Gêmeos no Divã

17° Consulta - parte 1


Frank Lorret cruzou as pernas.

—E então meninos, o que temos de novo hoje?

—Com certeza o seu cabelo doutora! — exclamaram boquiabertos. — Que show!

—Ah. Oras, obrigada. — a doutora sorriu — Na verdade eu já estava usando as minhas tranças há quase um ano e meio e já estava meio cansada delas, então dessa vez quando as desfiz decidi não mandar refazê-las.

—As tranças também eram show. — afirmou Vinicius, cruzando os braços e acenando afirmativamente com a cabeça.

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—Mas agora os seus cachos tão tipo um comercial de cabelos cacheados! — exclamou Murilo.

—Sim! Exatamente! — concordou Vinicius, batendo na mão do irmão com um “toca aqui”.

—Obrigada, rapazes, fico lisonjeada. — a doutora agradeceu novamente — Às vezes é bom mudar.

—É verdade. — os gêmeos concordaram — Ayume nos disse que está pensando em deixar o cabelo crescer de novo.

—Ah sim? — Dra. Frank apoiou o rosto de lado sobre a mão.

—A mãe dela pediu então ela vai tentar deixar crescer só um pouco, para experimentar. — Vinicius explicou.

—E se não gostar vai correr para o salão mais próximo. — Murilo deu de ombros.

—Entendo. — Frank Lorret concordou — É bom que ela fique da forma que se sentir melhor. E como ela está?

Os gêmeos deram de ombros.

—Super de boa. — garantiu Vinicius.

—Ah, e ela também disse que da próxima vez que estiver em seus dias delicados, vai tentar "comer chocolate e segurar a onda", ao invés de descontar tudo no namorado e terminar com ele. — Murilo comentou, e então fez uma careta.

—E só pra constar, doutora, isso definitivamente foi informação demais. — Vinicius acrescentou estremecendo. — Que bom que estamos fazendo terapia.

—Mas, por falar naquela baixinha, tem uma coisa em que andamos pensando, doutora. — Murilo comentou reflexivo, provavelmente querendo sair do assunto que ele mesmo começara, e a doutora aguardou que ele continuasse — Quer dizer, nós estamos fazendo terapia por sugestão dela, certo?

—Na verdade ela meio que nos ordenou. — Vinicius comentou. — De qualquer forma, só estamos aqui por causa dos problemas que tivemos com ela.

A doutora acenou.

—Eu lembro.

—Então por que ela não está fazendo as sessões conosco?! — os gêmeos estenderam as mãos, com as palmas abertas viradas para cima.

Frank Lorret piscou.

—Oras, aconteceu alguma coisa garotos? — perguntou surpresa.

Vinicius se recostou ao divã, Murilo inclinou-se para frente.

—Na verdade nada demais. — Vinicius deu de ombros.

—Só queríamos mesmo saber por que sempre acabamos fazendo tudo o que ela quer. — Murilo sorriu sem jeito — Embora não sejamos apenas nós...

♠. ♣. ♥. ♦

Bem doutora, a senhora sabe que Ayume está sempre indo lá em casa, não é?

E às vezes até mesmo aparece durante a noite, e diz que foi de ônibus, ou qualquer coisa assim... Certo?

Só que não é bem assim.

É claro que, depois do que ela aprontou da última vez, Ayume ficou — de novo — de castigo e, por causa disso, está confinada em casa sem poder ir a lugar algum com exceção da escola por tempo indeterminado — Hoje mais cedo Luciano até brincou que, pelo jeito, “com sorte ela deve sair antes de se formar na faculdade”.

“Se estivéssemos em uma fanfic eu com certeza já teria sido colada em um colégio interno”.

Ela reclamou conosco por mensagem — criamos um grupo no Whatsaap chamado “os três caballeros” — no mesmo dia em que Santhiago veio buscá-la aqui no consultório. Claro que não entendemos do que ela estava falando, mas ainda assim meu irmão comentou:

“Achei que Verônica fosse a prima problema”.

Ao que Ayume respondeu:

“Ela tá quieta”.

E eu sugeri:

“E se vc se aquietasse um pouco?”.

Óbvio que a japinha e o loirinho estão exagerando, nós já vimos Ayume aprontar e ficar de castigo antes, como na vez em que a mãe dela descobriu o quanto a japinha gastou naquela sombrinha hibrida com cabo de espada dela, e a deixou de castigo e cortou todos os seus fundos financeiros por isso, o que levou nossa amiga, privada de comprar, a tentar costurar os próprios bonecos — mas ela nega que tenha um problema, então ok —, e a mãe dela parecia bem zangada na época também, tudo bem, talvez não tanto quanto agora, mas ainda assim a raiva passou e Ayume se viu livre de sua “penitência” em pouco tempo.

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De qualquer forma, por causa do castigo ela não pôde nem sequer ir à nossa casa para recuperar as coisas que tinha deixado lá, porque parece que havia a “pequena chance” de ela ir e não voltar mais para casa — Guilherme pode ter ficado bom da gripe, e Santhiago melhorado, mas JJ só fez piorar — então Santhiago pediu o endereço e se ofereceu para ir buscar... E claro que ela não deu.

Por isso, quem foi à nossa casa buscar as coisas dela no domingo...

—É meio estanho, não é? — sorrimos.

Adam fechou o porta-malas.

—O que?

—Nos vermos fora do consultório da doutora Frank, acho. — meu irmão respondeu.

—Ah. — ele nos olhou — Para mim é mais estranho estar aqui durante o dia, e principalmente não precisar ter que ajudar a filha maluca do meu primo a pular o muro de vocês.

—Hã? — piscamos — Como é que é?

—Por que estão surpresos? — ele estalou a língua — Vocês já sabiam que somos parentes. Não é?

—Sabíamos.

—E então?

—Você é que trazia a Pequena Ayume até aqui? — eu o apontei, embora ele estivesse bem a nossa frente, mas Vinicius baixou minha mão — E ainda por cima a ajudava a pular o muro?

—Claro, vocês achavam que uma menina daquele tamanho pulava sozinha? — ele fez um gesto de mão, indicando a altura de Ayume, embora tivesse tirado uns bons vinte centímetros dela, no mínimo — Ayume não faz salto com vara.

—Isso faz sentido. — concordamos — Mas Ayume sempre nos dizia que vinha de táxi ou de ônibus...

Adam afastou-se do porta-malas do carro e abriu a porta do lado do motorista.

—Não duvido nada que ela fosse fazer isso se eu me recusasse a trazê-la, por isso é que a trago! — ele girou os olhos — Tenho mais de trinta anos e sou basicamente o chofer da minha prima! Francamente!

Reclamou entrando no carro e fechando a porta.

Dá pra acreditar, doutora? Esse tempo todo Adam era cúmplice da nossa Pequena Ayume e nós nem desconfiávamos! Como eu disse, não somos apenas nós que, de um jeito ou de outro, sempre acabamos fazendo as vontades dela, acho que à sua maneira Ayume é bem obstinada.

Mas, se Ayume se aquietasse um pouco — assim como nós aconselhamos — pelo menos até a poeira baixar e os pais dela se acalmarem um pouco, ela com certeza se veria livre do castigo muito mais rápido.

Mas nããããão... E claro que o Loirinho tinha que estar junto.

—Essa ideia seria incrível! — Ayume exclamou quando chegamos à sala de aula na segunda-feira.

—Que ideia? — perguntamos, nos revezando para trocar um “toca aqui” com Dos Reis e ganhar nosso selinho de Ayume.

—Eu acho que descobri onde foi que começou aquele boato de que eu seria o príncipe na peça da escola, ou pelo menos tenho uma boa teoria.

—Quem? — perguntamos desinteressados.

Os dois fizeram dez segundos de suspense antes de nos responder, com o ar mais dramático possível:

—Foi tudo uma conspiração dos professores!

E temos certeza que eles ensaiaram aquilo.

—Uma conspiração... — Vinicius repetiu lenta e descrentemente.

—Dos professores...? — completei com o mesmo tom.

—A professora Sandra está seguindo ele por três dias, perguntando se ele não queria mesmo, mesmo, mesmo participar da peça. — Ayume nos contou.

—É suspeito. — admiti.

—Mas ainda assim por que eles fariam tanta questão de ter você no palco? — meu irmão perguntou cético.

—Vai saber. — Luciano deu de ombros — Eu apareço na televisão às vezes, vai ver acharam que iria agregar alguma coisa para a imagem da escola, ou algo assim?

Ele chama uma série semanal e ma pensa de comercias de “às vezes”?! Aquele loirinho estava sendo irônico e estava fazendo pouco da nossa cara, doutora!

—Mas não era disso que vocês estavam falando. — nos impacientamos de uma vez — Qual era a grande ideia?

—Tudo bem, escutem. — Ayume se inclinou em nossa direção — Luciano esteve pensando: já que os professores querem tanto colocá-lo em cima de um palco aqui, por que então não sugerir a eles que encenemos...? — E aí o sinal tocou e ela se levantou repentinamente. — Tenho que ir para aula.

—Tudo bem, tchau. — o loirinho concordou acenando para ela e recebendo um beijo de despedida.

— O que?! Espera! — Nós piscamos — Não vai terminar de falar antes?

—Não dá tempo, tchau!

Ela nos respondeu apressada quase trombando no professor Carlos na saída.