao lado do meu telefone

Apenas saiba que requer muito de mim deixar você aqui, querida

A brisa noturna balançava levemente meus cabelos. O clima frio era um tanto incômodo, mas combinava com o meu humor. Mesmo que não mudasse nada, cantar aquela música começava a me trazer um certo tipo de alívio.

E eu sei que você vai encontrar alguém que te dê o tempo que eu não dei

Eu estou acabado

Sinto muito, mas eu tenho que ir

Wo-ah

E pode ser eu quem nunca tenha sentido

Você me deu algo tão real

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Eu estou acabado

Sinto muito, mas eu tenho que ir

Wo-ah, wo-ah

Wo-ah, wo-ah

Eu cantava como se Sakura pudesse me ouvir. Queria, com todo meu coração, a felicidade dela, mesmo que fosse encontrando o amor nos braços de outro garoto – alguém que pudesse lhe dar tudo que eu não pude, que a amasse por completo. Ela merecia isso. Merecia mais do que eu tinha a oferecer. Merecia um amor correspondido.

Pensando em todas as noites em que só ficamos na companhia um do outro por um tempo

E quando eu olhei em seus olhos...

Nunca pensei que diria adeus

Apenas saiba que requer muito de mim te deixar aqui, querida

Se alguém me dissesse há alguns meses que Sakura me diria adeus, eu provavelmente riria de tão absurdo que isso soava. Mas agora isso era nada menos que a realidade. Parecia um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Se aquele mesmo alguém também dissesse que eu ficaria tão abalado, eu provavelmente o chamaria de louco, já que nem Itachi tinha me ferido tanto. Eu simplesmente não fazia ideia.

E eu sei que você vai encontrar alguém que te dê o tempo que eu não dei

Eu estou acabado

Sinto muito, mas eu tenho que ir

Wo-ah

E pode ser eu quem nunca tenha sentido

Você me deu algo tão real

Eu estou acabado

Sinto muito, mas eu tenho que ir

O que acabava comigo era o fato de eu ser o causador de tanta dor em Sakura. Sem ter noção, sem perceber, machuquei-a e quebrei seu coração. Foram tantas coisas não ditas, da minha parte e da dela, e mágoas guardadas um do outro até que atingimos o ponto de ruptura. Chegamos no limite. E agora precisávamos seguir caminhos diferentes.

Apenas preciso de tempo para encontrar a mim mesmo

Mas eu prometo que alguém que te dará tudo que você quer

Pode te dar tudo que você precisa

E você só tem que ver

Eu nunca quis te machucar, não

As atitudes de Sakura eram tão infantis que me impediam de ver o quanto estava a machucando. Eu ficava com raiva porque achava que ela me via como uma propriedade e porque ela saía fazendo besteira sem nem se preocupar com o que eu sentiria. Sakura agia como se eu fosse obrigado a gostar dela, namorar com ela, como se eu não tivesse minhas próprias vontades e emoções. E cada vez que eu falava sobre isso, ela simplesmente não me escutava, não ligava. Pesando tudo, naquela época eu nunca conseguiria imaginar o quão forte eram seus sentimentos e o quão ferido seu coração estava. Talvez tenha sido uma falta de comunicação, ou de interpretação. Talvez tenha sido o sorriso dela que mascarou tudo. Talvez eu nunca saiba a resposta.

E eu sei que você vai encontrar alguém que te dá o tempo que eu não dei

Eu estou acabado

Sinto muito, mas eu tenho que ir

Wo-ah

E pode ser eu quem nunca tenha sentido

Você me deu algo tão real

Sinto muito, mas eu tenho que ir

Se eu tivesse percebido a verdade dos sentimentos de Sakura antes, tudo poderia ter sido diferente. Quem sabe se o meu coração fosse movido mais cedo, eu poderia ter me apaixonado por ela. Agora, no entanto, sentia como se fosse tarde demais até mesmo para ter esses pensamentos. Eu não tinha como voltar no tempo.

Quando terminei a canção, permaneci encostado na árvore, agora, porém, sentindo-me um pouco aliviado. Expressar-me através da música era meu único conforto.

Hesitei antes de voltar ao alojamento, mas com tudo que aconteceu recentemente, a última coisa que eu queria era preocupar meus amigos de novo, então era melhor voltar antes que eles acordassem.

Eu me sentia um pouco melhor do que quando saíra, e, por agora, era o que me bastava. Apesar de tudo, eu ainda tinha minha música, que era o meu escape e a única que nunca me abandonaria.

*

*

*

POV: Haruno Sakura

Hoje era o dia que meus amigos voltariam para Konoha.

Dentro de mim eu sabia que o tempo nunca conseguiria apagar Sasuke-kun de mim. Ele foi tão importante na minha vida que eu sentia que não importava para onde eu fosse sempre carregaria resquícios dele comigo. Mas eu já tinha chegado no meu limite. Precisava seguir em frente, mesmo sabendo que nunca mais seria a mesma.

Parte de mim sempre pertenceria ao Uchiha. Não há nada que eu ou qualquer outra pessoa possa fazer para mudar isso. Entretanto, eu precisava seguir com a minha vida, precisava tirar o Uchiha dos meus pensamentos e fazer as escolhas que são melhores para mim, precisava me conhecer melhor e gostar mais de mim, porque quando olho para trás, não gosto nem um pouco do que eu era. Não gosto de lembrar que o meu dia começava, seguia e terminava baseado em Sasuke-kun. Há tanta coisa nesse mundo que eu quero – e preciso – ver. Somente agora eu percebia que nenhuma delas se encontrava ao lado dele. Já vi o que sou ao seu redor – e não gostei.

Apesar da melancolia em meu peito, sentia um certo novo vigor dentro de mim, ansiosa pelo que o futuro me guardava. Era uma nova vida, e uma nova Sakura.

Mas eu ainda tinha despedidas para fazer.

Entrei na lanchonete do aeroporto, onde havia marcado de encontrar meus amigos.

Assim que cheguei pude vê-los reunidos numa mesa mais ao fundo, de onde chamaram meu nome e acenaram.

Todos estavam ali, com a exceção de Sasuke-kun.

“Oi.” Disse, sentando-me ao lado de Neji. “Demorei?”

“Não muito.” Tenten respondeu.

“O Sasuke disse que houve um problema com a mala dele e teve que ir resolver, por isso não está aqui.” Shikamaru falou, mesmo que eu não tivesse perguntado.

Podia apostar que esse tal problema havia sido uma desculpa que Sasuke-kun encontrara para não ter que vir ao meu encontro. As lembranças de tudo que aconteceu eram muito recentes e difíceis de lidar, então eu não o culpava. Sasuke-kun não fingia como eu. Ele não conseguiria sentar aqui na minha frente, ao lado de sua namorada e fingir que nada aconteceu. E para mim, era um grande alívio que ele não tivesse vindo. Seria muito difícil lidar com a presença dele naquele momento.

“Eu ainda não estou acreditando que você vai ficar, Sakura-chan.” Naruto fez bico.

“Eu acho que é o melhor para mim, Naruto.” Respondi. “Vou ter boas oportunidades aqui.”

“Mesmo assim...” O loiro balançou a cabeça. “Sem você vai ser tão... Incompleto.”

“Sim.” Hinata concordou. “Vai ser muito esquisito voltar para Konoha sem você.”

Sorri para eles. “Não é como se eu estivesse abandonando vocês para sempre.”

“E quando você pretende voltar?” Ino perguntou.

Olhei para a Yamanaka, mas não consegui manter contato visual. Não era como se eu não soubesse que o que fiz com ela foi errado – eu tinha plena consciência disso. Quando saí com Sasuke-kun, Ino era a menor de minhas preocupações, mas agora eu sentia uma pontada de culpa cada vez que a olhava. Sendo quais fossem as circunstâncias, a verdade era que eu havia beijado o namorado dela. Sabia que era errado e injusto, mas não me importei. E mesmo agora, com o sentimento de culpa, ainda faria o mesmo. E isso só fazia ser mais difícil encará-la.

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“Em breve, espero.” Respondi, somente.

Ino acenou com a cabeça.

Naruto começou a tagarelar em seguida. Ele era a pessoa que mantinha o grupo unido, com seu jeito brilhante e engraçado. Mesmo quando estávamos passando por dificuldades, o Uzumaki dava um jeito de nos trazer um pouco luz. Eu já podia sentir uma pontada de saudades dele, mas me esforcei para não pensar muito nisso, caso contrário teria que me controlar para não chorar.

Conversávamos sobre assuntos aleatórios, rindo de vez em quando. Ninguém ousava trazer à mesa os assuntos pesados, por assim dizer. Tantas coisas ruins aconteceram com a gente nessa viagem, desde a sabotagem com a 3P até o fatídico sequestro, de modo que eu ficava grata de poder me despedir de meus amigos com uma leve conversa trivial.

No entanto, eu podia sentir Neji ao meu lado um tanto cabisbaixo. Ele era naturalmente quieto e reservado, mas algo no seu olhar me dizia que havia algo errado.

Cutuquei-o no braço e ele me olhou. “Tudo bem?” Perguntei.

Ele deu um sorriso mínimo, assentindo com a cabeça, depois voltou sua atenção para o seu copo de suco quase vazio.

Definitivamente tinha alguma coisa o aborrecendo, mas eu não iria insistir, porque não adiantaria. Neji só iria falar quando e se quisesse. Então eu só dei tapinhas no seu ombro, em sinal de compreensão.

Percebi que Tenten nos observava atenciosamente. Ela desviou os olhos para Hinata quando notou que foi flagrada por mim. Sorri, compreendendo mais do que ela gostaria que eu compreendesse.

Sendo Neji um cara tão observador, perguntava-me se ele notara os sentimentos de Tenten. Ela era uma garota durona e morria negando seu interesse no Hyuuga, mas a mim ela não enganava. Por mais que se esforçasse para disfarçar, seus olhos ganhavam um brilho diferente cada vez que viam Neji – e isso não era de hoje. Entretanto, ela era orgulhosa demais para dar o primeiro passo e ele, reservado demais. Ah, era uma pena que eu não fosse acompanhar o desenrolar dessa história.

Mais cedo do que eu previra, escutamos a primeira chamada para o embarque do voo de meus amigos para Tokyo. Meu coração ficou pequeno.

“Melhor a gente ir logo.” Shikamaru falou. “O Sasuke mandou mensagem dizendo que já está nos esperando na entrada.”

Assenti e nos levantamos da mesa. Hinata abraçou-me pela cintura enquanto saíamos da lanchonete. Ela era tão carinhosa. Parecia uma princesa com sua beleza e educação. Era tímida, mas possuía um coração tão forte quanto aço. Envolvi meu braço em seus ombros, desejando ter tido um pouco mais de tempo com ela. Só Deus sabia quando eu a veria de novo.

Ao nos aproximarmos da entrada que eu não poderia ultrapassar, avistei Sasuke-kun nos esperando.

Nossos olhares se cruzaram e uma pontada em meu peito enviou choque por todo o meu corpo. Ele fez um pequeno aceno com a cabeça que eu retribuí com um pequeno sorriso. Há poucos dias estávamos invadindo um cruzeiro, dançando ao som de Matchbox Twenty e nos beijando apaixonadamente. Agora, no entanto, parecia que havia uma barreira intransponível e uma distância colossal entre nós, ainda que estivéssemos apenas há alguns passos um do outro.

Era doído, apertava minha garganta e machucava meu coração. Eu tinha vontade de correr para os seus braços e dizer que permaneceria ao seu lado como sempre fiz. Mas a minha decisão já estava tomada e eu não voltaria atrás. Estava fazendo isso por mim.

Lembrei-me, inusitadamente, de uma canção que escrevi meses atrás – que mais pareciam anos –, no mesmo dia em que Sasuke-kun escreveu Tenerife Sea para Ino. Aqui Estarei, era o nome da música. Nela escrevi que iria seguir e ficar sempre ao lado do Uchiha, até que o mundo mudasse e girasse ao contrário. O que, na época, eu não imaginava, era que, de fato, meu mundo mudaria e giraria ao contrário. Completamente. Sendo assim, por mais que quase me sufocasse de dor, eu não estaria mais lá, ao lado dele.

Por isso, ao invés de correr para os seus braços, eu apenas sorri, como sempre.

“Sakura-chan, eu vou morrer de saudades!” Naruto roubou minha atenção. Quando eu o olhei, ele estava com a expressão emburrada. “Não sei se vou me acostumar sem você por perto, dattebayo! Então trate de voltar logo!”

Sorri abertamente para meu amigo engraçado e avoado. Surpreendi-o ao tomar a iniciativa de abraçá-lo.

“Sakura-chan me abraçando primeiro?” Ele disse, envolvendo seus braços ao meu redor tão fortemente que poderia achar que estava sendo abraçada por um urso. “Os costumes americanos já estão te infectando?” Ele gargalhou.

“Idiota!” Dei-lhe um tapa no ombro. “Vou sentir sua falta.” Falei, antes de soltá-lo. O sorriso brilhante em seu rosto não combinava com seus olhos cabisbaixos. Desviei o olhar para não ter vontade de chorar.

“Cuide-se.” Shikamaru deu um passo para perto de mim. “Se quiser voltar e não tiver dinheiro nos peça ajuda que vamos dar um jeito de arranjar a passagem.” Falou, deixando-me tocada. Era tão típico dele tentar solucionar os problemas dos outros. Estava sempre antecipando problemas, prevenindo e remediando quando eram inevitáveis. Ha! E ainda diziam que ele era preguiçoso!

Abracei Shikamaru um tanto desajeitadamente, no que ele correspondeu mais desajeitadamente ainda. Acho que era a primeira vez que eu o abraçava – ou pelo menos não lembrava de alguma outra vez.

“Você está começando a me assustar com tantos abraços.” Tenten disse assim que soltei Shikamaru. Apesar de suas palavras, ela se agarrou ao meu pescoço.

“Eu sei que meu temperamento é horrível e que muitas vezes falei coisas ruins, mas eu amo você.” Ela disse, de repente, pegando-me completamente desprevenida. Seu abraço ficou mais apertado. “Eu fiquei com tanto, tanto medo de que você fosse morrer!” A voz dela estava chorosa. Dessa vez permiti que as lágrimas viessem aos meus olhos.

Era primeira vez que Tenten me dizia esse tipo de coisa e eu nunca esperaria ouvir dela, na verdade. Não porque eu duvidasse, mas porque eu a conhecia muito bem para saber que ela era turrona demais para falar de sentimentos – ou admiti-los. Às vezes eu achava que Tenten era até bem parecida comigo, por causa dos seus constantes disfarces, ainda que aparentemente fôssemos opostos. Eu não era a única garota que tinha máscaras. Era como se Tenten tivesse uma barreira ao seu redor e atacava todo mundo com sua acidez e gênio forte cada vez que alguém tentava chegar perto demais.

Então, sim, de fato eu estava surpresa, mas meu coração machucado recebeu um alento graças a ela.

“Eu sei, Ten-chan.” Falei, afagando suas costas. “Também amo você.”

Era um pouco desconfortável para mim dizer tais palavras, e eu nunca as havia dito para Tenten, por mais verdade que fossem. No entanto eu sabia que também era desconfortável para ela, já que nós duas tínhamos dificuldades para nos abrir. Mesmo assim ela foi capaz de me dizer então eu também era.

“Ok, chega de sentimentalismo.” Tenten enxugou os olhos, se afastando de mim. “Nem estou me reconhecendo, eca.”

Sorri. Essa era a Tenten que eu conhecia.

Dei-lhe um beijo estalado na bochecha que fez ela pular para trás.

“Credo! Eca, eca, eca!” Ela passou a mão no rosto apressadamente, fingindo cara de desgosto.

“Esse é o primeiro beijo que a Tenten recebe na vida que não é da mãe!” Naruto zombou, rindo.

Todos nós rimos dela, que bufou, virando o rosto.

Hinata veio me abraçar em seguida. “Eu queria muito que você voltasse com a gente, mas já que escolheu ficar, desejo muita sorte a você, Sakura-chan!”

Recebi a gentileza de Hinata com gratidão. Deus, como eu sentiria a falta dela!

Ino me olhou com receio antes de vir se despedir.

“Tem tanta coisa que eu não entendo.” Ela disse. “Aconteceu tanta coisa e parece que eu nem te conheço mais. Parece que eu perdi uma amiga preciosa.” Tanto os olhos dela como os meus se encheram de lágrimas.

“Você não me perdeu, Ino.” Coloquei uma mão em seu ombro. Era difícil falar com o nó na minha garganta. “As coisas apenas mudaram... Eu mudei. Mas nosso laço não é algo que se rompe assim.”

“Mas nós estamos por um fio, não é?” Ela perguntou e não ousei negar. “Eu quero resolver as coisas entre nós duas quando você retornar.” Ela disse. “Quero que superemos isso.”

“Eu também.” Falei, com sinceridade, ainda que eu não soubesse quando voltaria.

Abracei Ino como se a barreira entre nós não existisse. Ela também se agarrou em mim por um momento. “Cuide-se, ok?”

“Ok.” Segurei-a por mais um tempo antes de lhe soltar. Não consegui olhar em seus olhos quando o fiz.

“Sakura.” Neji me chamou. Assim que eu me virei em sua direção ele me abraçou.

Nós não costumávamos nos abraçar no Japão por isso não tínhamos muito jeito, mas, surpreendentemente, o abraço do Hyuuga não me causou nenhum tipo de estranhamento. Era reconfortante e caloroso. Ele acariciou meus cabelos tão gentilmente, enquanto eu ouvia os sons ritmados do seu coração, que por um breve segundo eu cheguei a esquecer que havia mais pessoas ali. Diferente dos outros, o abraço de Neji se parecia mais com uma despedida.

“Eu sei que eu não vou te ver tão cedo.” Neji disse baixinho no meu ouvido. “Mas não importa o que aconteça, por favor não esqueça da gente. Porque certamente não esqueceremos você.”

As palavras de Neji me deixaram um pouco confusa e me fizeram questionar o quanto ele sabia. De algum modo, o Hyuuga parecia estar um passo à frente e isso era um tanto instigante. Quis lhe dizer que não iria demorar tanto tempo para nos vermos novamente, mas eu sabia que não era bem assim – e, aparentemente, Neji também.

Então eu lhe disse a única coisa da qual eu tinha certeza: “Eu não esqueceria de vocês nem em um milhão anos.”

Ele me abraçou mais forte. “Boa sorte. Sentirei sua falta.”

“Eu também sentirei a sua.” Respondi, com o nó em minha garganta aumentando. “Obrigada por tudo que você fez por mim.”

Neji assentiu com a cabeça e então me soltou. Com um pequeno sorriso, ele se afastou, fazendo meu coração fraquejar. A vontade de pegar aquele avião só aumentava.

Mal tive tempo de me recuperar quando a última pessoa veio se despedir: Sasuke-kun.

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O Uchiha caminhou em minha direção e parou em minha frente. Meu coração latejou. Por que isso era tão difícil? A nossa despedida já havia sido feita, então por que eu tinha que dizer adeus de novo? Já era difícil o suficiente dizer uma vez, por que eu tinha que fazer isso novamente? Eu encerrara esse capítulo – digo, livro –, no entanto era bastante cruel ter que ver Sasuke-kun em minha frente tão pouco tempo depois.

Eu não tinha mais nada a dizer, então, não disse nada. Apenas olhei para seus olhos escuros – dos quais eu nem podia começar a pensar no quanto sentiria falta.

“Até a próxima, Sakura.” Ele disse, simplesmente, quebrando o silêncio.

“Até a próxima, Sasuke-kun.” Respondi, forçando minha voz a sair.

Notei que ele hesitou por um momento – tanto quanto eu – mas findou me abraçando.

Foi um abraço rápido, quase como se não pudéssemos nos abraçar direito ou então não conseguiríamos manter nosso adeus. Controlei meu coração quando Sasuke-kun se afastou, me recusando a deixá-lo me governar. Minha mente repetia que eu só precisava de tempo e distância para me curar como um mantra de consolo.

“Vão logo, ou vocês perderão o voo!” Apressei meus amigos, antes que meu coração vencesse minha razão e eu resolvesse ir com eles.

Todos eles tinham a expressão tristonha, mas assentiram e começaram a se afastar, caminhando em direção à entrada e acenando adeus com as mãos.

Fiquei olhando enquanto eles entravam na fila, mas não fiquei até que entrassem. Com um último aceno, dei-lhes as costas, caminhando para fora dali e sentindo seus olhos em mim a cada passo que eu dava.

Só então eu parei de tentar controlar minhas lágrimas e deixei que caíssem livremente. Eu não fazia ideia de quando os veria novamente e isso era angustiante. Podia ser logo, mas também podia demorar anos. E mesmo quando eu voltasse, as coisas nunca seriam as mesmas. Talvez eles nem me quisessem mais na vida deles se descobrissem o quanto menti e os enganei. Talvez eu merecesse isso. Tudo que eu sabia era que doía. E que eu sentiria a falta de cada um deles.

*

*

*

Kabuto precisou retornar a Konoha, por causa de seus pacientes, então agora eu estava morando na casa de Tsunade e Shizune. Toda a documentação necessária para a minha permanência nos Estados Unidos estava sendo providenciada – e facilitada – pela equipe da Senju. Ela agora seria a minha representante legal. Kabuto funcionava como a ponte entre Tsunade e minha mãe.

Desde que eu saíra do hospital percebi uma coisa que começou a me incomodar: Gaara estava distante. Ele já não era o mesmo comigo, só falava o básico e quase não entrava em contato. Não que ele estivesse me ignorando... Só... Não era o mesmo.

Somando isso à minha recente separação de meus amigos e Sasuke-kun, era claro o motivo de eu não estar conseguindo dormir bem à noite.

Eu me sentia mal e muito sozinha. Depois que Kabuto foi embora era como se eu já não tivesse ninguém ao meu lado. Claro que eu sabia que isso não era verdade, mas era assim que me sentia. Tsunade e Shizune eram um amor, mas elas tinham muitas ocupações e eu não queria me meter mais do que já havia me metido na vida delas.

Sentia muita falta de meus amigos e, principalmente, de Sasuke-kun, mas fora uma escolha que eu fizera e estava conformada. Já sobre Gaara... Sentia a falta dele, mas não foi algo que escolhi e eu não sabia como fazer tudo voltar ao normal. Nem sequer sabia qual era o problema, então como poderia arranjar uma solução?

Uma batida na porta do meu novo quarto me roubou a atenção.

"Pode entrar." Disse.

Tsunade abriu uma fresta, o suficiente para me ver. "Gaara está aqui."

Praticamente pulei da cama, animada. Um sorriso se formou em meus lábios, enquanto seguia Tsunade até a sala.

Gaara estava lindo, como sempre. Eu sentia tanta falta dele que queria abraçá-lo. Talvez assim deixasse de me sentir sozinha.

Ele, no entanto, não parecia tão feliz ao me ver. Cumprimentou-me apenas com um aceno educado, enquanto eu lhe sorri abertamente. Senti-me um pouco mal e meu sorriso morreu.

"Oi, Sakura." Ele disse. "Como você está?"

Tão formal. Nem parecia que éramos amigos próximos.

"Bem." Respondi. Eu sempre respondia que estava bem mesmo...

"Hum." Ele assentiu. "Queria conversar com você."

Minha curiosidade foi atiçada. O ruivo não estava falando muito comigo, então devia ser algo importante para fazê-lo me procurar.

Sentei-me na poltrona em frente ao sofá onde ele estava, com Tsunade e Shizune sentando-se ao seu lado. Devia ser importante mesmo.

"Agora que você resolveu ficar em Nova York, nós precisamos começar a planejar a sua carreira." Shizune tomou a palavra.

Fiquei um pouco surpresa. Esse assunto veio mais cedo do que eu esperava. Eu estava tão concentrada em me sentir sozinha, com saudades de todo mundo que acabei nem focando no real motivo de ter ficado nessa cidade.

"Nós recebemos algumas propostas de gravadoras querendo marcar um horário para conversar com você, Sakura." Tsunade completou.

Senti um frio na barriga. "Isso quer dizer que eles estão interessados em mim?"

"Com certeza." Gaara assentiu. "Mas acho que a gente não precisa se precipitar."

"Exato." Shizune concordou. "A sua imagem não anda muito boa, depois que você 'abandonou' o Soul Talent. Nós precisamos dar um jeito de limpá-la e colocá-la novamente nas graças do público. Como eu posso dizer...? Isso vai aumentar o seu 'passe'."

"Por isso nós três tivemos uma ideia." Tsunade disse.

Eu apenas olhava de um para o outro, prestando total atenção.

"O que você acha de terminar o musical?" Gaara me perguntou.

Pisquei, surpresa. "Terminar o musical? Mas... Como?"

"O Soul Talent já era, mas isso não quer dizer que não possamos apresentar o musical." Gaara disse. "Dessa vez nós vamos ter o tempo que precisarmos e não vamos correr com nada."

"Anunciaremos a apresentação na mídia e tenho certeza de que o público ficará mais que interessado!" Shizune sorriu. "Será a volta da misteriosa Lümina!"

"Podemos dizer que você sofreu um acidente durante os ensaios e por isso teve que abandonar o Soul Talent." Tsunade me olhava com seriedade.

Espera. Foi tudo jogado em cima de mim rápido demais. Eu precisava assimilar.

Não era uma má ideia. Eu tinha muita vontade de apresentar o musical, já que era algo que praticamente me fora arrancado das mãos. E isso ajudaria a limpar minha imagem com o público. Eu sentia como se devesse a eles. Depois de todos os votos, sumi sem nem lhes dar satisfações. Eu estava devendo o musical.

Sem contar que as preparações me ocupariam completamente a cabeça. E talvez até me reaproximasse de Gaara.

Não era mesmo uma má ideia.

"O que nos diz?" Tsunade indagou. "Podemos discutir sobre as gravadoras depois do musical."

"Eu... Gosto da ideia." Sorri. "Quando começamos?"

*

*

*

Dois meses depois

Hoje seria o grande dia.

As preparações finais para o musical estavam a todo vapor. Como o esperado, nos últimos meses não tive tempo para nada que não fosse o espetáculo.

Eu tinha alterado parte do roteiro e mudado algumas músicas. Dessa vez, no entanto, eu não precisei ficar me preocupando com prazos. Tudo tinha ocorrido no meu próprio tempo.

No primeiro mês tudo que fiz foi trabalhar nas músicas, no roteiro e nas danças. Claro, eu tive muita ajuda. As coreografias, por exemplo, eu quase não fiz nada, só disse ao coreógrafo como imaginava os movimentos e ele surgiu com danças muito melhores que as que estavam na minha cabeça.

Todo o processo foi bastante cansativo. Tsunade entrou em contato com os atores/cantores/dançarinos que trabalharam conosco no Soul Talent. Alguns retornaram à equipe, outros já estavam ocupados e precisamos contratar substitutos.

Shizune foi a chefe dos contrarregras – equipe que trabalha com o cenário – e dos figurinistas. Ela estava sempre enlouquecendo nos bastidores, quando um cenário ou peça de roupa não ficava exatamente do jeito que ela queria.

Shizune era extremamente perfeccionista, o oposto de Tsunade, que prezava pela praticidade, preferindo tudo que a fizesse ganhar tempo. Morando com as duas por dois meses ainda me admirava o quão bem elas se davam, mesmo com as diferenças.

Gaara dizia que elas se completavam e que eram a dupla perfeita. Eu não poderia concordar mais.

Falando no Sabaku, ele também estava correndo tanto quanto eu. Todas as músicas que eu fazia passavam pela sua vistoria, e ele mesmo tinha sua parcela de músicas para escrever. Gaara passava o dia pensando em melodias e arranjos. O que não era muito diferente de mim.

A nossa relação, entretanto, permanecia estremecida. Nossas conversas passaram a ser quase que essencialmente profissionais. Machucava e eu sentia a falta dele, porém minha cabeça estava focada no musical e toda vez que eu ficava triste, me afogava em trabalho.

O mesmo servia para a saudade que eu sentia de Sasuke-kun e de meus amigos. Eu não tinha muito tempo de pensar neles, e nem queria. Evitava ligações ao máximo, porque isso tirava o meu foco. E assim eu ia passando.

Se me perguntassem, eu me diria que me sinto recuperada, na medida do possível. Eu estava acostumada e conformada com a ausência deles e focada demais no trabalho para me sentir triste ou sozinha.

Às vezes, entretanto, quando eu deitava a minha cabeça no travesseiro depois de um dia exaustivo, as lembranças vinham e me faziam encolher, mas logo o cansaço ninava meu sono.

O segundo mês foi puramente de ensaio.

Tsunade conseguiu que o musical ganhasse vida num dos maiores teatros de Nova York e praticamente morávamos lá, ensaiando e ensaiando.

Era definitivamente a parte mais difícil. Muitos movimentos, muitas falas e muita música.

Eu estava gostando de atuar, apesar das dificuldades.

Tsunade e Gaara fizeram anúncio na mídia sobre o musical e os ingressos foram esgotados em questão de minutos. Fiquei muito impressionada.

E agora eu estava aqui, vestida de Lümina, com máscara de Lümina em um teatro de assentos lotados. Todos ali para ver o musical que eu ajudei a criar: A Máscara de Lümina.

O nome com certeza chamava a atenção de quem assistiu o Soul Talent e sabia quem eu era, além disso, encaixava-se muito bem com a história. Tsunade aprovou de primeira quando eu o sugeri.

"Cinco minutos!" Um dos contrarregras gritou nos bastidores.

Finalmente! Depois de meses eu finalmente iria conseguir concluir essa etapa que eu precisei pular no passado.

Procurei Gaara com o olhar e ele já estava me encarando.

Ele acenou com a cabeça educadamente e eu apenas o refleti. Quando ele ia parar de me tratar como se eu fosse uma estranha?

Evitei ao máximo que aquilo me atingisse. Não agora! Não agora que eu estou prestei a entrar no palco.

Respirei fundo, fechando os olhos.

Entra na bolha, Sakura, disse a mim mesma.

"Lümina, dirija-se ao palco!"

Entra na bolha!

Meus colegas de trabalho bateram de leve em meus ombros e costas, dizendo-me palavras de incentivo.

Dirigi-me ao palco, como instruído pelo contrarregra.

Fiquei parada no meio do palco de olhos fechados, com somente a enorme cortina vermelha me separando do público. Eu podia ouvir suas vozes, podia ouvi-los me chamando. A energia única que eles transmitiam já começara a acender meu corpo.

Todas as luzes se apagaram indicando o começo do musical. A plateia fez barulho. Eles me chamavam.

Era hora do show.

A cortina subiu e a luz do holofote iluminou a minha figura.

O público gritou em êxtase, mas meus olhos permaneciam fechados.

Quando a primeira nota do piano tocou, eu sabia que era hora de começar a cantar.

[Why Don't I — Sofia Carson]

Eu nunca fui do tipo que sai da zona de conforto

Cada vez que eu tento, tenho medo de me deixar levar

O som do piano acompanhava minha voz na performance intimista. Abri meus olhos lentamente, sentindo cada nota da música.

Não sei porque eu corro

Não sei porque eu me escondo

Nunca deixo saberem o que sinto dentro de mim

Não sei porque estou com medo de agarrar essa chance enquanto ainda estou aqui

O teatro estava lotado e todos os olhos e câmeras estavam focados apenas em mim.

Eu nunca fui do tipo que se liberta

Porque sempre me importei com o que todos pensam de mim

Eu cantava com meu coração. Essa música era parte da minha história, parte de quem eu era.

Não sei porque eu corro

Não sei porque eu me escondo

Nunca deixo saberem o que sinto dentro de mim

Não sei porque estou com medo de agarrar essa chance enquanto ainda estou aqui

De alguma forma eu me sentia um tanto quanto exposta e frágil por cantar algo tão íntimo. Mas era exatamente essa fragilidade que eu precisava demonstrar enquanto performava. Afinal, eu estava ali para contar uma história.

Como um pássaro

Eu estou livre para voar

Abrir minhas asas e seguir com minha vida

Como um pássaro eu estou tão alto

Estou fora da gaiola, é minha vez de brilhar

Como um pássaro

Eu estou livre para voar

Então me diga, me diga...

Por que eu não faço isso?

O holofote se apagou assim que eu terminei de cantar, enquanto o público me ovacionava.

As luzes se acenderam na parte de trás do palco eu me retirei para os bastidores enquanto os outros atores/cantores assumiam o palco.

A equipe de figurino já estava me esperando para que eu trocasse meu vestido azul por camiseta e calça jeans.

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No palco os atores interpretavam uma cena onde o personagem de Andrew era introduzido.

A história se passava em uma escola de música, onde Andrew era um dos alunos mais populares. Lümina era a filha de uma amarga professora de piano que a pressionava para que também se tornasse uma pianista. No entanto, o que Lümina queria de verdade era cantar, mas a mãe só aceitava que a filha tocasse piano e, por isso, Lümina reprimia seus próprios sonhos para realizar os da mãe.

Até que um dia o personagem de Gaara descobria o talento de Lümina e os dois se aproximavam.

Qualquer semelhança com a realidade não era mera coincidência. O musical tinha certa inspiração em minha vida, porque por mais que a história tivesse um contexto diferente, ainda eram as minhas músicas que estavam sendo cantadas.

A máscara que eu usava era como um personagem também. Representava a invisibilidade, o fato de ninguém enxergar ou conhecer Lümina de verdade e sua tentativa de se esconder do mundo.

Voltei ao palco para interpretar a cena em que Andrew e Lümina conversavam amigavelmente, sem que ele, no entanto, notasse os sentimentos dela. Na história que escrevi para o musical, a garota não corria desesperadamente atrás do garoto. Ao invés disso ela escondia seus sentimentos, assim como fazia com todas as outras coisas – talvez porque fosse assim que eu gostaria de ter agido com Sasuke-kun.

A cena terminava com Andrew indo em direção a outra garota e Lümina – eu – com expressão de coração partido.

E então as luzes diminuíram para mais um número musical.

[See Through Me — Keara Graves]

Pensando no dia em que nos conhecemos

A maneira como você me fez sentir e como você sorriu

O que eu não daria para ser mais?

Para ser alguém que você segura em seus braços e adora

A música tocava cada parte do meu ser, por significar tanto para mim.

Olhe em meus olhos

Veja o que você significa para mim

Sinta a batida do meu coração

Eu preciso acreditar que

Eu poderia caminhar por um amor em chamas

Mas ainda assim você não sentiria o calor...

Sentiria o calor que queima em mim

Porque você vê através de mim

Não era uma música nova, escrita exclusivamente para o musical. Não. Essa música eu havia escrito há algum tempo, quando ainda estava em Konoha.

Você sempre sabe exatamente o que dizer

Para me atrair antes de se afastar

Mas eu não quero passar por isso de novo

Fingir que está tudo bem em sermos só amigos

Eu sabia que o público podia sentir a verdade com a qual eu cantava a música, ainda que eu estivesse de máscara. Havia lágrima em minha voz.

Olhe em meus olhos

Veja o que você significa para mim

Sinta a batida do meu coração

Eu preciso acreditar que

Eu poderia caminhar por um amor em chamas

Mas ainda assim você não sentiria o calor...

Sentiria o calor que queima em mim

Porque você vê através de mim

Eu poderia caminhar por um amor em chamas

Terminei a música dando um rápido olhar para algumas garotas na primeira fila do teatro que estavam chorando. Talvez elas se identificassem com a letra. Eu sabia que não era a única a ter sofrido com um amor não correspondido. Os mais velhos diziam que todo mundo passa por isso nem que seja uma vez na vida.

Saí do palco sob aplausos da plateia.

Era hora da cena introdutória de Gaara. Na história do musical, ele era o aluno mais respeitado da escola, por possuir carreira musical consolidada e muita fama – não diferente da vida real.

A batida da música começou. Na cena, os alunos tinham sua atenção roubada por Gaara, assim que ele surgia no topo as escadas do cenário. A plateia do teatro foi ao delírio com sua aparição.

Cada pessoa naquele lugar o admirava.

[Heavy — Empire, Jussie Smollett]

Todos saúdem o rei— Um dos atores que interpretava um aluno da escola falou.

E então Gaara começou a cantar, descendo as escadas, como um verdadeiro rei.

Eles dizem: pesada é a cabeça que usa uma coroa

Eles dizem: pesada é a cabeça que usa uma coroa

Hey, eles dizem: pesada é a cabeça que usa uma coroa

Sempre costumava pensar que isso era apenas uma maldita desculpa

Algo que os fracos dizem porque eles não poderiam ter uma

Mas agora que eu a uso, eu sei que essa merda é verdade

(Sem reclamar, no entanto)

Na cena, todos o olhavam com veneração e pareciam intimidados com sua presença. Os alunos faziam o número musical acompanhando a história e a batida envolvente e forte da música.

Papai criou um soldado, ele sabendo disso ou não

A dor que me foi fornecida eu pus na música e a tornei quente

Costas fortes, ombros fortes

Porque eu estou aguentando bastante

Estou suportando essa barra ao mesmo tempo que eu estou no topo

Nos bastidores eu quase prendia minha respiração enquanto o assistia, não queria nem ao menos piscar. Obviamente eu tinha visto a cena nos ensaios, mas era diferente. O sentimento era diferente. Nos ensaios fazíamos tudo meio que mecanicamente, para que não ocorressem falhas. Mas agora havia um poder em cada palavra e movimento de Gaara que não estava presente nos ensaios e que me arrepiou.

E eu me recuso a decepcionar o meu pessoal

Eu sou o chefe, eu sou o líder

Droga, eu sou a liderança

Mesmo que eu esteja começando a sentir o real peso desta coroa

Não só a coroa

Estou sentindo como se todo este maldito reino estivesse sentado sobre mim, yeah

(Sentado sobre mim, sentado sobre mim)

Sentado, sentado sobre mim

(Sentado sobre mim)

Sentindo todo este maldito reino sentado sobre mim, yeah

(Oh, sentado sobre mim)

E eu vou carregá-lo nas minhas costas até a vitória

(Sentado sobre mim)

Mesmo que esse maldito reino esteja sentado sobre mim

(Oh, pesado)

Eu estava encantada. Por causa da convivência e proximidade com Gaara, às vezes eu esquecia o quão fenomenal ele era no palco. Havia poder e verdade emanando de cada poro de seu corpo. E por mais próximos que fôssemos, naquele momento me ele pareceu ser intocável. Como um verdadeiro rei.

Cabeças nas minhas mãos são mais frequentes

Eu tenho que garantir que meu império inteiro esteja se alimentando

Você não pode explicar a derrota para alguém que nunca foi derrotado

Então isso significa não se render e não recuar

Gaara cantava com tanta verdade que eu sabia que cada palavra daquela música importava para ele. Ele mesmo tinha a escrito, então eu sabia que, assim como eu, ele também colocava um pouco da sua própria história nas músicas desse musical.

Tudo depende de mim (Hey)

Todo mundo está se perguntando o que vai acontecer (Hey)

Ele vai falhar? Ele vai ser um sucesso?

Todo mundo continua assistindo, assistindo

Não acredito, eu vou mostrar ao mundo

Eu sou forte (eu sou forte)

E eu estou aguentando bastante

Estou suportando essa barra ao mesmo tempo que eu estou no topo

A letra daquela canção me fez perceber o peso que Gaara carregava – não era como se eu não tivesse ouvido a música antes, mas foi a primeira vez que eu realmente prestei atenção, já que antes meu foco estava nas minhas próprias cenas. Havia pessoas que dependiam do trabalho de Gaara. Tsunade e Shizune, por exemplo. E a família de Gaara que eu não sabia muito sobre, mas tinha conhecimento que hoje eram todos bancados por ele. Mesmo o trabalho que alguns deles arranjavam era por influência do ruivo. Disso eu sabia. E havia também o peso da fama, que causara alguns problemas na vida do Sabaku – como os boatos mentirosos, sua imagem de Demônio Adolescente, as confusões e assédio de fãs e paparazzis.

Mas, realmente, eu não sabia muito. A realização disso me causou um certo desconforto. Gaara estava sempre me apoiando, mas ele não se apoiava nem um pouco em mim. Essas preocupações que ele cantava na música não era algo que ele tivesse me dito antes.

E eu me recuso a decepcionar o meu pessoal

Eu sou o chefe, eu sou o líder

Droga, eu sou a liderança

Mesmo que eu esteja começando a sentir o real peso desta coroa

Não só a coroa

Estou sentindo como se todo este maldito reino estivesse sentado sobre mim, yeah

(Sentado sobre mim, sentado sobre mim)

Sentado, sentado sobre mim

(Sentado sobre mim)

Sentindo todo este maldito reino sentado sobre mim, yeah

(Oh, sentado sobre mim)

E eu vou carregá-lo nas minhas costas até a vitória

(Sentado sobre mim)

Mesmo que esse maldito reino esteja sentado sobre mim

A coroa era sua fama e o reino eram as pessoas que dependiam dele. Compreender aquela canção era o primeiro passo para compreender Gaara. E eu queria compreendê-lo e queria que ele se apoiasse em mim daqui para frente. Eu queria carregar aquele peso junto com ele.

Enquanto Gaara encerrava seu número musical, lembrei da impressão que eu tinha dele antes de o conhecer. Lembro de estar sentada em frente da televisão ouvindo algum repórter chamá-lo de Demônio Adolescente enquanto mostrava as cenas de quando ele agrediu seu empresário. Lembro dos escândalos que Gaara se envolveu. Lembro da acusação de envolvimento com drogas que ele carregava nas costas. Lembro dos xingamentos que Gaara lançava para os paparazzis e de seu comportamento agressivo. Eu lembro também de pensar que ele tinha tudo e estava se destruindo sem motivos.

Mas Gaara era tão diferente do que a mídia mostrava. Claro, ele realmente se metia em muitas encrencas e exagerava nas festas, mas pelo que eu sei, ele estava apenas perdido naquela época. Eu ainda tinha muito claro na minha memória o dia em que ele me entregou a máscara de Lümina e disse que tinha estado procurando alguém que o fizesse se sentir vivo novamente. Lembro de ele me dizendo que me conhecer fez ele redescobrir sua paixão pela música.

O fato, foi que a mídia moldou a imagem do Gaara para algo que não era realmente ele e as pessoas têm a tendência de julgar sem nem ao menos querer saber da verdade que há por trás. Gaara ter batido no empresário, por exemplo... Todo mundo crucificou o menino – inclusive eu, infelizmente – mas a verdade era que o vilão da história era o empresário, que merecia ter apanhado muito mais depois de ter traído a confiança de Gaara e roubado seu dinheiro.

E quanto às outras confusões do ruivo, as pessoas deveriam entender que todo adolescente se mete em encrencas e faz besteiras, ainda mais um que cresceu no mundo de Gaara. Mas quando se trata dele, tudo era aumentado mil vezes. Até uma pequena ventania podia se transformar em um furacão. O que eles não sabiam era que Gaara tinha um coração incrível, de tal maneira que eu queria gritar isso para o mundo inteiro ouvir.

Entretanto, havia muito que eu não sabia ainda. Lembro de ele me dizendo que enquanto estava perdido tinha feito coisas das quais não se sentia orgulhoso. Eu não sabia o que era. Na verdade, nunca perguntei.

Talvez fosse porque antes eu estivesse fechada para Gaara, mas agora queria saber tudo sobre ele. Cada detalhe, cada luta, cada vitória, cada sofrimento, angústia, frustração e também cada alegria.

Sim havia uma razão para termos nos conhecido. Não foi acaso, como certa vez eu disse a Gaara ter sido. Eu estava errada e ele estava certo: foi destino.

Agora eu via.

Fiz minha entrada no palco para a primeira cena de Lümina e Gaara juntos.

Eu queria dizer tanta coisa para o ruivo, mas no momento eu era uma personagem.

Eu era boa em atuar. Sempre fingi e escondi sentimentos como ninguém. Sabia como fazer o papel de uma pessoa que eu não era. Mas era diferente ter falas ensaiadas e movimentos programados para fazer. Eu não podia negar que estava nervosa de esquecer algo, apesar de ter ensaiado exaustivamente. Era muito diferente estar no palco na pele de uma personagem, porque mesmo que eu usasse uma máscara e me escondesse atrás da imagem de Lümina, nós éramos a mesma pessoa, os sentimentos que Lümina mostrava ao mundo eram os meus sentimentos mais verdadeiros. Desta vez, no entanto, Lümina não era eu, por mais que houvesse muito de mim nela.

Eu estava atuando. Mas pela primeira vez, isso era algo produtivo.

Na cena, Lümina e Gaara se esbarravam no corredor e tinham uma pequena discussão sobre de quem era a culpa – ou de quem era o mais distraído. Tal cena fora inspirada no dia que Gaara e eu nos conhecemos, no atropelamento. Até hoje culpávamos um ao outro. Sim, eu sabia que a culpa tinha sido mesmo minha, mas nunca admitiria em voz alta. Até porque as minhas 'discussões' sobre isso com Gaara eram cada vez mais cômicas.

Quanto à história de Lümina e Gaara no musical, os dois não se conheciam, mas não iam com a cara um do outro. Decidimos fazer a história assim para demonstrar como tantas vezes as nossas primeiras impressões sobre alguém estão erradas.

A cena terminava com os dois dando as costas e seguindo caminhos opostos, irritados.

Andrew entrou no palco cantando uma canção de amor para a menina por quem estava apaixonado – ah, me fazia lembrar de Tenerife Sea, a música que Sasuke-kun fez para Ino. Ainda doía, mas era quase como uma ferida cicatrizada. Quase.

Gaara fora o responsável pela letra e composição da música.

Andrew era muito talentoso e performou a música com maestria. A menina para quem ele cantava o olhava apaixonada. Ela era versão que eu criara da Ino para o musical, e apesar de ter lhe dado um nome diferente – Sophie –, fiz questão de que atriz tivesse cabelo loiro.

E então chegou a hora de uma das músicas mais importantes. Originalmente eu tinha pretendido performar I'm Not That Girl, a canção que escrevi no dia que notei pela primeira vez os sentimentos de Sasuke-kun e Ino. Mas parte de mim sabia que aquela música era pessoal demais, num nível que eu nunca a mostraria para ninguém. Como uma canção dolorosa e secreta. E então eu encontrei no meio das minhas composições uma música que eu tinha escrito por aquela época. Dei-lhe os retoques finais e fiz dela um dos números mais importantes do musical. Por mais que fosse incrivelmente pessoal, era algo que eu conseguiria mostrar ao público.

Comecei o número musical correndo para o piano e descontando minha raiva nas teclas, resultando em notas raivosas. E então a raiva foi dando lugar à tristeza, me fazendo tocar as primeiras notas – tristes – da minha música.

[That Woman — Baek Ji Young]

Uma garota ama você

Ela te ama com todo seu coração

Todos os dias ela te segue como uma sombra

A garota sorri, mas por dentro está chorando

Eu tinha a impressão que meus sentimentos podiam ser transmitidos a todos que estavam me assistindo de tão forte que eu os sentia.

Por quanto tempo mais eu devo apenas olhar para você, solitária?

Esse amor sem sentido, esse amor infeliz

Se eu continuar com esse sentimento, você irá me amar?

Venha um pouco mais perto, só um pouco

Para cada passo que dou em sua direção, você se afasta dois

Eu, que te amo, mesmo agora estou ao seu lado

A garota está chorando

Levantei do piano e caminhei para o meio de palco, iluminada pelo holofote. Será que a máscara que eu usava era o suficiente para esconder meus sentimentos? Eu me sentia tão exposta, nua. Será que aquelas pessoas podiam ver que nenhuma gota daquilo era atuação? Aquela era eu. Aquela música cantava a história do meu coração.

Aquela garota é muito fechada

Então ela aprendeu a sorrir

Há tanta coisa que ela não pode dizer nem para sua melhor amiga

O coração daquela garota está cheio de lágrimas

Meus segredos, sentimentos verdadeiros e dor e se libertavam através da música. Coisas que eu não seria capaz de dizer ou expressar de outra maneira eram reveladas através do meu canto. A música me tornava livre. Por mais que doesse, por mais que meu coração estivesse ferido, a música me dava alento e esperança de que tudo ia passar.

Por isso a garota te amou... Porque vocês se pareciam

Uma tola, uma tola

Por favor me dê ao menos um abraço antes de me virar as costas

Eu queria ser amada, querido

Era tudo que eu queria

A garota grita, mas apenas em seu coração, apenas em seu coração

Ninguém pode ouvi-la

Mas a garota está do seu lado

Com lágrimas nos olhos encerrei a canção, sendo ovacionada pela plateia.

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Na cena, enquanto Lümina cantava, Gaara estava escondido atrás de uma escada e ouvia tudo – como quando ele me escutou cantando no seu esconderijo na escola. Ele, então, saiu de trás da escada e se aproximou. Respirei fundo e entrei novamente na personagem. Voltei a atuar. Lümina se surpreendia com a chegada de Gaara.

"Isso... Isso... Foi incrível." Ele falou, aproximando-se.

“V-você...” Lümina não terminou a frase, surpresa e assustada demais.

“Eu não sabia desse seu talento.”

“E nem deveria!” Não sabendo como reagir, Lümina fugiu dali o mais rápido que pôde, ignorando os chamados de Gaara. Era o fim da cena.

Na próxima passagem, já era o dia seguinte e o ruivo a esperava na entrada da escola, na tentativa de se aproximar.

“Você não pode esquecer o que viu e me deixar em paz?” Foi o que Lümina lhe disse.

A resposta de Gaara veio em forma de música.

[What You Waiting For — Nickelback]

Você está esperando um raio inesperado?

Você está esperando pela noite perfeita?

Você está esperando até que seja o momento certo?

O que você está esperando?

Gaara começou a cantar, enquanto Lümina cruzou os braços, evitando seu olhar. O resto dos alunos da escola começaram a dançar suas coreografias ensaiadas no fundo do palco.

Você não quer aprender a lidar com o medo?

Você não quer assumir o volante e conduzir?

Você não quer esperar mais um minuto aqui?

O que você está esperando?

O que você está esperando?

Gaara havia escrito a música especialmente para o musical, mas me usara com inspiração. Segundo ele, era o que gostaria de ter me dito na época em que eu escondia minha veia musical a sete chaves.

Você tem que ir e alcançar o topo

Acredite em cada sonho que você tem

Você só vive uma vez, então me diga

O que você está, o que você está esperando?

Você sabe que tem que dar tudo de si

E não tenha medo se você cair

Você só vive uma vez, então me diga

O que você está, o que você está esperando?

Gaara cantava para Lümina com paixão. Eu queria admirá-lo e aplaudi-lo, mas naquele momento eu era uma personagem que queria distância dele, então precisava manter a atuação.

Você está esperando pela melhor desculpa?

Você está esperando por um sinal para escolher?

Enquanto espera, é o tempo que você está perdendo

O que você está esperando?

Você não quer abrir suas asas e voar?

Você não quer realmente viver a sua vida?

Você não quer amar antes de morrer?

O que você está esperando?

Os dançarinos eram um show à parte. Eles davam vida ao palco enquanto Gaara e eu atuávamos. Eu torcia para que aquela música tocasse ao menos uma pessoa, incentivando-a a ter coragem de buscar os próprios sonhos.

Você tem que ir e alcançar o topo

Acredite em cada sonho que você tem

Você só vive uma vez, então me diga?

O que você está, o que você está esperando?

Você sabe que tem que dar tudo de si

E não tenha medo se você cair

Você só vive uma vez, então me diga?

O que você está, o que você está esperando?

A música acabou comigo desviando de Gaara e saindo do palco.

Nas próximas cenas ele fazia de tudo para se aproximar, esperando-a na porta da sala de aula, sentando-se com ela no refeitório e a abordando em cada chance que tinha – nunca se importando com os olhares curiosos dos outros estudantes.

“Eu só queria entender porque você nega tanto seu talento.” Gaara chegou dizendo, ao sentar sem permissão no assento em frente de Lümina no refeitório.

Ela rolou os olhos. “Eu sou uma pianista. E pianistas devem tocar piano, não cantar.’

“Nunca ouvi tanta bobagem.” Bufou. “Você faz muito bem os dois.”

“Vem cá... Por que você não experimenta cuidar da sua vida e me deixar em paz?”

“Ser rude não vai ser o suficiente para me afastar.” Ele sorriu, inabalável. “Desperdiçar um talento como o seu é um pecado imperdoável. E eu vi a paixão com a qual canta. Nunca uma das suas apresentações de piano foi tão poderosa quanto aquilo.”

Os outros estudantes olhavam com curiosidade para a dupla improvável sentada junta no refeitório. Lümina se sentia incomodada.

“Cuide dos seus próprios assuntos!” Vociferou. “As pessoas já estão começando a perceber essa sua perseguição comigo e estão interpretando da maneira errada.”

Gaara olhou em volta. “E daí? Por que você se importa tanto com a opinião dos outros?”

“Não é a opinião dos outros...” Rolou os olhos. “Mas se boatos de que eu estou me misturando com alguém do departamento de Canto e Composição chegam aos ouvidos de minha mãe, eu estou ferrada!”

“Espera...” Ele disse. “Sua mãe, a professora de piano?”

“Sim.”

“Ah, então é por isso?” Perguntou. “Você não canta por causa da sua mãe?”

Lümina rolou os olhos. “Você nunca entenderia.”

“Eu sou bem inteligente, sabe?” Retrucou. “Mais que a maioria.”

Lümina suspirou. “Garoto... Eu não vou cantar e ponto final. Pare de perder tempo comigo.”

“Não sou eu quem está perdendo tempo aqui.” Gaara disse. “Olha... No próximo mês haverá audições para a nova turma do meu departamento. Você deveria participar. Fale com sua mãe. Aposto, que ela vai entender.”

“Você não a conhece. Piano é a única coisa que importa para ela.”

“E você não importa?” Rebateu. “Você é filha dela!”

“Mas nunca senti como se fosse.”

Ao dizer essa frase, pude sentir a dor, porque era tão real. Na minha vida, sempre me achei um peso na vida de minha mãe. Uma inútil que ela gostaria de descartar, mas era obrigada a aguentar por eu ter saído de seu ventre.

O ato seguinte se deu com a interação de Lümina e sua mãe. A atriz que havíamos escalado estava nos seus 40 e também tinha cabelo rosa como o meu, diferente de minha própria mãe, que possuía o cabelo loiro. Ela fazia o papel de uma mulher amarga que impedia a filha de cantar.

Na cena, boatos de que Lümina e Gaara estariam juntos chegam aos ouvidos da mãe, deixando-a furiosa, já que só permitia que a filha conversasse com instrumentistas – como Andrew, que era um flautista – justamente por saber que o verdadeiro sonho de Lümina era o canto, e pensava que se a garota se misturasse com cantores, poderia ser influenciada.

A mãe, então, briga com a filha e exige que ela volte a se concentrar apenas no piano.

“Quando você vai deixar de ser uma vergonha para mim?” A mãe diz, antes de sair.

Lümina fica sozinha, destruída por dentro. Aquelas palavras tinham um peso que ultrapassava a casca de minha personagem. Eu as sentia na pele.

[Good Enough – Empire, Jussie Smollett]

Eu lhe dou tudo de mim

Mas isso ainda não é suficiente para lhe fazer feliz

Eu lhe dou tudo

Ainda não estou à altura, não

Parece que eu andei cinco mil milhas

E nem sequer chegar perto

Parece que eu tento lhe fazer sorrir

Você nem ao menos se importa, não

Iniciei mais um número musical, e meus olhos não demoraram a lagrimar. Rezei para que conseguisse finalizar a música sem minha voz falhar. O problema era que tudo relacionado à minha mãe machucava como o inferno. Era muito pior que ser baleada, porque a dor do tiro passou, deram-me remédios para aliviar o sofrimento até que a ferida cicatrizasse – e cicatrizou. Mas a dor que minha mãe causava em mim simplesmente não sarava, era algo que eu tinha que conviver todos os dias. Não importava o que eu fizesse, ela simplesmente não me queria.

Eu nunca vou grande o suficiente para lhe impressionar

Mas eu continuo tentando

Você só continua me testando

O que eu tenho que fazer?

A única vez que minha mãe não me desprezou foi quando eu fiz o que ela sempre quis que eu fizesse: fui embora. Pensando bem, o abraço que ela me dera no aeroporto devia ter sido um agradecimento por finalmente estar lhe deixando em paz.

Eu só quero que você olhe para mim

Para ver que eu posso merecer o seu amor

Eu só quero que você olhe para mim

E veja que eu posso ser

Boa o suficiente, boa o suficiente, boa o suficiente

E veja que eu posso ser

Boa o suficiente, boa o suficiente

Boa o suficiente, boa o suficiente

Deus, o que eu fiz de errado? O que era tão ruim sobre mim para que eu não merecesse ser amada pela minha própria mãe? Se eu tivesse ao menos um motivo ou uma pista do porquê ela me odiava tanto... Mas eu não tinha nada. Só desprezo.

Eu tento mostrar que eu sou forte

Por que ainda me dou ao trabalho?

Porque é a mesma maldita canção de sempre

E você ainda se chama de mãe

Parece que estou tentando alcançar as estrelas

Mas o céu não está me permitindo

Eu queria ter braços mais longos

Mas eu sei que nunca adiantaria, nunca adiantaria

Eu não havia recebido nem uma ligação sequer. Eu quase morri baleada e nem uma ligação dela eu recebi. Era como se eu nunca pudesse chegar até ela, como se nunca pudesse alcançá-la. Minha própria mãe.

Eu nunca vou ser grande o suficiente para lhe impressionar

Mas eu continuo tentando

Você só continua me testando

O que eu tenho que fazer?

Eu só servia para limpar a casa, fazer comida e aguentar os seus desaforos. Eu era o saco de pancadas dela, não mais que isso.

Eu só quero que você olhe para mim

Para ver que eu posso merecer o seu amor

Eu só quero que você olhe para mim

E veja que eu posso ser

Boa o suficiente, boa o suficiente, boa o suficiente

E veja que eu posso ser

Boa o suficiente, boa o suficiente

Boa o suficiente, boa o suficiente

Boa o suficiente

Lixo. Eu me sentia um lixo, porque foi assim que ela me tratou a vida inteira. Cachorros costumavam ser mais bem tratados. Apesar da emoção e das lágrimas em meus olhos, minha voz permaneceu forte. Talvez porque além da dor, eu cantava com raiva.

Olhe para mim

Bem aqui esperando por você

Aqui estou

Olhe para mim

Eu estou procurando por sua aceitação

Você minimamente se importa?

Olhe para mim

Abra seus olhos

Você não pode ver que eu sou boa o suficiente?

Eu tinha raiva. Odiava com todas as minhas forças essa situação. Não aceitava e não conseguia entender. Como eu podia ser tão sem valor para minha própria mãe? Ela não deveria me amar acima de tudo? Eu não deveria ser a número um da lista de prioridades dela? O que eu havia feito para não ser boa o suficiente?

Eu só quero que você olhe para mim

Olhe para mim

Eu só quero que você olhe para mim

E veja que eu posso ser

Boa o suficiente, boa o suficiente, boa o suficiente

Eu só quero ser

Boa o suficiente, boa o suficiente

Boa o suficiente, boa o suficiente

Uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto quando eu finalizei a canção. O barulho da plateia foi mais alto que das outras vezes. Quando eu olhei para frente todos estavam levantando de seus assentos para me aplaudir.

A iluminação foi desvanecendo até o palco ficar completamente escuro. Enxuguei minha lágrima enquanto me retirava para os bastidores.

“Você está bem?” Gaara me perguntou, assim que cheguei.

Acenei com a cabeça, respirando fundo. Precisava me recompor.

Enquanto Andrew e a garota que ele gostava estavam no palco, troquei minha roupa e soquei meus sentimentos para dentro de mim.

Não demorei a entrar em cena novamente. Andrew conta a Lümina que começou a namorar, deixando-a arrasada. Era uma parte importante, porque era aqui que ela notava que precisava seguir em frente. Lümina sorri, aparentando estar feliz pelo amigo, e o parabeniza. Quando ele vai embora, no entanto, ela desaba.

“Então é dele que você gosta?” Gaara surge, perguntando.

Lümina nem se surpreendia mais com as aparições repentinas do ruivo. Ao vê-lo, ela apenas suspirou, derrotada. “Eu não estou com forças para discutir com você.”

“Por mim...” Gaara deu de ombros. “É você quem sempre discute.”

Lümina não respondeu.

“Olha... Quem está perdendo é ele.” Gaara continuou, arrancando suspiros da plateia. “E talvez seja a hora de você começar a fazer algumas mudanças na sua vida, começar a fazer o que realmente ama.”

“De novo essa história?” Dessa vez ela retrucou. “Você não entende mesmo.”

“Eu entendo que vida é sua e quem está perdendo tempo e desperdiçando talento é você, não sua mãe.” Ele foi firme. “Você está seguindo o caminho dela, não o seu. E que bem isso te fez? Se é o canto que move sua alma, nem sua mãe nem ninguém deveria te parar.”

Para isso Lümina não teve resposta. Seguir o caminho da mãe nunca tinha lhe feito nenhum bem. Nem sequer amada ela era.

“Se mudar de ideia, me encontre aqui, amanhã, no mesmo horário. Vou te preparar para a audição.” Dizendo isso, Gaara saiu do palco, deixando uma Lümina pensativa para trás.

As luzes do palco se apagaram e eu fui para os bastidores, enquanto os dançarinos performavam uma transição de cena.

No dia seguinte, como o dito, Gaara estava esperando por Lümina no mesmo local, mas não estava parecendo que ela ia. Quando Gaara já estava se levantando, em desistência, Lümina surge.

“Você veio!” Ele disse, um tanto surpreso.

“Eu não tenho certeza sobre a audição, ainda.” Lümina hesitou. “Mas quero tentar.”

E com isso a preparação de Lümina começou. Um instrumental tocava ao fundo enquanto eu e Gaara interpretávamos as cenas do treinamento. Ficávamos sentados no piano, fingindo cantar e conversar – mas sem emitir som. A ideia era passar a impressão de passagem de tempo, e para isso Gaara e eu trocávamos rapidamente de roupa quando o nosso lado do palco ficava escuro e os holofotes iam para os dançarinos. Trocamos de roupa três vezes e, em cada uma, voltávamos ao palco como se fosse um novo dia e ainda estivéssemos treinando. Ríamos um com o outro, mostrando como o treinamento havia nos aproximado.

Quando a transição de tempo chegou ao fim, nos preparamos para o novo ato.

“Nem acredito que já se passou um mês.” Lümina disse. “O tempo voou.”

“Sim. Amanhã é a audição.” Gaara assentiu. “Você está preparada.”

“Não sei.”

“Não foi uma pergunta.” O ruivo afirmou. “Você está preparada.”

Lümina suspirou. “Mas a minha mãe–”

“Nem comece.” Gaara não a deixou completar a frase. “O que nós conversamos sobre pensar mais em si e seguir o próprio caminho?”

“É bem mais fácil falar.” Retruquei.

Gaara segurou nos ombros de Lümina, virando-a para si. “Você tem usado uma máscara por tempo demais, fingindo ser algo que não é, escondendo a própria natureza. Não cansa?”

“Eu já estou tão acostumada que minha máscara já se tornou parte de quem eu sou.”

“Isso é triste.” Gaara disse. “Mas não precisa ser assim. Nunca é tarde para deixar as máscaras caírem.”

“Eu já disse que não é fácil.”

“Mas se você não se revelar, como as pessoas vão saber o quão incrível é a verdadeira garota por trás da máscara?”

O ruivo olhou dentro dos meus olhos enquanto tocava uma música instrumental romântica. Com suas mãos ainda nos ombros de Lümina, ele a puxou para mais perto e se aproximou devagar, deslizando as mãos pelos seus braços até segurar suas mãos. Foi como se ele me tirasse da pele da personagem. Naquele momento – apenas por um segundo de deslize – eu não era mais Lümina, e sim eu, Sakura, sem atuações, olhando para Gaara através da máscara. Mas eu tratei de me recompor e trazer Lümina de volta no segundo seguinte, por mais que contrariasse as minhas vontades.

“Não.” Lümina diz, afastando-se dele. “Desculpe.” Foi preciso tudo de mim para conseguir seguir com a personagem e afastar Gaara. Porque, Deus sabe, eu queria o ruivo bem perto de mim. Merda, eu não era assim. O que diabos estava acontecendo comigo? Será que ter beijado pela primeira vez tinha me transformado numa tarada?

“Eu que peço desculpas.” Ele disse e eu me forcei a focar na atuação. “É só que... Eu gosto um pouco mais de você do que deveria.” Declarou.

Lümina o encarou, com um pouco de surpresa, mas dentro de si ela já sabia que havia algo mais naquela história.

Ela hesitou antes de falar. “Eu só... Preciso de um pouco de tempo.”

E então preparei-me para começar a cantar minha parte no meu dueto com Gaara.

[Little Do You Know – Alex & Sierra]

[Mal sabe você, como eu estou quebrando enquanto você está dormindo

Mal sabe você, eu ainda estou assombrada pelas memórias

Mal sabe você, estou tentando me remontar

Peça por peça

Mal sabe você, eu preciso de um pouco mais de tempo]

Comecei a cantar olhando nos olhos de Gaara. Lembro de quando escrevi a primeira versão da música, ainda quando estava no hospital. Quando resolvi seguir com o musical, apresentei-a a Gaara como um dos possíveis números, e no dia seguinte ele surgiu com uma nova versão, contendo seus versos. Segundo o ruivo, a canção se encaixaria melhor como um dueto – e ele estava certo.

[Debaixo de tudo isso, estou sendo mantida em cativeiro pelo buraco dentro de mim

Eu estou me segurando pelo medo de que você possa mudar de ideia

Estou pronta para seguir em frente, mas esquecer é uma luta mais difícil

Mal sabe você que eu... Preciso de um pouco mais de tempo]

Apesar de ter dito que a música havia sido escrita apenas para o musical, a realidade era que eu a escrevera para Gaara. No fundo, esperava que ele notasse a verdade da canção, embora eu não dissesse com todas as letras. Era confuso para mim. Amei Sasuke-kun por tanto tempo e fui tão machucada, no entanto, nunca fui indiferente a Gaara e meu coração inesperadamente se moveu em direção a ele sem que eu sequer percebesse. Ainda assim, meus sentimentos por Sasuke-kun não foram embora e eu não estava curada das feridas. Eram dois sentimentos completamente diferentes coexistindo dentro de mim.

(Eu vou esperar, eu vou esperar

Eu vou te amar como se você nunca tivesse sentido a dor

Eu vou esperar

Eu prometo que você não tem que ter medo

Eu vou esperar, o amor está aqui e veio para ficar

Então, descanse sua cabeça em mim)

Gaara começou a cantar, aproximando-se de mim. Ele chegou perto e segurou minhas mãos. Seus olhos, fixos nos meus, tinham uma intensidade tão grande fez meu coração palpitar.

(Mal sabe você, eu sei que você está sofrendo enquanto eu finjo estar dormindo

Mal sabe você, todos esses erros estão lentamente te afogando

Mal sabe você, eu estou tentando te fazer melhorar

Peça por peça

Mal sabe você, eu estou com você até o sol morrer)

No fundo, eu queria que Gaara tivesse escrito aqueles versos para mim, assim como escrevi para ele, mas parte de mim duvidava, devido ao seu comportamento comigo nos últimos meses. Era provável que ele não estivesse mais interessado em mim e que me visse agora apenas como um “assunto profissional”. O pensamento era incômodo e enviava arrepios pela minha espinha.

[(Eu vou esperar, só espere

Eu vou te amar como se você nunca tivesse sentido a dor

Só espere

Eu vou te amar como se eu nunca tivesse tido medo

Só espere, o nosso amor está aqui e veio para ficar)]

[Então, descanse sua cabeça em mim]

Cantamos juntos, no mesmo ritmo. Eu queria – precisava – conversar com Gaara. Mantive-me calada nos últimos meses para não deixar nada atrapalhar o andamento do musical, mas quando o concluíssemos, confrontaria o Sabaku na primeira oportunidade. Mas do que qualquer coisa, eu sentia falta do meu amigo, do meu parceiro de todas as horas e a última coisa que eu queria era perdê-lo.

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[(Então, descanse sua cabeça em mim

Descanse sua cabeça em mim

Então, descanse sua cabeça em mim)]

Gaara me puxou para mais perto e eu encostei minha cabeça em seu peito. Ele acariciou meus cabelos.

(Mal você sabe que eu...

Eu te amo até o sol morrer)

Ele cantou o verso, finalizando a música. Então desfiz o abraço, dando-lhe um olhar de desculpas e deixando-o sozinho no palco. As luzes se apagaram e a plateia mais uma vez explodiu em aplausos.

Nos bastidores, enquanto rapidamente trocava de roupa, minha mente dava voltas e voltas tentando entender por que nossa relação estava tão esquisita.

O cenário no palco mudou, simulando uma sala de audição. Os atores que interpretavam os aspirantes à músicos começaram a fazer suas performances e logo seria a minha vez.

De repente, não havia mais Gaara em minha cabeça, apenas meu próximo número musical, que seria um dos maiores passos de minha vida.

O nervosismo começou a tomar conta do meu corpo e parte de mim quis desistir. No entanto, eu não tinha chegado tão longe para me tornar uma desistente.

Senti o calor de uma mão tocando a minha e quando me virei, deparei-me com os olhos tranquilizantes de Gaara.

"Você consegue." Ele me disse.

Com o seu afastamento dos últimos meses, fiquei surpresa com sua abordagem solidária.

"E se eu estragar tudo?"

"Eu vou continuar do seu lado." Afirmou. Algo em seus olhos não me deixou duvidar de suas palavras – e eu nem tinha motivos, já que Gaara nunca deixou de estar aqui, comigo. Por mais que nossa relação não estivesse como antes e precisasse ser reparada, ele nunca deixou de me apoiar.

Então, mesmo que tudo desse errado, eu ainda tinha o meu porto seguro. E naquele momento, era tudo que eu precisava saber para acalmar meu coração.

A parte do palco onde as audições eram interpretadas ficou no escuro, enquanto os holofotes se iluminavam na parte em que eu e Gaara interpretaríamos mais uma cena.

Não foi preciso tentar esconder meu nervosismo porque a cena era justamente com Lümina tensa e querendo desistir, sendo incentivada por Gaara.

"A minha mãe está assistindo!" Lümina choramingava.

"Dane-se. Por uma vez faça a sua vontade e esqueça todo o resto." Gaara aconselhou. "Não tem nada errado em ser você mesma."

As luzes da parte com o cenário da audição voltaram a acender.

"Próximo." Um homem chamou.

Gaara deu um olhar significativo para Lümina e ela seguiu em frente, respirando fundo.

"Você é Lümina, do departamento de piano, não é?" Um dos três avaliadores perguntou.

"Sim, senhor."

"Bom... Mostre-nos o que tem."

Entre os que assistiam às audições, estava Andrew, com um olhar curioso e a mãe de Lümina, com cara de poucos amigos.

Lümina deu-lhe um rápido olhar e respirou fundo, virando de costas.

As luzes diminuíram e o cenário ao meu redor foi afastado, para me dar mais foco. À luz de um holofote se acendeu sobre mim, e, de repente, eu não era mais Lümina. Meu coração batia aloucado dentro do meu peito, parecia que ia explodir.

Então o instrumental da música começou.

Era agora. O grande momento que dividiria minha vida em antes e depois. O momento que mudaria o meu mundo para sempre.

Eu podia sentir meu corpo vibrar como nunca antes. Eu não sabia que alguém podia sentir tantas emoções ao mesmo tempo: medo, pânico, preocupação, ansiedade, nervosismo, angústia... Era tanta coisa que eu nem podia nomear tudo. Acho que até mesmo desmaiaria se não fosse a adrenalina correndo à toda velocidade em minhas veias e acordando cada célula do meu corpo. Eu sentia tudo ao mesmo tempo, numa avalanche de emoções que me arrastava para um caminho sem volta. Eu estava apavorada. Mas acima de tudo isso, havia um sentimento com o qual eu não estava tão familiarizada, mas que conseguia se sobressair sobre todos os outros: Coragem. Eu estava me sentindo corajosa. E determinada. E animada. Como eu disse, eram mais emoções do que eu achei ser possível alguém sentir ao mesmo tempo.

Mas era agora. Finalmente. Depois de tantas mentiras, era a hora da verdade. A minha verdade. A minha libertação.

[This Is Me — Demi Lovato & Joe Jonas]

Sempre fui o tipo de garota

Que escondia meu rosto

Com tanto medo de contar ao mundo

O que eu tenho para dizer

Comecei a cantar timidamente, meu coração parecia que iria pular para fora do meu peito a qualquer momento. Eu esperava, sinceramente, que minha voz estivesse soando bem e clara, porque era como se eu não pudesse nem ao menos ouvir algo direito de tão inundada por emoções que eu estava.

Mas eu tenho esse sonho

Brilhando dentro de mim

Eu vou mostrá-lo, é hora

De deixar vocês saberem, deixar vocês saberem

Fiquei de costas para as câmeras e o público. Eu nem acreditava que estava prestes a fazer isso. Coloquei minha mão na máscara e a partir daí era como se tudo se movesse em câmera lenta. Tirei a máscara do meu rosto e a deixei cair no chão em apenas um segundo, mas parecia como se eu tivesse levado a vida inteira para fazer aquilo – de certa forma, eu tinha.

E então eu me virei.

Isso é real, essa sou eu

Eu estou exatamente onde eu deveria estar, agora

Vou deixar a luz brilhar em mim

Foi como se eu explodisse. Eu cantava meu grito de liberdade. Agora eu podia ouvir e ver tudo claramente: o público gritando ensandecido ao me ver sem máscara, todas as câmeras focando em meu rosto e as luzes iluminando somente a mim.

Agora eu encontrei quem eu sou

Não há jeito de segurar isso

Sem mais esconder quem eu quero ser

Essa sou eu

Não existia mais medo. Ou angústia. Ou qualquer um daqueles sentimentos. Eu me sentia como se pudesse voar. Eu não sabia que havia esperado por aquele momento minha vida inteira. Era como se eu realmente tivesse encontrado o que nem tinha noção de estar procurando por todo esse tempo. A inundação agora vinha na forma de uma incrível felicidade que eu nunca achei ser capaz de experimentar. Cada luz daquele lugar estava ali para me iluminar. E cada pessoa para me admirar.

Naquele momento, eu me senti invencível.

Você sabe como é

Sentir-se tão no escuro

Sonhar com uma vida

Onde você é a estrela brilhante

Mesmo que pareça

Como se estivesse longe demais

Tenho que acreditar em mim

É a única maneira

Dei alguns passos para frente com toda a minha confiança. Aquele palco me pertencia. Algo em mim havia mudado. Eu cantava com fervor e sorria para meu público como se nada no mundo pudesse me atingir. Era errado se sentir assim pelo menos uma vez na vida? Assim... Poderosa. E imbatível. Mesmo se fosse, por aquele momento eu não me importava. Porque nem que fosse apenas durante aquela música, eu me permitiria sentir o mundo na palma da minha mão.

Isso é real, essa sou eu

Eu estou exatamente onde eu deveria estar, agora

Vou deixar a luz brilhar em mim

Agora eu encontrei quem eu sou

Não há jeito de segurar isso

Sem mais esconder quem eu quero ser

Essa sou eu

Eu, que vivi em silêncio durante minha vida inteira e reprimi a música dentro de mim, queria que o mundo me escutasse – nem que fosse só pelo tempo de uma canção.

(Você é a voz que ouço dentro da minha cabeça

A razão que eu estou cantando

Eu preciso te encontrar, eu tenho que te encontrar)

Gaara entrou no palco, caminhando em minha direção enquanto cantava. Eu me virei para encontrar seu olhar. Será que ele podia ver todas as emoções que emanavam de mim?

(Você é a peça perdida

Eu preciso da música dentro de mim

Eu preciso te encontrar, eu tenho que te encontrar)

O ruivo parou em minha frente e segurou minha mão. Naquele momento eu sabia que não éramos personagens. Ele me olhava com o carinho que eu já não via há algum tempo em seus olhos e que me fazia falta – o olhar que tinha o poder de me derreter.

[Isso é real, esta sou eu]

[(Eu estou exatamente onde eu deveria estar, agora

Vou deixar a luz brilhar em mim)]

Cantei novamente, agora acompanhada da voz de Gaara.

[(Agora eu encontrei, quem eu sou

Não há jeito de segurar isso

Sem mais esconder quem eu quero ser)]

[Esta sou eu]

Gaara e cantávamos com paixão, nunca largando o olhar um do outro. Aquele era o nosso momento e não havia mais ninguém no mundo que pudesse entender a conexão que tínhamos.

(Você é a peça faltando que eu preciso

A canção dentro de mim)

[Esta sou eu]

(Você é a voz que ouço dentro da minha cabeça

A razão que eu estou cantando)

[(Agora eu encontrei, quem eu sou

Não há jeito de segurar isso

Sem mais esconder quem eu quero ser)]

(Esta sou eu)

Terminei a canção tendo a certeza de que não havia mais ninguém com quem eu queria compartilhar aquele momento. Somente Gaara entendia toda a dor que eu tive que carregar e sacrifícios que eu precisei fazer para chegar naquele momento de glória. Só ele sabia exatamente o significado daquela máscara caída e as cicatrizes por trás da minha pele. Ninguém me conhecia melhor que ele.

Eu podia ouvir os gritos ensandecidos da plateia, mas meus olhos se recusavam a deixar os de Gaara. Ele sorriu para mim com um orgulho palpável e eu lhe sorri com gratidão.

O ruivo colocou uma mão em meu rosto, encostou a testa na minha e eu fechei os olhos, quase podendo sentir a ponta do nariz dele encostando na minha. Se possível, os gritos da plateia aumentaram.

Se ele tivesse me beijado ali mesmo, eu não teria recusado.

De fato, uma parte de mim – assustadoramente grande – desejou que ele fizesse isso. Mas ele não fez.

"Bem-vinda ao estrelato, Haruno Sakura." Foi o que Gaara disse. "Estou orgulhoso de você." E então ele beijou minha testa.

Abri meus olhos e o encarei com gratidão e um misto de emoções que nem eu mesma sabia descrever.

Se eu tivesse cedido aos meus impulsos, eu provavelmente teria o beijado.

Eu estava assustada comigo mesma e nem ao menos conseguia me entender.

Gaara segurou minha mão e me puxou para fora do palco.

A música para o novo número começou, enquanto os dançarinos assumiam o palco.

"Como você se sente?" Gaara me perguntou, já nos bastidores.

"Não faço ideia." Respondi.

Era como se um furacão estivesse dentro de mim. O poder que eu tinha sentido naquele palco, a libertação, as mudanças que eu teria que enfrentar agora que tinha tirado a máscara – eu me sentia um tanto nua. E no meio disso tudo ainda havia Gaara.

Meu coração não parava de bater forte e a adrenalina não dava qualquer sinal de trégua. Não me surpreenderia se eu explodisse a qualquer momento.

Sinceramente? Eu não estava conseguindo lidar com tudo aquilo. Então resolvi focar no que eu podia lidar: o musical, que ainda não estava finalizado.

Depois da libertação de Lümina, era hora do número musical final.

Troquei de roupa rapidamente e esperei minha deixa para entrar no palco.

A música de encerramento começou a tocar e eu me mostrei mais uma vez para a multidão.

[Strong – Sonna Rele]

Em um livro de histórias perfeito, o mundo é corajoso e bom

Um herói leva a sua mão, um doce amor se seguirá

Mas a vida é um jogo diferente, a tristeza e a dor

Somente você pode mudar o seu mundo amanhã

Deixe o seu sorriso iluminar o céu

Mantenha o seu espírito voando alto

No palco, a plateia que assistiu à audição de Lümina, incluindo sua mãe, Andrew e os avaliadores, voltou a ganhar destaque.

Todos lhe aplaudiam e olhavam com admiração, menos sua mãe, que se levantou, olhando-a com amargura. Caminhou em sua direção, mas isso não parou o canto da filha. Chegou bem perto e as duas se encararam. Com um olhar duro, a mãe saiu pisando duro do palco. Nem tudo era perfeito. Para seguir o próprio sonho às vezes tínhamos que nos afastar de pessoas importantes – principalmente se essas pessoas só nos colocam para baixo. Por isso Lümina só lhe deu um olhar triste, mas seguiu cantando.

São escolhas da vida. Lümina escolheu seguir o próprio caminho, mas isso significava andar em uma estrada diferente da de sua mãe.

Confie no seu coração, e o seu sol brilhará para sempre e sempre

Agarre-se à bondade, sua luz brilhará para sempre e sempre

Eu acredito em você e em min

Nós somos fortes

Caminhei pelo palco, dessa vez com meu rosto descoberto, sem máscara. Havia um encanto no ar. A plateia não tirava os olhos de mim e pareciam extasiados por eu finalmente ter me revelado. Era como conhecê-los pela primeira vez. Agora eles sabiam quem eu era.

Quando o 'era uma vez' em histórias e nas rimas

Um momento em que você pode brilhar e vestir sua própria coroa

Seja àquele que resgata si próprio

Através das nuvens, você verá o azul

As luzes do palco giravam ao meu redor, enquanto eu cantava com a sensação de um novo tipo de liberdade. Ficar tão exposta era ao mesmo tempo aterrorizante e excitante. Eu me sentia nas nuvens.

Confie no seu coração e o seu sol brilhará para sempre e sempre

Apegar-se à bondade, sua luz brilhará para sempre e sempre

Eu acredito em você e em mim

Nós somos fortes

Gaara juntou sua voz à minha, cantando ao meu lado. Nossos olhares se encontraram no meio do palco e seguramos as mãos. Atrás de nós os dançarinos bailavam em júbilo.

Um pássaro sozinho no vento

Pode ainda ser forte e cantar

Cantar

Andrew também se juntou a mim e Gaara no canto. Nos olhamos sorrindo e ele se colocou ao meu lado, mas minha mão não soltou a de Gaara.

Confie no seu coração e o seu sol brilhará para sempre e sempre

Agarre-se à bondade, sua luz brilhará para sempre e sempre

Eu acredito em você e em mim

Nós somos fortes

Todos os outros cantores do musical juntaram suas vozes às nossas, e cantamos em um grande coro, de frente para a plateia enquanto os dançarinos não paravam de girar atrás de nós.

Então eu cantei a última nota e encerrei a música e o musical.

A plateia inteira mais uma vez ficou de pé, nos ovacionando com gritos, assobios e palmas.

A cortina caiu, momentaneamente e todos nós que fizemos o musical demos as mãos uns aos outros. Quando a cortina subiu, novamente nos revelando ao público, levantamos nossos braços e mãos entrelaçadas e nos curvamos em agradecimento.

Acenamos uma despedida para as pessoas ali, com grandes sorrisos em nossos rostos.

A cortina caiu novamente e foi nossa vez de gritar, comemorando o sucesso do musical. Eu me sentia tão feliz e extasiada que quase me podia sentir voando.

Senti os braços de Gaara se envolverem ao meu redor e eu prontamente correspondi ao abraço.

"Obrigada!" Agradeço em seu ouvido. "Obrigada de verdade!"

Gaara não disse nada, apenas me apertou mais. Os outros atores também se abraçavam e parabenizavam uns aos outros. Quando Gaara me soltou, cumprimentei o restante do elenco, agradecendo-lhes pelo trabalho duro.

Pouco a pouco, fomos saindo do palco, seguindo para os bastidores.

"A imprensa em peso estão te esperando na sala de conferência, Sakura!" Tsunade falou com um grande sorriso assim que me viu. Ela tinha carregava orgulho nos olhos.

"Pronta para enfrentar o mundo?" Gaara perguntou, sorrindo de lado.

"Não sei!" Sorri. "Mas vamos lá!"

Ainda com o meu figurino do musical acompanhei os passos de Tsunade, com Gaara ao meu lado.

Pelo nosso caminho diversas pessoas que me ajudaram a construir o musical me cumprimentavam com alegria.

Meu coração parecia que não iria diminuir o ritmo, mas eu adorava a sensação.

O teatro era tão grande que se Tsunade não me guiasse eu provavelmente me perderia. Chegamos num corredor onde havia uma grande porta no final. Tsunade segurou na maçaneta e se virou para mim.

"Respira fundo." Ela disse. "Estamos com você."

E então ela abriu a porta.

Flashes e pessoas gritando 'Lümina' invadiram meus sentidos e quase me fizeram recuar. Era muita gente, muitas câmeras e muito barulho. Eles pareciam que iam pular em cima de mim a qualquer momento. Desesperados.

Eu já tinha me encontrado com a imprensa no Soul Talent, mas era bem diferente. Primeiro porque estávamos sempre em grupo, segundo porque eu tinha uma máscara para me proteger.

Fiquei assustada, não podia negar.

Senti um afago em minhas costas. Era Gaara. Ele me deu um olhar de incentivo.

Fechei os olhos por um instante, respirando fundo. Quando o abri, caminhei decidida até a mesa onde os microfones estavam localizados.

"Olá, meu nome é Haruno Sakura. Prazer em conhecê-los." Falei, fazendo uma reverência.

O barulho e flashes aumentaram, se possível. Agora muitos deles gritavam meu nome verdadeiro ao invés de Lümina.

Sentei-me em meu lugar e Gaara sentou ao meu lado, enquanto Tsunade permaneceu de pé.

"Uma pergunta de cada vez." A loira avisou.

Por debaixo da mesa, Gaara apertou minha mão e eu me senti mais forte.

Os flashes diminuíram e os repórteres pararam de gritar como loucos. Um deles se levantou com um microfone em mão e fez a primeira pergunta. "Qual a sua cidade natal?"

"Konoha." Respondi. "Foi onde conheci Gaara."

"Konoha?" Continuou perguntando. "A mesma de Sai e Sasori?"

Meu interior de revirou com a menção do Akasuna. Gaara apertou minha mão.

"Sim." Respondi simplesmente.

A partir daí me encheram de perguntas, como a maneira que Gaara e eu nos conhecemos, se eu já tinha contato com Sai e Sasori antes do Soul Talent e o motivo de eu usar uma máscara.

Assim como Gaara e Tsunade me instruíram, fui o mais honesta que pude, porém com respostas evasivas, sem entrar em detalhes.

Disse-lhes que eu e Gaara nos conhecemos na escola e que nos tornamos parceiros na aula de química, que eu e Sai nos conhecíamos, mas só ficamos próximos no Soul Talent. Sobre Sasori eu precisei mentir: disse que nunca tive contato com ele, nem no reality. Meu sequestro não era algo que eu queria estampado nas capas de revistas e sites de fofocas. Não ia mudar em nada a situação.

Sobre a máscara, fui bem sincera e lhes disse que costumava ser muito insegura para subir no palco e que mascarada eu ganhava mais confiança.

Quando eles me perguntaram sobre o motivo de eu ter abandonado o Soul Talent, tive que mentir, dizendo que tinha sofrido um acidente nos ensaios do musical e não pude seguir com a apresentação.

Gaara me ajudou na mentira, dizendo que um equipamento de iluminação caiu em cima de mim e eu precisei ficar internada.

Sinceramente, eu só queria que aquilo acabasse. Era um tanto agonizante e me deixava ansiosa. Eu estava soando frio com medo de dizer alguma besteira.

"Quais são seus planos futuros?" Jogaram-me mais uma pergunta.

"Eu ainda não sei." Respondi. "Meu objetivo era concluir o musical que eu não pude apresentar no Soul Talent. Agora me sinto de missão cumprida e não sei o que o futuro me aguarda."

Assim que respondi, Tsunade tomou a palavra. "A coletiva de imprensa está encerrada."

Senti um grande alívio, mas os repórteres não pareceram gostar. Gritavam meu nome em todos os cantos daquele lugar.

Gaara se levantou e eu o acompanhei. Saímos da sala e quando a porta se fechou, deixando a imprensa atrás de mim, desabei minha postura.

"Finalmente!" Deu um suspiro pesado. "Isso é horrível!"

Gaara e Tsunade pareciam se divertir com a situação.

"É melhor você se acostumar." A loira disse. "Mas você se saiu muito bem!"

"Eu estava tão nervosa!" Confessei.

"Normal." Gaara deu de ombros. "Foi sua primeira coletiva."

"Você vai precisar respirar fundo de novo, porque suas atividades de hoje ainda não acabaram." Tsunade avisou. "Tem uma pessoa que quer conhecer você."

"Quem?" Fiquei curiosa.

"Venha." Ela disse, simplesmente.

Segui-a novamente pelos corredores do teatro. Ela me guiou até uma outra sala, bem menor, onde um homem nos seus cinquenta me recebeu. Ele me era bastante familiar, eu só não conseguia me lembrar onde o tinha visto.

"Haruno Sakura." O homem me cumprimentou, estendendo a mão, que eu prontamente apertei. "É uma grande honra."

"Prazer em conhecê-lo." Respondi.

"Sakura, esse é Rob Stringer, presidente da Columbia Records."

Oh! Agora eu me lembrava. Claro! O presidente. Eu já tinha o visto algumas vezes na televisão durante a divulgação do Soul Talent.

"Nossa! A honra é toda minha então!" Curvei a cabeça em sinal de respeito.

"Ela é adorável!" Rob-sama sorriu. "Bom, eu soube o que realmente aconteceu com você para abandonar o Soul Talent e sinto muito. Você deve ter sofrido bastante nas mãos daquele Sasori."

Fiquei um pouco surpresa. "O-obrigada. Eu não fazia ideia que o senhor sabia."

"Tsunade me informou." Ele disse. "Bom, eu vou ser bem direto, Sakura." O homem fez uma pausa, olhando-me com seriedade. "Queremos você na Columbia."

Pisquei um tanto atônica. Meu coração voltou a acelerar. Isso não podia ser real, eu quase não podia acreditar que estava acordada.

Eles me queriam na Columbia Records?! Isso quer dizer... Contrato? Quer dizer que eu vou ser uma cantora de contrato?

"Você quer me contratar? Mas Sai ganhou o concurso!" Minha voz saiu mais alta que o planejado.

"E eu não poderia deixar nenhum dos dois me escapar. Você e Sai são especiais." Ele falou, sorrindo. "Nós podemos passar anos preparando um artista para o palco, podemos ensinar como cantar, dançar, como se comportar, ter carisma e como fazer sucesso... Mas o que você e Sai possuem não pode ser ensinado." Rob-sama colocou uma mão em meu ombro e eu mal piscava. "Vocês têm o dom nato de criar música, com toques de genialidade. Todas as suas canções caíram no gosto do público. Milhões de visualizações no YouTube, inúmeros covers feitos por fãs, súplicas por versões em estúdio das músicas performadas... É um sucesso absoluto. E só se fala em vocês dois. Sai ganhou por merecimento, mas você também fez por merecer um lugar em nossa gravadora."

Eu comecei a lagrimar. Sim. Juro.

Rob Stringer era o presidente de uma das maiores gravadoras do mundo e estava me dizendo todas aquelas palavras que pareciam ser tão irreais para mim!

Quando eu comecei a criar música nem sequer passava pela minha cabeça que outras pessoas fossem apreciá-las. Mas aqui estava um dos caras mais respeitados da indústria musical me dizendo o contrário.

"E-eu na Columbia Records?" Minha garganta estava embargada.

"Sim. Você." Rob-sama assentiu. "Você é única, garota. Todas as grandes gravadoras vão te oferecer um contrato, mas seu lugar é conosco. Eu vou te transformar numa das maiores artistas que já pisaram nessa Terra. Ninguém nunca esquecerá seu nome."

Eu quase desmaiei ali mesmo. Era um sonho realizado. O meu sonho maluco e impossível que se tornou possível, contra todas as chances.

Eu já tinha desistido da Columbia no momento em que desisti do Soul Talent, mas aparentemente a Columbia não desistiu de mim.

Estava quase gritando, até que um pensamento me cruzou a mente e me fez frear.

"Mas..." Comecei. "E o Gaara?"

"O que tem o Gaara?"

"Ele também merece estar na Columbia."

Rob-sama sorriu. "E está."

"Eu vou renovar o contrato, Maluquinha." O ruivo disse.

Olhei para ele com olhos esbugalhados. "Por que você não me contou?!"

"Eu estava esperando o momento certo." Ele sorriu de lado. "O momento em que você soubesse do seu próprio contrato."

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

"Já sabíamos da oferta que te fariam, Sakura." Tsunade disse. "Mas achamos melhor esperar o fim do musical para lhe revelar a surpresa."

"Vocês... Vocês..." As palavras não saíram direito e uma lágrima escapou do meu olho.

Não consegui formular nada a dizer, então apenas pulei em Gaara e Tsunade, abraçando os dois ao mesmo tempo.

Eu estava tão feliz por Gaara! Tinha me sentido tão culpada por achar que ele perdera a chance da renovação por minha causa. Ele merecia mais do que qualquer um continuar naquela gravadora.

"Acho que isso quer dizer que ela gostou da novidade." Rob-sama riu. Soltei o ruivo e a loira, voltando-me para o presidente. "Segunda-feira vá até a sede da Columbia para eu lhe mostrar o contrato. Pretendemos lhe dar toda a liberdade criativa para as suas composições. Se você gostar, espero sinceramente que assine conosco."

Aquilo tinha que ser um sonho.

"Muito, muito obrigada, Rob-sama!" Curvei-me.

Ele riu. "Quando conheci Gaara ele também me chamava assim. É algo da cultura japonesa, não é?"

"Sim." O Sabaku respondeu. "Demonstra respeito."

"E você não me chama mais assim por quê?" Ele levantou uma sobrancelha. "Perdeu o respeito, garoto?"

Gaara riu e logo Rob-sama o acompanhou.

"Bom..." O presidente estendeu uma mão em minha direção, que eu mais uma vez não demorei a aceitar. "Espero você na segunda, então?"

Balancei a cabeça em sinal afirmativo. Rob-sama sorriu. Ele se despediu e foi embora. Assim que passou pela porta eu não consegui mais me controlar.

"EU TENHO UM CONTRATO!" Gritei.

Pulei em cima do sofá, gargalhando e extravasando minha alegria. Não conseguia mais me conter! Era muita felicidade, eu não estava acostumada.

Eu iria viver meu sonho! Eu iria viver de música! Música!

Pulei e pulei no sofá, rindo e gritando como uma criança, sob os olhares satisfeitos de Gaara e Tsunade.

Eu queria eternizar aquele sentimento. Queria nunca esquecer do quão feliz eu estava.

Depois de todas as lágrimas de dor que derramei, finalmente estava deixando cair lágrimas de felicidade. Eu não sabia se ria, se gritava ou chorava. Na dúvida eu fazia tudo ao mesmo tempo.

Sim. Definitivamente era um sentimento que eu nunca ia esquecer.

*

*

*

"Quem mais que eu tenho que conhecer?" Perguntei, ainda eufórica, mas sem gritos ou pulos.

Tsunade me disse que ainda havia mais pessoas para me apresentar.

"Você agora é famosa." A loira afirmou. "Vai precisar de proteção."

"Contratamos alguns seguranças para você." Gaara disse.

Franzi o cenho. "Mas eu não preciso."

"Você não está mais de máscara, Sakura. As pessoas vão reconhecer seu rosto e pode ser perigoso."

Suspirei. Eles tinham razão. O próprio Gaara também tinha os seus em Nova York, mas só os usava quando tinha que sair em público sem disfarce.

E depois de tudo que me aconteceu, com o sequestro e o tiro, eu é que não ia dispensar proteção. Mas o fato de que eu precisava dela, em primeiro lugar, era um tanto desnorteante. Eu era só a Sakura.

Mais uma vez segui Tsunade e Gaara pelo teatro.

"Contratamos dois seguranças." A loira disse. "Nos eventos podemos precisar de reforço, mas em questões do dia a dia são eles que farão sua proteção."

"Eles vão ficar comigo o dia inteiro?" Perguntei, já não gostando da ideia.

"Só quando você for sair." Gaara respondeu. "Mas estarão à sua disposição 24 horas por dia."

"Eles foram contratados para proteger Lümina, e acabaram de descobrir que você é Sakura." Tsunade contou. "Soube que um deles ficou bem chocado."

Franzi o cenho, estranhando. Será que ele ficou tão decepcionado assim com o meu rosto?

Paramos em frente a uma porta e Tsunade a abriu, fazendo sinal para eu entrar.

Assim que adentrei o recinto meus olhos caíram na última pessoa que pensei encontrar ali.

Minha respiração ficou presa na garganta e eu podia jurar que meus olhos estavam para sair da órbita de tão arregalados que ficaram.

Por um instante fiquei paralisada, incrédula, enquanto ele me olhava com apreensão.

Era inacreditável. Eu só podia estar numa ilusão.

"I-Itachi?"

*

*

POV: Uchiha Sasuke

Estávamos todos reunidos no bar dos pais de Shikamaru, assistindo à transmissão ao vivo do musical de Lümina.

A produção estava perfeita, desde o cenário até as músicas, era impecável. Mas eu não estava aproveitando tanto quanto os outros. Meus pensamentos continuavam a me trair.

Eu já estava cansado da péssima situação do meu relacionamento com Sakura. Cansado de ligar e ela não atender, nem retornar. Eu estava cansado de não a ter por perto.

Já fazia dois meses que ela não falava comigo. Neji era quem mais tinha contato com a Haruno – o que era um tanto surpreendente se pensar que em todos os anos que passamos juntos os dois eram os mais distantes um do outro. De algum jeito, a viagem os aproximou.

O resto do grupo também falava com Sakura vez ou outra, mas era raro. Até Ino ela já tinha atendido. Mas as minhas ligações eram completamente ignoradas – não que eu tivesse ligado tantas vezes assim. Eu sabia que tinha que respeitar o tempo dela, mas não custava dizer um 'alô'.

Era difícil dizer adeus para alguém que sempre esteve ao seu lado, ainda mais se esse alguém fazia questão de cortar todo e qualquer contato. Eu já havia passado por isso com Itachi, mas nunca pensei que passaria com Sakura. Inconscientemente, sempre me preparei psicologicamente para quando meu irmão não estivesse mais por perto, porque sua vontade de fugir não era nenhum segredo escondido à sete chaves. Eu sempre soube que um dia ele deixaria Konoha sem olhar para trás. Conhecia Itachi melhor que meus pais. Mas com Sakura... De repente eu me vi obrigado a lidar com a ausência dela sem nenhum preparo.

Contudo, se eu tinha uma certeza, era a de que eu iria conseguir passar por isto. Eu havia me acostumado à ausência de meu irmão, então certamente eu me acostumaria à de Sakura. A gente se adapta a tudo nessa vida. Eu só não pensava que o processo de adaptação fosse tão difícil.

O bar estava cheio. Era como a final de uma copa do mundo: todos se reuniam num bar com amigos, comiam e bebiam sem desgrudar os olhos do telão.

Eu e meus amigos éramos menores de idade, então não estávamos autorizados a beber. Na verdade, não estávamos legalmente autorizados nem a estar no bar, mas havia algumas vantagens em ser amigo do filho dos donos.

Shikamaru mal ficava onde estávamos. Ele se ocupou ajudando a servir os clientes. Ino se ofereceu para ajudá-lo, então ela também não estava sentada com a gente – o que me trazia certo alívio.

As coisas entre Ino e eu simplesmente estavam estranhas, mas nenhum de nós falava sobre isso. Era como um grande elefante na sala que todos viam claramente, mas fingiam não ver, ignoravam.

Eu não sabia mais o que sentia. Não muito tempo atrás Ino era tudo que eu pensava, mas agora ela mal aparecia em meus pensamentos. E quando aparecia era só para me lembrar o quão fodida nossa relação estava.

Eu passei por um furacão. Um furacão que Ino não entendia. E não era como se eu pudesse sentar e conversar com ela sobre isso. Mesmo antes do sequestro, mesmo antes do furacão, eu e Ino só brigávamos. Nós não conseguíamos manter uma simples conversa sobre o tempo sem discutir, então como eu podia conversar com ela sobre a bagunça na minha cabeça?

A química com Ino era ótima e a paixão era ardente, mas eu achava que isso era tudo que conseguíamos ser e para mim era difícil aceitar que depois de toda a desordem que fizemos para ficarmos juntos, simplesmente não estávamos suportando. E ainda por cima eu havia a traído com Sakura. Ficava tentado a ser honesto com ela e contar sobre o beijo, mas isso só a machucaria. Ela não iria querer saber das nossas razões, não entenderia. Apenas odiaria a mim e a Sakura. Eu não me arrependia do beijo, mas me sentia culpado por Ino.

Em resumo, tudo na minha vida estava errado. Tudo. Minha família estava mal por causa de Itachi, minha banda estava ferida por causa do Soul Talent, meu namoro estava indo por água abaixo e Sakura não estava por perto.

Nova York deveria ter sido um sonho, mas virou meu pior pesadelo. E agora eu queria me levantar, mas não sabia nem por onde começar.

"Finalmente a Lümina fez sua volta triunfal." Naruto comentou.

"E põe triunfal nisso." Tenten concordou. "Eu sabia que não era o fim para ela."

"Você acha que se ela tivesse feito essa apresentação no Soul Talent ela teria ganhado ao invés do Sai?" Hinata perguntou.

"Não sei..." Tenten deu de ombros. "Talvez. Mas a apresentação do Sai foi muito boa também."

"Acho que no fim os dois se deram bem." Naruto suspirou. "Mas o Sai pareceu levar mais a sério. E a fanbase dele sempre foi muito forte."

"A da Lümina também." Hinata disse. "Mas acho que a máscara dela sempre colocou uma barreira entre ela e o público. Uma barreira que não existia com o Sai. Por isso as pessoas tendiam a se identificar mais com ele."

"É." Tenten concordou. "O público pôde conhecer o Sai, mas ninguém sabe nem quem é a Lümina de verdade."

"Ela não vai se esconder atrás da máscara para sempre." Neji falou. "E tudo vai mudar quando ela se revelar."

"Pode mudar para ela." Tenten deu de ombros. "Não vai afetar em nada a nossa vida." Ela riu.

Neji balançou a cabeça olhando para baixo. "Eu não teria tanta certeza disso."

"Ah, claro!" Tenten falou em tom de deboche. "Porque obviamente a vida de uma famosa mascarada super interfere na nossa!"

Neji rolou os olhos. "Assiste o musical, Tenten."

Ela deu língua para ele, fazendo pirraça e voltou sua atenção para a televisão.

Comi mais um sushi. Minha vontade era beber um saquê, mas ainda era menor de idade. Só bebíamos quando o bar estava fechado e escondidos dos pais de Shikamaru.

Lümina havia entrado para mais um de seus números musicais, só que dessa vez havia algo diferente. Seus cabelos estavam mais curtos e quando a câmera focou no rosto mascarado dela seus olhos não estavam na usual coloração escura – eles estavam verdes. E não era qualquer verde. Era um verde terrivelmente familiar.

Lümina estava familiar. Toda a minha atenção agora estava nela.

Sempre fui o tipo de garota

Que escondia meu rosto

Com tanto medo de contar ao mundo

O que eu tenho para dizer

Lümina começou a cantar aparentando receio. Eu não sabia bem por que, mas tinha um pressentimento de que algo estava para acontecer.

Mas eu tenho esse sonho

Brilhando dentro de mim

Eu vou mostrá-lo, é hora

De deixar vocês saberem, deixar vocês saberem

Ela ficou de costas. Eu podia apostar que todos os olhos estavam grudados nela. Lümina levou a mão ao rosto e retirou a máscara, ainda de costas.

“A Lümina tirou a máscara!” Tenten arfou ao meu lado.

Então ela se virou. E dessa vez quem arfou fui eu.

Oh. Meu. Deus.

Isso é real, essa sou eu

Eu estou exatamente onde eu deveria estar, agora

Vou deixar a luz brilhar em mim

Sakura? Sakura?! Era Sakura?!

O que estava acontecendo?!

Todo o meu corpo ficou paralisado em choque e pânico. Foi como se alguém cortasse o cabo que me mantinha preso ao mundo.

Simplesmente não era possível! A minha visão devia estar comprometida. Não dava para acreditar no que meus olhos viam.

Enfim minha mente deu pane. Só podia ser isso.

Eu poderia até achar que de tanto pensar em Sakura tinha começado a ver coisas, mas a reação ao meu redor deixou claro que não era apenas algo da minha cabeça.

O choque foi geral. Eu podia ouvir os sobressaltos das pessoas ao meu redor, eufóricas.

O nome de Sakura era chamado em tom de surpresa nos quatro cantos do bar. Gritos perplexos vinham de todo lugar.

Eu estava atônico, não conseguia fazer um ruído sequer.

“Galera...” A voz de Tenten estava trêmula. “O que...”

“Como isso...” Hinata não terminou a frase.

“É a Sakura-chan, dattebayo!” Naruto praticamente gritou.

Sakura cantava e dominava o palco com uma confiança tremenda. Ela se mexia como Lümina e cantava como Lümina, mas meu cérebro não parecia processar a informação com facilidade.

A famosa e talentosa garota mascarada era... Sakura?!

Como isso podia fazer sentido?!

Não! Não dava para acreditar. Algo estava errado! Eu conhecia Sakura a minha vida inteira. A. Vida. Inteira. Como ela podia ser Lümina?

Sakura não cantava, não dançava, não compunha, não tinha talento algum para a música... Espera. Se bem que... Parando para pensar nisso, Sakura foi a responsável pelos arranjos da música de audição da 3P no Soul Talent, Counting Stars. Lembro que todos nós ficamos muito impressionados com a capacidade de produção musical dela e até sugerimos que ela podia tentar carreira na área. Mas daí compor e escrever músicas, cantar e dançar daquele jeito... Isso era outros quinhentos! Ah! E tocar! Lümina também sabia tocar instrumentos! Essa simplesmente não era Sakura! Pelo menos não a que eu conhecia.

Meu Deus... Minha cabeça girava. Quem olhasse de fora e visse meu atual estado de paralisia jamais imaginaria a confusão em que estava a minha cabeça.

No entanto, as peças do quebra-cabeça pareciam se juntar pouco a pouco. Algumas coisas estavam fazendo sentido agora. Caralho, algumas coisas estavam terrivelmente fazendo sentido.

Eu ficava tentando me lembrar de ouvir Sakura cantar, mas não conseguia. Eu não me lembrava de uma vez sequer em que ouvi Sakura cantar. E pensando bem, o pai e avô de Sakura sabiam tocar diversos instrumentos e deixaram uma sala cheia deles na casa de Sakura. Só que Sakura sempre disse que não sabia tocar nada. Ela sempre disse que não sabia! Obviamente, estava mentindo. E pelo visto, não foi somente uma vez.

Quantas vezes ela mentira para esconder o fato de que estava participando do Soul Talent? Essa era a razão de ela estar sempre ausente. O tempo do Soul Talent batia perfeitamente com o tempo que Sakura estava “trabalhando”. Meu Deus! Sakura foi sequestrada e baleada, por isso Lümina não participou da final do concurso! E exatamente por ser Lümina que Sakura decidiu ficar em Nova York. As coisas estavam realmente fazendo sentido!

Mas espera... Quando estávamos em Nova York, o trabalho de Neji era perto do de Sakura. Supostamente os dois se viam todos os dias. Era ele quem sempre nos dava notícias dela. A não ser que...

Olhei para Neji. A expressão dele estava em branco. Ele parecia observar as expressões das pessoas ao redor dele, sem, no entanto, aparentar surpresa. Meus olhos encontraram os dele. Naquele momento eu soube: Neji já sabia de tudo. Não apenas sabia como acobertou Sakura.

Por quê? Por que eles mentiram?

Eu me sentia enganado. Tudo que eu conhecia de Sakura parecia mentira. Era como se ela fosse uma completa estranha de quem eu não sabia nada.

Eu não sabia nada da garota que esteve ao meu lado nos últimos dez anos.

Olhei para a televisão e ela estava cantando com Sabaku no Gaara.

Os dois haviam sido parceiros nas aulas práticas de química. Deviam ter ficado próximos. Outra coisa que eu não fazia ideia. No entanto, ele tinha a colocado no concurso, então algum tipo de relação eles tinham. Mas como aquele garoto sabia sobre o talento de Sakura e eu não?

“E quando você perceber que tem a joia mais preciosa do mundo em suas mãos, vai ser tarde demais. Porque eu vou garantir que já a tenha perdido.”

As lembranças das palavras do Sabaku me atingiram como um soco. Ele tinha ligação com a Sakura desde aquela época?

De repente foi demais para mim. Eu só queria sair daquele lugar.

Levantei-me da mesa e segui em direção à saída, abrindo caminho por entre as pessoas eufóricas que lotavam o bar. Eu só ouvia o nome de Sakura saindo de suas bocas.

Um homem segurou meu braço, quando passei por ele. “Ei, Uchiha!” Era um policial de rosto familiar, mas do qual não lembrava o nome. “Por que você não nos contou que a sua amiguinha era Lümina?” Perguntou, com olhos exaltados.

Apenas desprendi-me do seu agarro e continuei meu caminho.

Como eu podia falar de algo que não fazia ideia? Passei dez anos ao lado de Sakura e, contudo, eu sabia tanto sobre ela quanto aquele estranho.

A brisa noturna me recebeu quando saí do bar. Coloquei minhas mãos na cabeça tentando evitar que ela explodisse. Respirei fundo e caminhei para longe dali.

Lümina era Sakura. Sakura era Lümina.

Meu cérebro nunca teve tamanha dificuldade para compreender algo.

Eu não conseguia entender. Todas as mentiras e falta de confiança... Sim, porque depois de tudo eu não podia esperar que Sakura confiasse em mim. Ela literalmente fez todo o possível para esconder o fato de que estava participando do Soul Talent. Aliás, ela fez todo o possível para esconder o próprio talento musical.

E para quê? Para quê tanta falta de sinceridade?

Sakura era absurdamente talentosa! Estava morrendo de raiva, mas isso eu tinha que admitir. O talento dela era de outro mundo. Eu nunca imaginaria. Todas aquelas músicas maravilhosas... Eram músicas de Sakura! Isso era tão absurdamente inacreditável que minha cabeça rodava. Eu tentava, mas não conseguia entender.

Por que, Sakura? Por quê?

Por que ela não mostrou seu talento? Por que esconder que estava no Soul Talent? O que mais ela escondeu da gente?

De repente me lembrei da conversa que tive com Sakura em Tokyo, um pouco antes de viajarmos para Nova York. Eu tinha notado que ela estava diferente e a perguntei sobre isso, mas ela despistou. Perguntei sobre seus sonhos e ela me disse que queria fazer gastronomia e ter o próprio restaurante. Foi mentira. Apenas mais uma mentira.

Não apenas enganado, eu estava me sentindo traído. E eu odiava esse sentimento, mas não podia evitar.

“Sasuke!” Ouvi a voz de Neji me chamar. Quando me virei, ele estava correndo ao meu encontro.

Cerrei os punhos. “Você sabia.” A minha voz saiu mais raivosa do que eu esperava.

Ele apenas confirmou com a cabeça.

Bufei, dando-lhe as costas.

“Sasuke.” Ele chamou novamente.

“Não é o melhor momento, Neji.” Falei. Se eu conversasse com ele agora, provavelmente explodiria e descontaria tudo nele.

“Era o segredo dela.” Ele disse. “Eu não podia contar.”

Virei-me, com vontade de socá-lo. “Você não apenas não contou, como acobertou! Ou vai me dizer que ela realmente trabalhava e morava na casa de um casal de idosos perto do seu trabalho?”

Neji negou com a cabeça. “Era o segredo da Sakura.” Ele repetiu. “Eu não tinha o direito de contar, mas sabia que ela precisava de alguém ao seu lado.”

“E desde quando vocês são tão amiguinhos?” Perguntei, com despeito. Eu tinha consciência de que a minha maior raiva com Neji era ele saber o segredo de Sakura e eu não.

“Sakura não sabe que descobri o segredo dela.” Ele respondeu. “Eu descobri sozinho. Só que para mim ela contou uma mentira diferente. Disse apenas que estava trabalhando com a produção do Soul Talent.”

“Ela mentiu para você também?”

“A Sakura mentiu para todo mundo, Sasuke. Provavelmente a vida inteira.” Neji respondeu. “Mentiu tanto que a mentira virou algo natural e a verdade lhe era estranha. Mas eu ajudei porque acredito que ela teve seus motivos.”

“Motivos justificam mentir uma vez ou outra.” Afirmei. “Mas tanto assim? Que motivos justificam, Neji? Eu nem ao menos sei mais o que foi verdade e o que foi fingimento em todos esses anos.”

“Você tem direito de estar chateado, eu também fiquei. Mas–”

“O pior de tudo é isso!” Interrompi. “Eu não tenho o direito de estar chateado ou com raiva da Sakura. Não depois de ela ter se atirado na frente de uma bala por mim.” Desabafei. “Eu não tenho o direito, mas estou! E muito.”

Neji ficou calado. Provavelmente não sabia o que dizer. Eu não podia ter raiva de Sakura depois do que ela fez por mim. Mas como evitar? Eu pensava que éramos amigos, mas de repente eu nem ao menos a conhecia mais. Tanta coisa que ela escondeu, tantas mentiras que contou, tanto fingimento... Quem era Sakura? Quantas coisas mais ela escondeu? Quantas coisas mais ela fingiu? Eu não sabia. Eu já não sabia de mais nada.

“Dez anos, Neji.” Voltei a falar. “Foram dez anos convivendo diariamente com ela! Como eu nunca notei? Como?!”

“Não se culpe.” Ele disse. “Você não tinha como saber. A Sakura tem uma habilidade de mentir fora do comum. Soube disso ao observá-la atentamente após descobrir a verdade. Mesmo que soubesse que ela estava fingindo, eu não podia identificar isso pelas expressões dela. Fiquei até assustado com o quão bem ela mentia. É como uma profissional.”

Balancei a cabeça. Se Neji achava que dizer isso me ajudaria em algo, ele estava muito enganado. Só comprovava que eu realmente não sabia nada dela. Eu costumava achar que ela era a pessoa mais transparente que eu conhecia – e acabou sendo o perfeito contrário.

“Isso é um pouco demais para mim, Neji.” Passei a mão em meus cabelos. “Deixa eu ficar um pouco sozinho.” Falei, dando-lhe as costas.

Dei apenas um passo e Neji me chamou novamente. “Ei, Sasuke.” Parei de me mover, mas não me virei. “Se eu consegui entender a Sakura, você também conseguirá. Eu sei que ela errou muito com todas essas mentiras. Mas você não acha que ela foi a pessoa que mais sofreu com isso tudo?” Ele disse. “Todos esses anos presa em silêncio, escondendo uma parte tão grande de si própria. Eu não sei os motivos, e talvez eles realmente não justifiquem. Mas eu imagino que foi muito doloroso. Por isso eu a ajudei.”

Neji tinha um ponto. Só que... “Só que você não se sentiu traído e enganado, não é?” Perguntei. “Vocês não eram próximos. Vocês mal conversavam. Você não ficou com a sua mente procurando memórias de quando estavam juntos e jogando na sua cara que ela deve ter mentido na maioria daquelas conversas – até nas mais simples como quais eram os nossos sonhos. Você não ficou pensando que a pessoa que se dizia tão sua amiga não teve a mínima confiança em você. Então não venha me dizer que é a mesma coisa para nós dois, Neji. Porque não é.”

Coloquei um ponto final naquela conversa e dei passos largos para longe dali. O Hyuuga não me seguiu dessa vez.

Não sabia para onde estava indo e não me importava. Havia um furacão dentro da minha cabeça que não sabia como controlar. E eu que pensava que mais nada podia sair do lugar a minha vida. Como estava enganado. Não fazia ideia. Não importa o quão fodida nossa vida está, sempre piora.

No meio disso tudo eu sentia uma frieza se instaurando no meu interior.

Eu estava perdido.

*

*

*

POV: Haruno Sakura

Raiva correu pelas minhas veias com intensidade, quase me cegando.

"Seu desgraçado!" Gritei, correndo até ele e batendo em seu peito e barriga com meus punhos. "Filho da mãe!"

"Sakura-chan..." Ele começou, tentando me segurar.

"Não me chama de Sakura-chan!" Gritei. "Eu vou te matar!"

Como ele ousava? Agarrei a gola da camisa dele, trazendo-o para perto, de modo que eu pudesse fuzilá-lo com o olhar melhor.

A diferença de altura entre nós já não era a mesma – eu tinha crescido uns bons centímetros desde o nosso último encontro.

Itachi me olhou com surpresa.

"Você faz ideia de como a sua família está preocupada?" Rosnei. "Faz ideia de quão mal você deixou os seus pais e o Sasuke-kun? Como você pôde fazer isso?" Eu estava tão frustrada! "Vou te matar!"

E então eu comecei a bater nele de novo.

"Sakura-chan!" Ele tentou me parar novamente. "Para com isso."

Itachi prendeu meus braços junto ao meu corpo com um abraço apertado. Então eu comecei a bater nas costas dele.

"Você nem sequer ligou! Nem ao menos para dizer que estrava vivo!" Foi só quando eu disse isso que percebi que estava chorando. "Você fugiu e deixou todo mundo para trás. Você... Você..."

Fui perdendo as forças. Minhas batidas não passavam mais de tapinhas fracos.

Eu chorava porque odiava Itachi por partir sem dizer uma palavra sequer, odiava pela dor que ele causou em todo mundo com o egoísmo dele, e odiava mais ainda por ter me feito sentir tanta saudade.

Itachi fez carinho nas minhas costas e encostou sua cabeça na minha.

"Vou te matar." Choraminguei. Itachi sorriu.

"Sakura-chan..." Ele disse meu nome com carinho. "Senti saudades."

*

*

*

POV: Haruno Sakura

A varanda da casa de Tsunade e Shizune era bonita e aconchegante, com um sofá, duas poltronas e uma mesa. A paisagem era a área externa – quintal –, que tinha uma árvore formosa e algumas flores iluminadas pela luz que vinha da casa e pela lua.

Chovia, mas a cobertura da varanda me mantinha protegida. Aquele suave cheiro de grama molhada me trazia paz.

No último dia a quantidade de mensagens e ligações que eu tinha recebido de praticamente todo mundo que eu conheci na vida foi absurda.

Meus amigos mandavam coisas como: 'o que está acontecendo?', 'isso é real?' 'você precisa se explicar', 'atende o telefone', 'cadê você?' e inúmeras 'responde'. Algumas – muitas – dessas mensagens vinham acompanhadas de palavrões e exclamações incrédulas.

Eu não estava em condições de lidar com isso. Sabia que eles estavam chocados e deviam me achar a maior mentirosa do mundo, então eu tinha plena consciência de que não conseguiria aguentar falar com eles sem desabar.

Sasuke-kun, no entanto, não havia mandando nada, nem Neji e nem minha mãe.

De certa forma, eu agradecia por isso, porque eles eram as pessoas para quem eu não saberia o que dizer. Qualquer palavra ou reação vindas deles poderia me destruir.

As outras mensagens se resumiam a antigos colegas que mal me davam bom dia me parabenizando e elogiando. Puxa-sacos.

Por conta de toda essa avalanche no meu celular, eu tinha resolvido desligá-lo.

Parte de mim estava pulando de felicidade desde a noite do musical, e a outra, afogada em preocupações, incomodada.

A começar por Itachi que ressurgiu das cinzas como o meu novo segurança. Segundo o que ele me disse, havia sido contratado para ser segurança de Lümina, mas nunca imaginou que ela seria eu, afinal. Coincidência bizarra!

Mas nós não conversamos muito. Eu ainda estava muito chateada. Ele fugiu de Konoha, abandonando a família e nem sequer ligou para dizer que estava vivo! Sinceramente? Itachi merecia uma surra.

Perdi a conta de quantas vezes ontem pedi para ele ligar para os pais, mas o Uchiha era sempre escorregadio. Ele dizia que ia ligar no momento certo e que não era para eu me preocupar com isso.

Não me preocupar? Dizia isso porque não viu o estado que deixou a família! Garoto egoísta! O pior de tudo, era que eu estava morrendo de saudades dele. Querendo ou não, eu cresci tendo Itachi na minha vida.

Nosso reencontro não durou muito, mas foi o suficiente para eu querer arrancar a pele dele ao mesmo tempo que queria matar as saudades. Talvez em nosso próximo encontro – afinal, agora ele era meu segurança – eu lhe convencesse a voltar para a família.

Minha cabeça girava e girava entre os meus mais diversos problemas, mas acabava retornando sempre ao mesmo ponto, digo, pessoa: Gaara.

Eu sentia como se fosse perder mais uma noite de sono se não me entendesse com ele.

Ainda mais porque ele iria dormir nessa casa hoje. Aparentemente, iria para uma sessão de fotos amanhã cedo com Tsunade e seria mais cômodo se dormisse aqui. Ele estava instalado em um quarto extra e eu ficava me perguntando se ele já estava dormindo.

Sentei-me no sofá com meu teclado no colo e dedilhei alguns acordes. Naquele momento só havia uma música e uma pessoa em meus pensamentos

Resolvi ligar meu celular, ignorando a nova enxurrada de mensagens e ligações, e mandei uma mensagem pra Gaara.

Está dormindo?— Criei coragem de perguntar.

Ele não demorou a responder.

Não— Disse.

Vem aqui na varanda. Tenho algo para lhe mostrar— Chamei.

Gaara não respondeu a mensagem, mas não demorou a vir ao meu encontro.

"O que foi?" Ele perguntou, ao chegar na varanda.

"Senta um pouco." Falei. "Quero conversar."

Gaara se acomodou na poltrona à minha frente. "Sobre?"

"O motivo de você estar estranho comigo."

Gaara se remexeu, desconfortável. "Eu não–"

"Se você vier com um 'eu não estou estranho' eu vou ficar com raiva." Falei, séria. "Eu não sou idiota, Gaara. Você está estranho e já faz tempo."

Ele abaixou os ombros. "Olha, você está cansada. Vamos falar disso outro dia, ok?"

"Não! Eu quero saber o motivo!" Bati o pé. Podia estar sendo um pouco infantil? Sim, podia, mas não era novidade para mim. "Eu não estou nem conseguindo dormir direito!"

"Por minha causa?" Gaara me olhou com surpresa.

"Principalmente por sua causa!" Afirmei, passando as mãos pelos cabelos. "Eu decidi ficar em Nova York e deixei para trás Konoha e todas aquelas pessoas. Pensei que ao menos eu teria você, mas eu me sinto tão sozinha!"

Gaara piscou, ainda mais surpreso. "Eu... Não sabia..." Ele me deu um olhar pesaroso. "Por que você não me disse isso antes?"

Dei de ombros. "O musical nos deixou bastante ocupados nos últimos meses e eu não queria que nada atrapalhasse. Mas não significa que eu não tenha me sentido mal durante todo esse tempo que você me tratou como uma estranha. Eu só preciso entender o porquê."

Era raro para mim falar tão abertamente sobre o que eu estava sentindo, mas de alguma forma essa barreira que eu erguia para o resto do mundo parecia ser feita de papelão quando se tratava de Gaara. Com ele, sempre sentia como se pudesse ser completamente honesta.

"Sakura..." Ele abaixou o olhar para suas mãos. "Você levou um tiro por Uchiha Sasuke e eu fiquei confuso com tudo que eu estava sentindo por você, porque percebi que meu sentimento era unilateral e eu não soube lidar muito bem com isso... Com o fato de que você nunca vai me corresponder."

As palavras de Gaara me afetaram. Demais. Eu sabia muito bem o que era ter um sentimento não correspondido, unilateral. Eu conhecia aquele tipo de dor muito bem. Perceber que eu infligi tal tipo de sofrimento a alguém – ainda mais Gaara – foi desnorteador.

"Gaara..."

"Então eu me afastei." Ele continuou antes que eu pudesse formular algo. "Primeiro porque eu precisava fazer isso pelo meu próprio bem – eu nunca fui do tipo masoquista. E segundo porque achava que você precisava do seu tempo."

Mas as coisas não eram bem assim. Desde o princípio, eu nunca fui indiferente a Gaara. Ele sempre me causava reações que eu achava que somente Sasuke-kun – por quem eu costumava ser tão apaixonada – poderia causar em mim, como o frio na barriga, o nervosismo e a sensação de que eu iria me derreter a qualquer segundo, cada vez que ele chegava mais perto. Aqueles sentimentos sempre estiveram ali, dentro do meu coração, ofuscados e suprimidos pela minha própria teimosia de insistir que o Uchiha sempre seria o único.

Porém, conforme eu ia me afastando de Sasuke, aqueles sentimentos por Gaara só cresciam e me confundiam, porque não era como se eu tivesse esquecido ou parado de amar o meu primeiro amor, mas ali estava eu, me apaixonando por outro cara.

Sim. Apaixonando.

Eu sabia que meus sentimentos por Gaara iam além da amizade, mas como podia ser? Como eu poderia gostar de dois caras ao mesmo tempo? Só o pensamento me dava ânsia, por isso eu o negava com todas as forças, recusando-me a reconhecer o que sentia por Gaara.

Era como dois sentimentos fortes e, de certa forma, bem diferentes, coexistindo dentro de mim.

Agora que fazia dois meses que eu não via e nem falava com Sasuke-kun, parecia que meu sentimento por Gaara estava finalmente deixando de ser ofuscado para, ao invés disso, ofuscar – e ganhar espaço, crescendo de maneira que nem se eu quisesse poderia negar.

Mas essas eram coisas que eu não sabia como dizer. Ainda assim, queria ser honesta com Gaara. Então eu só conhecia um jeito de fazer isso.

"Quero te mostrar minha nova música." Eu disse, quebrando o silêncio que tinha se instaurado sobre nós.

"Mais uma da série Sasuke?" Ele perguntou, com sarcasmo.

"Não." Respondi. "É a primeira da série Gaara."

Gaara levantou o olhar para o meu, surpreendido. Eu sorri e comecei a tocar.

[Miracle – Ilse DeLange]

Alguém colocou um cadeado nesse coração desgastado

Tem sido espancado e usado e mais

Tem sido chutado cem mil vezes

Está mantendo todas as lembranças consigo

Cantei com delicadeza, sentindo meu coração acelerar. Eu estava saindo da minha zona de conforto, expondo meus sentimentos mais ocultos.

Se você ler as linhas entre a pintura

E olhar além das rachaduras que se acumularam

Ele está escondido nas janelas das paredes

Logo atrás dos olhos que viram tudo

Gaara me dava toda a sua atenção, enquanto eu tentava fazê-lo entender, através da minha música, a situação em que vivi por toda minha vida e o que o aparecimento dele significou para mim.

Considerando todos os fatos da circunstância

Eu não acreditava que um romance apareceria no meio dessa melancolia

Esse é o único lugar que eu já conheci

Depois de todas as feridas e rejeições, nunca imaginei que alguém fosse capaz de fazer seu caminho até meu coração machucado, no meio daquele caos em que eu vivia. Mas Gaara quebrou todas as barreiras que eu mesma achava impossíveis de serem quebradas.

Mas você me tira da minha zona de segurança

Me põe para fora de todos os meus limites

Para descobrir que ninguém realmente vive sem dar o que tem em si

Gaara era o único que me convencia a fazer coisas que antes eu nunca teria nem tentando. Ele me tirava da zona de conforto e em nenhum momento eu deixava de confiar nele.

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre procurando entrar na minha vida, depois de tudo

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre, um milagre, um milagre

Era assim que eu via Gaara: como um milagre. De longe a maior sorte da minha vida foi, ironicamente, quando ele me atropelou – ou eu que o 'atropelei' –, porque foi ali, naquele momento, que ele entrou em minha vida. E isso foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Eu tenho vivido por debaixo da minha pele

Tudo o que eu sentia mantinha só para mim

Levou consigo todas as minhas palavras sem som

Você me pegou, quase ficou alto demais

Eu guardava só para mim toda vez que alguém me machucava, então colocava um sorriso no rosto e fingia que estava tudo bem. Gaara chegou e me entendeu sem que eu precisasse dizer nada e ficou ao meu lado mesmo quando eu não me achava digna.

Mas agora que os meus braços estão segurando

Alguém tão sagrado como uma canção

Para quem quer me pertencer

Eu descobri que o sangue pode vir das pedras

O Sabaku era sagrado para mim. Quando escolhi viver em Nova York, em nenhum segundo me passou pela cabeça que ele não estivesse ao meu lado, por causa disso seu afastamento tinha me causado um certo tipo de desespero. Como eu iria sobreviver nessa cidade longe dos amigos que eram a minha família sem Gaara, meu porto seguro?

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre procurando entrar na minha vida, depois de tudo

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre, um milagre, um milagre

Gaara trouxe as cores mais brilhantes e bonitas para o meu mundo em preto e branco. Não podia aceitar que ele simplesmente se afastasse. Podia ser egoísmo, mas altruísmo nunca foi meu ponto forte.

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre procurando entrar na minha vida, depois de tudo

Um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre procurando entrar na minha vida, depois de tudo

Eu encontrei um milagre procurando entrar na minha vida

Um globo espelhado mostrando-me todos estes rostos

Um milagre, um milagre, um milagre

Gaara me olhava com um misto de emoções que eu não era capaz de nomear, mas eu sabia que ele estava compreendendo. Ele sempre compreendia.

Alguém colocou um cadeado nesse coração desgastado

Tem sido espancado e usado e mais

Tem sido chutado cem mil vezes

Está mantendo todas as lembranças consigo

Tocando as últimas notas, finalizei a música com meu olhar fixo no do ruivo. Ele não dizia uma palavra sequer, mas parecia lutar uma batalha dentro de si mesmo.

"Você entendeu?" Perguntei, com seriedade. "Você é o meu milagre, Gaara."

O seu olhar se derreteu. Percebi que ele mal respirava, absorvendo minhas palavras. O ruivo balançou a cabeça, levantando-se do seu lugar. Ele se apoiou no cercado da varanda, ficando de costas para mim.

"V-você..." Gaara estava hesitante. "Você gosta... De mim?"

A minha resposta veio sem nenhuma demora. "Demais."

Ele remexeu os ombros. "Romanticamente, eu digo."

Sorri, nervosa com a situação, mas me divertindo com a reação dele.

"Eu gosto romanticamente de você, Sabaku no Gaara." Confessei, com todas as letras.

O ruivo paralisou por um momento e eu fiquei esperando sua reação ansiosamente.

E então ele começou a rir. Começou com um riso tímido, que foi ganhando força.

Dentro de mim eu sabia que ele estava rindo de felicidade e não consegui evitar um sorriso e um calor no coração.

Ele se virou para mim com um brilho no olhar.

"Você gosta romanticamente de mim!" Ele riu como uma criança, me olhando como se eu fosse algum tipo de maravilha do mundo.

Meus olhos marejaram com a reação dele. Era a primeira vez que eu me confessava e tinha uma resposta assim.

Gaara correu até mim e me pegou no colo, arrancando-me um suspiro de surpresa.

O rosto iluminado dele estava bem próximo ao meu.

"Você já beijou na chuva, Haruno Sakura?" Ele perguntou de repente, fazendo meus olhos arregalarem e coração acelerar.

Não tive tempo responder. Gaara correu para o quintal, fora da proteção da varanda, comigo no colo, arrancando-me um grito.

A chuva me molhou completamente quase que de imediato.

"Você é louco?!" Perguntei, enquanto ele rodava na chuva, comigo em seus braços.

"A Maluquinha aqui é você!" Ele respondeu, rindo.

Gaara me colocou no chão, soltando-me.

Ele passou as mãos nos cabelos vermelhos, agora molhados.

"Eu nunca estive tão nervoso." Falou. "E feliz."

"É porque você gosta romanticamente de mim também." Brinquei.

"Convencida!" Riu, olhando-me com divertimento. "Mas não deixa de ser verdade."

Gaara segurou-me pela cintura, colando meu corpo no dele. Minha respiração falhou.

"Você tem três segundos para fugir." Ele disse. "Porque em três segundos eu vou te beijar."

E eu não fiquei assustada. Eu queria aquilo. Deus! Como eu queria aquilo!

"Um..." Ele começou a contagem. "Doi–"

Não o deixei terminar. Puxei-o pela gola da camisa e selei meus lábios nos dele.

Foi como se uma corrente elétrica percorresse todo o meu corpo, deixando-me com um frio na barriga.

Gaara apertou-me mais junto a ele e segurou meu rosto com carinho.

A chuva trazia uma sensação gostosa na minha pele, enquanto nossos lábios permaneciam colados.

As minhas mãos que agarravam sua camisa soltaram-na vagarosamente e eu envolvi seu pescoço.

Era um daqueles momentos em que você desejava que o tempo parasse.

Lentamente, Gaara moveu os lábios e eu o acompanhei. Levou apenas um segundo para que explodíssemos.

Quando as nossas línguas se tocaram eu perdi a razão. A chama que eu vinha nutrindo por Gaara em meu coração se tornou um incêndio e eu soube ali que não conseguiria mais controlar.

Assim que nossas bocas se separaram e eu olhei nos olhos de Gaara, eu soube que tinha encontrado o meu lugar.

Ele me abraçou bem forte e rodopiou comigo. Dessa vez, fui eu que ri como uma criança.

Gaara era sinônimo de felicidade.

Quando eu me lembrava de Sasuke-kun, felicidade não era a primeira coisa que vinha à minha mente. Algo me dizia que eu nunca ia deixar de amá-lo e que parte de mim sempre pertenceria a ele. Mas era por Gaara que meu coração estava chamando, por mais confuso que pudesse parecer.

Aquele beijo era muito diferente do de Sasuke-kun, porque não era carregado com despedidas e tristezas – o beijo de Gaara carregava promessas de um futuro e tinha o sabor da felicidade.

Então eu o beijei novamente. E novamente. E eu não queria parar nunca mais.

Porque nós dois éramos um incêndio vivo embaixo de chuva.