As Terras de Nobirth

pt1 - Venenos


1

O rei dos castelos andava pelo corredor cheio de armaduras de soldados e quadros nobres. Marcava o tapete vermelho com suas botas de ébano, passos pesados, aura sombria. Andava devagar, cada passo totalmente calculado. O vigamento de metais que ele vestia fazia barulhos como o das correntes da morte, e seus compridos cabelos e pele branca contrastavam com as trevas do ambiente. Para um albino, era estranho ser forte e ter tantos músculos e conseguir carregar tanto peso no corpo. Mas isso de nada importava. A bainha de sua espada quase alcançava o chão, e quando sua franja descobria-lhe os olhos, um grelo totalmente intimidador revelava sua vida.

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Alcançou a sua sala; redonda, enfeitada e decorada no mais puro ouro fosco escuro, colossalmente grande, para somente conter seu trono e suas armas. De vez em quando, algumas ferramentas de servos que trabalhavam temporariamente ali, como as mesas mágicas e ingredientes de Havhil. Esses detalhes eram mínimos perto da armaria. Faixas com o símbolo do império estavam pregadas no teto e ficavam tensamente paradas, porque não entrava muito vento pelas janelas.

Puxou seus cabelos para trás com a mão esquerda. A outra apoiava-se no cabo da espada. Daquelas íris tão delicadas e quase sem cor, saía uma intenção assassina mais pesada do que a mais escura das cores, extremamente amedrontador.

E belo.

Netch Vlossarium Impromptu Primera aguardava o resultado de sua experiência com as cobaias do Sul e já estava demasiado ansioso.

2

Criaturas corriam na direção de Aaron, que estava perto daquela árvore e da ave colorida, que logo se desprendeu do tronco e voou. Ainda se encontrava um pouco atordoado, com a cabeça fora do lugar, e pensava nos seus atos irresponsáveis: Por que teria agido tão radicalmente, avançando reto àquele pássaro? Por que não teve paciência e analisou melhor o lugar? Por que não via as coisas tão claramente?

E logo voltou a si. Ele fora enfeitiçado, e agora, os efeitos da magia acabaram. Soltou um sorriso, respirou bem fundo e expirou, relaxou seus ombros e olhou ao redor. Aquele lugar totalmente novo era bastante chamativo e iria render-lhe boas experiências, definitivamente. Ouviu os caminhados, viu as sombras de lado no meio do mato e percebeu que a estatura dos que chegariam não era de total estranho, porém, a altura era. Os passos todos andavam sincronizados, como um exército, leves. Não, talvez não tão leves, o solo também influenciava no barulho, podia haver muito húmus ou plantas diferentes… Tanta coisa a se descobrir. Mas o mais importante: veneno. Diferente da terra dos humanos, ali não havia tanto veneno ao redor.

E então, eles chegaram; elfos. Bem maiores do que as lendas descreviam e diferentes do que as figuras dos pergaminhos. Os cabelos todos coloridos de verde musgo por algum tipo de planta amassada, prendidos em cipó; vestes de folhas por cima das roupas; alguns se trajavam de espadas na cintura, outros carregavam seus arcos amarrados do lado da panturrilha. Tinham seis dedos em cada mão. A visão tão concentrada e intimidadora quanto a de um gavião faminto. Fantásticos! Tão estranhos de um referencial distinto que a maldade nem existia naquele tipo de convivência. Aaron via. E não estava nem um pouco nervoso por ser surpreendido daquela maneira — contudo, mal podia segurar para abrir a boca e conversar com eles; de que jeito eles se comunicavam?

Foi encarado por eles. Os encarou igualmente. Pareciam estar curiosos sobre uma criatura tão baixa naquele território. Resmungavam sílabas entre si, trocavam informações, e não se preocupavam com nenhum tipo de ameaça como na terra de cima. Permaneceram tão tranquilos quanto uma criança achando uma formiga. Até que um deles decidiu-se de algo.

— És tu um humano, criatura desconhecida? — disse o elfo, tombando a cabeça e fazendo uma análise visual detalhada.

— Eu sou, mas sabe, se sou humano, não tem sentido você perguntar para mim usando “criatura desconhecida” na frente, fica estranho. E que surpresa! Eu pensei que vocês iam me estranhar totalmente e iria acabar numa fogueira e… Espera, não, é uma surpresa maior ainda você falar minha língua, acho que me precipitei — ansioso demais, atropelou todas as suas ideias que se desorganizaram numa fração de segundo. Tantas perguntas se formavam na sua cabeça que ficava difícil de processar tudo, ainda mais em um lugar só. Entretanto, o principal não lhe fugia: sentia-se feliz, muito feliz por ter conseguido ir a um lugar tão pacífico e brando.

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— Por que não nos atacou? — O improvável veio à tona, e ele perguntou sem hesitações.

— Porque o veneno dentro de vocês não é ameaça. Vocês não vão me atacar, se fossem eu já estaria correndo pra longe daqui ou teria tentado me esconder. Olha, eu sei que é folgado demais da minha parte e que eu super devo estar falando um monte de coisas que vocês não entendem, tipo porque eu sei que não vão me atacar e essas ladainhas que sempre me perguntam, e que vocês também têm um monte de coisas que eu ainda não entendo; cara, eu nunca vi alguém com seis dedos! Seria melhor arrumar um lugar pra conversar, não é? Porque vocês têm que me deixar perguntar sobre vocês também.

Parecia-lhes difícil entender tudo o que o garoto falava — depressa demais —, mas eles entendiam até bem as palavras. Os elfos já haviam encontrado humanos antes, só que todos tentavam atacá-los e não falavam nada, como se ficassem completamente loucos. Aaron foi o primeiro que pareceu tão alegre ao estar ali e que falou tanta coisa — tanta coisa! — para eles em perguntas tão pequenas quanto aquelas. Assim como fora um dos poucos que conseguiu sobreviver até ali sem muito dano. Portanto, de acordo, o que falara deu logo a resposta.

— Essa possibilidade é completamente viável. Vamos à vila, poderemos discutir melhor lá e conversaremos durante o caminho.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.