Catástrofe

II - 2am


Os anos passaram e a mãe de Sakura continuava insistindo na teoria de que Sasuke era uma catástrofe, e isso não se devia apenas aos inúmeros piercings que ele tinha no rosto e nem ao seu estilo basicamente composto por cores escuras e jaquetas de couro.

Eram as expressões dele. Suas atitudes.

Sempre que encontravam o moreno na rua, ele lhes cumprimentava educadamente. Mal sabia que assim que se afastasse Mebuki começaria uma lista de motivos para descrever o quão má influência aquele garoto era.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não que isso fosse atingir Sakura de alguma forma. Eles já estavam ligados, afinal.

Ainda no Ensino Fundamental, mantinham a tradição de passarem o intervalo em conjunto. Suas amigas insistiam em fazer piadinhas e comentários maliciosos sobre um possível relacionamento entre eles, o que deixava a Haruno em um misto de nervosismo e vergonha.

Mesmo pessoas de fora do seu círculo social costumavam perguntar se ela era algo dele, ou se ele a namorava. Naruto, mesmo não estudando na mesma escola, dizia que os dois só não eram realmente inseparáveis porque Sasuke estava uma série à frente.

Esse cenário mudou quando entraram no Ensino Médio. As novidades da vida noturna e do álcool atingiram quase todos os jovens da sala, incluindo o Uchiha. Ele passou a adotar um comportamento festeiro e extremamente desregrado.

Tendo como companhia Naruto, o garoto escandaloso e único amigo, saía para baladas diversas vezes por semana e, por vezes, aproveitava para beber também.

Sasuke não lhe contara aquilo, obviamente. Sakura e Mebuki acabaram por encontrar ele e o Uzumaki caídos em uma rua próxima a que moravam, em claro sinal de embriaguez. A visão lastimável fez com que a mulher pegasse ainda mais repulsa do garoto e começasse, mais uma vez, a dizer o quão idiota Sakura era por ainda andar com pessoas como ele.

Apesar de a situação ter lhe incomodado, ela não pensou que fosse algo grave. Até onde sabia, aquilo não interferia nas notas do moreno, apesar de o mesmo faltar bastante.

Além disso, Itachi passou a pegar pesado com ele. Sasuke passou a reclamar do quão pegajoso o irmão estava e ela, intimamente, agradeceu por isso.

O tempo passou e nada pareceu mudar. A Haruno só teve a noção da gravidade da situação em um dia particularmente quente em que estava tendo um período livre.

Ela estava sentada no chão do pátio enquanto lia um romance qualquer. Sasuke aproximou-se e ajeitou-se no chão, de forma a deitar com a cabeça em seu colo.

— Estou fodido, Sakura.

Os olhos verdes miraram o garoto deitado e ela fechou o livro, dando-lhe toda a atenção. Seus dedos instantaneamente emaranharam-se nos fios negros em um carinho comum entre eles.

— O que aconteceu?

— Eu vou reprovar por falta.

A rosada só pode lhe encarar incrédula.

— O que?

Com um suspiro, ele respondeu em seu tom de voz já característico:

— Está surda, Haruno? Eu faltei demais, vou reprovar. O Kakashi acabou de me chamar na secretaria.

Sakura girou os olhos e empurrou-o de seu colo ao ouvir a resposta mal-educada. O garoto sentou-se ao seu lado, encarando-a com um sorriso de canto. Ele sabia que tinha lhe irritado e adorava isso.

— Eu avisei que esse comportamento ainda iria te complicar, Sasuke-kun.

— Não finja tristeza, Sakura. Sei que vai adorar me ter na mesma classe.

E sem dar a chance alguma para réplica, levantou e se afastou, mandando uma piscada com o olho esquerdo.

Ela sabia que ele não tinha se afastado apenas pela provocação e sim porque estava incomodado com as consequências de suas atitudes, porém nada fez para impedir que ele fosse. O garoto precisava daquele tempo para pensar.

Naquele dia, ao chegar em casa, comentou com sua mãe a infelicidade do amigo.

— Sakura, eu já cansei de te avisar: Esse garoto é sinônimo de problema. Eu não gosto da sua proximidade com ele.

Apesar de Mebuki não ter dito mais nada, a rosada pode ouvir claramente sua voz:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Uma catástrofe”

E, apesar de não gostar, ela estava começando a achar que isso fazia sentido.

Ela teve a certeza quando o segundo ano do Ensino Médio se iniciou.

A proximidade deles aumentou ainda mais e eram, definitivamente, inseparáveis. Com isso, ela agora tinha conhecimento da agenda tumultuada a que Sasuke se submetia.

Festas, madrugada na internet, mais festas. Apesar disso, suas notas continuavam excelentes e Sakura era obrigada a aturar ele tentando lhe irritar sempre com o mesmo assunto.

— Viu, Haruno? Você fica em casa estudando enquanto eu aproveito a vida, mas mesmo assim não chega aos meus pés.

Esse tipo de provocação era seguida de uma série de impropérios que ela fazia questão de dizer em alto e bom som.

Porém, apesar das notas boas, Sasuke voltou a faltar muito. Esse comportamento levou Sakura a tomar uma decisão drástica: Buscaria ele todos os dias. Moravam na mesma rua, afinal.

E ela realmente adotou essa rotina. Todo dia de manhã passava na mansão Uchiha.

Na primeira vez que foi buscá-lo ficou mais de 30 minutos esperando do lado de fora, até que o garoto decidiu sair da cama. Essa situação repetiu-se algumas vezes até ela surtar e convencê-lo, na base do grito, a dar-lhe uma chave.

Agora Sakura se encontrava no quarto do Uchiha, chacoalhando-o pelo braço.

— Vamos, Sasuke-kun! Você tem 30 minutos pra ficar pronto.

— Sai daqui, Sakura. Cuida da sua vida, que inferno.

Sem hesitar, ela caminhou até a cômoda e pegou o copo de água que lá havia, derramando seu conteúdo sobre a cabeça do rapaz.

Sasuke gritou e levantou com o rosto vermelho de raiva, arrancando gargalhadas da rosada.

— Isso vai ter volta, Haruno.

Apesar de irritado, ele não vedou a entrada da garota na casa e isso virou rotina entre eles. Sakura sempre ia lá para lhe acordar e ele sempre resmungava, mas agora levantava antes que ela considerasse necessário jogar água em si novamente.

Com a intervenção, Sasuke voltou a frequentar as aulas todos os dias, mesmo que isso implicasse passar o dia inteiro na escola com sono ou com ressaca, quase não se aguentando na carteira.

Quando o final do primeiro semestre começou a se aproximar, os professores decidiram passar diversos trabalhos, lotando os estudantes de tarefas com diversos graus de dificuldade.

Após uma aula particularmente estressante de biologia e com a agenda repleta de anotações do trabalho que o professor pedira, Sakura estava sentada no chão do pátio enquanto tomava refrigerante.

Sasuke aproximou-se rapidamente e forçou a perna dela com a mão, em um gesto pouco delicado para indicar que queria deitar a cabeça em seu colo.

Ela sequer o olhou, apenas esticou as pernas no chão e permitiu que ele deitasse.

— Sakura, você já tem dupla para o trabalho de biologia?

Os olhos verdes lhe encararam em um miste de incredulidade e divertimento.

— Você sabe que não, estava ao meu lado na aula o tempo todo. Mas estava pensando em fazer com a Hinata.

Ele pareceu ponderar por alguns momentos antes de responder:

— Faz comigo.

Eles se encararam e a garota mordeu o lábio inferior, em dúvida.

— Sasuke-kun, você é daqueles que deixam o trabalho para última hora e eu sou o oposto. Além do mais, esse trabalho é complexo. Se quer fazer comigo, terá que fazer direito.

O Uchiha lhe encarou com um sorriso de canto.

— Vai se surpreender comigo, Haruno. Amanhã a tarde na sua casa?

Sakura assentiu, descrente, mas o moreno já havia voltado a expressão impassível e fechado os olhos em seu colo.

Naquele dia, ao chegar em casa, avisou sua mãe que Sasuke iria para lá. Antes mesmo que Mebuki abrisse a boca, ela já sabia qual resposta ouviria.

— Não há a menor possibilidade disso acontecer. Eu não vou permitir que um garoto inconsequente, cheio de piercing na cara e que se embebeda até desmaiar entre aqui. Você sempre faz os trabalhos com suas amigas, então continue fazendo com elas.

Sakura sentiu um incômodo ao ouvir a descrição que a mãe fizera sobre o garoto. Sasuke era muito mais do que aquilo, mas a mulher não conseguia ver.

E ela sabia que nada do que dissesse mudaria isso.

— Posso ir na casa dele então?

— Sakura, não vou falar de novo: NÃO!

Suspirou. Nada convenceria sua mãe e era melhor que ela fizesse o trabalho com uma das amigas mesmo. Estava decepcionada, mas nada poderia fazer.

No dia seguinte comunicou que não poderiam fazer o trabalho juntos e explicou o porquê, mas Sasuke não parecia querer ceder.

— Ok, então vou na sua casa de madrugada.

Um silêncio arrastou-se após a declaração um tanto quanto inusitada.

— Que?

— Sua casa é térrea, Sakura. Eu pulo o portão e entro pela janela do seu quarto... Ou tem grade nela?

— Não tem.

— Estarei lá às 2 da manhã.

A garota seguiu-o com os olhos enquanto ele se afastava, totalmente sem reação com a proposta inconsequente que ele lhe fizera. Se sua mãe desconfiasse de algo do tipo, as consequências seriam desastrosas.

A situação seria uma completa catástrofe e não apenas Sasuke. Mebuki provavelmente ligaria até para seu pai, que morava a quilômetros dali.

Seria o caos.

Mas ela não tinha outra opção. Aliás, até tinha, mas realmente queria aquilo. A ideia lhe agrava por algum motivo.

Naquela madrugada, quando ele se esgueirou pela janela de seu quarto, ela estava tensa. Começaram a fazer o que tinha de ser feito, porém qualquer ruído fazia com que a garota se sobressaltasse. Fazia questão de manter o tom de voz bem baixo, o que fazia Sasuke se irritar ao não conseguir escutá-la.

Com o passar dos dias, ela se adaptou. Ele até mesmo passou a levar chocolates e refrigerantes para mantê-los acordados durante o período em que estivessem estudando.

Como o Uchiha havia dito, ela se surpreendeu. O jovem mostrou-se aplicado e interessado em realizar aquilo em conjunto e da melhor maneira que conseguissem.

Ao final do trabalho, ambos estavam satisfeitos. Tiraram a nota máxima e sorriram cúmplices. O esforço e o risco valeram a pena.

Apesar do alívio que viera com o fim daquela responsabilidade, Sakura estava desgostosa. Gostava do tempo que passavam juntos durante a noite, mesmo que fosse estudando. Gostava de senti-lo ao seu lado na cama, debatendo ideias consigo. Gostava do roçar inocente do braço dele. Gostava da companhia divertida que ele se mostrara.

Naquela primeira noite após a entrega do trabalho, ela ficou acordada até as duas até perceber que o motivo que ele tinha para ir até lá já não existia mais e que tudo voltaria ao normal.

No outro dia, mais conformada com a situação, dormiu cedo. Porém batidas leves na janela fez com que se sobressaltasse.

Levantou-se rápido e a abriu, deparando-se com Sasuke.

— O que faz aqui?

Ele apenas entrou sem dedicar-lhe resposta alguma e deitou em sua cama. Tirou da mochila uma barra de chocolate meio amargo, o que arrancou um sorriso da rosada. A resposta para sua pergunta veio quando ela não mais esperava.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Costume.

Seu peito se aqueceu de uma forma estranha ao perceber que ele também apreciava aqueles momentos que tinham.

E aquilo estendeu-se, virando quase uma tradição. Dia sim, dia não, ele estava lá.

Por passar horas acordada durante a madrugada, Sakura passou a cochilar de tarde, porém não era a mesma coisa. Com o sono atrasado, adormeceram lado a lado em certo dia e acordaram assustados de manhã. Seus corpos levemente sobrepostos.

— Er... Bom dia, Sasuke-kun. Acho melhor você avisar o Itachi-san.

Ele pareceu pensar por alguns momentos antes de balançar a cabeça negativamente.

— Ele sempre sai de casa antes de mim, não deve ter reparado que eu não estava no quarto. O que faremos com a sua mãe?

— Ela também sai antes de mim.

Os dois se encararam e Sakura gargalhou pela situação inusitada em que se encontravam.

— Seu cabelo tá horrível, Sasuke-kun.

— Como se o seu estivesse em um estado melhor.

— Bah, eu sou linda mesmo descabelada.

A resposta arrancou um sorriso leve do Uchiha, que balançou a cabeça negativamente e pediu para tomar um banho.

Naquela manhã tomaram café juntos, assim como na outra e na outra.

E na outra.

Sasuke passou a aparecer sempre as 2 e dormir lá nos dias de semana. Eles comiam, assistiam séries e filmes. Sakura falava, Sasuke escutava.

Dormiam lado a lado, depois frente a frente e, por fim, abraçados.

Em um dia particularmente comum, quando o moreno levara uma garrafa de vinho e eles assistiam uma comédia romântica, Sasuke a beijou. Eles estavam deitados lado a lado, assistindo o filme em volume baixo. O Uchiha estava levemente alterado pela bebida e em dado momento beijou o pescoço da rosada.

Ela corou, talvez pelo álcool, talvez pelo ato e ele gostou do que viu.

Logo sua boca tomou outro rumo e ele capturou seus lábios em um beijo cálido com gosto de vinho.