Loucamente Apaixonada

Café em família


Acordei na manhã seguinte sentindo as batidas do coração de Samuel em minha bochecha, o que não era nada incomum considerando que eu tinha dormido sobre o peito dele. Devo ter adormecido em algum momento enquanto conversávamos.

Uma de suas mãos descansava na parte baixa das minhas costas, enquanto a outra percorria minha coluna com movimentos lentos e suaves. Sorri e ergui o rosto apoiando-o em minhas mãos enquanto olhava para ele.

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—- Bom dia -- falei, ainda um pouco grogue de sono.

—- Bom dia, querida -- disse carinhosamente e um sorriso calmo começou a tomar forma em seus lábios.

Ele parecia sereno e sem qualquer pressa, como se não houvesse qualquer lugar no mundo onde ele devesse estar. O pensamento me encheu de alegria. Tudo parecia tão natural no momento. Tão simples que era até incomum. Os medos que sentia pareciam ter evaporado por completo da minha mente. O que também era incomum.

—- Sabe, de todas as vezes que você me acordou, essa foi minha favorita -- comentei e rolei de cima dele, sentando-me na beirada da cama e erguendo os braços, me espreguiçando. -- Não teve nenhum envolvimento com água jogada na minha cara, chamados em um megafone ou movimentos brucos.

—- Mas, algumas coisas continuam sempre as mesmas -- falou e sentou-se também, aproximando-se mais de mim.

—- O quê? -- perguntei confusa.

—- Quase sempre que eu te vejo, você está totalmente despenteada -- riu da própria indelicadeza.

Tentei parecer brava, mas não consegui, e dei um selinho nele. Ele já tinha me dito algo assim antes e eu não podia negar que era verdade.

—- O pior é que é mesmo -- joguei meus pés para cima da cama novamente, ficando de frente para ele. Sammy ergueu uma sobrancelha e notei que eu não estava numa das melhores posições para quem está vestindo uma camisola curta, então peguei um travesseiro e o deixei sobre meu colo. Tenho que me comportar, ontem quase não consegui fazer Samuel ficar aqui depois que voltou do banho. -- Tenho uma pergunta -- acenou com a cabeça, incitando-me a ir em frente. -- Ontem você disse que não ia me dar as respostas, mas acabou me dando, mesmo que eu tenha que ter feito um último esforço para decodificar os cartões. Você me deu um modo de descobrir tudo. Porquê?

Ele não precisou de tempo para pensar.

—- Porquê estava na hora. E quando eu disse que não ia te dar as respostas, só estava querendo te irritar um pouquinho. É muito fácil fazer isso com você.

Estreitei os olhos diante da sua sinceridade.

—- Você realmente se diverte com isso, não é?

—- Com certeza. Mas mesmo que você não descobrisse, eu ia acabar te contando. Agora é a minha vez -- me preparei para o que poderia vir a seguir. -- Como você nunca ouviu nada sobre o acidente? Onde você estava, Heather?

Dei de ombros.

—- Também já pensei sobre isso, e sinceramente, não tenho a miníma ideia. Mesmo antes da minha emancipação, eu viajava o máximo que podia e depois que aconteceu, eu não me preocupava de ficar muito tempo no mesmo país. Era difícil me concentrar em alguma outra coisa, muito menos notícias, então imagino que seja por isso. Eu não me importava com nada que não fosse fugir.

Um segundo depois, eu já estava com a cabeça em seu peito novamente, quando ele me abraçou. Acariciou meus cabelos, como se tentando me transmitir conforto e no meu ouvido disse baixinho:

—- Você nunca vai precisar fugir de novo. Eu vou estar sempre aqui, Heather. Para você.

Acreditei nele.

***

—- Eu deixei que ela ficasse com a casa -- disse papai, levando o café aos lábios. Ele fez uma breve careta, como se, apesar de ter pedido sem açúcar, o café não devesse estar amargo e desceu a xícara de volta. -- Estou num hotel. Meus advogados já estão fazendo de tudo para cuidar da papelada o mais rápido possível.

Para surpresa minha e de Samuel, ao descermos, tínhamos no deparado com papai conversando com Oliver e Amélia. Aparentemente o casal Hunter tinha o convidado para tomar o café da manhã e para saber como a situação da nossa família ficaria dali para frente, pois se preocupavam comigo. Papai já os conhecia embora não tivessem relações estreitas o que justificava o fato de não parecer desconfortável pelo convite, além de mim, claro. Foi cem vezes mais estranho dar a notícia de que estávamos namorando a eles, mesmo que aparentemente todos esperassem por isso. Papai havia lançado um tipo de olhar mortal para Samuel, mas parecia feliz como os outros e todos nos deram os parabéns.

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E então o assunto "separação", tinha começado.

—- Heather pode continuar como nossa hóspede enquanto você se ajusta -- sugeriu Oliver.

Papai olhou para Samuel, desconfiado.

—- Obrigado, mas não acredito que seja uma boa ideia.

Sammy arqueou uma sobrancelha e abriu um meio sorriso, olhando para mim. Ele não parecia dar a miníma para qualquer regra de papai.

—- Já mandei que preparassem o nosso apartamento antigo para que eu me mude de vez para lá. Vou mandar pegarem as coisas da Heather assim que tudo estiver pronto.

Franzi a testa.

—- Ainda temos a cobertura de frente ao Central Park? -- da última vez que estive lá, ainda era criança, não sabia que ele tinha mantido aquele lugar.

Papai assentiu.

—- Nunca se deve descartar um plano B -- me pergunto a quanto tempo ele estava achando que esse casamento não continuaria dando certo.

Cruzei um braço sobre o peito e levei uma mão aos lábios, pensando.

—- Preciso voltar para casa, hoje -- falei de repente e todos pareceram se sobressaltar.

—- Definitivamente não -- Samuel foi o primeiro a descartar minha ideia.

—- Como o papai disse, minhas coisas estão lá -- lembrei.

—- Como seu pai disse, ele vai mandar pegarem suas coisas -- falou me olhando de forma intensa, como se estivesse tentando me impor razão. -- Você não vai atrás daquela louca de novo, Heather. Não vai deixar ela te ferir novamente. É desnecessário.

—- Não irei deixá-la me ferir. Só quero saber porque ela me odeia tanto -- argumentei. -- Você disse que eu não ia precisa fugir mais. Só preciso enfrentar isso.

A determinação dele em me impedir pareceu ruir como num passe de mágica.

—- Samuel vai com você -- disse Amélia.

—- Já atrapalhei a rotina dele no trabalho ontem, não quero fazer isso mais uma vez.

—- Não atrapalha -- disseram Samuel e Oliver ao mesmo tempo. Oliver prosseguiu: -- Sempre pomos a família acima de tudo, menina, e você faz parte dela agora. Se acostume.

Assenti para ele, sorrindo, grata.

—- Só vou pegar a minha bagagem e o que quer que tenha sobrado de importante por lá.

—- Depois mando cuidarem do resto -- papai falou, enfim concordando.

Sorri para ele, tentando passar o máximo de segurança possível e tomei o café da manhã com muita calma, como se realmente minha conversa com Helen não fosse me afetar em nada.

***

Mais tarde, antes de papai ir embora, ele me mandou ligar o celular que nem mesmo lembro de ter desligado e me beijou na testa, depois disse:

—- Estou feliz por você.

Ele não poderia ter dito mais nada naquele momento que pudesse me fazer sentir tão leve.