Capítulo único: Poisoned

Eles são veneno um para o outro e ambos escolhem a morte.

Yato sabe que tem que deixá-la ir.

Pelo número de vezes em que a colocou em perigo, pelo número de vezes em que sua influência a fez chorar, pelo número de vezes em seu mundo alterou a vida dela. Sempre que se lembra, é como se pudesse sentir novamente a culpa no peito, que arde com uma dor invisível.

Enquanto ele estiver ao seu lado, as desgraças continuarão a segui-la.

Hiyori sabe que tem que deixá-lo ir.

Pelo número de vezes em que ele sujou as mãos de sangue por sua causa, mesmo após jurar que não iria mais, que não queria mais, pelo número de vezes em que ele sorriu para ela, mesmo sem ser um sorriso de verdade, porque seus sentimentos haviam sido feridos pelos dela, pelo número de vezes em que ele pediu desculpas quando não era culpa dele. Sempre que se lembra, é como se pudesse sentir novamente a culpa no peito, que arde com uma dor invisível.

Enquanto ela estiver ao seu lado, Yato vai ter que voltar a ser tudo o que ele odeia.

Mas não existe mais retorno. Eles não podem mais viver um sem o outro.

Enquanto Hiyori é sua fraqueza, ela também é sua maior força. Por ela, Yato é capaz de superar qualquer coisa, por mais difícil que seja. E graças a ela, ele está vivo, porque Hiyori já o salvou mais de uma vez. Sim, ela atendeu a todas as suas preces e ocupou a lacuna que faltava em sua vida. Embora ele possa destruí-la, e ele provavelmente irá, dizer adeus parece mais difícil do que aceitar a morte. E, de certo modo, são a mesma coisa.

Enquanto Yato é seu problema, ele também é sua maior solução. Por ele, Hiyori é capaz de fazer o que jamais imaginou antes — pisar em território inimigo, se humilhar, se sacrificar. Graças a ele, ela sabe o que é o sentimento que durante toda sua vida se perguntou. Como era amar tanto uma pessoa que doía, como era amar tanto uma pessoa que você não seria mais capaz de viver sem ela. Embora ela possa destruí-lo, e ela provavelmente irá, dizer adeus parece mais difícil do que a morte. E, de certo modo, são a mesma coisa.

Nenhum deles vai embora, no entanto.

Porque Yato não se importa se tiver de voltar a ser um monstro, se for pelo bem dela.

Porque Hiyori não se importa se tiver de sofrer mais na vida, se puder estar com ele.

Eles sabem que são um veneno um para o outro, eles sabem que o final da história é bem óbvio. A cada vez que se tocam, eles podem sentir. A cada beijo tímido, a cada palavra sussurrada, eles podem sentir. Destruindo-os por dentro, como um incêndio silencioso.

E ainda assim eles se tocam, eles se beijam e juram amor um para o outro quando podem. A paz é passageira, e os dois a aproveitam, porque nesses momentos em que não precisam ver seus pecados, eles podem purificar seus corações. Não importa o quanto seja doloroso, se a felicidade for maior, Yato e Hiyori nunca irão soltar as mãos.

Dói demais dizer adeus, por isso nenhum dos dois diz, mesmo quando precisam. Ir e ficar é a mesma coisa que morrer.

Então os dois se entregam e escolhem a morte.