E de repente...

Capítulo dezessete


Hermione estava sentada na maca com lençol azul claro, acabara de prender o cabelo para ser atendida por Draco. Vestia apenas uma regata branca e a calça preta de malha do uniforme. As bolhas espalhavam-se por toda a sua pele, o rosto já havia melhorado, mas ainda tinha algumas marquinhas avermelhadas que denunciavam o ataque. Draco estava em pé na sua frente, e passava lentamente uma esponja úmida como o soro por toda a extensão afetada.

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— Fico surpreso que seus amigos ainda estejam vivos, com aquela quantidade de veneno...

— Eu sei. E como eles estão? — Perguntou enquanto observava sua pele clarear assim que Draco passou a esponja sobre as bolhas.

— Eles vão sobreviver, Potter é o pior caso, mas já o mediquei e amanhã poderá voltar para casa. Seu amigo Weasley está acordado, tossindo as bolhas internas. — Explicou. — Libero você assim que tiver certeza de que todas as bolhas já sumiram.

Concordou e ficou em silêncio, enquanto Draco seguia limpando sua pele. Focou o olhar no seu casaco destruído e furado devido à chuva de poção ácida. O líquido era uma versão mais potente do pus de bubotúbera, uma planta.

— Hermione, eu preciso... Bem, eu preciso limpar isso e... — Draco parecia constrangido e apontou para o seu colo, como se não soubesse se podia tocá-la naquele ponto.

— Ah, tudo bem.

Draco sacudiu a cabeça, umedeceu a esponja no líquido e passou com delicadeza a esponja sobre o colo de Hermione, e mesmo sendo um médibruxo, treinado para momentos como esse, simplesmente evitava o olhar, fixando-se num ponto escuro na parede.

A porta então se abriu bruscamente, e Nott entrou exasperado.

— Graças à Mérlin! — Draco murmurou, afastando-se de Hermione.

Theo correu até Hermione e segurou seu rosto entre as mãos, trouxe-a para mais perto de seu corpo e a abraçou. Precisava ter certeza de que estava segura e bem. Parou então para analisa-la, buscando qualquer machucadinho e desculpando-se por algum aperto desnecessário que causasse dor.

— Fiquei tão preocupado quando soube. — Disse acariciando-a. — Não me assuste assim de novo!

— Theo eu...

Draco tossiu, chamando a atenção do casal.

— Posso garantir que ela está bem, mas já que está aqui, poderia terminar? — Apontou para as protuberâncias e assim que Theo assentiu, correu para fora como se não quisesse ter a chance do amigo desistir.

Quando Nott virou-se, Hermione, sentada na maca sorria.

— Ficou preocupado?

Em resposta sorriu abertamente, aproximou-se galante e beijou-a como num romance qualquer. Segurava-a com precisão, para que não se afastasse facilmente e se pudesse nunca mais a deixaria sair de seus braços, a sensação de tê-la perto lhe satisfazia e completava. Era tão simples e tinha certeza de que nunca se sentira daquela forma.

— Isso responde a sua pergunta? — Uniu suas testas para recuperar o fôlego, e sorriu abertamente.

— Perfeitamente. — Hermione também sorria, mas separou-se e esticou-se para pegar a esponja. — Vou terminar com isso.

Theo segurou-lhe a mão e negou.

— Posso fazer isso, não sou tão bom quanto o Draco, mas acho que consigo. — Tirou a esponja da mão de Hermione umedeceu-a novamente. — Onde falta?

Timidamente levantou a blusa, e quando finalmente se livrou da peça virou de costas, sua pele estava vermelha repleta de bolinhas.

— Acharam alguma coisa? — Perguntou enquanto passava a poção para neutralizar o efeito da poção, instantaneamente as bolhas desinchavam, deixando apenas pontos avermelhados que desapareceriam em algumas horas. — Diga que valeu a pena se arriscar desse jeito.

— Não falei com Rony e nem com Harry desde o acidente, eu não encontrei nada, mas talvez eles conseguiram alguma coisa. — Tentava soar o mais positiva possível e para terminar aquele assunto, comentou: — Nunca me falou da sua mãe.

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Theo parou por um momento, mas voltou a limpar as costas de Hermione.

— Não é algo importante.

— Claro que é! — Hermione virou-se, segurava a blusa sobre os seios, cobrindo a nudez. — É a sua família e bem, eu... Espero que não fique chateado.

Vestiu a blusa novamente e caminhou até sua bolsa, tirou do fundo a tela enrolada e apertou-a contra si. Caminhou até Nott com certo receio, não sabia se tinha feito a coisa certa, mas esticou o braço.

— Eu encontrei isso jogado atrás de um sofá, tenho certeza de que alguém o fez recentemente. — Entregou-lhe o rolo. — Ela é muito bonita!

Theo desenrolou a pintura e observou sua mãe, o sorriso sempre discreto, como uma verdadeira dama devia fazer de acordo com seu pai. Não a conhecera. Elleonor morreu no seu nascimento, mas sonhara tantas vezes com a mãe que podia descrevê-la perfeitamente.

— Ela era muito bonita. — Enrolou a tela novamente. — Eu não a conheci de verdade, mas sei que foi uma bruxa extraordinária.

Hermione aproximou-se e tocou seu rosto, e delicadamente, tocou-lhe também os lábios.

— Sinto muito.

Theo abraçou-a. Mas a porta se abriu, quebrando completamente o momento do casal.

— Mione, como está se sentindo? — Gina agarrou-a com força e depois que constatou estar tudo bem, bateu de leve em seu braço. — Que susto vocês três me deram, uma mulher grávida não deve passar por isso!

Hermione ria.

— Como Harry e Rony estão? Ainda não consegui sair daqui.

Gina esticou o pescoço para o lado, queria ver melhor o acompanhante de Hermione, e cumprimentou-o com um aceno.

— Entendo o motivo.

— Ora, apenas responda minha pergunta. — Gina sempre fora indiscreta.

— Estão ótimos, com manchas maiores que as suas e tenho certeza de que mais rosados também. — Tocou o braço da amiga, passando o dedo delicadamente por cada pintinha rosa. — Fiquei tão preocupada quando soube.

— Como ficaram sabendo? — Dirigia a pergunta para Theo também.

— Draco avisou Kingsley e ele repassou a mensagem. — O rapaz aproximava-se. — Vou ver se já está liberada, volto já.

Sorriu e saiu do quarto.

Gina parecia animada e abriu o típico sorriso Weasley, perigoso e cheio de segundas intenções. Hermione tratou de se esquivar, e parou na frente do espelho pequeno no banheiro para observar-se, e concordou com sua imagem ali refletida que não estava tão mal assim.

— Então você e Theodore Nott... — A ruiva escorou-se na porta. — Quer dizer, acho muito legal isso. Você está reconstruindo sua vida aqui em Londres e isso me deixa muito feliz.

— Gina, eu não vou ficar. — Disse assim que analisou as entrelinhas na frase da amiga. — Depois da cerimônia em homenagem ao fim da guerra, eu volto para a França. Já está decidido.

— E vai dizer o que para aquele belo homem que está caidinho por você? — Hermione esboçou uma careta. — O que te prende lá? Sua vida está aqui, seu trabalho, seus amigos e seu namorado.

— Theodore não é meu namorado!

Gina massageou as têmporas.

— Então me explique o que vocês estão fazendo, porque eu sinceramente não consigo entender. Ele está sempre do seu lado, naquele dia do baile de ano novo, Harry me contou. — Elevou a voz irritadiça, mas tratou de respirar e explicar. — Eu cheguei cedo no hospital, mas ele... Ele entrou correndo, parecia desesperado!

Hermione absorvia aquilo quieta, e Gina torcia para que a amiga pensasse com sensatez. Antes que qualquer outra palavra pudesse ser proferida, Theo bateu na porta e não aguardou resposta, entrou no quarto.

— Falei com Draco e já podemos ir. — Sorriu para Gina, e pegou a bolsa de Hermione. — Está tudo bem?

Gina assentiu e abraçou Hermione.

— Jantem lá em casa amanhã, Harry e Rony já terão ganhado alta. — Convidou. — Vai ser divertido.

— Claro, obrigado. — Theo passou a mão pela cintura de Hermione e seguiu para fora do quarto, e depois, para o fim da rua de Hermione.

Como de costume, os vizinhos já estavam todos trancados dentro de casa para fugir do frio, e a rua larga, completamente vazia. Hermione estremeceu, e não era para menos, vestia apenas a regata, o restante da sua roupa ficara deformada, e esquecera-se da neve.

— Aqui. — Theo tirou a sobretudo preto e a fez vestir. — Não queremos que fique doente!

— Por que todo auror usa um casaco como esse? — Os sobretudos eram todos de cores escuras, modelos diferentes, mas quase todos usavam um.

— É parte do nosso uniforme, me surpreende não ter um. — Concluiu.

Hermione sacudiu a cabeça, não havia recebido nenhuma informação sobre aquilo, apenas vestia o que lhe fora dado, um uniforme simples, calças confortáveis e casacos simples em preto e cinza. Mas daria um jeito naquilo, queria fazer parte da equipe e ser levada a sério pelos colegas.

— Hermione, você...?

Theo não precisou terminar a frase, o movimento rápido de Hermione ao pegar a varinha foi o suficiente para confirmar suas suspeitas. A porta da frente estava aberta, dessa vez alguém realmente havia estado ali, e não tinha como negar.

A entrada estava intacta, mas na sala, os porta-retratos haviam sido jogados no chão e deixavam pedaços de vidros espalhados por tudo. Hermione sentiu sob seus pés os fragmentos da raiva do invasor, e sinalizou para Theo investigar a cozinha, enquanto subiu degrau por degrau. A varinha estava preparada e aguardava somente o primeiro feitiço.

Nos dois primeiros cômodos Hermione não encontrou nada, mas quando entrou no quarto de seus pais o vulto trajado de negro correu, e rapidamente tentou acertá-lo com um feitiço. Desviou de um ataque e apontou a varinha novamente, mas antes que o feitiço acertasse o alvo, a pessoa atravessou a janela e nesse exato momento Theo entrou no quarto. Ambos conseguiram ver apenas o rastro negro do comensal que desaparecia pelo céu.

— Você está bem? — Perguntou e Hermione assentiu, ainda tinha o olhar fixado na janela quebrada. — Era meu pai!

Hermione virou-se incrédula, e notou a expressão de desgosto estampada no rosto de Theo.

— Precisamos chamar o Ministério.