O Diário Secreto de Christopher Robinson

Décimo Primeiro Capítulo


Assim que cheguei em casa, subi rapidamente as escadas e peguei meu caderno preto de poesia. Qualquer coisa servia para marcar minha linha de raciocínio antes que eu a perdesse.

O pai dele estava vivo. Christopher dissera duramente que ele morrera há três anos, mas agora aquilo parecia apenas uma desculpa, uma desculpa para algo maior.

Escrevi “Operação Christopher Robinson” no inicio de uma folha do caderno e então escrevi todos os fatos que me levavam a acreditar que Ezequiel estava me escondendo algo, não só ele, como Christopher também.

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Afirmação da morte do pai há três anos.

Ezequiel disse que CR tinha “probleminhas em casa”.

A mãe é secretária e conhece Caleb Dwayne (empresário).

Hematomas no corpo.

Raiva excessiva.

Estuda em uma boa escola, embora não tenha condições.

Pronto.

Esses eram os principais fatos que me levavam a crer que havia algo estranho nessa história. Não é todo dia que se vê um garoto com excesso de raiva e hematomas novos todos os dias.

Mas talvez o fato número 1 quisesse indicar algo. Eu adorava ler Sherlock Holmes e foi assim que descobri a ver se alguém estava mentindo ou não, igual ao meu pai, que é advogado. Christopher dera detalhes não muito importantes sobre a morte do pai, ou seja, ele exemplificou que fora há três anos. Normalmente as pessoas colocam mais detalhes quando estão mentindo, talvez para que os outros acreditem mais facilmente.

Só que eu me lembro bem de quando Christopher dissera aquilo. A dor em seus olhos era algo inegável. Então talvez a morte do pai dele tenha sido apenas para ele. Se a mãe de Christopher estava tendo um suposto caso com CalebDwayne, é porque seus pais com certeza se separaram (há três anos?) e seu pai tenha supostamente “morrido” para ele.

Porém, algo martelou em minha cabeça no minuto seguinte. Ezequiel dissera que o pai de Christopher “pegou leve essa semana” e o Senhor Medeiros perguntou se o garoto passara fome. Então não eram “probleminhas em casa”, eram problemões.

Eu tinha que comprovar se os pais dele realmente se separaram ou então se tudo era muito pior do que eu pensava. Por mais que eu quisesse descobrir tudo por trás das marcas de Christopher, não tinha a quem recorrer. Ele não me diria absolutamente nada e Ezequiel, que era seu mais fiel amigo, também não me diria nada, além de que eu poderia afastá-lo de mim e ele era meu único amigo, meu único amigo de verdade.

Mas talvez eu pudesse retirar as respostas de Ezequiel usando um modo mais sutil de manipulação. Papai cursara psicologia antes de direito, talvez ele pudesse me ensinar algumas coisinhas.

Eu já sabia um pouco sobre como manipular pessoas, embora isso não fosse muito certo, só que não era um conhecimento tão aprofundado quanto eu gostaria que fosse. Porém meu pai tinha esse conhecimento.

Não era uma má ideia pedir ajuda a ele.

–Pai! – gritei.

Alguns segundos depois escutei seus passos na escada e depois a porta do meu quarto se abriu. Ele estava com o jornal nas mãos, provavelmente lia as noticias diárias do jornal de Londres.

–O que foi, querida? – ele perguntou, enquanto fechava a porta.

–Preciso da sua ajuda em algo – falei, bolando uma boa mentira para ele confiar em mim. Se tinha algo que eu fazia raramente, mas que fazia com maestria, era mentir.

–E esse algo envolve algum delito grave? – brincou, era uma piada mais de advogado, por isso só fingi um pequeno sorrisinho. – Não me diga que quer combinar um dia para treinarmos seu fôlego no futebol? Seria fantástico, filha!

Quase revirei os olhos. Quase. Mas me segurei.

–Não é isso, pai – respondi. – Eu só estava pensando sobre o Ronald Parrish, sabe? O professor de Filosofia? – ele assentiu. Papai já fora a uma reunião escolar em que Ronald o atendera. – Na aula de segunda passada ele estava nos dizendo que Platão eramestre na linguagem física e que sempre reparava muito nos gestos das pessoas para ter inspiração para poemas. Esses dias eu andei pensando sobre essa tal linguagem física e aí fiquei curiosa para saber como conseguir decifrá-la melhor e conseguir mais inspiração.

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Tentei ser superficial, sem enriquecer de detalhes e nem deixar muito na cara que eu estava inventando tudo de última hora. Meus pais sabiam que eu gostava de poesia e também me viam criar algumas rimas e versos no meu caderninho preto, porém nunca pediam para eu ler a eles. Não por serem pais ruins, mas por respeitarem minha privacidade.

–E o que eu tenho a ver com isso, Blake? – papai perguntou, mas acho que ele já sabia que eu queria algumas aulinhas de psicologia.

–Então né... – forcei humor, apenas para deixar mais natural, eu já aprendera muito sobre como ler as pessoas com o meu pai, por isso eu mentia tão bem. – Como você é um ótimo psicólogo e já me ensinou um pouco sobre a linguagem física... Eu pensei que...

–Que eu poderia te ajudar nisso? – meu pai completou a frase. O encarei por alguns segundos, enquanto ele arqueava uma sobrancelha e semicerrava os olhos. – É claro que posso te ajudar, nem sei se ainda me lembro de como fazer isso, mas vamos ver em alguns livros antigos que usei no curso.

–Obrigada! – exclamei.

Eu o segui até o quarto dele e de mamãe, onde havia uma prateleira com vários livros, ela era de madeira e ficava bonita com a decoração rústica da casa.

Papai passou os dedos pelos livros e então parou em um, o retirou cuidadosamente e leu o título em voz alta:

–“A Teoria da Linguagem Não Verbal”. Esse livro é bom para ler emoções, Blakely. É o que procura?

Pensei por alguns segundos, eu precisava daquilo, mas precisava também saber como convencer alguém.

Eram muitos livros e meus olhos iam de lombada em lombada. Até que um dos títulos me chamou atenção.

–Acho que preciso deste aqui, pai – retirei o livro com o mesmo cuidado que o vira fazer. – “Sentimentos e Manipulações: a língua que não se fala”.

Ele deu uma olhada na capa, onde só havia um homem pensando e as letras do título.

–Esse livro também é ótimo, filha – papai passou a mão no meu ombro. – Não sei se vai sanar sua curiosidade, mas leia e aprenda. É um conteúdo bem interessante. Se quiser outro livro é só falar comigo, okay?

Eu sorri para ele, era o mínimo que eu podia fazer.

Logo voltei para o meu quarto e então comecei a folhear as páginas com agilidade, a procura do capítulo certo. Normalmente, livros assim não precisam ser lidos do começo até o fim como livros normais, por isso só foi ir no sumário e ler os títulos. Escolhi o que dizia: “A arte da manipulação para conseguir respostas” e então iniciei a leitura, com meu caderno preto de poesia ao lado, junto de uma caneta para futuras anotações. Eu precisava de absolutamente tudo naquele livro.

Algo me dizia que conseguiria tirar informações de Ezequiel com tanta sutileza que ele nem perceberia. Mas antes precisava de paciência.