Nas coisas simples

Nas coisas simples - Capítulo único


Finalmente, o grande dia havia chegado.

Naruto se olhou no espelho — conferindo detalhe por detalhe — não uma, mas incontáveis vezes. Ora corrigia o nó da gravata, ora ajeitava o cabelo, ora endireitava a rosa na lapela do paletó tão quente quanto incompatível para ele. Todavia, no ponto de vista do rapaz, todo sacrifício — incluindo vestir algo incomum — era válido; deveria impressionar e parecer elegante.

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— Certo! — Sorriu para o próprio reflexo. — Agora estou pronto.

Estava a meio caminho da porta quando se lembrou de algo importantíssimo: a carteira. Afinal, como poderia bancar tudo naquela noite tão especial sem dinheiro? Correu até a cama e lá a encontrou — a pequena bolsinha verde-grama em formato de sapo. Sem considerar o peso da mesma, pondo-a dentro de um dos bolsos, Naruto, sorrindo abobado, retomou seu trajeto original. Depois de trancar a porta e guardar a chave, ele deu uma bela inspirada no puro ar crepuscular; esconder a alegria e a ansiedade era impossível.

— Hora de buscar a garota!

Pondo as mãos na cabeça e rindo para tudo e todos, Naruto caminhou até o Distrito Hyuuga.

* * *

Caminhavam lado a lado, sendo cumprimentados por todos por onde passavam. Para muitos eram o casal mais bonito em toda a Vila Oculta da Folha, ele, o Sétimo Hokage, ela, a líder do clã Hyuuga. Estavam juntos há exatamente um ano, e naquela noite jantariam juntos.

— Naruto-kun — Hinata, divertidamente, deu uma risadinha. —, que roupas são essas?

Diferente de Uzumaki, Hinata optou por um visual mais simples — um vestido cinza-claro que lhe cobria até um pouco abaixo dos joelhos, sandálias pretas e uma bolsinha branca. Naruto, agora um pouco mais constrangido pela própria exorbitância, sorriu mais discreto.

— Eu só tentei parecer legal.

— Ah, me desculpe, Naruto-kun! — Hinata se sobressaltou na hora. — E-eu não quis...

Mas ele a surpreendeu com um beijo na bochecha e uma risada tão extrovertida que apenas Naruto Uzumaki poderia dar. A moça achou graça no gesto e, um pouco enrubescida, passou o braço no do namorado.

— Então, você não me disse aonde vamos. Você fez mistério durante a semana inteira.

— É porque é uma surpresa, ora. — Naruto riu.

— Não vai me contar?

— Só quando chegarmos lá.

— Naruto-kun... — Hinata hesitou, observando o caminho mais atentamente. — Você pretende me levar para jantar no Ichibuya Ichiran?

O choque, o olhar arregalado e surpreso, e o silêncio repentino de Naruto Uzumaki apenas confirmaram as suspeitas de Hyuuga.

— Errr... Não exatamente — ele desconversava. — Digo, eu até pensei nisso, mas... Então, não que você não mereça, pelo contrário, Hinata! Eu só...

— Você fez as reservas?

— Claro que eu fiz! — Só então Naruto se tocou no que disse. — Não, digo, a gente não vai jantar no Ichibuya Ichiran, não! Eu pensei em ir pro...

E Hinata apertou-lhe carinhosamente o braço, silenciando-o.

— Você é fofo, Naruto-kun.

— Dizem isso de você, Hinata. — Ele ficou feliz pelo elogio.

— É, dizem, sim. Então, isso só comprova que fomos feitos um para o outro, não?

— É. — Uma das características que o Hokage mais admirava na namorada era a perspicácia dela. — É, sim.

* * *

Ichibuya Ichiran, o mais recente e luxuoso restaurante em da Folha e, talvez, do País do Fogo. O prédio elegantíssimo atraia multidões ao passo que as afastava devido aos preços inacessíveis à grande maioria. Para se deliciar com as peculiaridades, sobretudo o Ramen cujos ingredientes eram oriundos de importações, além das reservas que deveriam ser antecipadas, o cliente deveria ter ótimas condições financeiras. Em suma, apenas os membros dos clãs mais tradicionais, os Jounin da Elite, além do próprio Hokage poderiam ali comer.

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E Naruto se sentia o máximo por poder fazê-lo. Ainda mais tendo uma dama de companhia como Hinata Hyuuga; nada poderia estragar aquele momento grandioso do Uzumaki, nada.

Com exceção do próprio Naruto.

— Boa-noite, Hokage-sama e Hyuuga-sama — saudou-os o porteiro. — Comprovantes da reserva, por favor.

— Ah, só um segundo! — Naruto puxou do bolso a carteira verde de sapinho. — Estão aqui em algum lu... gar.

No instante em que abriu a carteira o assombro tomou conta de Naruto. Os comprovantes da reserva estavam ali, de fato. O problema era que, fora eles, tudo o que o Sétimo Hokage tinha eram duas moedinhas de Cinco Ryos — quantia suficiente para comprar, no máximo, um pacote de doces açucarados e mais nada. Uma infeliz lembrança de ter gastado, duas semanas atrás, suas últimas economias com a roupa que estava trajando naquele momento constrangedor assolou-o.

— Hokage-sama? — o porteiro insistiu. — Os comprovantes, por favor.

— Hã... Então... Os comprovantes da reserva cobrem a alimentação também, não é? — Riu de forma forçada.

— Certamente que não, Hokage-sama. Explicamos isso ao senhor duas semanas atrás, quando nos procurou e efetivou as reservas. Tudo o que nossos comprovantes garantem é uma mesa dentro de nosso restaurante.

— Espere aí! Eu paguei só pra ter onde sentar? É isso? — Naruto não acreditava.

— Perfeitamente, Hokage-sama. Explicamos isso também, mais precisamente, sempre que clientes vêm efetuar reservas conosco.

— Só mesa? Sem comida?

— Exatamente, Hokage-sama. — O porteiro sorria. — Então, o senhor trouxe os comprovantes.

Naruto sentiu que uma lágrima solitária queria escapar por um de seus olhos; controlou-a. Olhou para o rosto amigável do porteiro, novamente para a carteira quase vazia e, por fim, para a namorada.

— Hinata, você por um acaso não teria uns Setecentos e Cinquenta Ryos pra me emprestar, teria?

Hinata franziu a testa, surpresa com o pedido.

— Setecentos e Cinquenta? Naruto-kun, eu não trouxe essa quantia e...

— Ah, quer saber? — Voltou-se para o porteiro. — Eu não vou mendigar dinheiro pra minha própria namorada, cara! Vocês são muito caros, eu vou embora! Vem, Hinata!

E puxando-a pelo braço, Naruto deu as costas e saiu.

* * *

Chutou a primeira lata de lixo que viu pela frente, irritado.

— Eu não acredito nisso! Não acredito! Pagar só pra sentar? Que porcaria é essa? Eu demorei duas semanas, duas semanas!, pra conseguir reservas, e quando finalmente consigo, isso me acontece! Esses caras são uns parasitas, isso sim! Querem me extorquir, só pode ser! — gritou.

Hinata, mais afastada e serena, observava o extravazamento da raiva e frustração do namorado. Viu-o sentar sobre um banquinho e esconder o próprio rosto nos braços.

— Eu só queria fazer algo legal pra você, Hinata. Desculpa.

Tão enraivecido que estava, Naruto não notou Hinata sentar ao seu lado até que esta o tocou, acariciando-o.

— Está tudo bem, Naruto-kun. Acontece...

— Não, Hinata! — Já não gritava, mas ainda estava bastante contrariado. — Eu quis fazer algo especial pra você, pro nosso aniversário junto, mas, pra variar, acabei estragando tudo.

— Eu não estou chateada, Naruto-kun. Já disse: está tudo bem.

— Mas pra mim não! Droga, a gente podia ter uma noite perfeita, comer o melhor Ramen da vila, ficar junto; seria ótimo se não fosse por isso!

Hinata parou e pensou um pouco.

— Naruto-kun.

— O quê?

— Vamos sair juntos, você e eu?

— Hinata, eu estou sem dinheiro. E não é legal a garota pagar as coisas nos encontros. Eu nem acredito que ainda pedi dinheiro pra você e...

— Quer sair comigo? Apenas responda.

Naruto deu uma risada sem graça ainda com o rosto escondido entre os braços.

— É claro que eu quero — respondeu.

— Então, neste caso, venha comigo.

— Hã? — Ele, finalmente, ergueu a cabeça para observar a moça.

— Só venha.

— Hinata, do que você está falando? Eu não tenho...

— Não importa! — Ela sorriu. — Apenas venha.

Sem entender muito bem, Naruto estranhou. Mas, no fim, deixou-se guiar por Hinata, que outra vez enlaçou o próprio braço ao de Naruto, recostando a cabeça sobre o bíceps dele.

— Eu conheço um ótimo lugar — ela disse. — Vamos.

* * *

— Naruto! — exclamou Teuchi. — Oh, quero dizer, Hokage-sama! É muito bom revê-lo! E está acompanhado da Hyuuga-sama também, que ótimo! Sentem-se, por favor.

O Hokage estava boquiaberto. Estar no Ichiraku Ramen não estava em seus planos para aquela noite. Não que não gostasse do lugar, muito pelo contrário, adorava-o. Só que por achar que não era o restaurante ideal para levar Hinata em um dia especial e, além disso, por não ter um tostão sentia-se encabulado.

— E então? — Hinata sorria radiante. — O seu preferido é o especial de porco, não é, Naruto-kun? Acho que vou querer um também.

— Hinata...

— Sim?

— Eu não posso...

— Pagar? — antecipou-se Hinata. — O Teuchi-san e a Ayame-san me disseram que é por conta da casa. Não há com o que se preocupar.

— Não é isso. Eu...

Naruto não esperava que ela o calasse pondo-lhe o pequeno e fino dedo indicador sobre os lábios dele. Mas Hinata não se importou com isso, apenas fez.

— Você anda muito preocupado ultimamente, Hokage-sama — brincou. — Coma. Afinal, este é, sem dúvida, o melhor Ramen da Vila da Folha. Não precisa ser especialista no assunto para saber disso, não é?

Sem palavras, Naruto viu Hinata sorrir outra vez.

— Coma antes que esfrie.

— Hã... Ah, claro, claro.

Juntos, rezaram e se puseram a comer.

* * *

Acompanhando-a até em casa, Naruto e Hinata riam e conversavam animadamente enquanto dividiam as últimas balinhas açucaradas que ele havia comprado para os dois.

— Então eu disse pra ele: Sasuke, você é mais chato que a Tsunade-obachan bêbada nos fins de semana.

— O Sasuke-kun sempre teve problemas para se relacionar com as pessoas. — Hinata deu uma risada tímida. — Assim como eu era. Espero que ele e a Sakura-san se deem bem, eles fazem um par bem bonito.

— Pois é. Qualquer dia desses eu vou dar umas dicas por Sasuke — Riu.

— Eu tenho uma. — Hinata parou diante de Naruto, olhando nos olhos dele.

— Sério? — Naruto estranhou. — Qual?

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— O amor está nas coisas simples também. Não precisa ser exorbitante para ser especial.

Naruto ficou quieto, observando Hinata sorrir para ele. Notou outra vez o quão ela era bela, e não se esforçava para o ser — era singela, ao passo que estonteante; uma complexidade dentro da naturalidade.

— Eu não poderia ter imaginado um aniversário de namoro melhor que esse — ele confessou.

— Quem poderia? O bom foi que passamos um tempo juntos.

— E comemos o melhor Ramen da vila — Naruto acrescentou sorridente. — Como pude me esquecer do Ichiraku?

— Viu? Isso só mostra que eu tenho razão.

— De novo, Hinata. Você não cansa, não?

— Nem um pouco, Hokage-sama. — Ela riu. — É divertido.

No clima descontraído, Naruto puxou-a para perto e abraçou-a. Sorriam até, olhando profundamente os rostos um do outro, silenciaram-se por completo. Junto do namorado, Hinata sussurrou:

— Ainda se lembra da minha dica?

— Nunca mais vou esquecê-la.

E selaram os lábios, beijando-se apaixonadamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.