Capítulo 2

Olho para o lado e vejo minhas amigas chorando escondidas e meu pai cabisbaixo e minha mãe entregando meu irmãozinho para meu pai e ajoelhando- se no chão e enfiando o rosto entre as mãos. Paris Diamond ficou dando incentivos para eu subir ao palco.

–Krysten -chamou - não tenha medo, querida. Apareça!

Respirei fundo e sai do meio da multidão. Os pacificadores guiaram-me para o palco. Manti meu corpo ereto e andei confiante.

Paris olhou para mim e voltou-se para a multidão

–Muito bem - ela olhou para mim com o canto do olho - Cavalheiros agora -assim como fez com as meninas, fez com os meninos. Rodou a mão entre os papéis e pegou um de cima.

Fiquei olhando para minha mãe, chorando e chorando. Pensei o que seria dela se eu morresse. Vi Evan olhando para o lado. Ele sempre fazia isso quando ficava nervoso.

Paris abriu o papel levemente inclinou um pouco para alcançar o microfone e disse:

– Wondrous Midwinter.

Que tipo de mãe põe esse nome no filho?

Wondrous era alto de cabelos castanhos e olhos azuis. Ele subiu ao palco e ficou me encarando. Geralmente, as pessoas da parte mais rica do distrito tinham olhos azuis, então Wondrous, era rico e estava achando o máximo ser um tributo dos Jogos.

Paris ficou sorrindo para mim e para Wondrous e ficou no meio de nós. Pegou meu braço esquerdo e o braço direito de Wondrous e os levantou, sorrindo:

–Krysten Lightwood e Wondrous Midwinter serão os tributos do distrito 4.

Ninguém aplaudiu. Observei Yngrid conversando com alguns pacificadores e depois ficou sorrindo para mim.

Depois do sorteio, os tributos têm direito de receber algumas visitas de pessoas que querem ver.

As primeiras pessoas que vieram me visitar foram meu irmãozinho e meu pai.

Meu irmão correu para me abraçar. Seu abraço era tão reconfortante que comecei a soluçar. Talvez aquele seria nosso último abraço. Abracei-o mais forte e sussurro em seu ouvido:

–Vou vencer por você, Heron.

Heron, meu irmãose soltou de mim e disse:

–Não vença por mim, Krysten, vença por você.

Dei um último abraço nele e fui falar com meu pai. Ele nunca foi muito de abraçar, mas dessa vez ele me abraçou e estava...Chorando.

E por que não? Seu segundo filho prestes a ir para os Jogos.

–Seja forte, Krysten.

Ele segurou o choro e saiu com meu irmão.

Depois deles veio Evan. Uma vez Evan admitiu que queria participar dos Jogos.Mas disse que nunca se ofereceria como tributo.

Ele se aproximou de mim e me beijou nos lábios. Eu fiquei paralisada. Nunca admiti que gostava dele pois não sabia se ele gostava de mim. Ótimo. Agora aquele idiota me deixou mais triste ainda.

Eu o beijei novamente e ele retribuiu. Abracei seu pescoço e ele foi escorregando as mãos pela cintura. Me afastei dele e ele disse me abraçando:

–Eu te amo - ele sussurrou.

–Eu também. -disse.

Depois dele veio minha amiga, Maryse. Ela era rica, mas mesmo assim continuava sendo minha amiga. Algumas pessoas ricas tem muito preconceito com pessoas pobres, que passam a vida inteira pescando.

–Maryse!

Abracei. Ela estava tensa com os olhos muito inchados.

–Krysten!

Maryse era meio fraca e sentimental. Chorava por quase tudo. Uma vez perdeu seu gato e ficou três meses chorando. Mas hoje estava dura e fria.

–Que a sorte esteja sempre a seu favor.

Ela saiu e fiquei esperando mais alguém. Imaginei que minha mãe estivesse muito deprimida para me ver.

Saindo de lá, me conduziram para a linha de metrô, onde encontrei Paris, Yngrid e Wondrous. Paris estava conversando com Yngrid e Wondrous estava quieto, apoiado no metrô. Todos me esperando. Paris parou de conversar um pouco com Yngrid e veio em minha direção.

–Krysten, querida! - ela sorriu e me arrastou pelo braço - O metrô

já está pronto nos esperando.

Entramos o metrô e Paris me mostrou meu quarto, mas não tinha muito que fazer. Não peguei nada e também não precisava de nada. Sentei na frente da janela e olhei para meu distrito ficando longe de minha vista.

Lembrei de Evan que disse que me amava no meu possível último minuto com ele. Lembrei de Heron e suas palavras ecoaram na minha cabeça Não vença por mim, vença por você. Tão novo e já teve dois irmãos chamados para os Jogos.

Meu irmão falecido,Warrior, foi chamadon pra os Jogos com 16 anos 4 anos atrás. Lembro-me de ter me despedido dele e o ver morrendo. Foi muito para mim. Heron tinha apenas quatro anos. Warrior ficou entre os oito finalistas e morreu com uma flecha no coração da vencedora daquele ano. Lembor-me também de minha mãe, chorando por uma semana, mas continuava trabalhando. Meu pai ficou revoltado e se recusava a trabalhar. Foi aí que resolvi ajuda-lo na pescaria.

As batidas na porta me acordaram. Era Paris

–O almoço está servido.

Lavei o rosto e sai do quarto. Wondrous e Yngrid estavam rindo e conversando. Já vi que não era eu a queridinha. Sentei-me na mesa e peguei um pouco de carne bovina. Nunca havia comido. Era um delícia. Passei minha vida inteira comendo apenas frutos do mar e peixe.

Yngrid me encarou:

–Então, garota. O que sabe fazer?

Engoli a comida.

–Tenho habilidade com lançamento.

Wondrous e Yngrid riram.

–Só isso? -comentou Wondrous.

–Ao contrário de você, sei como matar alguém.

–Mas você está muito enganada! - Ele riu e levantou junto comigo. Pegou uma faca e ameaçou colocar a ponta na minha garganta.

–Parem vocês dois! -gritou Yngrid - deixem a matança para a arena!

Voltei-me a sentar. Perfeito.Já arranjei um inimigo antes mesmo de começarem os Jogos.

Sai da mesa e fui olhar pela janela. Vários prédiso altos e brancos com formas diferentes passavam depressa.

Desci do metrô com Paris ao meu lado e Wondrous do outro. Yngrid ia logo atrás de Wondrous. Várias pessoas nos rodeavam e vários flashes de fotos iam em meu rosto. Paris parou na minha frente e de Wondrous. Estendeu os braços como se fosse nos abraçar e sorriu de orelha a orelha:

-Bem vindos a Captal, jovens tributos!