A Filha de Roma e Grécia

Hayley - Lembrar de matar Nico di Angelo


– Concentre-se – Freddie murmurava ao meu lado pela milionésima vez. Eu já estava começando a ficar com raiva.

– Não consigo – ofeguei, pondo a cabeça entre as mãos. Estávamos treinando meu controle sobre a água num lago, que eu encontrei por acaso em uma das minhas tentativas de fuga.

Quando pedi para que Freddie me ajudasse a controlar a água, não pensei que seria tão cansativo. Ele era o único da Resistência que tinha um pouco mais de experiência em controlar elementos e – como o bom filho de Hécate que é – ele era o melhor quando se trata de magia.

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Freddie suspira pela milionésima vez antes de se levantar e caminhar em direção à Sede, virando-se apenas para me avisar que amanhã continuaremos. Odeio quando ele faz isso. Quando vai embora quando eu mais preciso dele.

Olho para o lago e tento me concentrar o máximo possível. A água não se move. Eu teria mais sorte com uma parede de tijolos. A raiva por não conseguir fazê-la se mover toma conta de mim e eu fecho os olhos com força. Tento me acalmar para não acabar socando alguém. Sem sucesso. Porém, quando abro os olhos, quase que solto um grito.

A água que antes estava tão calma, agora tinha quase todo seu conteúdo flutuando. Eu podia ver a luz do sol artificial passando pela água, fazendo com que ela parecesse uma bola de sabão. Fico em pé e, no mesmo instante, a água volta para seu lugar como se nada tivesse acontecido.

Ansiosa para ver aquela maravilha de novo, me concentrei o máximo possível na esperança de conseguir outra vez.

– Você está fazendo isso errado – Uma voz atrás de mim me fez dar um pulo de susto. Procurei à minha volta, mas não tinha ninguém, nem mesmo os Esquecidos – as almas que habitam os Campos Asfódelos – estavam por perto. Apenas sombras. – E você sabe disso – disse outra vez. Então as sombras à minha volta começaram a se juntar em um só lugar, dando a forma à uma pessoa. As sombras ficaram nítidas e consegui reconhecê-lo.

– Nico? – perguntei com a voz falha. Não o via desde que tinha esbarrado nele há semanas atrás. Depois de dizer seu nome, eu olhei para trás para me certificar de que tinha mesmo despistado os Guardas Almas, mas quando olhei para ele de novo, o garoto tinha sumido.

– Oi – falou ele, como se estivesse me encontrado no elevador e quis parecer educado.

– O que está fazendo aqui? – perguntei. – Os vivos são tão suicidas assim a ponto de vir aqui, não uma, mas duas vezes?

Nico arqueou as sobrancelhas e pareceu pensar na pergunta.

– Costumo ficar aqui a maior parte do tempo – ele responde depois de algum tempo para depois concluir a frase num tom meio divertido. – Achei que sua primeira pergunta seria como Hades eu fiz aquilo.

Arqueei as sobrancelhas. Aquela pergunta tina sido a primeira que passou pela minha cabeça, mas acabei me esquecendo de fazê-la.

– Se você sabe quem é Hades, você deve ser um semideus – observei, quase soltando uma risada quando vi sua cara confusa – muito bem disfarçada por sinal – quando não fiz a pergunta. Não que eu não estivesse curiosa quanto àquilo, mas digamos que eu goste um pouco de fazer contrário do que os outros esperam. Ok, eu adoro.

– Sou – ele confirmou. Esperei ele dizer de quem ele era filho, mas ele não falou mais nada.

– E quem é seu pai ou mãe deus? – perguntei, esperando que ele me contasse quem era seu parentesco divino.

Nico olhou para os lados e se aproximou de mim como se fosse contar um segredo. Curiosa, aproximei-me também até que ele estivesse perto de mim. Ele novamente checou se alguém estivesse por perto e olhou para mim. Nico era mais alto do que eu. Nossas respirações se cruzaram.

– Algum dia eu te conto – sussurrou, e foi em direção ao lago. Ao notar que eu não seguia, ele olhou para trás e fez um sinal para que eu me aproxima-se. – Quer que eu te ensine a controlar a água ou não?

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Controlar a água? Ele sabia como controlar a água?

– Você sabe controlar a água? – perguntei quando cheguei ao seu lado.

– Não – respondeu, sentando-se no chão e eu segui seu exemplo. – Mas tenho um amigo que controla – ele falou a palavra “amigo” de um jeito que deu a impressão que era o pior inimigo dele. – E não deve ser tão diferente do que eu faço.

– E o que você faz? – perguntei, franzindo a testa. – Deixe-me adivinhar – interrompi antes que ele conseguisse responder – “Algum dia eu te conto”?

Nico deu de ombros, mas – mesmo que ele estivesse sem expressão – pude ver o divertimento brilhar em seus olhos.

– Sabe o que tem que fazer? – ele perguntou, e eu mordi o lábio tentando me lembrar dos sermões enormes de Freddie sobre como controlar os quatro elementos. Não sei pra quê ele ficava falando tanto, eu só precisava aprender sobre água e não sobre os outros elementos e a importância deles.

– Me concentrar – falei, embora parecesse mais uma pergunta.

Nico me observava, mas quando falei, ele balançou a cabeça.

– Não – respondeu ele como se fosse óbvio. – Da onde você tirou isso?

Dei de ombros.

– É o que Freddie me diz para fazer – respondi.

– O cara que estava com você antes? – perguntou ele, girando se anel distraidamente. Era impressão minha, ou sua voz ficou mais ríspida?

– É – respondi, fazendo o mesmo que ele. Então caiu a ficha. – Espera aí – falei, fazendo-o olhar para mim. – Você estava me espionando?

Nico virou o rosto para o outro lado. Seu desconforto era visível.

– Não – respondeu ele depois de um tempinho.

Não consegui segurar a risada e Nico me olhou como se eu fosse louca. Bem, ele não estava tão errado assim.

– Qual é a graça? – perguntou ele.

– Você mente muito mal.

– Quem disse que estou mentindo?

– Eu.

– Mas eu não estou.

– Está sim.

– Como sabe?

– Você está mordendo a parte de dentro do lábio – falei, fazendo-o parar no mesmo instante. Arthur costumava fazer a mesma coisa quando mentia.

– Tá bem, você venceu – cedeu ele, então tirou algo de dentro do bolso do jeans escuro. – Só achei que iria querer isso de volta. – Falou, e colocou um dracma de prata preso num cordão de couro em minha mão. Meu colar. O mesmo que Eileen me deu antes que morresse. Ela tinha me explicado o fato de e que a mãe dela tinha dado isso a ela antes que o câncer a levasse totalmente. Eu estava o procurando como louca.

– Onde você achou? – perguntei, sorrindo. Lutei contra a vontade de abraçá-lo pois tive a impressão de que ele não gostaria muito disso.

– Deve ter caído quando você esbarrou em mim naquele dia. – respondeu ele, olhando para o lago. – Falando nisso, desculpe por ter desaparecido daquele jeito. – Notei que ele não tinha o costume de se desculpar pelo jeito que falou.

– Sem problemas – falei, dando de ombros. – Desculpe por ter esbarrado em você.

Nico franziu a testa, como se algo tivesse lhe ocorrido.

– O que você estava fazendo naquele dia? – perguntou, e depois pigarreou. – Quer dizer, você parecia com pressa.

Dei de ombros novamente. Notei que faço muito isso quando estou perto dele.

–Apenas seguindo minha rotina – comecei. – Tento sair desse inferno, despisto os Guardas Almas, chego à Sede a tempo de ouvir o sermão de Freddie sobre como “fugir não é a solução, mas sim continuar neutros”, tento fugir outra vez e pelo final da tarde os Guardas Almas me capturam, me levam até o palácio do Sr. H para batermos um papo, ele quase me extermina, Perséfone o acalma e eu sou mandada de volta para os Campos Asfódelos para voltar a viver minha tediosa vida.

Nico franziu a testa parecendo confuso.

– Sr. H?

– Hades – expliquei. Juro que vi ele dar um sorriso de lado, mas foi tão rápido que poderia ter sido só imaginação minha.

Ficamos num silencio constrangedor, esperando que um ou outro o quebrasse.

– Então – começou Nico. – Você precisa deixar que uma emoção tome conta de você.

O encarei confusa.

– O que? – perguntei, sem saber do que ele estava falando.

– É assim que você controla a água. – respondeu ele. Senti meu rosto esquentar. Como é que é? Para sua informação, eu NUNCA coro.

– Ok – Então olhei para a água

Quando Nico notou que eu estava me concentrando, colocou a mão no meu ombro. Senti meu braço inteiro formigar.

– Não se concentre – murmurou ele. – Procure uma memória e deixe que ela tome conta de você.

Fechei os olhos e procurei uma lembrança. Antes eu senti raiva e a água ganhou vida, talvez eu devesse tentar me focar em uma lembrança boa. Me foquei em todas as minhas memórias de quando eu estava com Arthur e Eileen, mas Sarah sempre voltava para minha cabeça e a raiva tomava conta de mim. Senti minhas cicatrizes queimarem por baixo das mangas de minha jaqueta.

– Muito bem – A voz de Nico me pescou de dentro dos meus pensamentos, fazendo-me abrir os olhos. Parte da água estava flutuando assumindo a forma de uma faca. A faca que eu usei para matar Sarah.

*****

Acordei assustada com as batidas na porta.

Suspirei irritada. Mais uma noite de flashbacks. Não poderia ser lembranças de quando eu estava com Eileen não, precisava ser as em que eu estava com Nico. Claro, por que não?

Hayley, chegamos! – Disse a voz de Percy do outro lado da porta.

Minha primeira reação foi pegar minha jaqueta e vesti-la. Não podia correr o risco de ele ver minhas cicatrizes. A segunda foi abrir a porta, irritada.

Percy estava vestido como sempre, mas hoje ele parecia ter tentado arrumar o cabelo. Ele me olhou de cima a baixo.

– Dormiu de roupa? – perguntou ele.

Olhei para mim mesma. Quando voltei do quarto de Annie ontem à noite, nem pensei em trocar de roupa de tão cansada que eu estava.

– Já estou acordada há um tempinho. – respondi, mesmo não sendo verdade.

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Você acordando cedo? Milagre.

Rolei os olhos e passei por ele, indo em direção ao convés, mas sem antes pegar uma maçã no refeitório. Se você disse que a cor da maçã era azul, parabéns! Sabe o que você ganha? Nada! Todos estavam no convés quando cheguei.

Annabeth foi a primeira que notou minha presença e sorriu para mim. Digamos que ficamos mais próximas desde ontem. Gostaria de ter contado à ela sobre Sarah, mas não queria correr o risco de ela me char um monstro.

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O navio aterrissou em algum lugar e o solavanco quase me fez perder o equilíbrio.

Estávamos em Atlanta.