Gêmeos no Divã

1° Consulta - parte 2


Tá ótimo, agora é minha vez,

Então o que dizer sobre Ayume?

Bem... Ela é a única que consegue, de alguma maneira, nos diferenciar, e isso é basicamente irritante e maravilhoso ao mesmo tempo.

Ayume é uma garota asiática, baixa e tão magra que poderia facilmente se passar por um garoto se quisesse, e o fato dela insistir em manter os cabelos tão curtos e preferir usar calça ao invés de saia como seu uniforme escolar — como as outras meninas — mesmo na parte mais quente do ano, não colabora em muita coisa, mas eu me lembro do dia em que falamos pela primeira vez com ela como se fosse ontem:

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Foi umas duas semanas depois do baile de boas vindas — ao qual nem eu nem meu irmão fomos simplesmente por falta de interesse —, nós estávamos lanchando juntos olhando a chuva do lado de fora da janela quando ela apareceu.

—Será que vocês poderiam me fazer um favor? — Sua aparição foi tão repentina que nós levamos um susto. — Desculpe.

—Tudo bem. — eu disse, já que fui o primeiro a me recuperar do susto.

—Nós te conhecemos? — meu irmão perguntou.

—Sou Ayume Félix, e nós três fazemos espanhol juntos.

—Ah é? — dissemos e nos encaramos, depois demos de ombros e voltamos a encará-la — Mas não nos lembramos de você.

Só que ao invés de parecer ofendida com nossa resposta ela pareceu animada.

—Que legal. Vocês são mesmo perfeitos! — juntou as palmas das mãos — Então vão fazer-me o favor?

—Mas do que você está falando afinal? — meu irmão perguntou já impaciente.

—É mesmo, eu fiz tudo errado, desculpe, posso começar de novo? — não esperou que respondêssemos, apenas respirou fundo e recomeçou: — Oi meninos, talvez não se lembrem de mim, mas eu sou Ayume Félix e faço espanhol com vocês, e eu queria saber se não gostariam de fazer o favor de me acompanhar em um pequeno evento.

É claro que àquela altura nós já achávamos que ela fosse um pouco pirada — e hoje temos certeza —, mas a curiosidade acabou sendo mais forte e acabamos por perguntar:

—Que pequeno evento?

—Ah, nada demais, vocês vão gostar, eu garanto. — sorriu — Vão precisar se fantasiar, mas eu pago as fantasias, juro!

Meu irmão e eu nos encaramos, é claro que tinha alguma coisa ai, e então sorrimos cúmplices, já sabendo exatamente o que íamos responder.

—Nós vamos. — eu disse.

—Vão? — ela piscou — Mas que...!

—Porém temos uma condição. — a interrompemos, vendo com prazer ela murchar diante de nós. — Só vamos se você conseguir aprender quem é quem, entre nós.

Ninguém até então havia conseguido tal proeza, era uma missão impossível, nós sabíamos disso e foi por isso que a propomos, mas Ayume devia estar realmente desesperada para que a acompanhássemos nesse tal evento, porque aceitou sem hesitação.

—Tudo bem. — ela disse — Mas vão precisar me dizer seus nomes para que eu os aprenda.

—Eu sou Murilo. — dissemos em conjunto — E ele é Vinicius.

Ela piscou confusa.

—Esperem um pouco! Qual dos dois é mesmo o Murilo?

—Cabe a nós saber e a você imaginar. — respondemos.

Ela crispou os olhos parecendo finalmente se dar conta do nosso jogo, o que — considerando o quão puxado eles são — praticamente os fechou.

—Assim não vale, digam quem realmente são ou o desafio não será justo! — ficamos calados — Digam logo!

—Eu sou o Vinicius. — Admiti de mau gosto.

—E eu sou o Murilo. — meu irmão admitiu do mesmo jeito.

Nosso pai era o único que nos obrigava a dizer quem éramos de verdade, e já não gostávamos que dirá então quando era uma garota magrela e que mal conhecíamos quem o fazia!

Mas afinal, que diferença fazia? Ela nunca iria conseguir aprender quem era quem.

Ou foi o que pensamos.

—Ótimo. — ela disse, e começou a apontar para nós, um de cada vez, repetindo como se quisesse memorizar: — Vinicius e Murilo. Murilo e Vinicius... E mais uma coisa.

Giramos os olhos e cruzamos os braços.

—O que foi agora? — perguntamos.

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—Vocês vão me dar um mês para poder aprender, e durante esse tempo vão parar com esse jogo esquisito de gêmeos que vocês têm.

—Um mês?! — exclamamos indignados.

—Tudo bem... Uma semana então. — ela cedeu.

Olhamos um para o outro, nunca havíamos ficado tanto tempo assim sem trocarmos de identidade, será que conseguiríamos? E então voltamos a encará-la.

—Nós aceitamos.

—Ótimo, então uma semana a partir de hoje!

E quando ela virou-se para ir embora, nós dois esticamos uma mão e agarramos seus pulsos.

—Tem mais uma coisa. — dissemos.

Ela virou-se.

—O que?

—Queremos um beijo. — falamos — Só pra selar o acordo.

Não sei se queríamos constrangê-la ou a fazer desistir, talvez as duas coisas, mas Ayume não recuou, ela apenas olhou em volta e quando viu que além de nós três só havia um grupo de garotas que fingiam não prestar atenção em nossa conversa, aproximou-se se inclinou para frente sem hesitação e tocou meus lábios com os seus e depois fez o mesmo com Murilo.

Ela afastou-se.

—Está feito.

E contra todas as probabilidades, Ayume realmente aprendeu a, de alguma forma, nos diferenciar, e ela devia estar realmente desesperada para que a acompanhássemos nesse tal evento, porque acabou aprendendo tão bem que depois daquela semana nunca mais nos confundiu.

Meu irmão e eu acabamos tendo que ir ao evento, e a experiência foi tão traumática que prefiro não falar dela agora... Talvez um de nós dois o faça algum dia... Ou não.

♠. ♣. ♥. ♦

Vinicius se calou quando os relógios de pulso que ele e o irmão tinham apitaram.

—Parece que a sessão acabou doutora. — falou, enquanto o irmão já se levantava e fazia alguns alongamentos.

—É o que parece. — Dra. Frank concordou. — Mas nosso trabalho não, então na mesma hora no mesmo dia semana que vêm?

—Claro doutora a senhora manda. — Murilo respondeu estendendo a mão para ajudar o irmão a se levantar.

—Então não se esqueçam de agendar a próxima sessão com o Adam na saída.

Avisou para os gêmeos que já estavam de saída.

—É claro doutora, claro. — responderam de forma pouco convincente.

—E meninos. — ela os chamou — Tentem... Ser um pouco mais individuais, que tal? Podem começar tentando parar de falar quase tudo ao mesmo tempo.

Os irmãos olharam para a doutora, depois se encararam e olharam para a doutora novamente.

Caíram na gargalhada e foram embora.