– Filho, o que está acontecendo? – perguntou uma mulher se juntando ao garoto na porta. Ao olhar em minha direção, sua expressão se transformou de um modo quase cômico para alarme. – Oh, Deus, querida, o que aconteceu com você?!

Eu nasci.

– Foi um dia difícil. – resmunguei, encarando com os olhos cerrados o aparentemente filho dela que me olhava com o que me parecia diversão sem limites.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Idiota.

– Ou uma semana difícil. – ele disse de modo provocativo e o fuzilei mentalmente.

– Samuel! Seja educado! – ordenou sua mãe dando um tapinha em seu braço e foi nesse momento que prestei realmente atenção nela.

Ela era tão pequena quanto eu, o que tornava engraçado de vê-la ao lado de seu filho. Tinha cabelos pretos em um rabo de cavalo, olhos verdes e pele clara, e imediatamente percebi a semelhança entre ela e Samuel. Aquela mulher aparentava ser jovem demais para ser mãe dele e aquilo fazia dela uma pessoa admirável para mim, certamente os tivera muito nova. Detalhe: ela estava usando um avental cor-de-rosa com florzinhas amarelas. Se minha mãe visse algo como aquilo em algum lugar, ela tocaria fogo sem pesar duas vezes.

Voltando seu olhar para mim, ela sorriu calorosamente.

– Sou Charlote e esse é meu filho Samuel. Ignore-o.

Sem problemas.

– Sou Heather. – me apresentei. – Sua nova vizinha.

O sorriso de Charlote aumentou ainda mais e ela saiu de perto de seu filho, vindo em minha direção.

– Seja bem-vinda, querida. – pegou uma de minhas mãos entre as suas, o que me fez franzir a testa.

Não sou acostumada a qualquer coisa que tenha haver com carinho maternal, aquele era um mundo completamente desconhecido para mim.

– Obrigada. – balbuciei.

– Mas você não é daqui, é? Seu sotaque…

Ah, droga. Eu não tenho sotaque! Você e todos os londrinos é que tem!

– Sou americana. Acabei de Chegar em Londres. – ao contrário de meus pensamentos, minhas palavras soavam bastante educadas.

– Oh. Mas, não entendo. Onde estão seus pais? Virão depois?

Aqueles desnaturados? Ha! Neste momento devem estar em um cruzeiro em algum lugar do atlântico, nem ao menos lembrando que eu existo.

– Bem… na verdade sou só eu. – dei de ombros.

– Como é?! Você vai morar sozinha?

Mas não foi Charlote que perguntou isso e sim o irritante do filho dela que ainda não havia saído do lugar de onde nos observava.

– Sim, Samuel. – dei bastante ênfase ao seu nome, deixando claro que ele não me agradava nada. – Sou suficientemente responsável por mim mesma. Obrigada. – atirando um olhar azedo para ele, voltei minha atenção para Charlote com um sorriso angelical no rosto. – Mas não se preocupe, já morei em diversos países, sei me virar sozinha.

– Sozinha? Mas, querida, quantos anos você tem?

– Quase dezessete.

– Como uma menina menor de idade pode fazer algo como isso?

– Basta apenas que ela seja emancipada. – falei amarga e os olhos dela se arregalaram quando ela apertou minha mão.

Meus pais não queriam ser responsáveis pela própria filha, já que eu aparentemente atrapalhava sua diversão, então eles jogaram essa responsabilidade em mim mesma. Nada que alguns advogados e uma boa quantidade em dinheiro não possa fazer. Aquele assunto não me despertava tristeza, mas eu tinha que admitir que guardava mágoa e ódio deles.

Bem, que os dois vão para o inferno. Tudo que quero agora é curtir Londres.

– Agora, se me permitem, estou cansada da viagem e gostaria de me acomodar em meu apartamento, então… – deixei a frase no ar.

– Claro, claro. – Charlote, soltou minha mão e deu dois passos para trás. – Foi um prazer conhecê-la, querida.

– Digo o mesmo. – olhei para Samuel fechando a cara. – Mas não para você.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele sorriu.

Abri a porta do meu apartamento e entrei levando minha mala e sapatos comigo. Pude ouvir claramente a voz sarcástica dele enquanto a fechava:

– Até a próxima, Little Witch.

Bruxinha?!

– Vai para o inferno! – gritei torcendo para que ele me escutasse. – Sem querer te ofender, Charlote!

Encostei-me na porta deixando que meu corpo escorregasse até o chão e ouvi passos no corredor do lado de fora, acompanhados por um leve risada.

Bastardo!

Gostaria de estar bem longe dele. E com longe, eu quero dizer como na Itália!