As Máscaras de Sakura

Primeira Fase: Raiva


"Olha, Sakura..." Mamãe falou quando eu já estava prestes a sair de casa. "Eu não sei que merda você anda fazendo depois da escola, mas quando eu chegar do trabalho hoje, se o almoço não estiver pronto..." Falou, com tom de ameaça.

"Relaxa, mãe." Respondi, terminando de colocar o material na mochila. "Hoje eu chego cedo." Saí de casa antes que ela falasse mais alguma coisa.

Eu estava pegando a minha bicicleta quando Sasuke-kun apareceu, vestido com o uniforme da escola.

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"Ei, Sakura!" Chamou-me. "Não vai me esperar?" Perguntou, sorrindo.

Retribuí o sorriso. "Voltando às aulas, Sasuke-kun?"

"É... Sabe... Quinze dias úteis sem escola... Três semanas completas... É relaxante, mas eu já não aguentava mais ficar em casa." Falou.

Sim. Três semanas haviam passado desde que Sasuke-kun havia sido suspenso.

Toda noite eu passava na casa dele para deixar o conteúdo e deveres da aula, assim ele não ficava muito atrasado.

Hoje era, finalmente, o dia em que a suspensão terminava.

"Vai de bicicleta?" Perguntou. Eu assenti com a cabeça. "Estranho. Você sempre quis ir andando até a escola comigo."

Sorri. Verdade. Porque caminhando dava para passar mais tempo com ele.

"Claro. Vamos andando." Falei, guardando a bicicleta.

Eu e Sasuke-kun começamos a caminhar lado a lado.

"Já faz um tempo." Ele falou.

"Que nós não vamos juntos para a escola?" Ri. "Sim. Graças ao magnífico tapa que você deu na Tayuya. Entrou pra história."

Sasuke-kun deu um sorriso de lado. "Não falo disso." Olhou-me. "Já faz um tempo que nós conversamos. Quer dizer... Você passa lá em casa toda noite. Mas, realmente, só passa."

"Não pensei que você quisesse que eu ficasse, Sasuke-kun." Falei, em tom divertido.

"Deixa de graça." Deu-me um leve empurrão com o ombro. "Você está um pouco diferente."

"Diferente como?"

"Não sei dizer. É só... Alguma coisa... Eu realmente não sei. Mas tem algo diferente, sim."

"Impressão sua." Afirmei.

"Nas últimas semanas você não foi a nenhum ensaio da banda. Nem ao treino do time. Aliás, você não apareceu no jogo dos Snakes contra os Wolfs." Sasuke-kun enumerava minhas faltas. "E, principalmente, todas as vezes que fomos ao Old Arcade você inventava uma desculpa para não ir com a gente.

Franzi o cenho. "Não teve nenhuma desculpa inventada. Eu estava bem machucada e precisava de repouso. Então, não dava pra ir aos treinos, ensaios e nem ao Old Arcade. No dia do jogo eu não estava me sentindo bem e, pra falar a verdade, eu fiquei feliz por não ter que ver a vitória dos Wolfs."

"Você me parece perfeitamente curada. Poderia ter ido ao Old Arcade com a gente, na sexta." Rebateu.

Sim. Poderia. Mas eu não quis.

Desde a noite da minha conversa com Mikoto-san algumas coisas tinham mudado em minha cabeça.

Ela estava certa. Eu não podia depender nem de Sasuke-kun, Ino ou dos meus amigos.

Eu precisava depender de mim.

Mas eu não sabia muito sobre quem eu realmente era.

Então, eu precisava me afastar um pouco de toda aquela dor que Sasuke-kun e Ino me causaram, para começar a me aproximar de mim mesma.

Eu não pretendia me afastar do grupo. Não. Essa nunca foi a intenção. Só que doía ficar perto deles. E eu estava começando a descobrir que não era tão masoquista quanto achei que fosse.

"Eu já te disse... Estava com muita dor de cabeça, Sasuke-kun. E o Old Arcade é... Você sabe... Muito barulhento." Repeti o que tinha inventado na sexta pra não precisar sair com eles.

"Hum. Sei." Respondeu, sarcástico. "Se você estava assim tão machucada, por que eu nunca te encontrava em casa?"

"Como assim?" Estava começando a me arrepender de ter vindo caminhando com Sasuke-kun.

"Sua mãe tem estado bem furiosa esses dias. Dá pra ouvir os gritos, quando ela chega do trabalho e não te encontra em casa."

"Na verdade, Sasuke-kun... Ela fica furiosa quando chega e não encontra o almoço pronto." Rebati.

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"Que seja." Deu de ombros. "Onde você tem estado?"

Pensa rápido, Sakura!

"Com Kabuto." Menti. "É no horário de almoço dele. Eu prefiro estar no hospital do que em casa. Mamãe está cada vez mais insuportável."

"Hum." Sasuke-kun suspirou, mudando de assunto. "Você deveria acertar as coisas com Mebuki-san. É sua mãe, afinal de contas."

"Sasuke-kun." Eu disse, irritada. "Não fale sobre o que você não sabe."

Comecei a andar mais rápido. Não queria mais conversar.

"Ei, Sakura!" Chamou, atrás de mim. "Espera!"
Ignorei-o.

*

*

*

"Eu não falei por mal." Sasuke-kun disse, assim que passamos pelo portão da escola.

"Eu sei." Respondi simplesmente.

Avistamos nossos amigos e fomos até eles.

"Olha só quem resolveu dar o ar da graça!" Naruto falou rindo e batendo seu punho com o de Sasuke-kun.

"Vê se não faz merda de novo, cara." Tenten deu batidinhas na costa dele.

"Meus pais já estavam me enlouquecendo em casa." Sasuke-kun sentou ao lado de Shikamaru. "Nunca pensei que fosse querer tanto voltar pra escola."

"Eu entendo seus pais. Eles ainda não engoliram o fato de você ter batido em uma mulher." Defendi.

Ino riu. "Sakura, amiga, ele não bateu em uma mulher. Bateu naquela coisa ridícula que atende pelo nome de Tayuya."

"Sim! É muito diferente." Hinata concordou. "Vai dizer que você não gostou do tapa?"

Sorri. "A-do-rei!"

Nós rimos.

Uma pequena confusão se fez presente no portão. Alguns repórteres discutiam com policiais.

"Sério que semanas depois ainda tem repórter na porta da escola?" Sasuke-kun levantou as sobrancelhas.

"Pra você ver..." Naruto riu. "Não é a mesma loucura do primeiro dia, mas eles ainda vêm todo dia."

"A gente já até se acostumou." Shikamaru disse.

"São os efeitos 'Sabaku no Gaara', galera." Ino constatou.

Rimos.

"Você vai ser parceiro de Química dele, Sasuke." Neji falou. "Junto com a Sakura."

Sasuke-kun assentiu com a cabeça. "Eu sei. Como ele é, Sakura?"

"Prestativo." Respondi. "Não é muito bom em química, mas se interessa bastante."

"Vocês conversam?" Hinata perguntou.

"Claro. Somos parceiros." Disse o óbvio.

Tenten rolou os olhos. "Sobre outras coisas que não sejam química, ela quis dizer."

Pensei sobre o que responder. "Não. Só sobre a matéria mesmo."

Não era bem uma mentira. Pelo menos quando estávamos em aula, nossas conversas eram só sobre a matéria.

"Sakura-chan, você não sabe aproveitar nada!" Naruto balançou a cabeça. "Nem para trazer o cara pro nosso grupo!"

"Pois é!" Ino disse, com indignação. "Você é a única pessoa na escola inteira com quem ele fala. Mesmo que seja só sobre química. Nem pra trazer o cara pro nosso grupo você presta."

"Ei!" Ofendi-me. "O cara não dá brecha. O que eu posso fazer?" Menti.

Eu já havia falado para Gaara passar o intervalo junto comigo e com o grupo, mas ele não queria.

Ele, na verdade, não ia com a cara dos meus amigos. E eu não fazia ideia do porquê.

Tenten balançou a cabeça. "Claro que não. Por que ele te daria brecha? Ele é Sabaku no Gaara. Quase um deus inatingível."

Ino riu. "Se eu ou você fôssemos a parceira dele, Tenten, tenho certeza que as coisas não seriam assim." Deu uma piscadinha.

"E eu?" Hinata se pronunciou.

"Você é linda, Hina! Mas tão, tão tímida que afastaria Gaara com sua timidez." Ino respondeu.

"Se fosse você, Ino, com toda sua beleza, já teria o Sabaku nas suas mãos." Tenten riu.

"Não é bem assim." Neji falou. "Vocês podem ser lindas, mas Gaara é Gaara! Está acostumado a ter as garotas mais bonitas do mundo aos seus pés."

"Ninguém viu ele com nenhuma delas, no entanto." Sasuke-kun comentou.

"Talvez seja gay." Shikamaru palpitou.

"Claro que não!" Ino se indignou.

"Qual o problema se fosse?" Shikamaru rebateu.

"Nenhum..." Ino bufou. "É só que... Ele não é e ponto."

"Ele só é reservado em relação aos seus envolvimentos românticos." Afirmei.

"Pode ser." Hinata assentiu. "Mas bem que você podia tentar trazer ele pro grupo."

"Essa não é uma missão para a qual a Sakura-chan está qualificada." Naruto riu. "Mas agora o Sasuke-teme está aqui, galera."

Neji colocou uma mão no ombro de Sasuke-kun. "Vire amigo de Gaara."

Sasuke-kun sorriu. "Vou tentar."

Então, o sinal bateu.

Mas eu não pude evitar o pensamento de que, sutilmente, eu havia sido subestimada pelos meus amigos. Eu tentei não pensar muito sobre isso. Mas não consegui afastar aquele sentimento. Aquele sentimento de... Humilhação.

*

*

*

Como de costume, Gaara só entrou na sala um pouco depois da aula começar.

Ele sempre se sentava no lugar de Sasuke-kun, ao meu lado, mas agora que o moreno estava de volta, o ruivo teria que procurar outro lugar.

Ou não.

Gaara se dirigiu à mesa de Sasuke-kun. "Esse lugar é meu, cara."

O moreno olhou-o surpreso. "Não. É meu. Sempre foi." Respondeu.

"Não nas últimas semanas." Gaara rebateu. "Vaza."

Sasuke-kun bufou. "Eu sei que você está acostumado com todo mundo te obedecendo. Mas comigo a história é diferente. Você não manda em mim."

Eu segurei a respiração. A turma não ousava fazer um mínimo ruído. Nem mesmo o professor de filosofia.

Gaara deu um pequeno sorriso de lado. Sarcástico. "Ok."

E andou até o final da sala.

Era isso?

Só isso?

Ele iria deixar Sasuke-kun ganhar a discussão assim?

Não soava como algo que Gaara faria.

E não era.

O ruivo pegou uma carteira vazia do canto da sala e a arrastou até colocá-la entre o meu lugar e o de Sasuke-kun.

E então ele sentou, agindo como se nada estivesse acontecendo.

"Você não pode sentar aí, Sabaku-san." Tomoko-sensei, o professor de filosofia falou, com um pouco de receio.

Gaara arqueou a sobrancelha. "Por quê?"

"Porque você está entre duas filas, no meio da passagem." Respondeu em baixo tom. "Escolha um lugar dentro de alguma fila, por favor."

"Bom, eu já estou em uma fila." Gaara disse, em tom arrogante. "Acabei de criar uma nova."

"Não é permitido. Por favor saia daí." O professor pediu.

"Obrigue-me." O ruivo cruzou os braços.

Eu não acredito que ele estava agindo do mesmo jeito teimoso que agiu quando eu tentei expulsá-lo de minha casa, semanas atrás.

O professor engoliu em seco. Era de conhecimento geral que Gaara era protegido do diretor. Ele basicamente fazia o que queria, quando queria, e coitado de quem ficasse no caminho.

Tomoko-sensei ficou sem reação por alguns segundos, até resolver falar: "Peguem seus livros e abram na página 23."

Gaara sorriu convencido. Ele havia ganhado.

"Você tem problemas, cara." Sasuke-kun falou baixinho.

O plano não era virar amigo de Gaara? O que Sasuke-kun estava fazendo?

Naruto que sentava atrás dele parecia pensar o mesmo que eu, já que chutou "discretamente" a carteira de Sasuke-kun.

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"Não." Gaara respondeu, olhando arrogantemente para o moreno. "Eu sou o problema."
Sasuke-kun balançou a cabeça. "Tantos lugares disponíveis, por que quis logo esse?"

"Não te devo explicações." O ruivo falou, com deboche.

"Tem algum problema comigo, cara?" Sasuke-kun perguntou, irritado. Foi quando eu percebi que a sala toda prestava atenção na conversa deles.

Gaara olhou para o moreno com algo próximo ao nojo. "Eu não gosto de você. Nem um pouco."

Sasuke-kun arqueou as sobrancelhas. "E posso saber o porquê? Nunca te fiz nada."

O ruivo sorriu. "Porque você é de longe o cara mais tapado e estúpido na face da Terra." Sasuke-kun arregalou os olhos em descrença. Gaara continuou: "E quando você perceber que tem a jóia mais preciosa do mundo em suas mãos, vai ser tarde demais. Porque eu vou garantir que já a tenha perdido. Babaca."

Silêncio.

Eu não conseguia nem respirar.

"Sobre que merda você está falando, cara? Nem te conheço." Sasuke-kun balançou a cabeça, mostrando completo choque e descrença. "Acho que é verdade o que dizem. Você só pode usar drogas para estar falando coisas tão sem sentido."

Gaara deu um arrogante sorriso de lado, olhando para Sasuke-kun com nada menos que superioridade. "O tempo dirá se o que eu falo tem sentido ou não."

Os dois se encararam por alguns segundos e eu jurava que podia sentir a eletricidade saindo de seus olhos.

Finalmente o professor se pronunciou, fingindo uma pequena tosse para atrair a atenção da sala.

Gaara foi quem quebrou o contato visual e, cruzando os braços, virou-se para frente, ignorando o olhar penetrante de Sasuke-kun.

E mesmo quando todo mundo passou a prestar a atenção em qualquer que fosse o assunto que o professor estava falando, eu não consegui me concentrar. Não conseguia deixar de olhar para o ruivo pelo canto dos olhos.

Era de mim que Gaara falava.

A jóia era eu.

O que mais poderia ser?

Só de pensar nisso uma emoção estranha tomava conta de mim.

Algo inexplicável.

Eu só sabia que era... Bom.

Era como se pela primeira vez na vida alguém tivesse se pronunciado em minha defesa.

Podia ser algo de minha cabeça.

Eu podia estar enganada. Mas não queria estar.

Não queria que aquilo que eu sentia se esvanecesse.

Pois era bom.

*

*

*

"Alguém sabe do que o Gaara estava falando?" Ino perguntou. Estávamos todos sentados no pátio do colégio, na hora do intervalo.

"São as drogas, gente. São as drogas." Naruto falou, arrancando risos do grupo. Não de mim.

"Eu não entendi porra nenhuma." Shikamaru disse.

"Ele falava como se soubesse alguma coisa da minha vida. Imbecil." Sasuke-kun balançou a cabeça.

"Acho que ele ficou assim porque você sentou no lugar dele." Hinata opinou.

"O lugar é meu." Sasuke-kun rebateu.

"Talvez ele não quisesse ficar longe da Sakura." Neji falou, fazendo-me arregalar os olhos. "Talvez isso tudo seja por causa da Sakura."

Fiquei estática. Por um segundo o grupo ficou em silêncio como se analisasse o que Neji havia dito.

Depois, todos explodiram em gargalhadas.

Qual era a graça?

"Ah vá!" Ino disse, rindo. "Conta outra."

"Por causa da Sakura?" Tenten gargalhou ainda mais. "Talvez se ela nascer de novo!"

É... O QUÊ?

Levantei-me em um rompante, furiosa.

Todos me olharam assustados.

"Você se escutou, Tenten?" Perguntei, apertando os punhos.

"Qual foi, Sakura?" Respondeu, com o rosto vermelho, graças à crise de riso. "Eu só estou zoando."

"Não." Rebati. "Você está sendo uma completa vadia."

Tenten se levantou, de olhos arregalados. Podia sentir a tensão de todos.

"O que deu em você?" Encarou-me.

Olhei para cada um do grupo, com raiva. Voltei minha atenção para Tenten. "Deu que eu já estou de saco cheio de ouvir essas coisas más que vocês falam sobre mim, mascaradas de 'zoação', e fingir que não é comigo." Despejei minha frustração neles. "É pior do que a Tayuya. Pelo menos ela é direta quando diz que que eu não sou boa o suficiente. Vocês não. Fingem que me tratam de igual para igual, quando todos aqui se acham muito melhores do que eu, não é mesmo?"

Pude ver o choque no olhos de todos.

"Não é nada disso." Tenten falou, perplexa. "Não mesmo. Claro que não."

"Sakura..." Ino se pronunciou. "Por acaso você está tomando da mesma droga que o Sabaku?"

Não escondi o desprezo que senti pelo que Ino falou.

Que se foda.

"Quer saber?" Falei. "Vão todos para o inferno."

E dei-lhes as costas, marchando com meu orgulho, para longe deles.

*

*

*

Bati o mais forte que pude.

"Abre!" Gritei, descontando minha raiva na porta, que foi aberta quase que de imediato.

Gaara me encarou, surpreso. "O que aconteceu? Está tentando arrebentar sua mão de novo, agora que ela está curada?"

Assim, que eu entrei no refúgio, ele voltou a trancar a porta.

"Eles são uns idiotas!" Gritei, puxando os cabelos.

"Quem?" Perguntou, aproximando-se.

"Meus amigos!" Respondi.

Gaara acenou com a cabeça. "Concordo." Fez uma pausa e como se percebesse algo, olhou-me interrogativo. "Espera... Você brigou com eles?"

"Briguei!" Confirmei. "Mandei todos para o inferno!"

Gaara gargalhou, jogando-se no sofá, como se eu tivesse falado melhor coisa de todas. "Finalmente!" Disse.

Fui até ele, dando-lhe um tapa no braço. Gaara continuou a rir. "Não tem graça!"

"Claro que tem! Pagaria pra ver a cena." Falou. "Agora me conta... O que aconteceu?"

Suspirei, sentando-me ao seu lado.

"Foi assim..." Preparei-me para o relato.

*

*

*

"Pois fez muito bem em mandar todos para o inferno." Gaara falou, parecendo irritado. "Eu teria feito pior."

Hesitei. "Não sei... Agora que eu estou mais calma, estou começando a achar que eu exagerei..." Quando terminei de falar, Gaara deu um peteleco em minha cabeça. "Ai!" Reclamei.

"É para deixar de ser besta." Ele disse. Bufei, cruzando os braços. "Eu não duvido que seus amigos gostem de você... Mas eles definitivamente te diminuem e subestimam." O ruivo suspirou. "Você não pode deixar ninguém fazer isso. Precisa se impor."

"Eu fiz isso!"

"Hoje. Porque essa sua amiga extrapolou todos os limites." Gaara disse. "Mas e amanhã?" Questionou. "Na primeira mensagem que eles te mandarem você vai aceitar as desculpas deles e voltar a se encolher no canto."

"Você não entende!" Olhei-o irritada. "Eles são meus amigos há anos! Fizeram muito por mim. Defenderam-me, ficaram do meu lado. Sempre estiveram lá por mim."

"Sério?" Gaara perguntou, irônico. "Porque pelo meu ponto de vista eles não sabem nem quem você é de verdade."

"Eles dão mancadas. Mas quem não dá?" Defendi. "Eu sei... No meu coração eu sei... Que eles não fazem nada para me machucar. Não é culpa deles que eu esconda as coisas."

"É sim. Em parte." Afirmou. "Porque se eles te fizessem sentir segurança, você não esconderia nada. Mas ao invés disso, você vive na defensiva. Com medo e sozinha. Escondendo-se. Aceitando as pancadas que eles te dão e colocando a porra de um sorriso na cara fingindo que está tudo bem."

"Talvez seja porque eu queira que as coisas fiquem bem. Há algo de errado nisso?"

"Pior que há." Gaara me encarou. "Porque a única pessoa que sai machucada nessa história é você."

"Você não entende." Balancei a cabeça, recusando-me a aceitar o que ele dizia.

"Sakura..." O ruivo começou. "Você é a primeira a se subestimar. Como espera que os outros façam o contrário? Que não te ponham pra baixo?"

"Eles tem esse jeito, mas gostam de mim. Sei que gostam."

"Já disse e repito... Eu acredito." Gaara falou. "Acredito mesmo que te considerem uma amiga preciosa. E está tudo bem em pisar na bola de vez em quando. Mas isso não pode se tornar um hábito. Você não pode deixar que seja normal para eles te zoarem. Como você finge que nada do que eles dizem te machuca, acaba os deixando descuidados com o que falam. Você tem que mostrar que tudo tem limite."

"Eu fiz isso hoje." Voltei a dizer.

"Parabéns. E que continue assim."

Ficamos em silêncio por algum tempo.

Gaara não estava totalmente errado. Acho.

Talvez eu precisasse mesmo mostrar aos meus amigos que nem sempre tudo estava bem.

"Então..." Gaara interrompeu o silêncio. "Aquele que é o garoto que você gosta."

Olhei-o, carrancuda. "Eu não gosto do Sasuke-kun. Eu amo o Sasuke-kun."

Gaara riu. "Um completo imbecil, se quer minha opinião."

"Não quero." Rebati.

"Não vai mesmo me dizer qual é a história?" Perguntou.

"Já te disse." Suspirei. "Conheço-o desde criança. Sempre fui apaixonada por ele. Ele nunca me deu bola. Fim."

"Eu sei que tem mais." Gaara afirmou. "Você nunca me disse porque estava andando feito louca em sua bicicleta no dia em que atropelou meu carro." Jesus. Gaara nunca admitia que a atropelada era eu. "Também nunca me disse porque estava descontrolada e chorando nas primeiras vezes em que nos encontramos."

Suspirei.

Nas últimas semanas, eu e Gaara havíamos nos aproximado.

Eu contava para eles minhas frustrações com meus amigos, mas sempre excluía o fato de Ino e Sasuke se gostarem.

Mas o ruivo era esperto. Ele sabia que algo estava errado.

Só que tinha coisas que eu não estava pronta para falar.

"Deixa isso para lá." Falei, simplesmente.

Ele acentiu. "Tudo bem, não vou forçar. Quando quiser me contar, eu vou estar pronto para ouvir."

Sorri. Gaara sempre respeitava meus limites. Eu tentava ao máximo não mentir para ele. E mesmo que houvessem coisas que eu não conseguia compartilhar, eu não precisava inventar desculpas e histórias. Ele apenas compreendia.

"Obrigada." Agradeci, sincera.

O ruivo deu de ombros. "Mas sabe... É um pouco estranho."

"O quê?"

"O fato de você ser tão fechada sobre tudo, menos sobre a sua paixão por aquele garoto." Olhou-me sério.

Sorri, concordando com a cabeça. "É porque isso é algo que vem desde criança. E crianças são sinceras." Expliquei. "Eu comecei a me declarar para ele muito cedo. Naquela época, não entrava na minha cabeça que um sentimento tão bonito tivesse que ser escondido. Quando eu fui crescendo, a minha personalidade ficou mais fechada e eu simplesmente não conseguia falar sobre nada do que eu sentia. Com exceção do meu sentimento por Sasuke-kun, todo o resto era bloqueado. Como se houvesse uma barreira. Eu não sei bem explicar como funciona."

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"Entendo." Afirmou. "Mas e a música? Ela não está com você desde criança? Ela sim é bonita demais para ser escondida."

"A música entrou na minha vida um pouco depois. Ainda era criança, só que já era mais crescida." Contei. "No começo, tudo que eu queria era escrever algo pro Sasuke-kun. Mas depois... A música passou a ser como um segredo entre eu, meu pai e meu avô. Um segredo sagrado, que eu continuo guardando e protegendo até hoje."

"Não de mim." Sorriu, convencido.

"Ah... Você é um intrometido, Gaara!" Rimos. "Meio que não me deixou escolha."

"Fico feliz por isso." Olhou-me carinhosamente.

Retribuí seu olhar. "É. Eu também."

Não precisar me esconder quando estava com ele me fazia bem.

Gaara se deitou no sofá, colocando suas pernas no meu colo. "Folgado." Reclamei.

"E aí... Quer fazer o quê?" Perguntou.

"Hoje eu só quero matar aula aqui. Sei lá... Assistir televisão..."

O ruivo estranho, franzindo o cenho.

Primeiro, porque eu nunca matava aula. Segundo, porque todas as vezes que ele perguntava o que eu queria fazer, respondia algo relacionado à música.

Mas eu não podia evitar.

Gaara era talentoso demais!

Ter a chance de ver suas canções sendo criadas... Ganhado vida... Era algo que me fazia sentir uma das pessoas mais sortudas no mundo.

Todo dia depois da aula nós ficávamos no refúgio, trabalhando em músicas. Quer dizer... Não era bem um trabalho. Estava mais pra diversão. Às vezes só saíamos do colégio de noite.

Eu não mostrava minhas composições para Gaara. Era algo que eu não sabia se algum dia conseguiria compartilhar.

Mas eu cantava. E tocava.

Era libertador.

Sempre ajudava Gaara a criar melodias e fazer arranjos para suas músicas. Era um ótimo passatempo. O melhor.

Às vezes, o ruivo tentava me ensinar alguns passos de dança. Eu até que levava jeito, mas era tímida e me reprimia. Culpa de Gaara que era um tremendo dançarino e me deixava com vergonha.

O único problema nessa história toda, era mamãe, que ficava furiosa por eu não estar em casa sempre que ela queria comer.

Mas pra ser sincera, eu não estava mais me importando muito.

Gaara dizia que eu estava começando a ligar o meu estado de "foda-se".

Talvez ele estivesse certo.

"Você matando aula? E para assistir televisão?" Gaara riu. "Sério mesmo?"

Dei um tapa no seu pé descalço, em meu colo. "Eu só quero relaxar."

O ruivo suspirou. "Você está sabendo?"

"Do quê?"

"O Stuart vai dar uma entrevista ao vivo às dez da noite, junto com o pessoal da Columbia Records. Vai ser transmitida para o mundo todo." Falou, sério e chateado.

"Então é hoje!" Falei, surpresa. "É hoje que ele vai dar os detalhes do concurso!"

"É..." Suspirou. "Você realmente não sabia? Só se fala nisso na internet."

Bem... Eu não tinha internet. Só a do celular, que eu não usava muito para não gastar meus míseros créditos.

Mas estranhei. Ninguém do grupo comentou nada. E eles estavam bem interessados no concurso, desde que a notícia saiu.

Bom... Eu realmente não estava falando muito com eles, por esses dias...

"Os meninos da 3P estão loucos para saber mais!" Resolvi comentar com Gaara, tentando puxar assunto. Mas ele continuou sério. "Ei." Chamei-o. "Tem tempo daqui pra noite. Não começa a ficar assim desde agora."

Gaara sorriu, desanimado. "É dez da noite em Nova York. Aqui, em Konoha, vai ser às dez da manhã. Daqui a pouco."

Abri a boca surpresa. "Já são dez horas!" Empurrei suas pernas para ir atrás do controle remoto.
Assim que o achei e estava pronta para ligar a Tv, Gaara se levantou e segurou minha mão, parando-me. "Não liga."

Olhei-o. "Você tem que parar com essa preocupação toda. O Stuart já disse que esse concurso não vai te prejudicar."

Gaara suspirou, soltando minha mão e voltando ao sofá. "Falou isso em frente as câmeras, pra se fazer de bonzinho. Mas também disse que todos os artistas da Columbia seriam envolvidos. E que eu teria chance de me levantar."

"Sim." Sentei-me ao seu lado. "E eu ainda não entendo porque você está tão desconfiado e vê isso como uma coisa má, quando deveria ser boa."

"Você conheceu o Stuart, Sakura." Gaara passou a mão pelos cabelos. "Eu te disse... Ele falou que eu ia me arrepender por ter o despedido."

"Ele falou isso no calor do momento. Da raiva."
"Ah, claro. E no mesmo dia marca uma conferência de imprensa sem nem esperar voltar para Nova York." Gaara bufou. "Aí tem."

Coloquei a mão em seu ombro. "O melhor jeito de saber, é com isso aqui." Balancei o controle em sua frente.

O ruivo suspirou, mais uma vez e, finalmente, pegou-o, dando-se por vencido e ligando a televisão.

Ótimo.

Que comece o show.