“Parabéns. Você conseguiu...”

“Mas, e agora?”

“Ela já ouviu demais consolos desse tipo...”

“E eu também...”

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Eu te amo.

Esta frase parece significar muito, certo? Mas não para mim. Eu sinto que seu significado literal é vazio. Ela é dita de uma forma tão simples, superficial e ordinária.

Alguém que realmente ame, talvez, entenda isso. Vai além de dizer uma simples frase.

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Eu não sou domador de palavras. Eu não sou um poeta. Sou sentimental, mas preso em mim mesmo. Eu me pergunto, como um coração tão quebrado e triste como o dela conseguiu ligar-se ao meu. Pena? Necessidade? Eu poderia dizer que foi coisa do simples acaso? Não, nesse mundo não existe acaso. E não foi acaso, eu ter conseguido a chave de seu coração.

Ela chora, mas está calada. Já chorou demais. Poderia eu dizer-lhe que não era culpada? Eu sabia que não adiantaria... É um acontecimento ordinário. Ela está triste, por causa de um motivo ordinário. Eu queria me compadecer disso, mas eu sei que muitos já o fizeram. Ela não quer um consolo, ela quer um impulso. Ela não quer esquecer, ela quer enfrentar. Tudo o que ela precisa é....

– ...É isso que deveria me contar? – pergunto.

– Sim. – ela não me olha nos olhos; ela sente medo de eu ter pena.

– Eu nunca tive um amigo de infância, Mimi. Eu não entendo essas coisas... – eu devo ser sincero. – Eu poderia dizer que isso não é culpa sua, e que deveria esquecer o passado e seguir em frente. Mas deixe eu lhe contar um segredo: nós nunca devemos nos esquecer, pois são essas coisas que nos tornam fortes...

Ela me olha nos olhos; não está surpresa. Ainda não.

– Eu sei o que você espera. – digo – Que eu tenha pena, e lhe abrace, dizendo palavras de carinho ou algo do tipo. Mas eu não estou aqui para isso, eu estou aqui para convencer você de levantar dessa cama e dar-me um sorriso. O que aconteceu com você foi ordinário, ridículo e ordinário, eu diria...

– ...A que ponto quer chegar? – ela pergunta.

– Coisas ruins acontecem, Mimi. Elas vêm todos os dias, atrás de postes, ou debaixo de nossas camas. Quando assistimos TV ou limpamos o ar-condicionado. Sim, coisas ruins estão em todo o lugar...

Ela não esbossa reação. Ela ouviu o que não esperava. Eu a entendo.

– Talvez eu nunca saiba a dor que você sentiu; Talvez, você encontre outro jeito de se levantar. Mas eu quero que você nunca se esqueça: você não é a única. Ressentimento é algo ordinário. Não adianta esquecer a mágoa. O perdão não é uma opção. Tudo o que você precisa fazer é...

– Levantar.

Ela me interrompe. Seus olhos brilham como nunca o fizeram. E ela sorri.

– Hum, eu já estava cansada de consolos. – ela diz. – Mas eu não esperava uma bronca. Que monstro seria eu, que trata tudo isso de forma natural?

– ...Não sou eu quem decido.

– Eu sei. Se eu não posso me perdoar, então o que posso fazer?

– Advirta a si mesma. – respondo. – E encontre nessa auto advertência o próprio consolo. Você não precisa das palavras dos outros para seguir em frente, Mimi. As asas são suas, pegue o impulso você mesma.

Eu nunca a entenderei. Mesmo que eu consiga salva-la, e Anonyme me agradeça eu nunca vou conseguir entender essa situação. Quem sabe, não há a necessidade de ser entendida.

Antes que eu me desse conta, eu dei um abraço apertado em Mimi, e algo quente escorreu sobre meu ombro.

–--------//--------

– Onde estou?

– ...Em lugar nenhum.

– E o que faço aqui?

– Você conseguiu.

Olho para a figura cabisbaixa e envelhecida em minha frente, presa por correntes que ela mesma ata.

– Quem é você? –pergunto.

– ...Apenas um coração partido, que não tem capacidade de se consertar...

E nos encaramos por certo tempo.