Mi Corazón Es Tuyo

"É isso que vai fazer com que ela não desista de você"


O Jonas não me acordou naquela manhã e eu fiquei feliz por isso. Acordei mais cedo que ele sem despertador, sem que me chamasse. Cinco horas e quinze minutos antes do meio dia. O que eu faria a essa hora da manhã se a aula só começa as oito?

Já não estava mais tão orgulhoso de mim.

Fiquei a olhar o teto e a pensar no jantar de ontem. Quem Ludmila achava que era para falar mal da Maria na frente de toda a família? Meu pai não me deu alternativa, assim como ela. Tive que terminar o nosso namoro apesar de ela não ter aceitado isso muito bem. Insistiu para que eu pensasse melhor, mas não havia nada a ser repensado. Ela até forçou um beijo e eu fui muito educado ao não limpar a minha boca naquele instante. Sei que foi tanto uma covardia convidá-la para jantar em minha casa e depois terminar com ela, no entanto meu pai dissera com todas as letras que se eu não o fizesse, Violetta nunca mais quereria vir. E eu poderia perder tudo, menos ela. Conheço-a há anos e jamais a trocaria por alguém que apareceu há pouco tempo. Quatro anos e cinco meses são diferentes de dez anos e onze meses.

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O despertador do Jonas tocou quinze minutos depois de eu ter acordado. Ele se mexeu na cama, antes de abrir os olhos e começar a despreguiçar. Ao se levantar me viu e espantou-se:

— Caiu da cama, León?

— Não posso acordar cedo? – retruquei.

— Ah claro, acho até melhor porque assim nós podemos conversar. – sentou-se na sua cama.

— Conversar? Jonas, você tem que ir a escola.

— É sobre a Violetta.

Sentei em minha cama com um pulo, assustado. O que teria acontecido com a minha Boneca? Passei em seu quarto na noite anterior e ela já dormia, mas estava tudo bem. Muita coisa pode ter acontecido em uma noite, pensei.

— Ela está bem?

— Não sei. Não sou eu quem a vejo todas as noites antes de dormir.

— Ontem ela dormiu cedo, mas se não aconteceu nada, o que quer falar?

— Eu quero que você abra os olhos! Poxa León, será que você não percebe que está apaixonado pela Violetta e que ela te quer como mais que um amigo?

— Nossa amizade tem quase onze anos, é normal confundir isso com paixão.

— E é essa amizade que te faz sentir essa “paixão”. Acha que eu sou bobo? Também conheço a Violetta desde os quatro anos e percebi a mudança de comportamento de vocês durante esse tempo todo.

Fui obrigado a concordar que nós dois nos relacionamos de forma diferente agora. Mais abraços, mais trocas de olhares, mais carinho... Passamos mais tempos juntos – quando a Ludmila me esquecia – porque quanto mais as horas passam, mais tenho necessidade de estar ao seu lado, de saber se está tudo bem. Mas não acho que seja amor.

— Eu sempre quis ter algo com ela, mas tenho certeza que não quero tanto quanto você quer. Faz o que estou pedindo, León. Abre os olhos e investe no que você sente pela Violetta, porque é isso que vai fazer com que ela não desista de você. Terminar com a Ludmila foi só o primeiro passo.

Cada palavra que ele dizia despertava algo em mim. Era como se tudo isso já tivesse passado pela minha cabeça, porém adormeceu com o tempo. Mas não era na mente, era no coração. Ele estava acelerado. Será que estava tentando me falar algo?

— Também quero dizer que você era o único a não perceber isso.

— Hã? – eu disse pela primeira vez desde que ele começou a falar.

— Nossos pais conversaram com ela ontem e eu escutei tudo. A mamãe disse que ela era a nora perfeita e pediu para investir nisso. O papai falou que se vocês resolverem ser mais que amigos podem contar com o apoio dele. Só a Luna que não disse nada, mas pelo que expressou quando viu a chata da sua ex-namorada, com certeza ela apoia.

Sorri involuntariamente mesmo não sabendo o que me surpreendia mais. O que meus pais disseram a Violetta ontem ou o que Jonas está me dizendo agora. Pensei que nunca o ouviria me dando conselhos. Ainda assim, era mais estranho saber que ele sempre quis ficar com a Vilu e está me dizendo para que eu o faça. Então resolvi perguntar:

— E você? Digo só a Luna não disse nada e isso significa que você sim.

— Eu? Eu só estou fazendo isso porque a Francesca insistiu e porque não quero que você volte para a Ludmila.

— Nem que me paguem eu faço isso! – garanti.

— Então isso significa que não precisa você namorar a Violetta e aí vou poder ficar com ela?

— Isso significa que você tem que se arrumar logo senão vai se atrasar.

Ele bufou, mas assim que viu a hora correu para o banheiro. Ri fraco.

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Maxi me enviou uma mensagem avisando que hoje terá ensaio para a apresentação do trabalho. Não respondi, levantei e arrumei as minhas coisas enquanto esperava o Jonas sair do banheiro. É horrível ter que dividir tudo com ele só porque é irmão gêmeo. Não somos idênticos. Os olhos de Jonas são castanhos, os meus verdes. Seu cabelo é bem mais escuro que o meu. E eu sou o mais alto. No meu aniversário de dezesseis, vou pedir o meu próprio quarto. Quando enfim ele saiu, tomei banho, me arrumei e antes de descer procurei pelo meu pai. Se ele apoia um relacionamento sério entre mim e a Violetta, com certeza pode me ajudar. Ainda que ela fosse minha amiga, não sabia como fazer para pedi-la em namoro. Quero surpreendê-la. Quero fazer diferente de todos os idiotas que levaram um fora. Eis o meu medo: ser um deles.

Não o encontrei, então desci para tomar café. Tudo estava calmo aqui em baixo. Jonas ainda não tinha ido para a escola, minha mãe preparava a comida e Violetta estava na sala de jantar. Estranhei que estivesse tão quieta.

— Bom dia minha boneca! – fui até ela e beijei-lhe a testa.

Mas ela não respondeu e isso me preocupou. Sentei-me na cadeira mais próxima dela e a olhei.

— Fui ao seu quarto ontem e você já estava dormindo. Está tudo bem?

— Você foi? – perguntou me olhando.

— Sim, mas você dormiu cedo. Precisava daquele abraço que só você sabe dar e tenho muita coisa para te contar...

— Ah, então depois você conta. Tenho que ir mais cedo hoje. – falou se levantando.

— Ué? Mas está cedo demais! Você nem comeu ainda.

— Eu sei, mas preciso ir. Depois nos falamos... – sorriu fraco e seguiu para a porta.

+++

— O que eu posso fazer para surpreendê-la, pai? – perguntei andando de um lado para o outro pela sala.

— Eu lhe dei um quarto e ela ficou encantada e pare de fazer isso, vai acabar cavando um buraco e sua mãe não vai ficar muito feliz.

Respirei fundo e parei. Sentei-me no sofá só para não ter que escutar os gritos de minha mãe.

— Tá, mas o que eu faço? Dou uma cozinha para ela?

Meu pai riu, mas eu não achei graça.

— Não importa o que você faça, vai dar certo de qualquer jeito. Aliás, por que você acha que aqueles garotos que queriam ficar com ela levaram um fora? Porque ninguém a conhece como você!

Sorri. O Arthur, o Lucas... Eles não conseguiram estar com Violetta porque não sabiam do que ela mais gostava e simplesmente tentaram como se ela fosse uma garota qualquer. Ela merece muito mais que ser comparada a qualquer uma. O que eu não sabia era que a cada vez que ela dizia “não” a um garoto, ela estava fazendo uma escolha. Não a escolha de rejeitar e sim a de ficar comigo. Também não sei como voltar atrás para mudar isso, mas sei exatamente o que fazer para consertar.

Ele sorriu junto a mim. Será que uma vez já sorrira assim pelo mesmo motivo que eu? Com certeza sim. Conquistar o coração da dona Cecília não deve ter sido nada fácil. Sempre quis perguntar a respeito disso, mas acho antiético e meu pai acharia uma invasão de privacidade. Nesse caso, ele até poderia responder...

— Pai? Como o senhor conseguiu conquistar a minha mãe?

Ele arregalou os olhos e eu simplesmente corei. Nunca tinha perguntado algo parecido a ele, mas como dizem “para tudo tem-se uma primeira vez”.

— Bem – começou –, eu e a Cecília sempre gostamos um do outro. Então não me pergunte como a conquistei, pois nem eu sei. No entanto tinha outro rapaz e outra moça e daí você já vê que não foi nada fácil chegar onde estamos. Várias vezes a Ceci quis escolher esse outro cara e até escolheu o que mais tarde se tornou um erro...

— E essa moça?

— Desde o início eu sabia que não ia dar certo, por isso quis me dedicar a Cecília mesmo que ela estivesse mais interessada nesse outro. Movi céus e terras para que ela me aceitasse como noivo, mas eu sabia que ainda assim seu coração estava dividido.

— Até hoje ela gosta dele?

— Não. Apesar de sermos apaixonados desde jovens, todo o amor que sentimos hoje foi construído com o tempo. É isso que espero que você e o Jonas possam fazer: construir o amor.

Era estranho saber que meus pais passaram por muitas coisas antes de casarem-se e formar essa família. Por mais que ele tenha resumido – eu sei que ele o fez -, pude ter uma noção de que toda a felicidade que eles têm foram sementes plantadas desde o princípio e agora estão colhendo-as. Para ele, com certeza, valeu a pena!

Uma hora e vinte e sete minutos.

— Preciso ir, tenho ensaio para a apresentação de um trabalho.

Mas na verdade eu estava indo fazer o que Violetta esperou por tempos.