Foram apenas três segundos de silêncio, cinco pistões acionados e o crepitar do carvão no motor a vapor, uma garota me beijou, mas quando me afastei ela aparentou a minha idade. Seus cabelos haviam sido presos por uma fita dourada, usava um vestido mais confortável e solto nas alturas do ombro, como uma donzela que estava pronta para uma luta de rua a qualquer momento.

—...!

— Que foi? Você não beijaria uma criança, mudo de forma constantemente...

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— Abaixe-se! — gritei.

A primeira horda de balas de canhões foi lançada, a frente da cabine foi destruída por três das balas, as restantes acertaram parte do casco e o maquinário. Uma das balas quase acertara a gaiola de Tsur-U que grasnou freneticamente.

— Freak!

Os ventos jupterianos invadiram a cabine, lufadas de gases levaram projetos e papéis aos ares, a Vitória ainda não havia perdido a estabilidade, mas os danos poderiam prejudicar a aerodinâmica da espaçonave, e o mais importante, minha respiração.

No início, a sensação de asfixia foi agonizante, eu caí ao chão e senti que um saco de areia invadiu as minhas cavidades nasais e foram-se depositadas em meus pulmões, então senti o odor de terra molhada, os sentidos antes angustiantes, agora refrescantes; meus pulmões expiraram o ar e inspiraram seguida a batida do coração.

— Eu... — gaguejei — Estou respirando.

— Não é hora, estamos sobre ataque! — gritou Élpis me segurando pelos braços e me levantando — O beijo serviu para isto, para compartilhar o dom da respiração!

— Mas... E as arma!

— Deixe comigo! Há algum jeito de você voar até a embarcação inimiga?

— Não sei... Por que faríamos uma loucura desta?

— Ele é seu primeiro desafio, ela não deixará passar até que se prove digno de existir força em você!

— São muitas informações...

— Ande com o seu transporte, idiota! — ela gritou.

— Ok.

Existia um baú na cabine inferior, desci por um alçapão com escada redobrável, o coração do motor a vapor se encontrava neste andar, a fornalha que alimentava tudo queimava naquele local, por isso sempre estava a uma temperatura de quarenta graus. O baú era uma grande caixa de madeira com fechadura a chave, eu retirei um molho de chaves preso no cinto.

— Quais destas? — perguntei mentalmente.

Vitória II tremeu, o molho de chave caiu das minhas mãos, “Droga”, pensei. A espaçonave voltou a ser atacada, tateei o chão em busca da chave, encontrei o elo com apenas algumas chaves, o impacto deve ter feitos as chaves caírem.

— Droga! — desta vez gritei em bom tom audível.

Testei cada uma das chaves ao baú, tateei o chão em busca de mais chaves, até encontra uma com haste de bronze, mas com dentes banhados a ouro, encaixei na fechadura, virei a 180° e abriu. No interior do baú revelo alguns vestuários.

Surgir na cabine superior, entregando uma mochila à garota, agora uma jovem. Élpis me olhou incrédula. Aliás, ela estava à beira da proa e segurava uma lança a mão, parecia ser feita de bronze, a ponta era uma pedra esverdeada, seria esmeralda? Talvez usasse sua magia para tirar aquela arma do vapor, como fez as balas.

— Uma mochila?! É sério isto! — disse.

— Sr. Júlio a projetou... — digo com uma presa as costas e com o combustível preenchido — ela é alimentada ao vapor pressurizado. Esta está vazia, demora alguns minutos para encher e...

— Não precisa! Agora se essa engenhoca funciona, a teste, pule até a outra embarcação!

— Mas o que devo fazer?

— Encontrar Dynami!

— E como saberei quem é?

— Você saberá... — os canhões foram armados novamente, estava pronto para serem disparados. — Agora vá!

Ela me empurrou da proa, mesmo com a grade de segurança, escorreguei pelo casco e entrei em queda a atmosfera jupteriana, minhas únicas palavras foram gritos de pavor. Precisaria agir rápido, segurei as alças da mochila e puxei, o vapor comprimido direcionou para baixo, empurrando o meu corpo para cima.

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— Uou! — gritei.

Aproximava-me do casco da caravela, um modelo antigo de embarcação da Velha Era. Mais continha alguns detalhes de outros tempos, a frente, na proa, existia a estatua de um tritão com coroa de coral e portando um tridente.

— Por Netuno! — exclamei descendo ao casco da embarcação inimiga, fui recepcionado por uma horda de marujos com espadas e porretes a mão. — Para trás!

Apontei a pistola a eles, mas o tambor deveria está vazio, pois não me lembrei de recarregar com as balas que se encontravam ainda em meu bolso. Os marujos riram e avançaram, apertei o gatilho, mas nada disparou, comecei a correr pelo convés.

Do outro lado, Élpis atirava raios de energia em marujos com sua lança, os raios entravam em contato com o metal da lança e ela direcionava aos seus alvos.

— Como posso atirar com esta Garrucha, ela tem apenas um tiro por cano! — exclamei a carregando, me virei aos piratas e atirei.

O marujo simplesmente evaporou no ar, os outros entraram em choque por milésimos de segundo, voltei a correr. Alcancei Élpis e nós dois ficamos cercados pelos piratas, ficamos costa a costa, ela disparava raios e eu recarregava e atirava.

— Pensei que faria um bom trabalho com esta arma! — exclamou ela — Mas você é muito lento!

— Obrigado pelo elogio, mas nem sua arma deu conta do recado!

Um trombeta soou, os marujos apontaram suas espadas curvas afiadas a nós, retiraram as armas de nossa mão e nos rederam perto ao mastro, Élpis e eu levantamos as mãos. Ao fim da trombeta, os piratas abriram passagem ao que parecia ser o líder deles, possuía uma barba negra espessa no rosto, tapa olho e perna de pau, com cicatrizes pelo rosto, braços e único pé descalço.

O pirata disse algo em uma língua primitiva, algo entre o nórdico e anglo-saxônico, e o restante vibrou pelo espetáculo.

— O que ele disse? — perguntei à Élpis.

— Ele quer travar uma batalha contra você, entre vida e a morte.

— Espere... O que? — gaguejei.

Os marujos me levantaram e separaram de Élpis, fui cercado por outro círculo, com o grande pirata de um lado, ele deixou sua espada e seu porrete com os companheiros, retirou a camisa, mostrando o físico musculoso, peludo e cicatrizado.

— Entendi, uma luta corpo a corpo!

— Argh! — bradou o pirata.

Ele avançou em minha direção como um mastodonte, os braços abertos para me agarrar. Desviei me agachando por baixo de seu flanco esquerdo, o grande pirata abraçou o ar. Entretanto não antes de ser rápido o suficiente para me puxar por uma perna e me lançar ao mastro. As costas bateram de encontro à madeira, e a cabeça ao convés.

Os marujos bradaram e levantaram suas espadas ao ar, mas uma vez a trombeta soou, os piratas ficaram em silêncio por um momento, perdi os sentidos da visão, minhas últimas imagens foram de Élpis abraçando a minha cabeça contra o seu corpo e uma mulher de cabelos loiros se aproximando.

— Você não pode ficar com os melhores troféus Élpis! — exclamou a mulher de cabelos loiros.

Apaguei.

Acordei ao som de água, meus olhos se abriam e viam um globo de vidro deslizando de um lado para o outro, o cheiro era de água e sal, seria isto a maresia. Levantei-me com uma dor nas costas e na cabeça, com o tórax nu, observei ataduras em meu peitoral, sentia que quebrei algumas costelas. Meus pés estavam presos as correntes a parede e o navio balançava para frente e para trás.

Observei a cela em que eu estava presente, as grades eram de ferro, me senti o próprio Tsur-U. Aliás, o que aconteceu com a Vitória II? E com Tsur-U? Provavelmente foi destruída pelos canhões. Agarrei o globo que deslizava a minha cela, observei seu interior e havia uma caravela portuguesa, o globo era chato na parte inferior, onde havia uma inscrição: “Navio Flor do Mar”.

— Navio Flor do Mar?! — li — Não pode ser o original!

Outros Globos rodavam pela prisão que provavelmente se localizava no convés inferior, ou mais conhecido como calabouço. Peguei outras duas esfera e li suas etiquetas — “Ilha de Atlântida” e “El Dourado”.

A embarcação tornou a balança, objetos de metais cairão e rolaram, dentre eles um cálice encrustado com joias, O Santo Grau; um osso, talvez um fóssil; uma espada com o punhal revestida com fitas chinesas, a lendária Espada Kusugami, e uma cruz dourada, seria esta a lendária Cruz dos Templários?

— São os tesouros perdidos do seu povo! — exclamou alguém do outro lado, uma voz feminina conhecida, Élpis.

Élpis voltou a se tornar uma pequena garota, suas correntes, diferentes da minha, possuía algum tipo de magia que queimava sua pele, notando tal detalhe pelas queimaduras em suas mãos e pés.

— O que houve com você?

— Eles nos trancaram aqui, até Prosochí absolver sua essência.

— Do que você está falando?

— Já que estamos presos aqui, tenho que lhe contar a verdade. Por tempo, vocês humanos consideraram cada planeta do Sistema Solar desabitado, e creem que vocês são as únicas formas de vida orgânica, por parte vocês estão certos, mas nós surgimos junto com o primeiro Homo Sapiens. Assim como surgimos, influenciamos vocês em suas vidas, lhe demos conhecimento na Antiguidade, lhe resguardamos na Idade Média, revolucionamos-lhe na Idade Moderna. Entretanto o homem evoluiu e nos desprezaram. Não nos cultuavam mais, não mais sabiam de nossas existências, alguns de nós até se fortaleceram por um tempo, mas depois morreram;

— Quem são... Exatamente vocês? — perguntei.

— As virtudes. Esperança foi a virtude que nos concedeu uma saída, precisaríamos de um novo local de culto, um novo método de nos cultuarem, para isso precisaríamos reduzir a humanidade e lhe exigir sacrifício. Sussurramos nos ouvidos de alguns homens que se sentiam infelizes com a política da Terra.

— Vocês criaram a Tempestade?

— Não exatamente todas as virtudes, alguma como: Sabedoria, Coragem, Amizade, Sinceridade, Responsabilidade, entre outros, recusaram a tal martírio. Mas um grupo de Sete, incluído a Esperança, com suas últimas forças, criaram a primeira tempestade que destruiu quatro de suas cinco colônias.

— Então não foi uma tragédia natural... Foram vocês que dizimaram, tanto a Terra, como os pioneiros de Júpiter! — gritei — E agora estou aqui falando com uma de vocês!

— Precisávamos disto, era uma nova forma de mantermos vivos!

— Nos matando?

— Devorando a essência de um sacrifício.

— Por isso a Grande Tempestade a cada vinte e sete anos, nós escolhidos, somos o sacrifício para vocês!

— Sim... Entretanto...

— Entretanto o que?

Não tive tempo de ouvir suas respostas, dois piratas adentraram o calabouço, abriram minha cela e arrastaram-me para fora.

— Vocês não podem mata-lo! — gritou Élpis.

— Você não deveria se meter com ele Élpis, ele não está em seu terreno! — disse o pirata em minha língua. Levaram-me para cima.

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