E de repente...

Capítulo nove


O grito escapou pelos lábios de Hermione, forçando-a a sentar-se abruptamente. Sua cabeça girou e por um momento desaprendeu a respirar, precisou de alguns segundos para começar a tossir até desbloquear sua garganta. Aquilo acontecera poucas vezes, mas em todas elas obrigava-se a focar no ritmo acelerado em que seu peito subia e descia, parecendo que explodiria a qualquer momento.

— Você está pronta? — Gina perguntava através da porta. Não cochichava, sinal de que Harry não estava em casa.

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— Me dê dez minutos. — Pediu angustiada, arrepiando-se ao pisar no assoalho frio.

O som do sapato de salto começou a se afastar, até tornar-se inaudível.

— Ou talvez eu precise de vinte... — Murmurou.

Além de vestir-se confortavelmente o mais rápido possível, guardou tudo o que precisava dentro de sua bolsa e soltou sua coruja para que pudesse caçar.

— Vamos logo, estou ansiosa! — Gina a arrastou para fora e aparatou sem aviso prévio, fazendo com que Hermione cambaleasse nos primeiros passos. — Eu tenho uma consulta com a curandeira...

Hermione parou de ouvir a amiga que tagarelava com a recepcionista e cerrou os olhos, o rapaz que saía do elevador era familiar, familiar até demais.

— Hermione?

— Neville? Mérlin, quase não o reconheci! — Hermione abraçou o belo homem que o amigo se tornara. Na sua sobrancelha esquerda uma falha, provavelmente causada por alguma cicatriz ou ferimento. Imaginou se fora durante a guerra.

— Eu? Olhe para você! — Olhou-a milimetricamente de cima a baixo. — Está tão diferente. Li nos jornais que viria para aquelas comemorações em fevereiro, não sabia que já havia chegado.

— Faz dois dias. — Tratou de explicar. — Veio ver seus pais?

Neville ainda parecia desconfortável por tocar no assunto, mas sorriu orgulhoso.

— Sim. Aproveitei as férias para vê-los! — Encaixou os ombros todo orgulhoso e disse: — Estou lecionando Herbologia em Hogwarts, é maravilhoso.

— Sinto falta de Hogwarts, de tudo o que passamos lá. — Devaneou por um momento. — Bem, eu preciso ir.

Neville sorriu gentilmente e desaparatou.

— Por que está segurando isso? — Perguntou assim que Gina aproximou-se. A ruiva segurava uma bolinha de papel.

— Bem, se a conversa demorasse mais alguns segundos eu jogaria isso em você! — Envolvendo a amiga com o braço, Gina foi levando-a para o elevador, onde chegariam no andar desejado.

No consultório Gina foi colocada sentada sobre uma maca e alguns feitiços simples foram feitos. A médibruxa coletou algumas gotas de sangue e adicionou uma poção do cheiro forte e pigmentação azulada, instantaneamente, o líquido no pequeno vidro borbulhou e tornou-se esverdeado com um aroma adocicado, porém forte e enjoativo.

— Você está grávida. — A médibruxa confirmou.

Já no Beco Diagonal, Gina falava sem parar. Maravilhada. E de tão animado mal respirava, as palavras juntavam-se às frases que davam continuidade ao assunto.

— Você vai voltar comigo?

Hermione olhou a ruiva e sentiu-se envergonhada por não ter prestado atenção na amiga. Negou com a cabeça e respondeu:

— Vou deixa-la sozinha com Harry. Aproveite! — Gina sorriu e aparatou, deixando-a sozinha entre tantos outros bruxos.

Caminhava distraída, observando as vitrines abarrotadas de produtos. Aproximava-se da chamativa loja dos gêmeos quando sua barriga soltou o primeiro rugido. Ansiosa por comida, não sentia o gosto de nada desde a noite anterior e agora, parecia muito com um leão faminto.

Já buscava com o olhar algum lugar para comer, quando:

— Hermione? — Virou-se, esperando encontrar mais um dos colegas de Hogwarts, mas era Nott quem se aproximava. — O que faz aqui?

E antes que pudesse responder:

— Quer saber? Conte-me enquanto almoçamos, estou faminto e você também parece. — Enlaçou seus braços e puxou-a até o Caldeirão Furado.

Assim que entraram o silencio tomou conta do estabelecimento, apenas alguns bruxos seguiram com os afazeres, mas a maioria parou para observar a mulher que entrara e rapidamente cochichos e burburinhos iniciaram.

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Nott inclinou-se indiscretamente até alcançar o ouvido de Hermione, e sussurrou com a voz aveludada:

— Parece que você é novidade. Vamos para outro lugar! — Passou a mão suavemente pela cintura de Hermione, até que conseguisse prender-se à mulher, para só então começar a caminhar em direção à porta que dava para Londres Trouxa.

Os carros estacionados rente à calçada mostravam um mundo diferente, o mundo trouxa que poucos bruxos conheciam.

— Sabe de algum lugar? Não conheço muito daqui. — Disse, mexendo os dedos ansiosamente nas costas de Hermione.

— Conheço sim, não é longe.

Desvencilhou-se do abraço lateral e um tanto intimo, meio desconfortável com a situação iniciou a caminhada ao lado do homem.

O restaurante tinha uma varanda coberta e cercada, e dispunha de mesinhas dispostas por toda a extensão. Sentaram-se confortavelmente ao lado da cerca baixa e decorada com folhagens, receberam os cardápios e deixaram o silêncio se instalar ali.

— Vou querer a sopa de cebola e vinho tinto. — Hermione fechou o cardápio e entregou ao homem parado ao lado que anotava rapidamente o pedido em um pequeno bloco de capa preta.

— E o senhor? — Perguntou educadamente à Nott, que ainda lia atentamente cada um dos nomes.

— O mesmo que ela.

Viram-se então sozinhos.

— Então, o que fazia sozinha no Beco Diagonal?

Hermione cruzou os braços e apoiou-se na mesa.

— Caminhando. E você, não deveria estar no quartel general dos aurores, ou algo assim? — Questionou com certo humor.

Nott debruçou-se também sobre a mesa, aproximando-se um pouco mais.

— Talvez eu precisasse almoçar, ou, talvez eu estivesse atrás de você!

— Por que estaria atrás de mim?

— Você me deve aquele encontro para nos conhecermos melhor, e eu precisava cobrar essa dívida.

Hermione sorriu abertamente. Tinha certeza que Nott cobraria o tal encontro, só não esperava que fosse tão cedo.

— Que tal depois do ano novo? Essa semana tenho muito a fazer.

Nott levantou a cabeça alguns centímetros e parecia pensar, arqueou a sobrancelha para só então seguir falando:

— Que tal no ano novo? Estou certo de que já recebeu o convite e também de que não tem companhia.

— Convite?

Nott sorriu e posicionou a mão dentro do casaco preto, e do bolso interno tirou um envelope prateado. Estendeu o papel para Hermione que o aceitou e puxou o conteúdo para fora. Leu atentamente as palavras em preto, marcantes pela caligrafia bem desenhada.

— Um baile de Ano Novo na mansão Malfoy? — Esticou o envelope para Nott. — Não sei se é uma boa ideia.

— Por quê?

— Eu não tenho boas lembranças daquele lugar. — Explicou, escorando-se na cadeira e segurando o pulso marcado por baixo da mesa. Discretamente.

— Lucius Malfoy não estará. Ele nunca aparece. — Disse. — E você vai comigo, não abro mão disso.

Hermione sorriu lateralmente, algo bastante parecido com sarcasmo.

— Onde eu te pego?

— Não sei. — Pela expressão de Nott notou o quanto aquilo parecia confuso. — Eu estou na casa do Harry, quero voltar para a casa dos meus pais e ficar lá até fevereiro. Posso te enviar uma coruja avisando?

Nott concordou com a cabeça, no exato momento em que seus pratos de sopa, e as taças de vinho chegaram.

— Obrigada!

O garçom sorriu e seguiu para outra mesa, enquanto Nott analisava o líquido leitoso em seu prato. Experimentou um tanto a contra gosto, o aspecto da comida não era atraente, pedacinhos de cebolinhas boiavam na sopa e não lhe agradaram muito. Já Hermione, deliciava-se com o sabor.

— Não gostou?

Empurrando o prato para o lado, negou simplesmente.

— Deixe-me terminar e compramos um hambúrguer para você. Tenho certeza de que vai gostar!

Caminhavam lado a lado, Nott terminava seu hambúrguer enquanto ria das bochechas extremamente avermelhadas de Hermione.

— Está frio, é claro que vou ficar vermelha! — Dizia enquanto afundava o rosto no cachecol.

— Eu não fico.

Hermione parou e esperou que o rapaz jogasse o guardanapo no lixo.

— Você está com o nariz vermelho e tem maionese no canto da sua boca!

Nott passou o dedo nos lábios e limpou no casaco.

— Sabe o que eu acho?

— O que?

— Que você passa muito tempo olhando para a minha boca.

Estava próximo, muito próximo, e Hermione desconcertada não se moveu. E para Nott, a falta de movimentação foi como um incentivo para aproximar-se um pouco mais e tentar tocá-la, mas quando sua mão levantou-se alguns centímetros Hermione finalmente baixou o rosto e deu o primeiro passo em direção ao caminho que seguiam minutos antes.

— Eu preciso ir para casa. — Disse apenas, como uma despedida.

— Vou te levar, se realmente voltar para casa, preciso saber onde te buscar! — Sorriu gentilmente.

Hermione sacudiu a cabeça e seguiu caminhando, agora imaginando o que teria acontecido se seguisse parada por mais alguns segundos.

Andava ao lado de Nott, trocavam poucas palavras, mas silenciou-se quando chegaram na rua em que morou por tantos anos. Estava de volta.

— Tudo bem?

Respondeu-o sacudindo a cabeça em afirmativa, transbordando de emoção.

— Venha! — Pegou a mão de Nott e puxou-o para a sua casa, exatamente como fizera quando chegou em Londres. Parou em frente à porta e capturou no fundo da bolsa um pequeno chaveiro, com três chaves. — Vamos lá!

A porta se abriu e a luz finalmente invadiu o ambiente, mostrando a poeira voando e os móveis cobertos por lençóis.

— Você vai ter um longo trabalho!