Entre a Escuridão
Prólogo
Assassinos. Aqueles que matam sem piedade. Podem ser os contratados, ou aqueles que fazem apenas por gosto. Pode, também, ser aquele que diz que matar é um meio para a libertação do povo, e assim é aclamado pelo mesmo.
Razões diferentes, vidas diferentes e significados diferentes, mas todos com um mesmo comum: matar sem mostrar um pingo de compaixão. Eu sou comparado a um, não que eu realmente concorde com isso, pois, as vozes ecoam em minha mente todo o tempo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Se não fosse forte, teria entrego minha sanidade a esmo e me atiraria sem pudores aos braços da loucura. Portanto, forcei-me a acostumar com essas vozes que gritavam por ajuda e dor em sua própria agonia.
Música, muitas vezes, me roubava à atenção e fazia as vozes aquietarem, por isto, comecei a praticar vários instrumentos. Comigo, entretanto, levo apenas minha flauta de bambu, que me faz relaxar em momentos ruins.
Hoje era, infelizmente, um desses momentos.
Eu estava sentado sobre o galho mais alto de uma árvore, que não deveria passar dos seus três metros. Olhava para baixo, a flauta em minhas mãos enquanto tentava exercer alguma melodia.
Mais uma vez outra voz iria se ajuntar as que atormentavam minha sanidade.
— Ah! Você sabe, não é? — perguntara meu alvo a seu colega — Hoje terei minha noite de núpcias! Oh, a minha bela mulher é tão jovem e formosa! Com certeza terei uma boa noite.
— Tenha cuidado, Ropongi. Você sabe, muito bem, que se aquela menina se machucar você quem vai pagar as contas.
— Ora, que isso! Ninguém nunca me descobriu, não tem como o fazer justo agora!
Era um trabalho simples: matar Ropongi antes que possa chegar em casa. Quem havia me ordenado a fazer isto era sua própria mulher. Parecia, de fato, que este homem tinha uma má reputação.
Ropongi era um homem com uma pança enorme, a cabeça calva e suava como um porco. Seu amigo, no entanto, era mais magricela e era menos calvo. Já não suava tanto, ou pelo menos aquele suor não era dele e sim do porco que o molhava.
Antes de se casar, corria por aí os "rumores" de que ele violentava jovens meninas após espancá-las. Estes nunca foram afirmados, pois, infelizmente, o homem gordo era rico. Quem confirmasse seria morto e esta não era a única ameaça.
Matá-lo não iria me trazer a nada, não era a voz dele que entraria a minha mente e sim a do amigo dele que era seu 'conselheiro'; andava com o rico para cima e para baixo, nunca deixando seu lado.
E eu não posso deixar testemunhas.
Com o soar da minha flauta, que se assemelhava ao balançar das folhas, os meus olhos o seguiam com calma e atenção, permitindo-me montar a estratégia do meu próximo ato.
Adentraram um bar pequeno e não conhecido por muitos, talvez para manter o anonimato. É mesmo melhor que as coisas possam seguir este caminho. Saltei da árvore com jeito, pousando no chão e suspirando.
Meu passo era lento, não havia motivos para que me apressasse, nem meus, muito menos deles. Escondi-me entre as árvores até o fundo do bar. Eles estariam lá assim que acabasse a bebedeira, eu tenho certeza que sim, pois, o meu alvo era incrivelmente alcoólico a julgar pela sua enorme barriga, formada por tanta gula e alcoolismo. Ele sairia bêbado, ajudado por seu fiel escudeiro a quem eu ainda não sabia o nome.
Não demorou muito para que o fato realmente acontecesse; Ropongi era incrivelmente fraco a bebidas, mesmo que bebesse tanto. Provavelmente testou algo novo a que nunca havia tomado e isto o possuiu.
— Ropo! Eu lhe disse! Você não é forte para beber tanto assim! Ainda mais a Sereia do Lago! Agora está passando muito mal!
— Ah, não tem importância, amigo! — soluçou — Valeu muito a pena!
Sereia do Lago, péssima escolha, amigo. Consistia em uma bebida que só era criada em noite de lua cheia, onde se diz que as sereias cantavam suas doces e mortais melodias. Assim ganhavam inspiração para compor a tão famigerada bebida.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Todas elas tinham o gosto comum e a coloração azul cintilante. Porém, por mais que fossem similares cada uma provocava uma alucinação diferente. No meu caso, a fortíssima bebida me provocou uma visão sanguinária, onde caminhava por um mar vermelho, sobre os corpos daqueles que matei.
Sereias, belas e traiçoeiras sereias. Até mesmo em bebidas, não permitem um segundo de descanso para os homens.
E Ropongi vomitava o que havia bebido dentro do bar, recebendo o olhar preocupado e reprovador daquele que o ajudava. Gemia, mas ria ainda preso a suas insanidades.
Aproximei-me, camuflado dentre as sombras. Desembainhei minhas duas lâminas quase gêmeas, pois uma se destacava por ser invertida. Teria de ser rápido, atingir o coração e acabar com isso.
Posicionei-me atrás do homem gordo e assim que ele levantou para respirar, ou qualquer outra coisa que fosse fazer, cravei minha espada em seu coração, atravessando por trás.
— AHHH!
Era o urro de medo de seu companheiro. Olhei para o lado, mordendo o lábio inferior para conter a compaixão e só assim, com minha lâmina invertida, cortei-lhe o pescoço, contemplando seus olhos arregalados de medo.
Droga.
Mais uma feição para me assombrar a noite.
Ele era inocente... estava apenas no lugar errado, no momento errado.
Ambos os corpos caíram sem vida ao chão, o sangue se juntando e formando pequenas e pegajosas poças. Cortei o ar para lançar parte do sangue das minhas lâminas e só assim partir dali.
Do meu bolso, peguei minha flauta, começando uma melodia fúnebre, em homenagem ao inocente que eu acabara de matar.
Mais uma morte, menos uma alma.
Fale com o autor