A mão de meu pai estava no meu ombro, o maior sinal de apoio que eu recebera em tempos. Fechei meus olhos, tendo tomar consciência suficiente do que estava prestes a fazer. Arrumei meu cabelo preto e o moletom cinza do Muse que usava.

—Ele gostou da sua ousadia – sussurrou, olhando diretamente para o general russo, que saia do hospital acompanhado de vários soldados e seguranças.

Passei minha língua em meus lábios, na tentativa de umedecer um pouco as rachaduras que o frio criara. Olhei nos olhos de meu pai, como se confirmando se seu comentário fora verdadeiro ou não.

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E sem perder tempo, fizemos o mesmo trajeto que outrora eu havia feito sozinha e sem o consentimento de meus pais. A vibração estranha de médicos, enfermeiras e pacientes continuava naquele universo de doenças e feridas – muitas delas incuráveis.

Seguimos, dessa vez pelo elevador e, num estalar de dedos, eu estava de volta àquele corredor branco que ficava o quarto 65 e me dava vontade de vomitar.

—Ele acabou de acordar – Rebecca disse, andando em minha direção com CalebDwayne ao seu lado, que sorriu para mim. – Você pode entrar quando quiser,Blakely.

De repente, um frio na barriga me tomou. Senti um desconforto tão grande que pensei mentalmente na possibilidade de sair correndo dali e me jogar na frente do primeiro carro que passasse na rua. Não... Eu não faria isso. Christopher havia me ensinado o que era ser forte, ele despertou isso em mim. Para todo sempre, eu teria que levar a força.

Dentro de mim, no meu coração, havia várias Blakelys que me constituíam. Ao longo da minha vida, eu iria conhecer algumas delas e esculpir quem eu sou, mas outras permaneceriam recônditas como mistérios, só que existiriam e também fariam parte de mim. Complexo. Nos últimos meses eu havia descoberto tantas Blakelys ao lado de Christopher Robinson... E eu queria ele ao meu lado quando eu descobrisse outras partes e perspectivas de mim, e também gostaria de estar ao lado dele em suas descobertas.

Tudo que havíamos passado juntos até aquele momento era tão insano, bom e ruim... E só de pensar em abrir a porta branca com o número 65 escrito e vê-lo, meu coração disparou.

Ao relar no metal frio, senti quase que um choque percorrendo todo meu corpo. Quando abri a porta, levei uma surpresa. Era um quarto pequeno e simples, com uma cama encostada na parede, no centro. Logo ali, estava o garoto dono dos olhos azuis mais incríveis que eu já vira.

Senti algo no meu peito, como um calor intenso, um sentimento bom que ardia demasiado no meu coração. Ele estava logo ali, a poucos metros de mim, acordado e revestido por cobertos beges, meio que inclinado.

Nossos olhos se encontraram. Sim, Christopher estava vivo e consciente. Eu me deixei perder naquela anarquia azul por alguns segundos, logo tirada do transe pelo barulho da porta se fechando atrás de mim.

–Blakely – disse meu nome, com a voz mais rouca que o normal, mas ainda sim forte e com uma boa vibração.

—Christopher – andei alguns passos em sua direção, devolvendo seu chamado.

Silenciosamente, conversamos por alguns olhares. Era incrível a forma que ele me fazia sentir tanto com tão pouco... Meu coração pulsava forte.

Passados alguns minutos, cheguei ainda mais perto da cama hospitalar, tão perto que comecei a analisar Christopher, em uma tentativa boba de ver se ele continuava realmente a mesma pessoa.Tirando alguns hematomas e arranhões, tudo parecia bem nele. Estava coberto por uma manta cinza clara e um cobertor branco, confortável e aquecido.

Nossas mãos se tocaram, sentindo o calor um do outro como há muito tempo não fazíamos. Mesmo depois de tudo, o sentimento permanecia, até mais intenso, na verdade.

—Você está bem? – perguntou, enquanto acariciava minha mão.

Meio nervosa, eu sorri.

—Eu acho que sou eu quem deveria perguntar isso – falei, apertando levemente seus dedos. – Você está bem?

De repente, senti algo diferente nele. Uma sensação ruim que logo se desfez com seu sorriso de canto, como se estivesse com vergonha.

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—Agora estou.

Dei um curto e abafado riso, olhando por alguns segundos para o chão.

—Posso saber o que eu perdi? – perguntou, depois de alguns segundos em um silêncio não muito desconcertante.

Christopher olhou bem em meus olhos, como se me perguntando se realmente haviam feito o que ele mandara, que eram as decisões sendo tomadas por mim.

—Você ficará aqui, no Reino Unido – falei, me sentindo um pouco egoísta, mas sabia que seria a escolha dele também. – Seu pai irá para a Rússia, muito provavelmente – o garoto pareceu triste por alguns poucos segundos. Afinal, estávamos falando de seu tão amado pai, cujo fizera toda aquela trama ocorrer. – Sinto muito por isso...

Inusitadamente, ele sorriu de novo.

—Você percebeu muito antes de mim que era irremediável. Só não consigo lidar bem com isso...

Acariciei seu braço, tentando reconfortá-lo pelo menos um pouco.

—E Ezequiel? – perguntou, os olhos sedentos por alguma informação e também se martirizando por não ter perguntando do amigo antes.

Minha expressão mudou drasticamente, não pude evitar. Christopher notou e pareceu ficar nervoso.

—Depressão. Não o vi – era tudo o que eu podia falar.

Dessa vez, ele não pode conter sua tristeza. Virou o resto e fechou os olhos, talvez segurando as lágrimas. Encostei minha testa em seu ombro, sentindo sua dor interna.

—Eu...

—Você não pode fazer nada agora – o interrompi, antes que soltasse seus arrependimentos. – Isso ainda terá seu tempo.

Christopher assentiu, mas ainda sim parecia prestes a chorar. Eu conseguia entendê-lo... Ezequiel o alimentara, o ajudara e o cobrira em diversas situações. Ver o seu melhor amigo em uma situação tão ruim e se sentir culpado era uma grande assolação.

Senti que sua crise interna estava piorando, então o envolvi com meus braços ainda mais. Ele encostou sua cabeça na minha, quase que dividindo seus pensamentos também. Parecia prestes a explodir.

—Blake... – senti algumas de suas lágrimas caírem em minha face, Christopher sussurrava com dificuldade. – Minhas... pernas...

Eu sabia o que aquilo significava, e meus olhos se encheram de água no mesmo instante. Embora eu tivesse que ser forte para ele e com ele, me senti a ponto de desmoronar. Aquilo era pior do que o momento em que vi Hunter pela primeira vez, era pior do que o momento em que eu quase fora estuprada, era, até mesmo, pior do que ver Christopher sendo jogado da sacada do prédio.

Chorei. Assim como ele... Nossas lágrimas se misturando em danças suaves em minha face. Aquilo era tão triste. Eu mal podia acreditar.

—Vamos ficar bem – sussurrei, em algum momento durante nossos silenciosos choros.

Talvez ele tenha escutado, porque se mexeu e suas mãos foram para minha cintura, me envolvendo em seus braços. Na verdade, eu não sabia se tudo ficaria bem, mas a presença de Christopher me dava esperanças de que sim. Ele era meu conforto, mesmo em sua tristeza.

Senti um suave beijo em meus lábios num deliberado momento.

—Sim, nós vamos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.