Ele sabia que a dor de cabeça que sentia não era por culpa de alguma ressaca. Preferia que fosse assim talvez não se lembrasse da noite passada.

Jason também sabia que já havia feito muita burrada na vida – tentar comer um grampeador, por exemplo –, mas tinha quase certeza que havia se superado.

— Eu não acredito que fiz isso – resmungou olhando para o objeto que tinha em mãos.

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Quando chegou ao apartamento, puto da vida e sem um pingo de racionalidade, ele jogou o celular no chão – que continuava a pegar, porém estava todo arranhado e com a tela arruinada.

Ok, talvez não tivesse sido a coisa mais estúpida da noite, mas era a única que ele conseguiria resolver. Então foi até o quarto do pai, tirou certa quantidade de dinheiro do cofre que estava lá e foi até uma loja onde poderia trocar a tela.

Ia voltando para casa quando pensou em ir falar com Nico, seu primo mais novo e o único, acreditava, que não iria falar abobrinha para ele.

O garoto morava com a irmã mais velha, Bianca, em um pequeno apartamento – que era perto de onde Leo vivia com o tio. Ao chegar, tocou a campainha e ficou esperando alguém atendê-lo, o que demorou.

— Ah, é você. – Nico disse o olhando por uma pequena fresta da porta, então a abriu de vez. — Entre.

A primeira coisa que Jason viu, ao entrar, foi Percy sentado no sofá e o encarando com cara fechada.

— O que você está fazendo aqui? – O loiro perguntou, Percy murmurou algo e fez bico.

— Ignore ele – disse Nico. — O que quer?

— Precisava conversar com alguém.

— Sobre o Valdez, suponho. – Jason piscou confuso, até notar o outro moreno assobiar de modo suspeito.

— Às vezes eu acho que você e Thalia são irmãos. Dois fofoqueiros! – acusou.

— Alguém tem que manter Nico informado. – Tentou se justificar, recebendo um olhar reprovador do mais novo.

— Vamos pro quarto da Bianca. – Nico puxou o loiro e encarou Percy antes de se afastar. — E você fique aqui, veja algum filme.

— Tem "Procurando Nemo"? – perguntou, mas recebeu um grunhido como resposta.

Ao que os dois chegaram ao pequeno quarto da irmã do mais baixo, o som do filme soou alto.

— Ele vai acabar surdo. – Nico resmungou, fechou a porta e apontou a cama da irmã em um claro pedido para Jason se sentar.

— Percy já te contou tudo, certo? – Sentou-se colocando o rosto entre as mãos, os cotovelos apoiados nas coxas.

— Nada que eu não tenha ouvido do próprio Valdez – respondeu.

— Então vocês são mesmo amigos? – perguntou impressionando.

— Pode se dizer que sim. – Fez pouco caso. — Mas alguma coisa me diz que você quer dizer algo que eu ainda não sei. – Encarou o primo, que suspirou.

— Acho que o fiz chorar – confessou, Nico ficou quieto esperando uma explicação. — Eu disse que nunca o veria como algo além de meu melhor amigo e que não precisava nem pensar sobre isso.

— Por quê? – Jason o encarou confuso.

— Porque eu achei que deveria deixar isso claro.

— Não, por que acha que não precisa pensar sobre? – Nico puxou a cadeira da penteadeira e se sentou de frente para o primo.

— Porque eu sei que nunca o verei como alguém para namorar – apontou o que achou que era óbvio.

— Como pode saber, sendo que não pensou nisso? – Jason ergueu uma das sobrancelhas e ficou em silêncio. — Você gosta dele?

— Claro que gosto – respondeu sem pestanejar. — Mas não como alguém que eu possa namorar.

— E com que tipo de pessoa você namoraria?

O loiro parou para pensar e então disse:

— Uma pessoa leal, confiável. Que tenha um bom senso de humor, inteligente... – Parou para pensar em mais atributos. — Alguém que me faça querer conhecer coisas diferentes.

— Onde o Valdez não se encaixa nessa sua descrição? – Nico o encarou com uma leve presunção.

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— Qual a parte do "ele é meu melhor amigo", ninguém entende?!

Nico revirou os olhos, ajeitou-se na cadeira e fitou o primo. Talvez deveria tentar uma outra abordagem.

— Você namoraria comigo?

— Não! – respondeu prontamente, assustado pela pergunta repentina.

— Por quê? – Continuou a encara-lo.

— Pra começar seu olhar me assusta. – Remexeu-se na cama, incomodado. — E não me leve a mal, mas você é um pouco macabro demais; sem contar que tem o mau hábito de aparecer do nada.

— Certo. – Riu de forma nasalada. — Você namoraria a... Annabeth?

— De jeito nenhum, ela é a ex do meu bro! Sem contar que às vezes é um pouco irritante o modo como ela fala sobre arquitetura.

— E quanto a Percy? – Jason gargalhou.

— Ele é desorganizado, fofoqueiro. Tem o coração no lugar, mas a cabeça na Lua – respondeu. — Além de uma estranha obsessão por alimentos azuis e por "Procurando Nemo"

Nico concordou rindo, então a porta foi aberta abruptamente assustando os dois. Percy entrou e olhou para Jason, indignado.

— Eu não sou obcecado por comida azul!

— Esqueceu de dizer que ele é um enxerido. – Nico disse ignorando o moreno, Jason assentiu. — Você não deveria estar assistindo filme?

Percy não respondeu, apenas saiu como se nada tivesse acontecido.

— Agora me diga – falou chamando a atenção do loiro. — Por que não namoraria o Leo? E não diga que é porque ele é seu amigo.

— Ele fala demais sobre coisas nerd – respondeu depois de pensar por alguns segundos.

— Isso nunca te incomodou – lembrou.

— Na verdade, chega a ser engraçado. – Sorriu. — Mas ele é obcecado por invenções... O que é bem legal, se você pensar bem. – Franziu o cenho.

— Viu. – O mais baixo sorriu convencido. — Você não tem nenhum motivo real para não tentar.

Jason o encarou por um bom tempo, pensando em tudo o que dissera e ouvira. Até que, cansado, exteriorizou o que de fato temia:

— Se eu tentar, mas não conseguir... O que vai acontecer? Isso pode estragar nossa amizade. – Olhou para o chão.

— Mas e se conseguir? – Nico fez uma pausa, deixando o outro pensar.

— Por que conversar com você é mais fácil? – O mais novo deu de ombros, sem ter uma resposta.

— Atributo de quem é macabro – zombou.

Π

Leo estava dando uma pausa no trabalho, então não viu quando Jason chegou à mecânica. Seu tio estava trabalhando em um motor e quase sujara o loiro ao se esticar para cumprimenta-lo.

— Muito tempo que não aparecia por aqui, garoto. – O homem sorriu. — Obrigado por ter acompanhado Leo até em casa ontem.

— O quê? – Ficou confuso.

— Ei, cara, o que tá fazendo aqui? – A voz de Leo chamou a atenção dos dois.

— Ah, eu fui conversar com Nico e achei que seria legal dar uma passada aqui. – Leo sorriu e estendeu uma garrafa de água para o tio.

— Leo, eu pensei que Jason tinha vindo com você ontem de noite. – O mais velho disse após dar um gole na bebida gelada.

— Era o Will, tio. – Jason o encarou ainda mais sem entender. — Ele é filho de um cliente nosso.

— Um ótimo rapaz, na minha opinião. – O homem sorriu com más intenções e deu uma cotovelada no sobrinho. — Você sabe que tem meu apoio, Leo. Eu confesso que tive meus casos quando mais jovem.

Dios mio, no hables de eso! – reclamou em espanhol, o que fez o tio gargalhar. — Venha, vamos sair daqui. – Puxou Jason para fora da mecânica.

O loiro preferiu não dizer nada sobre o que ouvira, porém algo em sua cabeça apitava de forma incomoda. Algo que estimulava sua curiosidade; queria saber quem era aquele tal de Will, quando se encontraram e porque ele havia levado Leo para casa.

— Quer comer algo? – Leo perguntou apontando para uma lanchonete que havia na esquina.

— Claro.

Logo ambos estavam sentados e esperando os pedidos chegarem. Leo reclamava sobre como o tio era um enxerido inconveniente.

— Quem é Will? – perguntou repentinamente, sem conseguir mais ignorar a própria curiosidade.

— Já disse, é filho de um cliente – respondeu, porém Jason o encarou esperando uma resposta mais detalhada. — Eu não o conheço direito, se é o que quer saber. Se nos vimos três vezes antes de ontem, é muito.

— Então por que ele te acompanhou até em casa? – questionou mostrando um claro desconforto. — Ou melhor, como vocês se encontraram?

— O que houve, Jason? – Franziu o cenho diante da postura do amigo.

— Estou só tentando entender – falou, Leo o olhou com desconfiança.

— A gente se encontrou no ônibus, ele não mora tão longe daqui. – Suspirou. — Começamos a conversar e ele quis me acompanhar.

— E você aceita?! Nem conhece o cara! – reclamou indignado, os pedidos foram entregues na mesma hora.

— Cara, qual o problema? Não é como se ele fosse um bandido. – Deu uma mordida no lanche, Jason esfregou o rosto irritado.

Os dois permaneceram em silêncio enquanto comiam. Leo achando estranho aquele comportamento e Jason querendo saber por que suas mãos tremiam.

Ao saírem da lanchonete, ainda sem trocarem palavras, o loiro trombou com um rapaz que passava.

— Desculpe – pediu, mas o outro nem deve tê-lo ouvido, pois foi para cima de Leo.

— Achei você! – disse alto, passando um braço pelos ombros do mais baixo e sorrindo. — Pensei que depois de ontem podíamos sair juntos.

Compreendendo quem era aquele menino metido a surfista desgarrado do mar, Jason grunhiu.

— Jason, esse é Will. – Leo apresentou parecendo um pouco desconfortável. — Will, esse é Jason.

— Prazer em conhecer. – O outro loiro estendeu a mão, que foi apertada com força. — Então, que tal sairmos hoje? – Olhou para Leo, que ainda estava preso sob o braço dele.

— Na verdade, nós temos um encontro. – Jason avisou ao mesmo tempo em que puxava o amigo para longe de Will.

Sem dar chances para Leo protestar – que era o que ele faria caso não estivesse atônito com a declaração do outro –, o arrastou de volta para a casa do amigo.

— Ei! – Leo, que finalmente conseguiu ter alguma reação, puxou o braço que era retido pelo mais alto. — Que história é essa de "temos um encontro"?

— Bem, era o combinado – respondeu como se tivesse se esquecido da noite anterior.

Era. Se me lembro bem, você disse que não queria mais fazer isso! – retrucou irritado, sem se importar se chamava atenção de alguém por estar quase gritando no meio da rua.

— Mudei de ideia!

Mudou de ideia?! Ontem você estava bem crente de que não valia a pena! – Praticamente gritara. — O que mudou da noite pro dia?

Jason baixou a cabeça e murmurou algo que Leo não entendeu. Então o loiro esticou a mão, entregando o saco de balas azedas que comprara no primeiro encontro.

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— Você tinha razão, eu deveria dar uma oportunidade e pensar no assunto. – Leo pegou o saco e o encarou desconfiado.

— Tá dizendo que agora vai me dar uma chance, de verdade? – Jason assentiu.

— Só não posso garantir que no final eu vou–

— Eu sei – interrompeu. — Nunca pedi isso, só queria ter a oportunidade de poder fazer algo a respeito.

Mais uma vez Jason assentiu então os dois ficaram quietos e parados no meio da calçada; um pouco sem jeito, mas não desconfortáveis.

— Então... O que quer fazer hoje? – O loiro perguntou.

— Não sei, o que você quer fazer?

— Sei lá, comer? – Riu. — Podemos ir naquele seu restaurante mexicano favorito.

— Você paga? – perguntou sorrindo, Jason concordou. — Então por mim está bem, te ligo mais tarde?

— Eu te ligo, mandei meu celular para o concerto hoje – explicou.

— O que aconteceu?

— Eu... derrubei ele no chão sem querer. – Corou, lembrar o ataque de fúria que tivera o deixava envergonhado.

— Certo, então vou esperar por um sinal seu. Só que agora eu tenho que voltar e ajudar meu tio.

— Eu vou contigo. – Logo os dois voltaram a caminhar.

— Eu amo essas balas! – Leo disse animadamente quando jogou uma na boca.

— Eu sei. – Jason sorriu vendo a felicidade do amigo.

Talvez não fosse ruim dar uma chance.