A Filha de Roma e Grécia

Hayley - Como eu descobri que Reyna não tem a menor criatividade


Annabeth era diferente do que eu havia imaginado.

Claro que Percy havia a descrito para mim, mas eu tinha imaginado uma garota loira, alta, de olhos cinza, e não uma garota loira, alta, de olhos cinza igual a ela.

É doloroso se lembrar dela, e de como ela havia sacrificado anos para me proteger e me treinar para que eu conseguisse combater até os piores monstros. Ela tinha mostrado para mim como o mundo era de verdade. O mundo é cruel, e eu sei disso melhor do que ninguém.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Tudo bem com você? – Percy, que estava ao meu lado, me tirou de seus pensamentos. Já estavam todos sentados.

– Tudo – respondei, confusa. - Por que não estaria?

Percy sorriu.

– Você ficou quieta por quase dez minutos – explicou ele- Acho até que bateu seu recorde.

– Cale a boca, Jackson! – exclamei, dando um tapa em seu braço enquanto ele ria da minha irritação.

Depois Percy murmurou algo para Annabeth, que respondeu para ele, mas eu não consegui ouvir. Eles formam um belo casal.

Reyna interrompeu meus pensamentos propondo um brinde à amizade.

Amizade? Sério? Que coisa mais clichê

Então fiz uma nota mental: lembrar de ensinar Reyna o que é criatividade.

Depois disso, os romanos e a tripulação do Argo II começaram a trocar histórias. Jason Grace explicou que havia chegado ao Acampamento Meio-Sangue sem memória e partira em uma missão com Piper – a garota de cabelos chocolate – e Leo – o magricela que parecia um elfo – para resgatar a deusa Juno da prisão na Casa dos Lobos, no norte da Califórnia.

– Impossível! – interrompeu Octavian. Resisti ao impulso de afogá-lo no lago. – Esse é nosso lugar mais sagrado. Se os gigantes houvessem aprisionado uma deusa lá...

– Eles a teriam destruído – disse Piper. – E colocado a culpa nos gregos, dando inicio a uma guerra entre os acampamentos. Agora cale a boca e deixe Jason terminar.

Octavian abriu a boca, mas não saiu nenhum som. Tive vontade de levantar e aplaudir. Também notei que Reyna olhava de Jason para Piper e de volta para Jason, com a testa franzida, como se começasse a perceber que eles eram um casal. Ô lerdeza. Eu já tinha notado isso quando eles chegaram ao fórum.

– Então – continuou Jason – foi assim que descobrimos sobre a deusa da terra, Gaia. Ela ainda não está completamente acordada, mas é quem anda libertando os monstros do Tártaro e despertando os gigantes. Porfírio, o líder grandalhão que enfrentamos na Casa dos Lobos, disse que estava recuando para as terras antigas... a Grécia. Ele planeja despertar Gaia e destruir os deuses e... como foi mesmo que ele disse? Destruir suas raízes.

Percy assentiu, pensativo.

– Gaia tem estado ocupada por aqui também. Tivemos um encontro com a Rainha Cara Suja.

Percy então contou sua versão da história. Falou de quando acordou na Casa dos Lobos sem nenhuma lembrança, exceto por um nome: Annabeth.

Ao ouvir isso, notei que Annabeth se segurava para não chorar. Percy narrou-lhes a viagem para o Alasca com Frank e Hazel: como eles haviam me encontrado, como consegui controlar o gelo, destruindo “sem querer” uma geleira inteira (nessa parte, Annabeth arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada), derrotado o gigante Alcioneu, libertado o deus da morte Tânatos e retornado com a águia de ouro, o estandarte perdido do acampamento romano, para um ataque do exército dos gigantes.

Quando Percy terminou, Annabeth se dirigiu à mim:

– Conseguiu controlar o gelo? Como?

– Bem, tecnicamente – comecei, tentando formular uma resposta – O gelo é um estado da água. Então, hã... não foi tão difícil. Só é preciso um pouco mais de concentração do que o normal.

– Precisa de mais força de vontade do que o normal – corrigiu Percy.

– Como assim?

– Você conseguiu fazer aquilo quando atacaram Hazel. – explicou ele – Naquela hora sua força de vontade foi maior que sua concentração.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Você acabou de raciocinar? – perguntei, pondo a mão na testa de Percy. – Está doente, por acaso?

– Cale a boca, Bennet!

– Bom... – interrompeu Jason, mudando de assunto – Dá para entender por que escolheram você como pretor. – comentou, olhando para Percy.

Octavian bufou.

– O que significa que temos três pretores! Os regulamentos afirmam claramente que só podemos ter dois!

– Olhando pelo lado bom – observou Percy -, Jason e eu somos superiores a você na hierarquia, Octavian. Assim, nós dois podemos mandar você calar a boca.

Nem tentei segurar o riso quando Octavian ficou roxo, da cor da camiseta dos romanos. Percy e Jason trocaram um soquinho.

Até Reyna sorriu, embora seus olhos estivessem tempestuosos.

– Vamos resolver o problema do pretor extra mais tarde – observou ela. – Neste momento, temos questões mais sérias para tratar.

– Eu me retiro em favor de Jason – disse Percy sem hesitar – Não é nada de mais.

Nada de mais? - engasgou Octavian – a pretoria de Roma não é nada de mais?

Percy o ignorou e voltou-se para Jason:

– Você é irmão de Thalia Grace, não é? Uau. Vocês não são nada parecidos.

– É, eu percebi – respondeu Jason – De qualquer forma, obrigado por ajudar meu acampamento enquanto eu estava fora. Você fez um trabalho incrível.

– Você também – respondeu Percy.

– Olha, eu odeio interromper o nascimento de uma linda amizade como essa – interrompi. –, mas temos assuntos mais importantes para tratar.

– Precisamos falar sobre a Grande Profecia. – concordou Annabeth – Parece que os romanos também estão cientes disso.

Reyna assentiu.

– Nós a chamamos de a Profecia dos Sete. Octavian, você sabe recitá-la de cor?

– É claro – disse ele –, mas Reyna...

– Recite-a, por favor. Mas não em latim.

Octavian suspirou.

Sete meio-sangues responderão ao chamado. Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado...

– Um juramento a manter com um alento final – prosseguiu Annabeth -, e inimigos com armas às Portas da Morte, afinal.

Todos a fitaram; exceto por Leo, que havia construído um cata-vento com embalagens de taco de papel-alumínio e o espetava nos espíritos do vento que passavam.

Eu não fazia ideia do porquê Annabeth deixara escapar os versos da profecia, e, pela linguagem corporal dela, ela também não fazia a menor idéia do porquê.

Frank sentou-se mais para frente, fitando-a fascinado.

– É verdade que você é filha de Min... quer dizer Atena?

– Sim. – respondeu ela, suas sobrancelhas estavam franzidas. - Por que tanta surpresa?

– Se você é mesmo filha da deusa da sabedoria...- começou Octavian

– Significa que ela é muito mais inteligente do que você – cortei, fazendo-o ficar roxo de raiva.

Octavian abriu a boca para retrucar, porém Reyna o interrompeu:

– Basta – disse ela – Annabeth é o que diz ser. Ela está aqui em paz. Além disso... – ela dirigiu a Annabeth um olhar relutante de respeito. – Percy falou muito bem de você.

Quando entendi o que Reyna quis dizer, fiquei boquiaberta. Reyna tinha dado em cima de Percy, e ele preferiu Annabeth. Ok, isso é estranho. Claro que deve ser estranho, o fato de que a pessoa que você mais respeita no acampamento inteiro ter dado em cima de seu irmão, que cai entre nós, nem é tudo isso.

Notei que Annabeth também tinha entendido, pois seu rosto ficou vermelho.

– Hã, obrigada – disse para Reyna. Deu pra perceber que ela estava louca para mudar de assunto – De qualquer forma, parte da profecia está ficando clara. Inimigos seguindo armados até as Portas da Morte... isso significa romanos e gregos. Precisamos nos unir para encontrar aquelas portas.

Hazel apanhou um rubi que estava ao lado do prato, e o guardou no bolso da jaqueta de brim. Ela estava nervosa.

– Meu irmão, Nico, foi procurar as portas – disse ela

– Espere – pediu Annabeth – Nico di Angelo? Ele é seu irmão?

Di Angelo? O sobrenome do filho de Hades é di Angelo? Eu nasci em Veneza, e por isso sei falar italiano. Até pensei em observar o quão irônico era o fato de que o filho de Hades, o rei do mundo inferior, ter o sobrenome que em italiano significa de Anjo, mas decidi ignorar o assunto.

Annabeth parecia confusa, como se conhecesse o irmão de Hazel, mas, se pensou em algo, deixou para lá.

– O.k. Você estava dizendo... – dirigiu-se a Hazel

– Ele desapareceu. – Hazel umedeceu os lábios – Meu medo... não tenho certeza, mas acho que aconteceu alguma coisa com ele.

– Vamos procurá-lo, Hazel – prometi. – Temos que encontrar as Portas da Morte, de qualquer jeito. Tânatos disse que encontraríamos as duas respostas em Roma... a Roma original. Ela fica no caminho da Grécia, certo?

– Tânatos disse isso a vocês? – perguntou Annabeth olhando para Percy – O deus da morte?

Percy mordeu seu sanduíche.

– Agora que a Morte está livre, os monstros vão se desintegrar e retornar ao Tártaro, onde ficavam. Mas, enquanto as Portas da Morte estiverem abertas, eles vão continuar voltando.

Você não está na lista. Falara Tânatos. Tenho uma ordem para não leva-la. Porém eu sabia que ele não falava de Hazel.

Piper virou a pena que estava um seu cabelo.

– Como a água vazando por uma barragem – sugeriu ela.

– Pois é. – Percy sorriu – e temos um baita vazamento.

– o que? – perguntou Piper.

– Nada – respondeu ele – Piadinha interna. Precisamos encontrar e fechar essas portas antes de irmos para a Grécia. É nossa única chance de derrotar os gigantes e garantir que eles permaneçam derrotados.

Ok, Percy está raciocinando. Tem algo muito errado aqui.

Reyna pegou uma maçã de uma bandeja de frutas que passava. Ela a girou entre os dedos, examinando a casca vermelho-escura.

– Vocês estão propondo uma expedição para a Grécia em seu navio de guerra. Vocês se dão conta de que as terras antigas... e todo o Mare Nostrum... são um lugar perigoso?

– Mary quem? – perguntou Leo.

– Mare Nostrum – explicou Jason – Nosso Mar. É assim que os antigos romanos chamavam o Mediterrâneo.

Reyna assentiu.

– O território que no passado fez parte do Império Romano não é só o berço dos deuses. Também é o lar ancestral dos monstros, Titãs, gigantes... e coisas piores. Semideuses correm perigo ao viajar aqui na America, mas o risco é dez vezes maior.

– Você disse que o Alasca seria ruim – lembrou Percy – Nós sobrevivemos. E Hayley conseguiu sobreviver lá por quase um mês, e estava sozinha.

Reyna balançou a cabeça.

– Percy, viajar no Mediterrâneo é um nível de perigo totalmente diferente. Há séculos lá é território proibido para semideuses romanos. Nenhum herói em seu juízo perfeito iria até lá.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Então somos as pessoas certas! – Leo sorriu por cima do cata-vento – Porque somos todos loucos, certo? Além disso, o Argo II é um navio de guerra top de linha. Ele vai nos levar até lá.

– Temos que nos apressar – acrescentou Jason – Não sei exatamente o que os gigantes estão planejando, mas Gaia fica mais consciente a cada minuto. Está invadindo sonhos, aparecendo em lugares estranhos, convocando mais e mais monstros poderosos. Precisamos deter os gigantes antes que eles acordem outra vez.

Sete meio-sangues responderão ao chamado – disse Annabeth – Precisamos unir nossos acampamentos. Jason, Piper, Leo e eu. Somos quatro.

– E mais Percy, Hazel e Frank. Sete. – falei.

Percy franziu as sobrancelhas, mas antes que pudesse fazer qualquer tipo de comentário, Octavian o cortou.

– O que? – Perguntou ele, levantando num salto – Vocês esperam que nós simplesmente aceitemos isso? Sem um debate adequado? Sem...

– Percy! Hayley! – Tyson, meu meio irmão ciclope, vinha na nossa direção com a Sra. O'Leary em seus calcanhares. Nas costas do cão infernal estava Ella, a harpia que encontramos numa biblioteca na missão para o Alasca.

Tyson parou ao lado do sofá deles e retorceu as mãos imensas. Seu grande olho castanho estava cheio de preocupação.

–Ella está com medo – disse ele.

– N-n-nada de barcos – murmurou Ella para si mesma, bicando furiosamente as penas – Titanic, Lusitania, Pax... barcos não são para harpias.

Leo estreitou os olhos.

– Por acaso essa galinha acabou de comparar meu barco ao Titanic?

– Ela não é uma galinha. – falei, duramente. Eu gosto muito daquela harpia. Ao contrario das outras harpias que conheci, Ella era um doce.

– Ella é uma harpia – acrescentou rapidamente Hazel, já prevendo uma briga – Só está um pouco... tensa.

– Ella é bonita – disse Tyson – E está assustada. Precisamos levá-la embora, mas ela não quer ir no navio.

– Nada de navios – repetiu Ella então olhou diretamente para Annabeth. – Azar. Ai está ela. A filha da sabedoria caminha solitária...

Droga.

– Ella! – levantei num salto – O que você acha de...

A Marca de Atena por toda Roma é incendiária – prosseguiu Ella, tampando os ouvidos e elevando a voz. – Gêmeos ceifaram o anjo da vida / Que detém a chave para a morte infinita. / A ruína dos gigantes se apresenta dourada e pálida, / Conquistada por meio da dor de uma prisão tecida.

Droga. Mil vezes droga.

Todos olharam para a harpia. A Marca de Atena. Um nó se formou em minha garganta ao me lembrar do quanto odiava essa marca.

Não pode estar acontecendo de novo.

A moeda que carrego há anos pesou em meu pescoço.

O barulho do banquete continuava, porém abafado aos meus ouvidos. Naquela hora, senti vontade de contar tudo para Percy, mas ele não pode saber.

Eles não podem saber.

Hazel me lançou um olhar preocupado. Hazel. A única que sabia. A única em que eu confiava o suficiente para lhe contar a verdade sobre quem era.

Percy foi o primeiro a se recobrar. Ele se levantou e pegou Tyson pelo braço.

– Já sei – disse, fingindo entusiasmo – Que tal você levar Ella para tomar um ar fresco? Você e a sra. O’Leary...

– Espere ai – Octavian estava com os olhos fixos em Ella- O que foi que ela disse? Parecia...

– Ella lê muito – disse Frank rapidamente – a encontramos em uma biblioteca.

– É – reforçou Hazel – é só uma coisa que ela leu em um livro!

– Livros – murmurou Ella, pensativa – Ella gosta de livros.

Eu não fazia idéia do porquê, mas olhei para Annabeth pedindo ajuda.

Annabeth forçou uma risada.

– É mesmo Octavian? – Perguntou ela – Talvez as harpias sejam diferentes aqui, no lado romano. As nossas têm inteligência apenas para limpar chalés e cozinhar. As de vocês costumam prever o futuro? Você as consulta para seus augúrios?

Suas palavras tiveram o efeito desejado. Os oficiais começaram a avaliar Ella e rir com desdém.

Movimentei os lábios em uma mensagem silenciosa: Obrigada.

Annabeth respondeu movimentando a cabeça como se dissesse: Não foi nada.

Depois de algum tempo, foi decidido que Octavian iria dar uma olhada no Argo II com Leo, Jason iria mostrar Roma a Piper (nessa hora senti vontade de estrangular Jason, quando perguntou isso à Reyna), e Annabeth iria ter uma conversa particular com Reyna.