Terceirão

Coma, drogas e desaparecimento


– Ana! Levanta daí! – Era o Felipe de novo. – Procurei você pela casa inteira... A gente tem que vazar. Levanta! – Ele tentou me ajudar, mas também estava cambaleando.

Me apoiei na parede e com muito esforço consegui levantar.

Tudo continuava rodando.

– O que ta rolando?!

– Algum idiota chamou a policia. A gente precisa sair daqui rápido. Também chamaram a ambulância por algum motivo... Não to conseguindo pensar direito...

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– É claro! Você está mais louco que o Batman! – minha voz estava embargada.

– Vamos nessa!

Ele me pegou pela mão e foi me puxando, aos trancos e barrancos passamos por toda aquela muvuca. Quando percebi já estava do lado de fora da casa.

Algumas pessoas estavam indo embora desesperadas. Ao longe era possível ouvir o barulho de sirenes se aproximando.

– Onde eu deixei o carro?! – Fê parecia perdido.

– Também não sei, mas não deve ser difícil achar um fusca vermelho.

No fim da fila de carros estacionados encontramos o fusca.

Entramos correndo. Ele deu partida e manobrou totalmente descontrolado.

Quando passamos pela saída da portaria a policia e o SAMU entrou as presas pelo outro lado.

Felipe pisou fundo.

– Você sabe pra onde está indo? – Perguntei assustada.

– É lógico.

– Acho melhor você ir mais devagar. Felipe cuidadoooo!

Ele desviou de um carro que estava atravessando à encruzilhada e acabou batendo no poste mais próximo.

Foi tudo muito rápido. Com o tranco da batida eu fui parar com a testa no painel e ele com a cara no volante.

– Você está bem? – Ele perguntou – Eu não estou sentindo nada.

– Eu também não.

– Ana, o carro do meu pai?! – Pareceu cair a ficha.

Felipe desceu desesperado para ver o estrago.

Ele debruçou sobre o capô e começou a chorar.

– Relaxa, foi só um arranhão. – Tentei consola-lo.

A frente estava toda destruída.

– Acho melhor a gente se mandar antes que a polícia apareça. – Ele disse se recompondo.

Entramos no carro.

Ele começou a dar partida, mas nada acontecia.

Olhamos um para cara do outro.

– Você vai ter que empurrar.

– Ta de zueira? Eu sou a garota aqui esqueceu?!

– Sabe dar partida?

– Não.

– Sabe engatar a marcha?

– Não.

Desci e fui empurrar.

Felipe gritava incentivos de dentro do carro.

Eu quase coloquei meus pulmões para fora. Mas por algum milagre o carro pegou.

– Correeee Ana! Entra logo.

– Me espera seu viado! – Comecei a correr atrás do fusca vermelho feito uma louca.

– Você precisa entrar no carro! Não posso parar!

Com certeza aquela foi a cena mais ridícula da minha vida.

O carro estava a vinte por hora. Eu não conseguia abrir a porta. E o Felipe não parava de gritar comigo.

Até que ele se esticou e abriu a porta pra mim. Nesse momento eu saltei pra dentro, mas minhas pernas ainda ficaram pra fora.

E lá estava eu: com metade do corpo pra dentro, metade pra fora e a bundona para o alto. Alguns carros que passavam pela avenida começaram a buzinar. Talvez estivessem tirando sarro da gente.

– Me ajuda Felipe! – Com um braço ele controlava o volante e com outro me puxava pela calça.

Depois de muito esforço consegui entrar, sentar e seguir em frente, com a cabeça erguida.

Fomos o caminho inteiro sem falar nada um pro outro e então mais uma vez chegamos vivos ao destino.

Ele colocou o carro na garagem.

– É isso aí. Chegamos. – Nos olhamos. E do nada caímos na gargalhada.

Ficamos rindo por muito tempo.

Até que...

– UMA HORA DA MANHÃ?! – Gritei. – minha mãe vai me matar. Te vejo amanhã. Se eu sobreviver. – Desci do carro correndo e fui para minha casa, que é praticamente ao lado da dele.

– Boa sorte! – Ouvi ele gritando.

******

– UMA HORA DA MANHÃ ANA! UMA HORA! E eu aqui feito idiota preocupada. Não atende o celular. Eu já estava ligando para a polícia! – Minha mãe estava soltando fogo pelas ventas. – Isso é inaceitável! Não esperava uma coisa dessas de você.

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Estava ouvindo tudo de boca fechada. Era melhor ficar quieta do que falar alguma merda, além disso, parecia que ela não tinha notado que estava completamente bêbada.

– Eu não acredito! Você está de castigo... Blá blá blá, blá bla bla....

De repente não entendia mais nenhuma palavra do que ela estava dizendo, meu estomago começou a se torcer...

– Entendeu? Você sabe que blá bla bla bla...

Uma ânsia de vômito... E...

Vomitei tudo, ali, bem no tapete da sala. Com minha mãe observando.

– Você está bêbada?! Ana...

– Podemos conversar amanhã? – Não esperei a reposta. Subi as escadas e fui para meu quarto. Me joguei na cama e desmaiei.

******

Seis horas da manhã minha mãe entrou batendo panelas no meu quarto. LITERALMENTE batendo panelas. Nem ao menos fechei os olhos e já estava na hora de acordar.

– ACORDA! Pensa que a madame vai ficar dormindo até tarde é?! – começou a puxar o meu pé para fora da cama.

É o seguinte, minha mãe é a melhor do mundo, mas ela é muito vingativa. E esse lado vingativo dela pode se tornar o pior pesadelo na vida de uma pessoa. Confesso que tenho certo medo disso.

– Já falei pra levantar. Quer que eu busque água gelada?!

Levantei num pulo. Não duvidava que ela fosse capaz.

– Vai se arrumar se não vai perder o ônibus. Quando você chegar vamos ter uma conversa séria.

Estava com a cara horrível, acabada, detonada, com dor de cabeça, mau hálito e cheirando a cigarro e cerveja.

Saí de casa linda, maquiada, perfumada, cabelo penteado, dente escovado, e sorriso no rosto?

Claro que não.

Só deu tempo de trocar de roupas.

******

– Olhem só para vocês. Estão um horror! – Mais sermões.

Mal cheguei à escola e o diretor nos chamou para ir até a sala dele.

Molly, Felipe e eu estávamos sentados de frente para ele ouvindo suas reclamações. Segundo ele só a gente estava presente na festa.

– Escuta excelentíssimo, foi só uma festinha em minha residência. Da próxima vez te mando um convite também. O senhor tem facebook?

– Está me achando com cara de palhaço?! Vocês tem noção da gravidade do ocorrido?! Drogas, bebidas, polícia, ambulância... Um aluno em coma alcoólico...

Aquilo me assustou.

– O que? Como assim? – exclamei.

– É isso mesmo, um aluno em coma alcoólico. A sorte é que chamaram o SAMU a tempo. É da turma de vocês seu nome é... – ele viu em um papel – Aldo. E como se não bastasse tem uma aluna desaparecida, Camila Moreira e um aluno preso na delegacia por porte de drogas ilícitas, Roger Bueno. Percebem a gravidade de tudo isso agora?!

Nós três nos entreolhamos perplexos.